Certa vez este rabiscador de
garatujas escreveu um arremedo de livreco chamado Buscar Causas Em Vez De
Lamentar Efeitos. Ao dar a um médico amigo um exemplar, ouvi dele que gostara
do título. Ninguém melhor que médicos sabe que sem combater aquilo que causa a
doença, ela sempre voltará a se manifestar. Isto veio a propósito do que nesse
momento infelicita nossos irmãos gaúchos, as tempestades. Se por um lado se faz
estardalhaço sobre as medidas de recuperação dos estragos, por outro lado, a
única medida a respeito das causas do destempero climático é algo que se não fosse
de estupidez tão grande que entristece a lembrança de pertencer à humanidade
seria de fazer rir. Trata-se desta notícia no jornal: Senado aprova projeto
de lei sobre adaptação às mudanças climáticas. A notícia dá a entender que
o senado vai promulgar uma lei que nos torna capazes de viver sem respirar,
comer, beber, viver dentro d’água feito peixe ou ser infenso ao fogo feito amianto.
Já num jornal anterior, a notícia de
que o Brasil vai produzir comida no espaço. É possível a uma pessoa normal
suportar tanta estupidez? Terra prá todo canto sem uso ou usada para enriquecer
parasitas e o país vai produzir alimento no espaço sideral?
Independente de erudição ou
inteligência acima do normal, basta ser observador para se concluir que
sabedoria não faz parte do vocabulário humano, haja vista a situação inusitada
de não se poder viver senão em comunidade, dada a extraordinária variedade de
nossas necessidades, e, ao mesmo tempo, não ser possível viver em comunidade
pela espantosa desavença em função do excesso de ganância que faz seres humanos comportarem da mesma forma que as feras na
presa também querendo tudo para si só para no final deixar o excesso. tomar situação
semelhante à do hidrófobo que não consegue beber água apesar da necessidade de
beber.
O filósofo disse que uma mentira de
tanto repetida passa a ser considerada verdade. Não disse que passa a ser
verdade. Tanto assim que ele diz logo a seguir que com o tempo clamor em prol
da mentira cessa porque o tempo faz mais convertidos que razão. Sendo assim, e
é assim que é como nos mostram as várias mentiras que com o tempo deram lugar à
verdade, desaparecendo o clamor que perseguiu Galileu e mulheres bruxas.
É impossível não haver um jeito de
fazer o ser humano entender que há também uma vida social a ser preservada com
o mesmo zelo dispensado à vida individual quando até o assassinato em sua
defesa a lei assegura impunidade. Mas a vida em sociedade é inteiramente
negligenciada. Cada pessoa age como se apenas seus interesses merecem cuidados.
Até a nudez
em público deixa de merecer o mesmo
pudor, principalmente nas mulheres que nas fotografias procuram realçar enormes
bundas artificiais e as insinuações da parte da frente, aquela maravilha das
maravilhas, deixaram de ser apenas insinuações.
A ninguém parece interessar um método
de estimular no ser humano a evoluir intelectualmente como materialmente que
tanto evolui que se fala com alguém de qualquer lugar do mundo, enquanto causou
espanto o método mais eficiente de vários cavaleiros e cavalos substituindo um
ao outro fez que a notícia de um fato chegasse ao destino com mais eficiência.
Não há, entretanto, maior evidência da
extraordinária recusa do ser humano em evoluir mentalmente do que a crença na
existência de um deus cuja impossibilidade pode ser observada no fato de ser
maior onde é menor o nível de conhecimento ou desenvoltura intelectual e menor a
crença onde é maior esta desenvoltura. Quando pessoas mentalmente superiores ao
comum se misturam com quem lava escada de igreja ou faz pajelança, o motivo é
diferente de crença.
Enfim do ser humano pode-se esperar
tudo, menos racionalidade. O termo “numênico” está descrito como palavra que
significa algo fora da compreensão humana, quem entra para a academia de letras
fica imortal e nas palavras de Sófocles, em Antígona, Teseu vasou os olhos e
saiu pelo mundo afora. Haja saco!
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