A notícia
de que os donos da empresa Walmart enriquecem ainda mais com a infelicidade das
pessoas em função do sufoco causado pela pandemia é um retrato mais que
perfeito da desumanidade que caracteriza a cultura capitalista do “venha a mim
e os outros que se danem”. A tamanha distorção social foi submetida a política,
que de modo tão bárbaro coloca o povo no canto da parede e para onde quer que ele
vire não tem como deixar de ser atochado pelo “ferro” capitalista.
Sendo a
imprensa o espelho que reflete a alma da sociedade, outra notícia na imprensa que
mostra reflexo de uma sociedade inviável é a notícia de que o ministro Paulo
Guedes pede aos senadores que salvem a República Brasileira conta a Câmara dos
Deputados. Fica a questão de saber quem salvaria o Brasil do Congresso que
juntamente com todos os governantes que passaram pelo governo trouxeram o país
à calamidade em que se encontra. Trata-se de uma situação que denuncia com
todas as letras a inviabilidade da atual política como ciência cujo objetivo
deveria ser cuidar do bem-estar social. Tão importante, portanto, a ciência
política quanto a ciência médica que cuida do bem-estar individual porque quando
a sociedade está mal como está nossa sociedade ninguém pode estar bem. Esta
segunda notícia, tanto quanto a primeira, mostra também que o povo não tem como
escapar do “levar ferro” que é o triste destino por ele escolhido na
encruzilhada do livre arbítrio. Pior de tudo é que a alegria dos festejamentos
do axé e do futebola denuncia ter sido uma opção consciente daquilo que tinha
certeza de querer, o que revela um gosto muito estranho esse do povo.
Povo é um
elemento tão incrivelmente incompreensível que embora composto de espécimes de
uma espécie que pode raciocinar comporta-se do mesmo modo daqueles peixinhos
que ajuntam seus pequenos corpos para fingir ser um só e imenso corpo a fim de escapar
do ataque de predadores, mas que, sendo obrigados a se movimentar, quando sobem
são pescados por imensa revoada de pássaros pescadores e quando descem são
abocanhados por baleias que chegam a engolir cem quilos deles em cada bocada.
Tal qual os peixinhos, também o povo não tem como escapar do “levar ferro” não
só de dois, mas de todos os lados. Além de ser atochado pela doença nova e
terrível, é atochado também pela sanha dos abutres do Wall Marte, avaros perseguidores
de riqueza que sugam o bolso dos infelizes frequentadores de igreja, axé e
futebola que nada mais ou muito pouco sobra depois do atochamento pelo
pagamento do dízimo.
À conclusão
de que o povo escolheu conscientemente o “levar ferro” é a única que sobra ante
a também esquisita opção pela indiferença política que o filósofo Bertold
Brecht definiu como analfabetismo político, responsável pelos males do mundo.
Ao fazer tal opção o povo se nega a tentar outro tipo de sociedade, um tipo que
lhe permitisse escapar do atochamento. Realmente, se a política é responsável
pela saúde social, jamais poderia ser negligenciada pela indiferença política porque
o resultado é a desgraça de assistir horrorizado e impotente a morte
desassistida de filhos, pais, irmãos e amigos e a aterradora perspectiva de
tê-los enterrados em vala comum ante a
impossibilidade de sepultamento individual dada a grande quantidade de cadáveres.
O maior estrago que faz o analfabetismo político é que a omissão em participar
da escolha de autoridades deixa espaço aberto para os maus políticos que
degradam o ambiente político e afasta dele as pessoas de caráter nobre. Disto
resulta tamanha distorção que já não se sabe mais quem é bandido e quem não é
porque o que se vê são acusações mútuas tanto de banditismo quanto de disfarçada
proteção a bandidos que denuncia conivência com o banditismo.
Entre os
muitos hábitos que têm os frequentadores de igreja, axé e futebola de
manifestarem sua preferência pelo atochamento é o hábito de esperar que o tempo
lhes convença a desistirem de ter esperança nas promessas de velhas múmias
políticas. Depois de muito apanhar, passam a acreditar em aventureiros,
malandros travestidos de políticos que se lhes apresentam com promessas de
inovação e mudança de rumo. Deste proceder insensato acabam vindo a ser atochados
pelos novos malandros ainda com mais vigor ainda do que faziam as múmias carcomidas
pela degradação política que apesar de tudo o que fizeram, volta e meia
aparecem rodeados de senhores de cabelos brancos, papagaios de microfone que
por precisarem falar sem parar por força do contrato de trabalho, fazem mil
perguntas sobre a solução para os problemas que não querem ver resolvidos.
Querer
ficar em paz é um argumento usado pela turba da oração e dos esportes para
disfarçar o mau gosto de ser atochado porque ao permitir que os postos de mando
sejam ocupados por malandros, resulta na espetacular desorganização social que
aí está, na qual é totalmente impossível
vir alguém a ter paz. Inté.
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