Dia desses eu
comentava em nossa melhor fonte local de informação, o jornal Tribuna da Bahia, uma
das muitas notícias sobre os também muitos descalabros que infelicitam nossa
medíocre sociedade de religiosos torcedores e carnavalescos, cabendo ressaltar,
todavia, que estupidez e mediocridade não são privilégios da nossa republiqueta
de banana apaixonada pelo “American Way of Life” uma vez que também nas
sociedades consideradas superiores ocorre a mesma ausência de sentimentos
nobres que distinguem o homem da fera. O fato de se fundamentar na riqueza
material a “superioridade” das sociedades supostamente superiores torna inevitável
a brutalidade e mesquinhez inerentes ao enriquecimento. Por força dessa
circunstância, desconhecem o sentimento de irmandade que caracteriza uma
sociedade realmente civilizada que até o momento não passa de utopia.
Na página 170 do livro História da
Riqueza do Homem, do escritor Leo Huberman, tem duas pequenas amostras dos
métodos que fizeram holandeses e ingleses os povos mais “civilizados” do século
XVII e que põem abaixo a máscara de civilizados que eles ostentam idiotamente.
São do seguinte teor: “Para conquistar Malaca, os holandeses subornaram o
governador português. Ele os deixou entrar na cidade em 1641. Correram à sua
casa e o assassinaram para “abster-se” do pagamento de 21.875 libras, o preço
da traição. Onde punham o pé, provocavam a devastação e o despovoamento.
Banjuwangi, província de Java, tinha em 1750 mais de 80.000 habitantes, em 1811
apenas 18.000”. “Na Índia em 1769-1770 milhares de nativos morreram de fome
porque os ingleses haviam comprado todo o arroz e só vendiam a preços tão altos
que os nativos não podiam comprar”. Mas a selvageria que justifica o dito
de que por trás de toda grande fortuna há um ladrão não ficou para atrás. Acompanha
a humanidade e atualmente se apresenta a pleno vapor na querela entre China e
Estados Unidos disputando o troféu de troglodita espiritual mais rico.
Mas, como dizíamos entes de enveredar
por outros pensamentos, falávamos do comentário na Tribuna da Bahia, quando
então eu disse algo que não me saiu mais da cabeça: “Que mundo que fizeram
do nosso mundo!” – disse eu. Realmente. É uma pena o que fizeram do nosso mundo.
Tornaram-no impróprio de seres civilizados porque ao se procurar saber como tem
se comportando a humanidade ao longo de sua história percebe ser insano seu comportamento,
pelas seguintes razões:
Da atividade econômica resultou a insanidade
de apenas um por cento dos seres humanos terem se apossado de noventa e nove
por cento da riqueza que devia ser utilizada em benefício dos cem por cento que
integram a coletividade humana.
E não fica por aí a insanidade
humana. Não leva mais a conclusões inteligentes a atividade meditativa ou
filosófica que fez dos gregos o povo mais evoluído espiritualmente do seu
tampo, haja vista a baixa qualidade de vida da sociedade moderna. O raciocínio
inteligente que levou os pensadores gregos a procurar coerência nas informações
desapareceu de forma tão espetacular que na página 139 do livro História da
Filosofia, de James Garvey e Jeremy Stangroom, consta que um senhor chamado
Agostinho de Hipona, tido como o primeiro filósofo cristão, foi terrivelmente
martirizado pelo arrependimento de ter-se deixado levar por uma invejável
disposição sexual que o fez desfrutar das sublimes delícias guardadas no entre
pernas das mulheres. É ou não é loucura total transformar em sofrimento
lembranças que devem trazer prazerosas recordações de momentos tão
verdadeiramente sublimes?
E tem mais: do ponto de vista da
religiosidade, então, nem é bom falar.
Despreza-se a razão e se contenta com informações oriundas de crendices
sem fundamento. Baseada a religiosidade num livro chamado Bíblia Sagrada, que apesar
de considerado fonte de sabedoria inesgotável é, na verdade, um registro de
guerras, assassinatos, inclusive em homenagem ao deus que não obstante de
infinita sabedoria, faz questão de elogios, aplausos e louvação, como um reles
político que gasta em propaganda de si próprio o dinheiro que estupidamente a massa bruta de povo entrega em suas mãos na esperança de ser usado em prol de bem-estar coletivo.
Do ponto de vista da vida social, a
insanidade humana faz com que trabalhadores que prestam relevantes serviços à
comunidade vivam em condições infinitamente inferiores a parasitas cujo nível
intelectual corresponde ao de Baltazar da Rocha lendo o livro O Ultimato de
Caxias, no programa humorístico A Praça da Alegria, apresentado por Manoel da
Nóbrega.
No que diz respeito à
ciência, vemos o cientista mais renomado, Albert Einstein afirmar que a ciência
e a religiosidade se completam, não obstante ter a ciência derrubado a tese
defendida a ferro e fogo pela religiosidade de que a Terra era quadrada e que a
Peste Negra provinha de bruxaria. Ou o grande cientista não disse tamanha bobagem ou tinha tomado umas e outras para incorrer no disparate de afirmar que religião e ciência se complementam quando se sabe serem coisas opostas visto que a religiosidade se baseia em crendice e a ciência em fatos.
Como ponderações vindas
de um Zé Mané devem se fazer acompanhar do testemunho de alguém
intelectualmente nobre, transcrevemos este trecho do livro Falando Francamente,
do doutor Vinicius Bittencourt: “O flagelo da humanidade não é a peste, a
guerra, a fome, a idolatria, a corrupção ou o crime. O flagelo da humanidade é
a ignorância. Sem ela, essas calamidades não existiriam ou seriam drasticamente
reduzidas. Apesar disso, o homem foge dos livros como o diabo da cruz.
Reencarnando os párias, os impuros ou os intocáveis da velha Índia, nossos
professores vivem na miséria. Os rebentos das classes abastadas desperdiçam o
tempo com televisão e jogos eletrônicos. Os das classes pobres não têm livros,
escolas, professores, nem motivação para estudar. Por toda parte alastra-se a
ignorância. E nela se cevam os políticos, os curandeiros, os pastores de almas,
os publicitários, a mídia eletrônica, a corrupção e o crime. A peste não existe
onde há saneamento básico, assepsia, higiene. Na Idade Média, entretanto, a
peste era atribuída a sortilégio e combatida com exorcismos. Em vez de matar os
micróbios, cuja existência desconheciam, nossos antepassados matavam as
feiticeiras. A guerra seria evitável se os povos não fossem ignorantes. Como
disse Frederico, o Grande, se os soldados raciocinassem, abandonariam o
comandante na primeira esquina. A fome não ocorre onde não há latifúndios
improdutivos ou explosão demográfica. O fanatismo desaparece quando a sabedoria
arranca a máscara dos ídolos ou sacode seus pés de barro. A corrupção
elimina-se com a vigilância, a efetiva aplicação das leis e a transparência dos
atos administrativos”.
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