sábado, 22 de fevereiro de 2025

ARENGA 789

 

Na administração da riqueza pública, nas atividades relacionadas a diversão e na interpretação da palavra de deus é onde estão os melhores empregos do mundo visto que os profissionais em tais atividades ficam tão ricos como nunca ficará um trabalhador em qualquer outra atividade. Tirando fora os promotores de brincadeiras que não têm a mínima noção do quanto são prejudiciais à sociedade, os comandantes das duas outras categorias de profissionais executam um trabalho deveras interessante de apenas dizer à humanidade o que ela deve ou não deve fazer. Não deixa de haver nisso alguma bizarrice porque se trata de adultos e não de crianças que precisam de orientação nesse sentido.

Também muito interessante em tudo isso é que há cerca de cinco séculos um jovem francês chamado Etienne de La Boétie já tinha despertado para esta questão e escreveu um livro chamado Discurso Sobre a Servidão Voluntária sobre o assunto da obediência servil que faz a humanidade aceitar de bom grado uma orientação sem sentir curiosidade em saber se é certa ou errado o que lhe mandam fazer ou deixar de fazer.

Tendo vivido antes de Thomas Hobbes, que despertou a humanidade para a maldade humana que a impede a vida social, e de Thomas Paine, que observou não serem os humanos capazes de comportamento condizente com vida civilizada, certamente por isso ao jovem filósofo La Boétie não tenha ocorrido que a brutalidade humana precisa ser contida e que para tal fim instituiu-se o governo com poder de repressão capaz de impor um comportamento compatível com a necessária vida em sociedade.

Também escapou ao jovem filósofo a realidade de que aquilo a que ele se refere como tirania e opressão contra a qual se deve rebelar, decorrem justamente da falta de civilização citada por Hobbes e Paine como causas impeditivas de vida social harmoniosa.

Sendo a humanidade absolutamente incivilizada, e sendo que a orientação para um modo de vida civilizada não pode partir de um ser que desconhece o que seja civilização. Corresponderia a recorrer a um analfabeto para alfabetizar. É aí onde está a origem da tirania e da opressão à que sujeita o povo. Quanto à necessidade de rebelar-se contra ela, sugerida pelo filósofo, embora ele diga também que tal rebelião deva dispensar violência e ser feita de modo inteligente, faz-se necessário, entretanto, que se conheço o modelo de administração que vai ocupar o de opressão e tirania engendrado por seres incivilizados levados aos postos de mando por um povo também incivilizado. A tal sistema não se chega da noite pro dia. Demanda um sistema de educação capaz de superar o analfabetismo político citado por Brecht como a causa dos males do mundo. 

      

 

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