Nas páginas 101 e 102 do livro Homo
Deus, do professor, historiador e escritor Yuval Noah Harari, pode se ler:
“UM CONTO TALMÚDICO RELATA QUE A
CAMINHO DO MATADOURO, UM BEZERRO FUGIU E BUSCOU REFÚGIO COM O RABI IEHUDA
HANASSI, UM DOS FUNDADORES DO JUDAÍSMO RABÍNICO. O BEZERRO ENFIOU A CABEÇA SOB
AS TÚNICAS ESVOAÇANTES DO RABI E COMEÇOU A CHORAR. MAS O RABI EMPURROU O ANIMAL
E DISSE: “VA. VOCÊ FOI CRIADO EXATAMENTE PARA ESSE FIM”. COMO O RABI NÃO
DEMONSTROU MISERICÓRDIA, DEUS O PUNIU, E ELE PADECEU DE UMA DOENÇA DOLOROSA
DURANTE TERZE ANOS. ENTÃO, UM DIA, AO LIMPAR A CASA DO RABI E ENCONTRAR ALGUNS
RATOS RECÉM NASCIDOS, UM CRIADO COMEÇOU A VARRÊ-LOS PARA FORA. O RABI IEHUDA
CORREU PARA SALVAR AS CRIATURAS INDEFESAS, ORDENANDO AO CRIADO QUE AS DEIXASSE
EM PAZ, PORQUE “DEUS É BOM PARA TODOS E TEM COMPAIXÃO POR TUDO O QUE CRIOU”
(SALMOS 145,9). COMO O RABI DEMONSTROU COMPAIXÃO POR ESSES RATOS, DEUS
DEMONSTROU COMPAIXÃO PELO RABI, E ELE FOI CURADO DE SUA DOENÇA.
OUTRAS RELIGIÕES, PRINCIPALMENTE O
JAINISMO, O BUDISMO E O HINDUÍSMO, DEMONSTRAM GRANDE EMPATIA PELOS ANIMAIS.
ELAS ENFATIZAM A CONEXÃO ENTRE OS HUMANOS E O RESTANTE DO ECOSISTEMA, E SEU
PRINCIPAL MENDAMENTO ÉTICO CONSISTE EM EVITAR MATAR QUALQUER SER VIVO. ENQUANTO
O BÍBLICO “NÃO MATARÁS” SE REFERE APENAS A HUMANOS, O AMTIGO PRINCÍPIO INDIANO
DO AHIMSA (NÃO VIOLÊNCIA) ESTENDE-SE A TODO SER SENSÍVEL. MONGES JAINISTAS SÃO
ESPECIALMENTE CUIDADOSOS COM RELAÇÃO A ISSO. ELES SEMPRE COBREM SUAS BOCAS COM
UM PANO BRANCO PARA NÃO INALAR NENHUM INSETO, E SEMPRE QUE CAMINHAM LEVAM UMA
VASSOURA PARA DELICADAMENTE VARRER TODA FORMIGA OU BEZOURO DE SEU CAMILHO”.
Não parece historinhas de fazer
criança dormir? Mas, apesar de encerrar inocência, a realidade de ser encarada
toda esta infantilidade como algo da maior seriedade e merecedora de respeito,
explica o motivo pelo qual a humanidade marcha levando consigo a juventude
inocente para um triste e imerecido destino. Ainda há pouco tempo a imprensa
anunciou que mais de setecentos religiosos morreram no calor sufocante do
deserto em busca de proteção divina, e hoje noticia várias mortes em desastre
de ônibus em São Paulo de pessoas que também buscavam proteção no enorme posto
de arrecadação de dízimo e venda de ilusões de Aparecida. São criminosos os
pais que levam inocentes crianças para tais acidentes.
É por negar-se veementemente a
encarar de frente e sem subterfúgios a realidade da vida que a humanidade é
infeliz. Não há outro caminho para os seres humanos evitarem sofrimentos a não
ser dedicar à política a mesma ou se possível ainda maior atenção do que se
dedica a divindades, se nenhuma evidência há da existência delas e, ao
contrário, não se poder negar os benefícios de uma política honesta e da
realidade de ter cada povo criado suas divindades como mostram as mitologias
encontradas nos livros Mitologia Nórdica, de Neil Gaiman, ou no O Livro de Oura
da Mitologia, de Thomas Bulfinch, em ambos desfilam incontáveis divindades nas
quais se acreditavam da mesma forma como hoje se acredita nas divindades atuais
da mesma forma que hoje se acredita em outras divindades que também, com o
tempo, perderão a pose apesar de estar demorando muito para a humanidade dar
esse importante passo rumo à civilização. Não obstante a demora, a humanidade
acaba caindo na real. Observe-se quanta contradição há no texto inicial. Bezerro
que chora e pede socorre, não matar animais para determinada fé e para outra, é
o próprio deus que ordena a matança da bíblia.
A crença religiosa é inculcada nas
crianças. Ninguém seria religioso senão por ter aprendido com alguém que por
sua vez aprendeu com outro alguém. Como são poucos os que buscam a verdade, a
mentira encontra espaço para reinar com tranquilidade, mas só até certo ponto.
À medida, entretanto, que mais pessoas percebem a realidade, a religiosidade
vai caindo em desuso até chegar sua vez de se tornar mitologia e mera curiosidade
literária. Enquanto isso, é motivo de atraso grandemente prejudicial à evolução
civilizatória. Percebe-se facilmente ser a religiosidade maior onde é menor a
evolução espiritual, como deve ser interpretado o avanço lento, mas eterno do
conhecimento ou civilização. A humanidade demora demais para superar a
obscuridade em que teima em permanecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário