sábado, 1 de março de 2025

ARENGA 794

 

É notória a similaridade entre as falsas felicidades dos dois mundos que decidem o destino do mundo: o mundo da política e o mundo da televisão. Tanto são come gêmeos univitelinos que um e outro vivem com eterno sorrisão na cara. Embora haja no mundo da televisão quem chore, mas é de somenos importância. São pobres quando fogo ou água leva o sofá e estraga a televisão, o que enseja gordas emendas parlamentares no mundo da política. Outra das razões pelas quais no mundo da política ninguém chora é por não haver pobre por lá. Se por descuido pinta algum pobre por lá, os outros pobres logo providenciam para que ele deixe de ser pobre.

Sabem o que isso lembra? Lembra da servidão voluntária que pela primeira vez foi mencionada pelo jovem filósofo francês Etienne de La Boétie que no curto tempo em que viveu, faltando três meses para completar 33 anos, estudou direito, compôs poesias, traduziu clássicos gregos e legou à posteridade um dos mais geniais e vigorosos documentos da reflexão política: o Discurso da Servidão Voluntária. É o que nos diz o professor Homero Santiago, que escreveu a apresentação do livro Contra a Servidão Voluntária, da mestra Marilena Chauí.

Esta é uma questão deveras interessante, sobre a qual, apesar de já termos a ela nos referido, mas por outro ângulo.

 A grande importância da filosofia é levar à reflexão que é como se escolhe o melhor caminho por onde caminhar. Como a humanidade não tem tempo para a reflexão, vive na pior.

Aquela baboseira da recomendação filosófica para conhecer a si mesmo, a melhor maneira de encará-la é considerar como um chamamento à reflexão. Assim faz o mesmo professor acima citado. Ele diz que o bom senso vê como aberração falar-se em servidão voluntária e que por isso mesmo constitui um oximoro (palavra que o dicionário diz tratar-se de sentido contraditório e dá silêncio ensurdecedor como exemplo de oximoro.

Realmente, é grande a contradição que uma servidão voluntária encerra se até os pobres negros incultos submetidos à escravidão se rebelavam heroicamente contra a opressão que os sujeitava a exemplo de Zumbi dos Palmares. Por que, então, doutores haveriam de se submeter de bom grado?

Seguinte: entre a antiga servidão imposta pela força bruta sentida na pele pela chibata e a servidão moderna imposta pelo emprego há uma sutileza tão bem urdida que a privação de liberdade não é sentida, é camuflada e embora servis os servidores acreditam-se livres. Daí a felicidade dos festejamentos e as explosões de alegria, ao passo que os cantos dos escravos negros eram nostálgicos. Enquanto estes sentiam saudades do que lhes foi roubado, aqueles não veem motivo algum para saudade de nada posto acreditarem-se no melhor dos mundos.  Basta-lhes os filhos na escola onde aprenderão, como os pais, a cultura do venha a mim e os outros que danem, obrigação de respeitar deus, quando respeito não pode ser imposto.

Certamente por ter vivido em época anterior ao advento do poder da mídia e a razão de ter o jovem filosofo francês falado em servidão voluntária porque ela é imposta por imensa revoada de papagaios de microfone que faz a massa bruta de torcedores carnavalescos e ratos de igreja ver vermelho onde é verde. Enfim, a humanidade não precisa ser tão incapaz de ter seus próprios pensamentos. Fora disso, não há  como não viver de ilusão como as pessoas do exemplo de Platão na alegoria da caverna.

  

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