sábado, 27 de maio de 2023

ARENGA 675

 

 

Quanto mais baixo o conhecimento do homem, mais ele se aproxima do irracional. É por isso que tal homem tem pouco ou nenhum motivo para angústia e tristeza. Se para o irracional nada mais é preciso do que comer e beber, para o homem de pouco ou nenhum conhecimento, além de comer e beber, bastam-lhe as infundadas crendices que de tanto serem transmitidas de pais prá filhos estratificam na mente como as rochas na natureza. O apego ferrenho às tradições que trouxeram o mundo à infelicidade faz de tais crendices uma barreira contra tudo que se refere a progresso. Daí ter um pensador se referido a uma procissão como reunião de infiéis. A crendice religiosa, por exemplo, causou várias mortes entre os africanos por AIDS ao lhes proibir usar camisinha nas relações sexuais, principal fonte de transmissão da doença.

Entretanto, por maior que seja a resistência das crendices, elas acabam superadas pelo avanço lento mas inexorável da evolução do conhecimento da verdade pelos seres humanos. Em muitas sociedades a lei deu direito ao uso de drogas, divórcio, aborto. O próprio cristianismo só se firmou depois de legalizado pelo imperador romano Constantino que revogou a proibição pelo próprio Estado por razões políticas. Antes disso, cristãos morriam feito moscas no veneno.

 Se atualmente é praticamente nenhum o temor em função de pecado, na Idade Média, porém, causava o mesmo temor que hoje causa a notícia de ser vítima de câncer. A História nos diz que em épocas passadas até mesmo grandes pensadores a exemplo de mestre Platão deixava-se iludir pela crendice da existência de deus, e no mesmo engano incorreu o grande sociólogo Emile Durkheim quando viu na crendice religiosa a vantagem de criar consciência coletiva nas pessoas. Apesar de ser verdade que a religiosidade cria vínculo de união entre as pessoas que professam a mesma crendice, é uma união contra a civilização posto que fundamentada em falsidade.

quarta-feira, 24 de maio de 2023

ARENGA 674

 

Três fatos só aparentemente isolados deram origem a mais esta “prosa”.

Primeiro fato:

Um touro investiu furiosamente contra as pessoas que a custo o salvaram de morrer de fome e sede retirando-o de dentro de um lamaçal profundo do qual o grande animal se debatia inutilmente para sair. Se seus salvadores não tivessem conseguido fugir, certamente seriam massacrados pelo touro que salvaram.

Segundo fato:

Em conversa com uma pessoa do povo, portanto, alguém pobre como povo, me disse esta criatura professar o ideal político de direita porque o ideal político de esquerda é a causa dos males da humanidade.

Terceiro fato:

Em lúcida explanação, o jornalista Antônio Martins, responsável pelo Blog Outras Palavras, que é uma verdadeira escola de alfabetização política, em matéria intitulada COMO REAGIR À CAPTURA DA RIQUEZA COLETIVA PELOS BANCOS, chama a atenção para a inviabilidade de sucesso de nossa sociedade em decorrência do estrago causado pela exorbitância dos lucros dos bancos que graças a altíssimos juros parasitam imensas fortunas da coletividade já pobre.

Estes fatos, como dissemos no início, embora pareçam não se relacionarem, quando trabalhados pela imaginação levam a resultados práticos como veremos a seguir:

Não pode haver dúvida quanto à lucidez das palavras do jornalista quanto a ser um grande desserviço à sociedade a exploração bancária. Se a imprensa noticiou que apenas nos três primeiros meses deste ano o Banco Itaú teve um lucro de mais de oito bilhões de reais, dá para imaginar o quanto os famigerados banqueiros depenaram os brasileiros festivos.

Tal fato traz à mente a realidade de haver algo de muito errado com um governo que permite tamanho absurdo contra a sociedade que administra, deixando a entender como explicação para tamanho desleixo duas alternativas: vantagem proveniente de uma conivência criminosa ou incapacidade administrativa, casos que justificam a substituição das autoridades atuais por outras igualmente criminosas ou incapazes.

 Vejamos agora a correlação entre este estes três fatos:

O comportamento dos pobres de repúdio à política socialista corresponde exatamente ao comportamento do touro. Se o ideário socialista combate o excesso de riqueza parasitária e busca melhor distribuição desta riqueza, não se pode haver dúvida quanto a ser o comportamento ideal para os pobres. Portanto, em vez repudiá-lo como o touro repudiou seus salvadores, deveriam defender vigorosamente o socialismo. Daí a exatidão de Vinícius Bittencourt quando afirma que povo não pensa porque a mídia pensa por ele. A esta assertiva podemos acrescentar que como a mídia pertence aos exploradores do povo, evidente que a ela interessa um povo que repudia ideias contrárias às suas.

Ao conquistar a adesão dos pobres, os ricos conquistaram também a durabilidade do direito de fazer com que os pobres produzam a imensa riqueza existente no mundo sem que dela possam participar além de esmolas como os muitos auxílios entre eles o de absorventes de fluxo menstrual. É por aí que a política dos ricos domestica o poder que tem o povo de promover mudança. É tão grande este poder que carnaval, solenidades religiosas, futebola, enfim, nenhum dos espetáculos circenses do pão e circo consumiria as imensas fortunas que consomem sem a anuência do elemento povo cujo desconhecimento da realidade da vida o faz tão alegre e festivo de uma alegria e festividade próprias de débil mental.

Certamente com base nesse poderio imenso do povo foi que Marx afirmou que à classe operária (povo) pertencia o futuro. Mas ele não podia imaginar o pulo do gato que deram os opressores do povo fazendo com que os pobres se tornassem simpáticos às ideias dos ricos contra si próprios como vimos no segundo fato acima mencionado quando o touro ataca seus salvadores.

sexta-feira, 5 de maio de 2023

ARENGA 673

 

                  Onde predomina a falta de conhecimento, quem sabe menos sabe mais. Se Einstein tinha dúvidas a respeito do universo, o ignorante não tem. Tive oportunidade de constatar a pretensão de sabedoria existente no ignorante ao ouvir de alguém aculturado como é a generalidade das pessoas do povo que os males de que atualmente padece a humanidade decorrem dos ideais socialistas que segundo esta pessoa grassam pelo mundo. Como se explicar que pobre comungue as mesmas ideias dos ricos? Ao conseguirem a aderência dos pobres às suas atitudes antissocialistas os ricos perpetuam a cultura do venha a mim e os outros que se danem. Trata-se de um fenômeno social da maior gravidade uma vez que na democracia este tipo de mentalidade equivocada do povo é que tem o poder de colocar nos postos de mando os responsáveis pelo destino do mundo. Não demais insistir no que disse o filósofo americano Sam Harris disse no livro Carta A Uma Nação Cristã de se preocupar sobremaneira com o destino de seu país que por ser de maioria religiosa era incapaz do discernimento necessário para a escolha dos líderes políticos. E se o mundo está em petição de miséria não obstante tanta riqueza, deve-se exclusivamente à más gestões de seus líderes.

O fenômeno de adesão dos excluídos do direito à vida com dignidade ao ideário dos ricos donos do mundo que detêm a exclusividade desse direito vai encontrar justificativa no analfabetismo político por meio do qual e a custo de ouro os ricos compram a adesão dos pobres e com isso mantêm sua posição hegemônica assegurada pela anuência dos de quem só têm a perder com este procedimento de estar de acordo com a cultura de serem muitos muito pobres e poucos muito ricos. É algo que dá o que pensar a constatação de serem os próprios pobres que aprovam uma situação totalmente adversa a si mesmos. Se individualmente não há quem não queira viver bem. No conjunto das individualidades, entretanto, todos procedem de modo a viver mal.

Ninguém melhor para falar sobre este assunto do que mestre Eduardo Moreira. Na página 18 de Economia do Desejo, ele diz o seguinte: “Basta observar que da década de 1960 à década de 2010 a quantidade de riqueza gerada o mundo (PIB Global), já descontada a inflação do período, multiplicou-se por mais de 8 vezes (800%). Se, mesmo multiplicando a quantidade de riqueza gerada no mundo por tantas vezes (o que levou a vários recursos naturais darem sinais claros de esgotamento), temos ainda metade da população vivendo em situação de pobreza, como imaginar um mundo capaz de oferecer os recursos necessários para tirar toda a população dessa situação?”. Portanto, ajudar a permanecer este estado de coisas refutando o ideal socialista para se aderir ao ideário capitalista só pode haver explicação no fato de que no ambiente de ignorância, quem sabe menos, sabe mais. Daí ter Vinicius Bittencourt afirmado em Falando Francamente: “A ignorância faz aceitar as injustiças sociais e atribuir ao destino os infortúnios”.