Quando Schopenhauer diz que o sofrimento é positivo e que a
felicidade é negativa, é provável encontrar a explicação para isto no fato de
que em estado de sofrimento a pessoa é levada à reflexão e a depender da
duração ou da intensidade o estado de sofrimento pode fazer encarar a morte com
a tranquilidade que jamais beneficiará festeiros alegres. O sofrimento faz pensar
sobre a vida, o que não acontece em ambiente onde predomina a alegria porque
para os alegres a felicidade está é na alegria ainda que proveniente do álcool.
Mas tal estado de alegria não dura mais do que o acontecimento que lhe deu
causa. E quando passado, procura-se nova motivação para mais alegria. Por estar
sempre absorto pelos festejamentos é que se é apanhado de surpresa pela
realidade da vida que nada tem a ver com festejamentos e que ao alcançar o
populacho desprevenido o tormento é maior do que quando sua chegada é esperada.
Como a vida de quem integra o populacho é um tipo de vida
antinatural se para eles tempo é dinheiro, recorrem estes pobres diabos a mil e
duas tentativas inúteis e custosas que fazem a alegria dos bruxos do bisturi
que enriquecem às custas dos dependentes da vaidade e da ignorância de querer
ter aparência jovem pela vida toda.
A vida é melhor se encarada com e seriedade com que ela nos
encara e não raro ela nos encara com cara de poucos amigos. Como a educação que
as crianças recebem é forjada no malho dos Midas que fogem como o diabo da cruz
de um povo mentalmente evoluído, deste tipo de educação resultam adultos
conversando com estátuas, espíritos, lavando escadas de igrejas e mil e duas
mumunhas do tipo, ou seja, o populacho alegre e festivo.
Não se foge da velhice e muito menos da morte, há sabedoria
em encará-las com a mesma naturalidade que as caracteriza. É tamanho o medo da
velhice e morte que entre dois amigos íntimos o que tinha a mulher muito
encrenqueira e queixosa disse ao outro que um médico havia curado a birra de sua
mulher apenas dizendo que se tratava da aproximação da velhice.
E é também irreal a vida do populacho porque por considerar a
juventude a melhor fase da vida, o que carece de restrição por conta do pouco
ou nenhum conhecimento que incapacita os jovens a agirem com maior nível de
racionalidade, daí ser raríssimo o jovem que se interessa pelo futuro. Relatório
de cientistas prevê inviabilidade de vida ou de grandes dificuldades para se
viver em determinadas áreas do planeta em apenas cinquenta anos. Não obstante
esta cruel realidade,
jovens, como cavalos,
disputam em Paris quem corre mais depressa; como cangurus, quem dá o pulo
maior; como peixes, quem nada mais depressa, enfim executando vários tipos de
palhaçada como se fossem crianças mentalmente deficientes para no final uma
comissão de velhos ainda mais babacas escolher e premiar vencedores de tais
idiotices.