quarta-feira, 17 de novembro de 2010

OS JOVENS E O FUTURO

OS JOVENS E O FUTURO

Algum pai ou mãe, pelo menos uma destas futuras mães estreantes que passam ostentando com orgulho sua barriguinha, teriam pensado no tipo de ambiente em que irá seu filho viver? Os jovens barulhentos na saída das escolas, mais dia menos dia, todos serão pais e mães que irão cuidar de sua cria com zelo, dedicação, muito trabalho e despesa, almejando para ele futuro glorioso com muita felicidade. É o que todo pai normal e mãe almejam para seus filhos.
Estes jovens, entretanto, só conhecem o mundo de hoje, este do presente. O mundo de dez anos atrás, porém, era diferente do de hoje e o de vinte anos atrás era ainda mais diferente. E em que consiste esta diferença? Na deterioração da qualidade de vida. É aqui, jovem despreocupado, que você precisa colocar alguma responsabilidade no lugar de algumas brincadeiras e pensar um pouco na possibilidade de chegar a sociedade em que vivemos a uma condição de pobreza e violência tão grandes que não deixem espaço para a felicidade de seus filhos.
Vinte anos antes de hoje podíamos andar despreocupados pelas ruas nas madrugadas. Dez anos antes de hoje já seria perigosa tal empreitada, e atualmente é quase impossível que isto aconteça sem ocorrer alguma violência. A escala ascendente de violência levará a sociedade à desintegração e a juventude estará cometendo crime de omissão contra seus descendentes ao não procurar evitar tal desfecho.
Os bens materiais existentes no planeta são os únicos meios capazes de proporcionar o bem-estar necessário à existência da paz e de uma vida menos infeliz, onde haja possibilidade de trabalho e que as pessoas possam ir lá trabalhar e voltar vivas para casa. Entretanto, tais recursos estão a serviço de poucas pessoas. Àqueles que não integram o clube dos ricos, apenas as sobras, se houver.
Há algo de muito errado com quem não percebe a iminência do desastre resultante do modo como está sendo conduzida a administração dos bens materiais do mundo, e os jovens estão permitindo que velhos acostumados a um tempo que já não existe mais continuem a agir como se houvesse apenas eles com necessidades a serem atendidas. São tantas as pessoas infelicitadas pela exclusão social, origem da violência que era menor a vinte anos atrás, mas que vem crescendo assustadoramente a ponto de não se poder saber como será o amanhã, quando apenas os jovens de hoje estarão por aqui?
O mundo ficou muito ruim. Foi reduzido a atividades de produzir dinheiro, fábricas que transformam o planeta em quinquilharias e abarrotam o mundo de lixo e doenças. Os economistas, serviçais dos velhos ricos e donos destas fábricas, de mentalidade superada, vivem a repetir como papagaios coisas que para nós não tem qualquer significado. Bolsa de Valores, cotação de moedas estrangeiras, spread bancário, taxa de câmbio, saldo de balança comercial, importação e exportação, nada disto tem a ver com o povo que é quem move o mundo. Portanto, jovens, para seu próprio bem e de suas futuras crias, lembrem-se que vocês são povo e, portanto, de fora do clube das pessoas que desfrutam do bem-estar proporcionado pela riqueza produzida por vocês quando estiverem trabalhando como hoje fazem seus pais.
Todo jovem deve incluir em suas conversas comentários sobre a situação ora vivida em que apenas alguns gatos pingados desfrutam de toda a riqueza do planeta e disto resulte muita infelicidade e violência. Se os jovens de 1964 exageraram ao enfrentar de mãos limpas soldados armados e morrerem nesta luta inglória, os jovens de hoje também exageram ao permitir serem liderados por velhos e que a entidade de classe dos estudantes seja transformada em recinto de pelegos, como fizeram os jovens trabalhadores com os seus sindicatos.
Não há arma mais poderosa do que o pensamento. Só que para haver ação resultante do pensamento é necessário que se pense. Se os jovens de outras épocas podiam se dar ao luxo das brincadeiras por mais tempo, os de hoje não podem porque sua sobrevivência está em perigo e a correção de rumo necessária no destino da sociedade deve interessar sobremaneira aos jovens. Fatos demonstrativos do absurdo ora vivido estão aí de sobra para lhes incentivar o raciocínio, o lucro dos bancos, por exemplo, expõem tal distorção que ficaram sem jeito e mudaram o nome para spread a fim de disfarçar a roubalheira. O Banco do Brasil teve um lucro de dois bilhões e seiscentos milhões nos últimos três meses apenas. O Banco Itaú, três bilhões no mesmo período. O Banco Bradesco, dois bilhões quinhentos e vinte mil; Banco Santander, um bilhão novecentos e trinta milhões. Como é possível angariar tanto dinheiro em tão pouco tempo sem se produzir coisa alguma, apenas especulando com agiotagem? Motes para discussão não faltam. Se a Constituição Federal, que é a bíblia a ser observada pela administração pública, estabelece que todos somos iguais perante a lei, por que não somos, então? Ela também impõe que todas as pessoas tenham direito à educação, saúde, segurança, moradia, alimentação e lazer. Entretanto, como pode uma família de quatro pessoas ter estas coisas com o salário mínimo? Bagunça é o que não falta como se pode constatar pela presença de balas perdidas, de crianças de rua, de países estrangeiros usarem nosso território como depósito de lixo, do rouba escancarado do dinheiro público sob a indiferença popular, pelos salários de categorias importantes para a sociedade comparados com os salários de jogadores de bola.
É, moçada, tá na hora de botar a cabeça para girar em torno de coisas mais sérias que espetar espetos e veneno no corpo, além de promover a própria surdez com o volume do som nos carros.