sábado, 13 de julho de 2024

ARENGA758

 

Nas páginas 101 e 102 do livro Homo Deus, do professor, historiador e escritor Yuval Noah Harari, pode se ler:

“UM CONTO TALMÚDICO RELATA QUE A CAMINHO DO MATADOURO, UM BEZERRO FUGIU E BUSCOU REFÚGIO COM O RABI IEHUDA HANASSI, UM DOS FUNDADORES DO JUDAÍSMO RABÍNICO. O BEZERRO ENFIOU A CABEÇA SOB AS TÚNICAS ESVOAÇANTES DO RABI E COMEÇOU A CHORAR. MAS O RABI EMPURROU O ANIMAL E DISSE: “VA. VOCÊ FOI CRIADO EXATAMENTE PARA ESSE FIM”. COMO O RABI NÃO DEMONSTROU MISERICÓRDIA, DEUS O PUNIU, E ELE PADECEU DE UMA DOENÇA DOLOROSA DURANTE TERZE ANOS. ENTÃO, UM DIA, AO LIMPAR A CASA DO RABI E ENCONTRAR ALGUNS RATOS RECÉM NASCIDOS, UM CRIADO COMEÇOU A VARRÊ-LOS PARA FORA. O RABI IEHUDA CORREU PARA SALVAR AS CRIATURAS INDEFESAS, ORDENANDO AO CRIADO QUE AS DEIXASSE EM PAZ, PORQUE “DEUS É BOM PARA TODOS E TEM COMPAIXÃO POR TUDO O QUE CRIOU” (SALMOS 145,9). COMO O RABI DEMONSTROU COMPAIXÃO POR ESSES RATOS, DEUS DEMONSTROU COMPAIXÃO PELO RABI, E ELE FOI CURADO DE SUA DOENÇA.

OUTRAS RELIGIÕES, PRINCIPALMENTE O JAINISMO, O BUDISMO E O HINDUÍSMO, DEMONSTRAM GRANDE EMPATIA PELOS ANIMAIS. ELAS ENFATIZAM A CONEXÃO ENTRE OS HUMANOS E O RESTANTE DO ECOSISTEMA, E SEU PRINCIPAL MENDAMENTO ÉTICO CONSISTE EM EVITAR MATAR QUALQUER SER VIVO. ENQUANTO O BÍBLICO “NÃO MATARÁS” SE REFERE APENAS A HUMANOS, O AMTIGO PRINCÍPIO INDIANO DO AHIMSA (NÃO VIOLÊNCIA) ESTENDE-SE A TODO SER SENSÍVEL. MONGES JAINISTAS SÃO ESPECIALMENTE CUIDADOSOS COM RELAÇÃO A ISSO. ELES SEMPRE COBREM SUAS BOCAS COM UM PANO BRANCO PARA NÃO INALAR NENHUM INSETO, E SEMPRE QUE CAMINHAM LEVAM UMA VASSOURA PARA DELICADAMENTE VARRER TODA FORMIGA OU BEZOURO DE SEU CAMILHO”.

Não parece historinhas de fazer criança dormir? Mas, apesar de encerrar inocência, a realidade de ser encarada toda esta infantilidade como algo da maior seriedade e merecedora de respeito, explica o motivo pelo qual a humanidade marcha levando consigo a juventude inocente para um triste e imerecido destino. Ainda há pouco tempo a imprensa anunciou que mais de setecentos religiosos morreram no calor sufocante do deserto em busca de proteção divina, e hoje noticia várias mortes em desastre de ônibus em São Paulo de pessoas que também buscavam proteção no enorme posto de arrecadação de dízimo e venda de ilusões de Aparecida. São criminosos os pais que levam inocentes crianças para tais acidentes. 

É por negar-se veementemente a encarar de frente e sem subterfúgios a realidade da vida que a humanidade é infeliz. Não há outro caminho para os seres humanos evitarem sofrimentos a não ser dedicar à política a mesma ou se possível ainda maior atenção do que se dedica a divindades, se nenhuma evidência há da existência delas e, ao contrário, não se poder negar os benefícios de uma política honesta e da realidade de ter cada povo criado suas divindades como mostram as mitologias encontradas nos livros Mitologia Nórdica, de Neil Gaiman, ou no O Livro de Oura da Mitologia, de Thomas Bulfinch, em ambos desfilam incontáveis divindades nas quais se acreditavam da mesma forma como hoje se acredita nas divindades atuais da mesma forma que hoje se acredita em outras divindades que também, com o tempo, perderão a pose apesar de estar demorando muito para a humanidade dar esse importante passo rumo à civilização. Não obstante a demora, a humanidade acaba caindo na real. Observe-se quanta contradição há no texto inicial. Bezerro que chora e pede socorre, não matar animais para determinada fé e para outra, é o próprio deus que ordena a matança da bíblia.

A crença religiosa é inculcada nas crianças. Ninguém seria religioso senão por ter aprendido com alguém que por sua vez aprendeu com outro alguém. Como são poucos os que buscam a verdade, a mentira encontra espaço para reinar com tranquilidade, mas só até certo ponto. À medida, entretanto, que mais pessoas percebem a realidade, a religiosidade vai caindo em desuso até chegar sua vez de se tornar mitologia e mera curiosidade literária. Enquanto isso, é motivo de atraso grandemente prejudicial à evolução civilizatória. Percebe-se facilmente ser a religiosidade maior onde é menor a evolução espiritual, como deve ser interpretado o avanço lento, mas eterno do conhecimento ou civilização. A humanidade demora demais para superar a obscuridade em que teima em permanecer.

 

 

 

 

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