Se até os
anos 1970 o progresso levava à expectativa de um mundo melhor no futuro, aquela
esperança veio dar com os burros n’água porque o presente em que se transformou
aquele passado é incerto e amedrontador. Estas ponderações confirmadas são do
filósofo Franco Berardi, no livro Depois do Futuro. Trata-se de um dos raríssimos
pensadores que se ligam na questão da qualidade de nossa vida material, questão
esta que devia interessar a tantos quantos escapem da condição mental de asno
completo.
A situação
em que se encontra o mundo chama a atenção para o que disse Karl Max, que
apesar de excomungado pelos frequentadores de igreja, axé e futebola, prestou
um grande serviço a estes imbecis admiradores de toupeiras mentais colocados na
conta de “famosos” e “celebridades”. Tivessem os panacas do passado parado para
refletir sobre a advertência do filósofo excomungado avisando-os de que os
filósofos se limitam a analisar o mundo em vez de cuidarem de modificar o mundo
não estariam agora seus descendentes sendo vítimas desta pandemia que encabeça
a fila de muitas outras pandemias à espera da vez de atacar. E tudo isto como resultado
da preferência por orações em vez de ciência, orientação proveniente de ordens
dos ricos donos do mundo que resultaram no Massacre de Manguinhos, quando uma
dezena de cientistas foram defenestrados de suas pesquisas e demitidos pelo
governo militar que em 1964 se empoleiraram no bem-bom do poder, cumprindo
ordens de seus religiosos patrões americanos alegando agir em defesa de Deus,
Pátria, Família e Propriedade.
Mas, como as
coisas ruins têm o mérito de mostrar a necessidade de serem descartadas, o
presente ruim mostra com todas as letras que o equilíbrio social precisa trocar
por outra a base de sustentação fundamentada no compra-compra desembestado a custo
da destruição da natureza. Portanto, a humanidade também dará com os burros
n’água se não deixar de lado os parâmetros que vêm norteando o caminho seguido
até o presente.
Os bilhões
de problemas que alimentam durante as vinte e quatro de cada dia o
disse-me-disse cansativo da papagaiada de microfone resumem-se, na verdade, em
um só problema: não poder a humanidade contar com um grupo composto de pessoas
íntegras o bastante e em número suficiente que possam integrar um corpo administrativo
do qual nenhuma sociedade conseguiu ainda dispensar para tomar conta de empregar
os recursos públicos no objetivo de assegurar a ordem sem a qual é impossível a
vida coletiva resultante do ajuntamento de seres tão bárbaros como ainda são os
seres humanos, incapazes da compreensão do que vem a ser vida social, no que em
absolutamente nada diferem dos irracionais.
A
inexistência de homens probos decorre do fato de absolutamente todos os seres
humanos serem totalmente dominados por dois instintos: o de pavão que se mostra
em todo esplendor na figura dos Midas do mundo e que dá origem à necessidade de
fazer pose na revista Forbes como os mais ricos do mundo, e o instinto de rato para
assegurar o cumprimento do instinto de pavão. Esta situação torna evidente a
impossibilidade de ter alguém em suas mãos um tesouro sem que venha a ser levado
a lançar mão dele indevidamente. Daí a existência da corrupção que inviabiliza
qualquer administração pública, regra da qual não escapa nenhuma administração
pública do mundo. Aquelas sociedades cujos integrantes se imaginam isentas
desta regra deve-se à ingenuidade que caracteriza os seres humanos e que
aparece com todas as letras na dependência que têm de liderança para pensar por
eles. A história humana mostra a facilidade com que pessoas sempre se agruparam
em volta de profetas, messias, qualquer fanático esmolambado que se lhes
apresentasse com novidades para se chegar à tão sonhada felicidade. Inexplicável
é que esta situação do passado continua no presente de igrejas abarrotadas de
cegos mentais à espera de quem (geralmente espertalhões) lhes diga o que fazer.
Estúpidos que são, não sabem que a tão buscada felicidade nada mais é do que a
possibilidade de se poder satisfazer as necessidades e que isto só depende de
um correto direcionamento de gastos públicos voltados para um sistema
educacional que em vez de ensinar às crianças a necessidade de deus e riqueza
lhes ensine que não podem viver senão em grupos e da imprescindibilidade de se
cuidar da vida social tanto quanto se cuida da vida individual, o que inclui a garantia
de que todos os membros da sociedade vivam com dignidade.
Daí a
sabedoria contida na advertência do filósofo excomungado pelos frequentados de
igreja quanto a necessidade de mudar o mundo porque uma olhada de soslaio pela
História basta para concluir da impossibilidade de virem os recursos públicos a
serem aplicados corretamente. Um exemplo: na página 35 do livro A Coroa, a Cruz
e a Espada, de Eduardo Bueno, consta o seguinte sobre a administração pública
de Portugal por ocasião da mudança de administração no Brasil de Capitanias
para Governo Geral: “A Casa de Suplicação (tribunal de última instância), permanentemente
sobrecarregada de processos, era famosa pela lerdeza e avareza de seus
magistrados. Já a Casa dos Contos, núcleo de controle das receitas e despesas
do reino, era alvo frequente de investigações oficiais, geralmente incapazes de
evitar as fugas de prestação de contas à Fazenda...”.
É
totalmente admissível que o mesmo continua ocorrendo no presente. Os instintos
de pavão e de rato fazem a corrupção sofisticar a fim de fugir da percepção os
babacas de sempre. As prestações de conta hoje provam que o dinheiro desviado para
o bolso de alguém está aplicado em estradas, saúde, educação, segurança. Inté.
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