O que fez o povo do Brasil para
evitar que nosso país chegasse à degradação em que se encontra? Nada! Fizeram absolutamente
nada. E é justamente por nada terem feito a favor da civilização e muito ter
feito ao contrário é que ainda nos encontramos na idade dos caçadores
coletores, com diferença de hoje se caçar gente para coletar os pertences,
principalmente celulares. Vejamos o que dizem alguns pensadores a respeito da
humanidade e de nós que dela somos a parte mais suja ou menos digna:
Aqui na página 595 do livro História
da Civilização Ocidental, no capítulo sobre a Revolução Francesa, o historiador
Burns parece estar falando sobre nossa sociedade quando diz o seguinte:
“No alto estavam os nobres da espada,
cujos títulos remontavam aos suseranos feudais da Ida Média. Abaixo deles
colocavam-se os nobres da toga, cujos avós tinham comprado algum cargo judicial
que lhes conferia um título de nobreza e o direito de usar uma imponente beca
de magistrado .... a maioria deles eram parasitas a consumir uma riqueza que
outros produziam com o suor do rosto”.
Também não temos entre nós uso
indevido de toga? Tanto temos que a destemida e por isso mesmo rejeitada Eliana
Calmon afirmou haver bandidos de toga. E está bem colocado o termo “destemida”
porque covardes há aos montes escondidos atrás de instituições como Prescrição
e Foro Privilegiado. Por dizer a verdade, como a Lava Jato, cujos membros
sofreram perseguição, a doutora Eliana não também foi perseguida ao ser
rejeitada para o Senado onde também haveria de dizer verdades que incomodam aos
ilustres senhores que lá desfrutam do melhor que a vida pode oferecer.
Continuando o assunto da semelhança
entre os perdulários da sociedade francesa e os da nossa sociedade, temos que na
mais alta corte de justa desse belo país de triste sorte e povo, enverga-se uma
imponente toga quem foi reprovado para juiz de primeira instância, dispensado o
notável saber jurídico e muitíssimo menos a reputação ilibada. (Rui Barbosa
sabia disso). No mais, ainda seguindo o pensamento do historiador, também temos
uma plêiade de parasitas consumindo riqueza produzida com o suor de rosto
alheio. Até parece que o historiador Edward McNall Burns nos observa do além.
Passemos agora para a página 27 do
grandioso livro Falando Francamente, de Vinicius Bittencourt, livro que os
poucos brasileiros que leem e entendem o que lê deve ter na cabeceira da cama.
Citando Thomas Paine, o pensador Vinicius Bittencourt tem a seguinte impressão
sobre nossa sociedade:
“Quando lemos as histórias obscenas,
as libertinagens volutuosas, as cruéis e traiçoeiras execuções, as vinganças
impiedosas, que enchem mais de metade da bíblia, pensamos que seria mais
consistente chamá-la a palavra do demônio do que a palavra de Deus. É um relato
de atrocidades que contribuem para corromper a humanidade”. E acrescenta: “O povo quer ser
iludido. Os padres e os pastores suprem estas carências, fornecendo
imposturas”.
A frase “o povo quer ser iludido” tem
um alcance fora da capacidade perceptiva da malta religiosa de torcedores e
bailarinos de axé. Vê quão interessante: Individualmente, ninguém quer ser
iludido, bancar o otário. No entanto, reunidos os indivíduos em povo vivem
iludidos bancando otários sem se dar conta, afastados que foram da sabedoria pelas
artimanhas do pão e circo.
Quando pais levam suas crianças para
o meio de multidão ensandecida de torcedores ou para cultos religiosos, nada de
anormal para eles há nisso. Mas, na verdade, há mal tão grande que o
comportamento resultante deste procedimento trouxe o povo a querer ser iludido,
como disse bem mestre Vinicius Bittencourt, e é certo que o povo nunca deixou
de ser feito de bobo se vive a cultura do venha a mim e outros que se danem que
não encontra espaço em povo bobo por ser fácil de ser iludido.
Pulemos para a página 15 do livro A
Oligarquia Brasileira, do pensador Fábio Konder Comparato:
“Eis por que pode-se (sic) dizer que a oligarquia é o
regime político próprio da civilização capitalista, que no presente é a
civilização mundial. Importa, no entanto, acrescentar que essa oligarquia é
sempre dissimulada, sob a falsa aparência de um regime político de base popular”.
Retomando a palavra, temos que no
capitalismo ou cultura do venha a mim e os outros que se danem tudo é
dissimulação. Como a mentira tem pernas curtas, o entusiasmo do povaréu iludido
arrefece a cada dia nas pessoas mais instruídas e, por isso mesmo, menos fáceis
de serem feitas de bobas. Se políticos ainda levam multidões às praças é
porque, como disse Ivon Curi, há bobo prá tudo.
Saltemos para a página 20 do livro O
Clube Secreto Dos Poderosos, da fabulosa escritora espanhola Cristina Martín
Jiménez, citando esta declaração do professor americano Carroll Quigley no
seguinte teor: “O poder do capitalismo financeiro tem um objetivo
transcendental, nada menos que criar um sistema de controle financeiro mundial
para mãos privadas, capaz de dominar o sistema político de cada país e a
economia do mundo como um todo”. Se o monstro capitalista irradia
metástases para sociedades ironicamente chamadas de civilizadas, que dizer de
republiquetas de banana onde infinitos motivos há tanto para tristezas quanto
para alegrias?
Por último, porque nenhum saco
aguenta mais, vejamos outra citação da mesma escritora no mesmo livro, página
17, proveniente de quem sabe o que diz, Theodore Roosevelt: Por trás do
governo aparente está entronizado um governo invisível que não deve lealdade
nem reconhece responsabilidade alguma perante os cidadãos.
Se os governos que a humanidade
acredita serem responsáveis por ela têm atrás de si um governo maior que não
reconhece qualquer responsabilidade perante ela é porque a humanidade está
iludida e feita de boba.