Meu amigo
Movér, escritor, poeta, e de várias outras serventias úteis à sociedade, me
recomenda não ser contra os intelectuais. Todavia, para quem nasceu com o
defeito de desejar que os seres humanos deixem para os irracionais esse negócio
de ter medo uns dos outros não há como não ser contra a atitude indiferente dos
intelectuais a esse respeito. Eles desperdiçam o riquíssimo cabedal de
conhecimento sobre os mais diversos assuntos, menos sobre o motivo pelo qual os
seres humanos digladiam quando deviam se abraçar. É imperdoável a
despreocupação dos intelectuais quanto a esta realidade. Em vez de erudição,
caberia a eles mostrar a nós de poucas letras ser inteiramente incompatível
competição e vida social. Pior ainda que a indiferença é haver entre eles quem
defenda esta cultura flagrantemente antissocial que em vez de saúde e
tranquilidade encheu o planeta de armas, gases venenosos, bombas, morticínio, riqueza,
pobreza e infelicidade. É por isso, meu caro amigo Movér, que ainda na pequenez
da minha desimportância não deixo de condenar os intelectuais. Como podem
homens de grande discernimento ficarem impassíveis ante a deterioração moral,
cinismo, falta de pudor, roubalheira desavergonhada, autoridades compactuando com
a bandidagem que transformou o Estado de Direito em Estado do Crime? Se a
ninguém, nem mesmo aos Zemanés é dado o direito de não observar que se todos os
seres humanos normais gostariam de poder viver na tranquilidade da paz. Por
que, então, não vivem se é o que desejam? É, pois, imperdoável a atitude dos intelectuais
de pavonear erudição e não se interessarem em empregar sua sabedoria em torno
desta distorção de valores que faz de brutamontes sociais e vulgares as pessoas
mais valorizadas da sociedade. Abração, meu amigo. Inté.
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