sexta-feira, 17 de maio de 2024

ARENGA 739

 

Os calhamaços de mil ou mais páginas, geralmente de leitura chatíssima, expressam incapacidade de transmitir o pensamento ou gosto pela prolixidade desnecessária. Vejam com que facilidade mestre Jean-Paul Sartre esclarece do seu ponto de vista um assunto de filosofia sobre a natureza humana que ele denomina de essência. Como se sabe, tais assuntos sempre envolvem complexidade. Esta lição está aqui na página 269 do livro O LIVRO DA FILOSOFIA, da editora Globo Livros:

“Ele (Sartre) nos convida a imaginar um abridor de cartas, aquele tipo de lâmina própria para envelopes. Essa lâmina nasceu das mãos de um artesão que teve a ideia de criar tal ferramenta e que teve claro entendimento sobre o que é necessário para um abridor de cartas: afiado o suficiente para cortar papel, mas não a ponto de ser perigoso. Deve ser fácil de manejar, feito de substância apropriada (metal, bambu ou madeira, talvez, mas não manteiga, cera ou penas) e talhado para cortar de maneira eficaz. Sartre disse que é inconcebível um abridor de cartas existir sem que seu fabricante saiba qual a sua finalidade. Portanto, a essência do abridor de cartas (todas as coisas que o tornam um abridor de cartas, e não uma faca de cortar carne) vem antes da existência de qualquer abridor de cartas específico. Os humanos, claro, não são abridores de cartas. Para Sartre, não há plano predeterminado que nos transforma no tipo de seres que somos. Não somos feitos para qualquer finalidade específica. Existimos, mas não por causa de nossa finalidade ou essência, como um abridor de cartas: nossa existência precede nossa essência”.

Seria bem melhor para a humanidade encarar a realidade de que nossa origem não está em divindade alguma que nos teria imaginado, principalmente nós, brasileiros, imaginados para requebradores de quadris e ladrões porque, como observa mestre Sartre, a ideia da criação antecede à criatura.

Mas o ser humano não faz uso da inteligência por não ter inteligência. Só não faz uso dela é por ser impedido pelas Forças Ocultas a que se referia Jânio Quadros, mas que estão à vista de quem conseguiu escapar da armadilha para aprender nos bons e simples livros como é que funciona a vida. Estas forças supostamente ocultas são obra de satanás e estão nas telas das TVs e celulares de onde pobres coitados mentais não conseguem se desligar. É uma maldade do tamanho do mundo entorpecer deliberadamente as pessoas para incapacita-las de concentrar sobre suas vidas, principalmente o povo porque como observou o filósofo, é mais fácil em a multidão do que o indivíduo.

Em outras palavras, o objetivo das telas (TV e celular, principalmente este) é emburrecer as pessoas atrofiando sua inteligência com tamanha eficiência que ter os filhos mandados para matar e morrer em guerras é a coisa mais natural do mundo. Daí a sabedoria de Humberto Eco ao afirmar que quem controla os meios de comunicação controla o mundo. Sendo manipulável o cérebro como mostra o hipnotismo, e sendo que aos ricos donos do mundo, dos governos e dos meios de comunicação interessa um povo incapaz de raciocinar para se conformar em esperar que deus lhe dê o que só dinheiro pode dar, o dinheiro que eles usurparam para si e que por ser de tamanha importância que salva vidas e socorre os pobres bailarinos de axé e de futebola lá do Rio Grande Sul. Se ninguém vê a inutilidade das orações do Papa é justamente por terem todos tido a inteligência apequenada.

Pior de tudo é que pela cara feia da natureza, tudo indica que junto com a insanidade de despejar crianças no mundo para um futuro nada promissor, o povo deve diminuir o tempo dos requebros para trabalhar mais a fim de fazer mais bilhões para novos socorros. Tomara que não, mas pode ser outra grande bobagem só se falar em reconstrução sem imaginar a possibilidade de novas destruições. Esperemos que não, mas custa nada botar as barbas de molho.

  

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