Sob o olhar indiferente de uma
juventude imbecilizada e futucadora de telefone a política é transformada em assuntos
policiais e futricagem de comadres que faz a festa da papagaiada de microfone
que para ter a despensa abastecida precisa falar, falar e falar dia e noite sem
cessar, mas, sem tocar no assunto de ser o destino do povo carregar nos ombros
uma plêiade de parasitas acastelados em palácios vivendo regaladamente sem ser
afetada pelos males que afetam aqueles que não lhes deixam faltar inclusive o
desnecessário e que pagam os impostos que eles se recusam a pagar. Não há algo
de estranho em parecer que intelectuais desconhecem esta realidade
aparentemente inexplicável?
Como não tem exceção para a regra de
que toda regra tem exceção, também há quem seja capaz de raciocinar entre os
irracionais frequentadores de igreja, axé e futebola que constituem a raça
humana, e foi assim que surgiu no meio da malta inglesa um pensador chamado
Thomas Hobbes, que por ser conhecedor da história humana percebeu tratar-se de
seres brutos em função de ainda integrar sua personalidade a agressividade dos
tempos de bicho e concluiu que cada um deles representa um lobo para o outro.
Aproveitou, então, o senhor Hobbes,
a dica de terem seus antepassados distantes inventado um
monstro sanguinário com forma humana destinado a coibir a brutalidade
espiritual dos brutos seres humanos a quem deram o nome de deus e comparou
outro mostro também sanguinário que seus antepassados haviam criado com o nome
de Estado, destinado a coibir a brutalidade material dos brutos seres humanos
que sem ser contida inviabilizaria completamente a possibilidade de serem utilizadas
as vantagens que descobriram haver na forma de vida coletiva. A esta invenção o
senhor Hobbes deu também a forma humana e o nome do mostro bíblico Leviatã. Como
não tem dimensão a brutalidade humana, estas invenções vieram a se mostrar tão
inúteis quanto o arrependimento, um bispo, um cardeal, ou um papa.
E nem podia deixar de ser inútil o Estado, porquanto os
encarregados de seu funcionamento são tão lobos quanto aqueles sobre os quais tem
o Estado o dever de impor civilidade. Levados por um instinto ainda mais feroz
do que o de lobo cuja fome pode ser saciada, os responsáveis pelo funcionamento
do Estado cuja fome de riqueza não pode ser saciada deturparam o poder estatal
de forma tão espetacular que praticam crimes em busca de riqueza se auto
isentaram das punições que aplicam nos outros praticantes dos mesmos crimes,
criando para garantia de impunidade uma profissão socialmente imoral, mas que é
considerada não só normal, mas também honrosa, a profissão de advogado, técnicos
especializados em evitar punição para ladrões que roubam valores altos o
bastante para agraciá-los com polpuda parte do roubo.
A sociedade foi tão degenerada que a prostituição, atividade apreciada,
útil e necessária sobretudo para quem já perdeu os dotes físicos que atraem uma
fêmea bela e jovem, o que lembra a historinha ouvida no Aerobar entre goles de
uísque sobre um velho que tendo deixado sua coroa em casa, contratava um
programa com uma jovem garota de programa que lhe perguntou se estava achando
caro o custo do programa, ao que o velho respondeu: – minha filha, comigo se não for cara é coroa
–. Apesar de sua utilidade, a apologia à
prostituição, que era considerada uma contravenção penal, em função da
deturpação da moral social, é hoje fonte de renda para noticiosos que sob
pretextos vários expõem “as partes” de gostosíssimas
e convidativas “famosas” e “celebridades”.
Foi nisso aí que resultou a
esperança de que com a criação do Estado fosse possível evitar a autodestruição
entre os elementos constitutivos do elemento asqueroso povo.
E é notável a falta de percepção de estar
nesta ferocidade a causa de toda a infelicidade humanidade, atribuída erradamente
a formas e sistemas de governo, quando ela está no próprio governante que por
ser também lobo, visa apenas os próprios interesses. Daí que a não ser pela
necessidade de fazer jus ao salário não se justificar o infindável palavrório
da papagaiada de microfone sobre novas expectativa pela posse de uma autoridade
uma vez que todas elas, sem exceção alguma, da mesma forma que os papagaios de
microfone, têm de seguir a cartilha estabelecida pelos ricos donos do mundo, agiotas
do sistema financeiro, que parasitam impiedosamente a humanidade que parece
gostar de ser hospedeira dos vermes que lhe sugam a vitalidade e descartam o
que resta para as lamentações nos corredores de hospitais, da mesma forma que
se descarta o bagaço da cana. Tal ferocidade é ainda mais cruel do que a
ferocidade do assassinato de alguém porque a ação dos malditos Midas do mundo
resulta na infelicidade de toda a espécie humana.
Desta forma, estando na personalidade
de lobo que ainda determina o comportamento humano a causa dos males do mundo, como
cachorro correndo atrás do rabo, intelectuais apontam para tais males várias outras
causas que não são as verdadeiras dando a impressão de fazerem vista grossa
para a realidade. Um exemplo: nas páginas 13 e 14 do livro COMO AS DEMOCRACIAS
CHEGAM AO FIM, de David Runciman, consta que depois de ter lido durante a
viagem de navio de Londres para a Índia o trabalho de E. M. Foster sobre
tecnologia, Gandhi teria ficado convencido de que além do fato de deixar a
cargo de governantes a responsabilidade de tomarem decisões pelas pessoas, a
democracia também pecava pela artificialidade do mecanicismo da tecnologia.
Embora Gandhi estivesse correto quanto a ser falha a democracia por ser um
governante responsável pelo destino das pessoas, erra, e muito, ao afirmar
estar esta falha na tecnologia porque ela está é no mal uso que se faz da
tecnologia e não na tecnologia em si mesma, capaz de fornecer valorosos
recursos para o bem-estar do ser humano infelizmente
a serviço de apenas párias sociais tidos como famosos e celebridades em função
de ser marionete do pão e circo ou ser seu mantenedor.
Segundo o autor do livro citado, Gandhi
afirmava que as pessoas deviam viajar só até onde as pernas pudessem levá-las e
se comunicar apenas até onde a voz alcançasse. Aí está, pois, a demonstração de
haver grande distância entre a realidade e a opinião do filósofo indiano porque
a impossibilidade de vir a democracia ou qualquer sistema político a ter
sucesso em promover o bem-estar social é que em função da ferocidade de lobo do
ser humano, nenhum dos sistemas políticos tem tal preocupação por objetivo
porquanto, como lobos que são seus dirigentes, visam apenas os próprios
interesses bajulando a classe dos ricos que erradamente acreditam encontrar
tranquilidade no acúmulo da riqueza para cujo ajuntamento subornam os
executores de qualquer sistema político para agirem visando seus interesses antissociais
de avaros. Assim, não está na tecnologia, mas no mau uso que dela se faz o
fracasso das políticas em promover bem-estar social. Caso Hitler, Mussolini,
Stalin, ou qualquer ditador feroz visasse o bem-estar comunitário de seu povo
inteiro em vez de determinada classe apenas, teriam pleno sucesso em alcançar a
paz e tranquilidade cuja falta a humanidade tanto padece.
Desta realidade se conclui ser
impossível haver paz e tranquilidade sem que sejam impostas por quem padece de
paz e tranquilidade. Não havendo no mundo quem não aspire por estes bens
espirituais de paz e tranquilidade, a materialização desta aspiração está na
união de todos os aspirantes. Só assim haverá poder de impô-la à malta que
transformou o mundo em propriedade privada e montou poderosos exércitos que
embora compostos por pessoas do povo, foram induzidos a matar e morrer seus iguais
em proteção daqueles que são a causa de sua infelicidade. O problema está é em
como tirar do torpor em que se encontra o asqueroso elemento povo, que embora
carente de paz e tranquilidade está tão a cômodo em sua infelicidade que vive
um eterno festejamento, convencido de haver felicidade na vida estressante de
correr prá cima e prá baixo por exigência da condição de empregado.
Desta forma, supondo-se bem, acredita
o povo não haver necessidade de estar melhor, e esta crença anula a
possibilidade de mudança no que está estabelecido, que os intelectuais inúteis
chamam de “establishment” e que outra coisa não é senão o efeito do mau uso da
tecnologia que por meio da arte de explorar a estupidez humana, processo
conhecido como propaganda, destrói a capacidade de raciocinar e transforma povo
em manada, embrutecendo-o de tal forma que o barulho passa a ser ingrediente
indispensável do seu mundo, o que explica o estardalhaço do pipocar de bombas e
das espalhafatosas notícias sobre esportes, todas em altíssimo volume, e a
algazarra nos estádios caríssimos para os jogos avidamente consumidos pela
manada que não sabe arcar com o custo desses elefantes brancos.
Daí que juntando a animada notícia
ouvida na rádio Bandeirantes AM de São Paulo, por volta das seis horas da manhã
do dia 26/06/20 sobre o deslocamento de cerca de duzentos atletas que
participarão das Olimpíadas em Portugal, não obstante a pandemia que assola o
mundo, ao lado da notícia sobre multa para quem recusar a usar máscaras de
proteção contra a terrível doença, ocorreram-me duas lembranças, sendo uma
delas a afirmação do pensador de ser o convívio com o povo tão desagradável
quanto uma doença, e a outra lembrança foi do tempo em que eu ainda era tão
inocente a ponto de acreditar ser possível algum sucesso na pequena agricultura
e implantar uma lavoura de café no município da Barra do Choça, na pequena
fazenda que denominei Mãe Terra, onde eu e Sara morávamos, há oito quilômetros
da cidade que dá nome ao município. Certo dia, sentindo um mal cheiro ao passar
perto de uma das janelas, lá fora encontrei um cachorro grandão e muito bonito de
pelo de veludo preto e brilhante com uma enorme ferida nas costas onde larvas
faziam festa semelhante às que o povo faz no axé e no futebola. A continuar, da
mesma forma como a festança do povo lhe consome os recursos, as larvas consumiriam
o pobre e simpático animal que com a cara encostada no chão olhava para cima,
para mim, com ar tristonho e com olhos compridos de quem pede ajuda. Com muito
medo, amarrei-o, abriguei-o longe de casa e pedi ajuda do meu irmão Bira,
excelente médico veterinário, que depois de prescrever os medicamentos
recomendou colocar no pescoço do animal um dispositivo apropriado para evitar
que lambesse a ferida, inutilizando o efeito da medicação. Pois, apesar do
aparelho, o cachorrão conseguia impedir que o ferimento cicatrizasse lambendo-o.
A identificação do comportamento do cachorrão ao precisar ser obrigado a não
impedir a proteção do curativo é idêntica ao comportamento de quem precisa ser
obrigado a se proteger da terrível doença, estupidez que faz compreender o mal-estar
que a convivência com o povo causa a quem pensa. Inté.
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