Difícil saber entre revolta e tristeza qual o sentimento que prevalece em
quem se esforçou e aprendeu algo com o ensinamento da escola da vida, e que
pelo fato de ter se tornado capaz de pensar, diferenciou-se, da massa
mentalmente grossa de frequentadores de igreja, axé e futebola, ou seja, o
elemento asqueroso povo, que, como a manada, segue inconsequentemente o
berrante dos meios de comunicação indiferente ao destino indicado pela condução.
Infelicitam a quem conseguiu aparar ainda que só um pouco as arestas da
estupidez que caracteriza a espécie humana duas seguintes ocorrências
igualmente significativas como demonstração de incapacidade raciocinar. Uma
ocorrência foi um comentário a respeito do sofrimento de determinado povo e a
recomendação de alguém para que aquele povo tivesse fé em deus como solução
para seus problemas, comportamento característico do elemento povo em cujo meio
somos obrigados a viver de modo desagradável. A segunda ocorrência aconteceu ao
deparar com um grupo de senhores de cabelos brancos numa baboseira de
imbecilidades chamada Colmeia Humana, instituição destinada a pregar
religiosidade. A revolta decorre do fato de colocarem aqueles senhores de
cabelos brancos pessoas capazes de pensar por si próprias na mesma vala comum
onde se encontra a quase totalidade da humanidade composta de pobres diabos
mentais que precisam de quem pense por eles. Aqueles senhores de cabelos
brancos que passaram pela vida sem nada aprender acomodam-se perfeitamente na
sentença do Grande Mestre do Saber Leonardo da Vince que enquadra quem nada
aprendeu na vida na condição de meros condutores de comida que deixam latrinas
cheias como única marca de sua passagem pelo mundo. A falta de respeito à
inteligência e esforço alheios com que aqueles senhores de cabelos brancos se
dirigem indistintamente à coletividade é tão ofensiva quanto ofensivo é para um
aluno estudioso que se dedicou a aprender os ensinamentos dos seus mestres de escola
ao ser considerado do mesmo nível mental de outro aluno relapso que nada
aprendeu.
As duas ocorrências a que nos referimos retratam com perfeição a
dificuldade dos seres humanos em superar a falta de discernimento que a
caracteriza, razão pela qual são motivos de tristeza porque mostram estarmos
muito longe da maturidade suficientemente necessária para permitir que se deixe
o barbarismo das desavenças e avançar rumo à uma civilização capaz de
proporcionar bem-estar coletivo sem o qual é impossível haver bem-estar individual.
Por outro lado, a busca do bem-estar individual do ser humano equivale à busca
do cachorro em alcançar seu próprio rabo uma vez ser o próprio ser humano que
impossibilita a realização desse sonho ao deixa-lo à mercê da dependência do
Estado porquanto todo Estado tem por meta principal poder suficiente para lhe
permitir pavonear com o título de império. Acontece que ao se tornar império o
Estado cisma em não permitir que outro Estado se torne também poderoso, pela
mesma razão que a religiosidade cisma em impedir o avanço do ceticismo, que é a
mesma razão pela qual o rico cisma em que o pobre seja sempre pobre, que é a
mesma razão pela qual o parasita cisma em não perder o hospedeiro.
A falta de lógica da recomendação para se ter fé em deus como remédio
para o sofrimento fica sobejamente demonstrada na realidade de que ninguém tem
mais fé em deus do que seu representante maior, o papa, cujos insistentes rogos
a deus em prol da sensatez no mundo são totalmente inúteis porque a cada dia o
mundo é ainda mais insensato do que no dia anterior. Não menos ridícula é a
afirmação dos senhores de cabelos brancos que nada aprenderam na vida de que se
de acordo com a lógica o mundo não pode ter sido criado por deus, mas de acordo
com a fé, pode. Ora, tal afirmação é de uma estupidez lapidar porque a impossibilidade
de ser o mundo obra de deus é conclusão de cientistas segundo a qual o mundo
tem origem num processo de evolução desenvolvido pela natureza, que de
transformação em transformação veio resultar em tudo que está aí, inclusive
nós. As evidências desta conclusão são visíveis na semelhança que existe entre
nós e o bicho que durante bilhões de anos se transformou em nós. Todos temos a mesma
fonte de vitalidade na ingestão de alimentos, a digestão deles e a excreção dos
resíduos, tudo feito absolutamente do mesmo jeito, além de ser comum o processo
que tanto dá origem ao bebê bicho e o bebê humano. Todos decorrem da fecundação
de um óvulo, uma gestação que transforma em indivíduo o embrião resultante da
fecundação do óvulo e expulsão do útero materno para a vida onde o processo de
transformação continua até depois de exaurir a vitalidade. Daí em diante, para
aqueles ingênuos senhores de cabelos brancos que nada aprenderam na escola da
vida e que não explicam para onde vão as espécies não humanas, o indivíduo da
espécie humana vai para um lugar onde impera plena felicidade lá no céu ao lado
de deus, para onde o papa vendia passagens chamadas Indulgências, como também
vendiam os egípcios antigos há mais de sete mil anos, de acordo com regras
estabelecidas no Livro dos Mortos.
Mas, e a fé? O que é a fé senão um fanatismo tão cego que dispensa a
análise das informações sobre os assuntos divinos? Se não se pode provar que a
ciência está errada, o mesmo não se pode dizer da fé a que se referem os
senhores de cabelos brancos que nada aprenderam na escola da vida porque a fé afirmava
ser a Peste Bubônica obra de feiticeiras, que a terra era o centro do universo,
que proibia o avanço da medicina por considerar obra divina o corpo humano e,
com tal, inviolável pela especulação humana, queima os céticos por recomendação
de deus, convicções que vieram a ser desmoralizadas pela tanto pela ciência
quanto pelo inevitável superação da ignorância e a inocência pelo
discernimento, superação esta que transformará a fé religiosa em mera curiosidade
literária como a história mitológica em que o deus Apolo, envaidecido com o
feito de matar a monstruosa serpente Píton com potente flechada desferida do
seu poderoso arco, zombou de Cupido com seu arco e flechas que pareciam de
brincadeira. Irritado, Cupido espetou em Apolo uma flecha que o fez ficar louco
de paixão pela belíssima Dáfine e espetou nela uma flecha que ao contrário da
de Apolo, fez com que ela fosse tomada de total aversão ao amor de Apolo.
Assediada implacavelmente pelo apaixonado Apolo, ao ser perseguida por ele,
pediu a seu pai que também era um deus que lhe mudasse a forma a fim de ser
livre daquela perseguição sem trégua que ela tanto ela detestava, no que foi
prontamente atendida e transformada numa árvore cujas folhas vieram a ser
usadas para confeccionar coroas, as famosas folhas de louro. Esta e muitas
outras histórias da mitologia grega podem ser degustadas no livro Mitologia, de
Thomas Bulfinch. Tal será o crédito que merecerá no futuro as histórias sobre milagres
e pessoas conversando com estátuas ou a afirmação do papa vitimado por um tiro
que depois de salvo pelos médicos, atribuiu não ter morrido porque uma entre as
centenas de santas, a Virgem de Fátima, interveio no trajeto da bala e a
desviou dos órgãos vitais, e, por incrível que possa ser, há quem seja tão
estúpido a ponto de engolir esta safadeza de fomentar nas pessoas a incapazes
de racionar.
Mas a falta de respeito daqueles senhores de cabelos brancos da Colmeia
Humana que nada aprenderam na escola da vida ao igualar quem raciocina a quem
não raciocina vai mais longe com a infantilidade demonstrada ao justificar a
existência do mal afirmando que o deus deles é tão perfeito que fez o mundo
perfeito, mas que pessoas insatisfeitas com a perfeição criaram dentro da perfeição
um ambiente de imperfeições que dá origem aos males. Aqueles senhores dos
cabelos brancos que nada aprenderam na escola da vida desconsideram a
existência de quem pode raciocinar e concluir ser impossível que um deus capaz
de criar o universo seja incapaz de fazer com que o mundo esteja de acordo com
a vontade dele. Se deus não queria o mal, mas foi este imposto pelo homem, não
há outra explicação além de ser o poder do homem superior ao de deus, o que
seria totalmente impossível se fosse verdade a existência de um deus com um
poderia tão grande que fora capaz das façanhas que lhe são atribuídas e que não
passam das fantasias que o cérebro humano é pródigo em criar tais como Papai
Noel, Romãozinho, Saci Pererê, Mula Sem Cabeça, Vampiro, Bruxa, etc., etc.
As fantasias impedem à humanidade se ligar na realidade. É por conta das
fantasias que se negligencia a existência de uma fase da vida inteiramente
diferente, quando então, já demasiadamente tarde, se percebe a grande mancada
de ter esbanjado a vitalidade sem se lembrar da necessidade de cuidados
dispendiosos que inevitavelmente acompanham a inevitável velhice. Como todos
temos o destino traçado pela política, e como a humanidade em vez da política
se liga em igreja, axé, futebola, “famosos” e “celebridades”, não se interessa
pelo lado verdadeiramente importante da vida e se interessa pelas notícias do
Yahoo Notícias, entre as quais a de uma mulher que teria passa a ser mais feliz
no casamento depois que passou a cobrar dinheiro do marido para atender os
pedidos de sexo oral. Inté.
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