Desde os
pré-socráticos, passando por Cristo e incontáveis pensadores, sempre se falou e
ainda se fala sobre procedimentos corretos e incorretos. Os procedimentos corretos sempre estiveram
para os procedimentos incorretos assim como a seleção brasileira estava para a
seleção alemã na Copa do Mundo de 2014 ou assim como a mente de Jeca Tatu
estava para filosofia como estava a mente de Nietzsche ou para a física como a
de Einstein. A humanidade prima pela incorreção.
Saber o motivo pelo qual o ser humano
se comporta incorretamente em pelo menos noventa e nove por cento dos seus procedimentos,
tendo em vista que isto só lhe causa malefícios, é uma questão mais importante
do que saber como ser bem sucedido na atividade de ganhar dinheiro ou puxar o
saco de deus. Como a intelectualidade se limitam a tecer comentários sobre o
que acreditam ser o certo e o errado, sem qualquer preocupação quanto ao porquê
da questão de estar tudo errado, faz-se necessário que um Zemané se preocupe
com o motivo pelo qual se erra tanto. Sem saber o que é que faz proceder
incorretamente é difícil ou impossível acertar o passo e proceder corretamente.
Partamos, pois, do comecinho deste
problema que, na verdade, é de clareza ofuscante. Antes de qualquer outra coisa
é preciso ter em mente a conclusão de mestre Platão de que o rumo em que a
educação inicia um homem determinará seu destino na vida. Trata-se de uma
realidade que não admite qualquer rejeição se a ninguém é mais permitido
desconhecer ser a personalidade o resultado do que se aprendeu em criança.
A esta realidade, ajuntamos esta
outra, a de que desde sempre os grupos humanos foram constituídos de explorados
e exploradores. Se no Feudalismo senhores feudais exploravam servos, no
modernismo senhores de escravos exploravam negros, e na contemporaneidade
patrões exploram empregados.
Constatada esta segunda realidade, juntemo-la
a esta terceira e inegável realidade de não ser possível explorar alguém sem
que tenha esse alguém sido induzido a erro porque de sã consciência ninguém
faria papel de burro-de-carroça. Portanto, se não se é explorado
conscientemente, mas se é explorado, é por sê-lo inconscientemente. E não senão
exploração o motivo pelo qual as pessoas são indiferentes ao fato de produzir a
riqueza do mundo e terem de viver com uma porcaria de salário tão escasso que
se chama mínimo.
Dito isto, a esta terceira realidade
ajuntemos uma quarta realidade, aquela de que quando o acesso à energética
proteína animal dependia da caça, usavam-se de artimanhas, como fazem as feras,
para abater a presa, donde se conclui que a exploração fazia parte do jogo da
vida desde os primórdios da existência.
Das realidades expostas conclui-se
que apesar de ter a domesticação dos animais tornado desnecessária a
exploração, quando se dispensou a necessidade da caça a boca já tinha sido
entortada pelo hábito de explorar e ele não só permaneceu, mas também foi
incentivado pelo medo de possível escassez, o que incrementou a exploração em
virtude do erro de procurar se resguardar ajuntando riqueza.
E assim chegamos ao porquê de agirem
errado os seres humanos. É que ainda não tendo ainda se elevado acima do
primitivismo, o medo de escassez os leva a explorar o semelhante na falsa
crença de segurança garantida por riqueza.
Mestre Rousseau sugere no Contrato
Social que o ajuntamento de riqueza teria começado quando alguém tomou para si
se um pedaço da terra que até então era de uso coletivo. Sabe-se que a terra
era a única riqueza de então. Independentemente do modo como teria começado, o
fato é que a necessidade de riqueza se tornou o principal objetivo da vida.
Como não é possível construir riqueza sozinho, inventaram-se métodos de indução
para fazer as pessoas agirem inconscientemente como fazem ao ensinar aos filhos
que um velho esvoaça o céu numa carroça puxada por viados, mesmo sabendo ser
isto impossível.