sábado, 15 de maio de 2021

ARENGA 587

 

          Considerando inexistir ser vivo isento da necessidade de consumir, não pode ter futuro a sociedade humana se permite apenas a uma minoria ter direito de consumir e o nega à maioria dos seres humanos. A esta inconsequência é acrescido o agravante de serem os que não têm direito a consumir justamente aqueles que produzem tudo que consomem aqueles a quem é concedido o direito de consumir, mas que nada produzem, resultando deste despropósito uma situação de parasitas e parasitados. Está, pois, evidente a improbabilidade de segurança para o futuro da atual sociedade composta de hospedeiros e parasitas. E o que há de mais inusitado em tudo isso é que nem os parasitas e nem os parasitados podem deixar de ser o que são por terem sido educados desde o berço para acreditar que a melhor forma para se viver é sendo. empregador ou empregado. 

Não é estranho ou mesmo inconcebível que os diversos ramos da religiosidade que juram basearem-se em infinita bondade e sabedoria divinas sejam unânimes em aprovar tão injusto modelo de sociedade? Por que será que intelectuais escrevem, dão entrevistas, ganham prêmios por contribuírem com o desenvolvimento mental e material da humanidade, mas não levantam esta questão? Que os humanos não tenham ainda evoluído espiritualmente o suficiente para organizar uma sociedade civilizada é compreensível. Mas, é incompreensível que essa tal de divindade à qual a humanidade atribui poder e sabedoria bastantes para ser capaz de criar o universo e tudo que nele existe não fosse capaz de impor ordem à sociedade humana, permitindo que a injustiça se sobreponha à justiça. Religiosos têm mil e um argumentos para explicar esta situação, mas como ela não pode ser explicada por ser mentira, inventaram a desculpa de não se dever especular sobre os mistérios divinos porque quando se pensa a respeito percebe-se não passar de embuste a começar pelo nome deus que segundo ele mesmo declara em Êxodo 3:14, ser seu nome Eu Sou e não deus. Além disso, se em Números 5: 3,4, a divindade manda expulsar os leprosos do lugar onde diz habitar, como ser de infinita bondade e morar no céu?

Não é utopia, mas, realidade que mundo não tem de ser ruim como é. Não tem de haver pobreza, fome, guerras, destruição da natureza, e a maioria dos sofrimentos podem ser evitados desde que os seres humanos procedam de modo a fazer estas coisas acontecerem. Se não acontecem é por faltar uma cultura que transmita de uma geração para outra a necessidade de se trabalhar nesse sentido. Desta forma em algumas gerações chegar-se-á a uma sólida convicção de ser necessário mudar o mundo, como afirmou o velho Marx. Estabelecida tal convicção, o caminho estará aberto para um mundo melhor e juventude tão menos infeliz que nenhum jovem terá necessidade de suicidar. 

 


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