sábado, 26 de fevereiro de 2011

E CADÊ A TAL SUPERIORIDADE?


O homem gosta de complicar. Dos animais, é o mais idiota. Tão idiota a ponto de ser presunçoso. Tão presunçoso que se acha obra prima da natureza ou de Deus. Acha-se tão distante dos outros animais, enquanto está tão próximo. E, não raro, tem comportamentos inferiores ao comportamento de muitos irracionais, quando levado por um instinto de perversidade ausente nos animais tidos como inferiores que o faz comprazer-se em fazer alguém sofrer. A natureza também produz gente capaz de desenvolver este tipo de caráter. Só será boa para se viver, uma sociedade na qual o mal-estar de apenas um dos seus membros seja motivo de preocupação de todo o grupo.
Entretanto, nem aquelas pessoas consideradas normais se dão conta do falso mundo em que vivemos. É mentirosa esta superioridade que o homem atribui a si mesmo. Não pode haver tanta diferença assim entre seres que se originam do mesmo processo físico-químico e que vivem do mesmo modo a trepar, comer e fazer muita sujeira.
O ser humano é imbuído de um sentimento de péssima qualidade que é o pernosticismo. Qualifica-se a si mesmo de HOMO SAPIENS. Já ouvi falar que esse tal de sapiens significa sabedoria. Se é verdade, é de causar riso. Como haver sabedoria em seres que embora sendo da mesma espécie e vivendo juntos, não só estabelecem uma diferença infinita entre eles, no que diz respeito à capacidade de terem atendidas as suas necessidades, mas que também se odeiam entre si?
Qualquer iniciado na verdadeira sociologia sabe que as pessoas só podem alcançar o bem-estar por todos desejado se houver entre elas o sentimento de solidariedade. Para que alcance seu objetivo, uma sociedade que se propõe a promover o bem-estar de seus membros, como é o caso da sociedade humana, seria necessário haver não só a ausência da competição entre as pessoas que compõem esta sociedade, mas também a presença da cooperação entre elas. Foi com o intuito de cooperação entre os indivíduos que a sociedade foi formada, depois de terem eles concluído ser mais fácil sobreviver em grupos do que isoladamente. Foi a sociedade concebida para que as pessoas se ajudassem mutuamente, e não para que de digladiassem.
Como o pavoneamento próprio da estupidez não deixa olhos que alcancem um palmo além do nariz, o ser humano complicou tanto a vida que fazer festa é tão importante a ponto de serem promovidos a celebridades milionárias todos aqueles que animam festas.
Não cabe no universo, sem ficar rabo de fora, o tamanho da estupidez contida na afirmação de ser preciso estar-se preparado para a guerra a fim de se ter paz.
A estupidez montou uma indústria de armas que precisa produzir mais e mais armas para satisfazer a fome de um monstro chamado mercado de armas. Então, como armas só servem para matar, a estupidez sai matando jovens mundo afora.

São estes os seres que se julgam superiores!

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

LIVRE PENSAR



Lá na escola, no tempo de inocente, eu ficava impressionado com a história de Moisés e as infrutíferas tentativas de tirar do Egito o Povo de Deus. Aquilo chegava a emocionar. Ouvia-se até comentário sobre como é que se podia desobedecer a Deus! “Mas também ele viu o que é bom prá tosse.” – Dizia alguém sobre o faraó. – “O mar fechou bem na hora que eles não podiam mais voltar”.
Esta recordação da juventude inocente me ocorreu ao ouvir duas senhoras que comentavam lá na agência do correio sobre os garotos de rua e as drogas. Uma delas estava absolutamente certeza de que os próprios garotos eram os responsáveis por sua desgraça. Eles teriam inteira liberdade de utilizar de uma ferramenta chamada livre arbítrio para moldar outro tipo de vida, se assim quisessem.
Temos, pois, duas ocorrências: A primeira era a certeza de ter acontecido realmente o episódio das nove tentativas frustradas de Deus para libertar o Seu povo. A segunda ocorrência era a tranqüilidade com que a cultura implantada por falsas informações podia distorcer a verdade de modo tão brutal a ponto de fazer aquelas duas senhoras sentirem-se isentas de qualquer responsabilidade, ainda que coletiva, pela situação daquelas crianças. Criadas sem nunca ter ouvido uma palavra de carinho, tendo a rua por “doce lar”, sem terem recebido nenhuma orientação de comportamento e cuja perspectiva de futuro é nenhuma, como esperar de tais crianças um comportamento normal, se até as crianças bem educadas tem comportamentos anti sociais?
A verdade, pois, é o contrário daquilo que aquelas duas inocentes senhoras acreditavam. A sociedade é que é a culpada da infelicidade daquelas crianças por ter permitido que elas sejam tratadas em situação inferior à de cães. Impedir tratamento indigno às crianças não quer dizer que as pessoas devam cuidar pessoalmente das crianças. Basta exigir que o poder público cumpra sua função porque é seu dever. Fazer esta exigência é muito mais eficiente do que encher o saco da gente nos locais de compra com a campanha do quilo. A força do povo quando usada para exigir o que a lei lhe garante pelo direito vigente é insuperável. No Egito, o povo está exigindo a saída de um senhor todo poderoso há trinta anos dono do país, mas que vai deixar de ser por pressão do povo.
Tanto a atitude de ficar emocionado por uma história para criança como é a das dez pragas quanto aquela outra da certeza de serem os garotos os próprios responsáveis por sua situação, são atitudes infantis. São adultos pensando ainda como eu pensava quando era adolescente. O aprendizado na escola da vida e nos livros que pessoas inteligentes escreveram me mostrou muitas verdades sobre a realidade da vida através de um método eficiente que é a purificação das informações que me chegam antes de aceitá-las como verdades prontas e acabadas. Quem assim procede, além de deixar de ser um maria-vai-com-as-outras, também se livra de um comportamento falso porque oriundo de uma falsa informação.
É espantoso observar o quanto a simplicidade destas pessoas pode levá-las a se acharem intelectualmente capazes de contestar opiniões de pessoas infinitamente mais bem preparadas intelectualmente para opinar sobre qualquer assunto. Ao mesmo tempo em que as pessoas valorizam o estudo e o conhecimento, desprezam as opiniões dentro da mais absoluta lógica, que é a ciência de coerência do raciocínio. O episódio do duelo entre Deus e o Faraó, se examinado por pessoa adulta e coerente não passa de brincadeira para criança. Absolutamente ninguém com imparcialidade admitiria que Deus, senhor de todo o universo, tivesse de medir força com um governantezinho, porcaria se comparado com quem criou tudo, inclusive o Egito e o governantezinho. É absolutamente certo haver algo de errado em quem admitir aquelas intervenções divinas com castigos terríveis a pessoas que nada tinham a ver com a disputa, inclusive assassinato de crianças.
Se a simplicidade mental das pessoas que povoam o mundo ainda não lhes permite raciocinar dentro da razão, isto significa que as pessoas agem desordenadamente e é por isto que o mundo é uma desordem só. Não há ordem numa sociedade onde os que produzem o sustento do grupo fiquem de fora na hora da divisão do resultado do trabalho de todos.
Esta realidade, entretanto, não pode ser percebida pela inocência, só depois de algum amadurecimento mental que permita analisar com isenção a informação recebida porque pode ser uma falsa informação como aquela que informava ser a terra quadrada. São, pois, as falsas informações as responsáveis pelos falsos comportamentos que produzem uma sociedade tão falsa a ponto de mediocridades virarem “celebridades” e “excelências”.
Se hoje até rimos de já se ter acreditado ser a terra o centro do universo, futuramente também rirão de nós ao constatarem que alguém sem instrução tenha salário mais de mil vezes superior ao salário de um professor. Dá até para ouvir a conversa de alguém do futuro falando sobre nós (se houver gente viva no futuro): “Parece incrível” – Dizia o cara do futuro – “Folheando esta enciclopédia, vejo que as pessoas no começo do século vinte e um queimavam o seu dinheiro em fogos e festas e morriam nas filas dos hospitais por falta daquele dinheiro”. E a gozação sobre nosso comportamento continuava entre os caras do futuro: “Ah, isso não é nada”. – Dizia outro cara do futuro. – “Eles tinham um sistema de administração pública cujos administradores tinham o direito de viver em palácios e ficarem ricos.As pessoas mais bem remuneradas naquela época eram as que exerciam as atividades menos relevantes como cantar e dançar um negócio horroroso chamada axé ou participar de programas medíocres de televisão. Estas pessoas eram denominadas reis ou rainhas e realmente levavam vida de reis”.
Não pude evitar uma ponta de tristeza por constatar o quanto podia ser melhor a nossa vida se agíssemos como pessoas adultas, educadas, e bastante responsáveis para assumirmos a responsabilidade pelo que somos responsáveis, superando a eterna criança só para brincadeiras. Viver em sociedade exige responsabilidade.






terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O PORQUÊ DA VIOLÊNCIA

Não se trata de presunção querer explicar a violência. Apenas repito o que aprendi nos ensinamentos que pessoas inteligentes deixaram nos livros. Eles nos mostram que nossos males decorrem da infantilidade humana. Como as crianças, os adultos também adoram soltar foguete e destruir coisas. Verdade que esta infantilidade diminui dia-a-dia, porém, ainda nos mantém tão longe da realidade da vida quanto nossos antepassados ao acreditar ser a terra quadrada. O desconhecimento da realidade (inocência) que leva a criança a enfiar o dedo na tomada elétrica, também faz os adultos se estabelecerem sobre um arsenal nuclear na certeza de ser este o procedimento correto para se ter paz. Como dormir em paz ao lado de bombas atômicas?
A estupidez da humanidade levou o sábio Leonardo da Vince a dizer as seguintes palavras sobre nós (ou contra nós?). Foram estas as duras palavras do mestre: “Os que se acomodam ante os desmandos não passam de condutores de comida, os únicos rastros que deixam de sua passagem pelo mundo são latrinas cheias”.
Devíamos nos envergonhar de merecer tal reprimenda por aceitarmos os desmandos do mundo! Somos indiferentes ao sofrimento de nossos irmãos, pessoas com os mesmos sentimentos e necessidades que nós! Com a desculpa de livre arbítrio todos pensam que podem ficar tranquilos quanto à indiferença com que contemplam crianças berambulando pelas ruas. Crianças que nunca ouviram uma palavra de carinho! Criança não pode ficar na rua sozinha!
Conselhos sábios não devem esperar por pedidos. Os mestres do saber nos mostram que nossa sociedade é ruim porque o comportamento atual das pessoas é exatamente o contrário daquele comportamento que levou as pessoas a sentirem necessidade de viver juntas. A cooperação entre elas lhes facilitaria a vida. Mas eis que a competição substituiu aquela cooperação inicial de modo tão violento que ainda justifica a expressão de ser o homem o lobo do próprio homem. É por isto que nossa sociedade é vítima de uma infelicidade maior a cada dia. Nenhuma sociedade pode ser normal com desavenças entre seus membros.
Um destes conselhos sábios nos dá o filósofo Sam Harris, no livro Carta a Uma Nação Cristã, pág. 16. Ao constatar que mais da metade do povo de seu país ainda pensa que o universo foi criado há apenas seis mil anos, quando a ciência prova a existência de coisas com centenas de milhares de anos. Não deixa de ser estranho tal comportamento. Não parece coisa de quem pensa acreditar mais em algo de que só se tem notícia do que em algo cientificamente provado.
Quem se dedicar a pensar sobre o assunto de maneira independente, acabará concordando com o filósofo. Inocência é o contrário de experiência, e é notória a superioridade da experiência sobre a inocência quando se trata de se construir alguma coisa. Não há outra explicação por termos uma sociedade tão mal construída senão a ingenuidade de acreditar que para se ter paz é preciso preparar-se para a guerra. Só a aceitação de desmandos faz com que se encare sem indignação a ocorrência de disparos ouvidos em meio a uma programação de rádio, mas que era a inaceitável realidade de alguém sendo morto na rua, em frente à estação que transmitia o programa.
O comportamento da sociedade atual é o mesmo da Idade Média, quando as pessoas que compunham a fina-flor da sociedade tinham como única preocupação apenas caçar e cobrar impostos para gastar em festas. Não é demais repetir, portanto, ser o resultado da falta de amadurecimento mental, ou seja, a inocência da realidade que nos cerca, a causa de tanto choro.
Um mundo que gasta montanhas de dinheiro em armas para ter paz, já por este comportamento demonstra insanidade. Demonstra insanidade ainda maior ao alimentar a fonte da violência que é a exclusão social. Isto significa que a inexperiência nos leva ao comportamento irracional do cachorro correndo atrás do próprio rabo. Fazemos a guerra para obter a paz e acabamos com a paz ao produzir miséria e a violência. Então, o que dizer de tal construção, senão ruim?
A próxima geração terá oportunidade de constatar se o filósofo tem razão. Se as coisas estiverem bem quando forem adultas as crianças que as mães carregam hoje em seus ventres, aí estará provado o erro do filósofo por não acreditar que a proteção divina salvaria as pessoas dos eventos funestos anunciados pela ciência. Porém, e se o filósofo estiver certo?