sábado, 31 de julho de 2021

ARENGA 599

 

            Apesar de bastante velhinha, a humanidade ainda não percebeu não haver ser humano ungido da santidade que o tornasse capaz de superar o primitivismo atávico responsável pela ganância e sede ferozmente incontida de riqueza. Desta realidade só escapam loucos e personagens como Jó, das histórias bíblicas da Carochinha. Na realidade, o que se tem é que governantes se mancomunam com personalidades amorais e imorais para formação de famigerados grandes grupos econômicos especializados em espoliar as sociedades em que se encontram sob vistas grossas ou mesmo com participação das autoridades que em troca da facilitação das malandragens embolsam gordas propinas.

 É totalmente inusitado ficar o destino da sociedade humana sob responsabilidade de quem tem por objetivo parasitá-la. Entretanto, mesmo sendo os interesses desses grupos diametralmente opostos aos interesses das populações, embora numericamente insignificantes sejam os avarentos, o interesse dessa minoria antissocial prevalece sobre o interesse da imensa maioria de seres humanos transformados pela astúcia tinhosa dos parasitas em carneiros de Cristo conformados com uma situação que seria inaceitável como os que menos possuem são os que mais contribuem com impostos. 

É insano buscar a própria infelicidade permitindo que criminosos do colarinho branco, assassinos que matam por desnutrição, doenças desassistidas e violência, transformem a política na politicagem narrada da primeira à última das oitocentos e oito páginas do livro Tchau Querida, do politiqueiro Eduardo Cunha, calhamaço de enfadonha narrativa sobre reuniões macabras, jantares, conversas fiadas, enfim, uma trama diabólica de futricagem, desonestidade e conluio conta a turba festeira e estúpida que nesse momento, enquanto leva ferro, curte em Tóquio espetáculo circense das Olimpíadas.

terça-feira, 27 de julho de 2021

ARENGA 598

 

Entre todas as atividades desenvolvidas pelos seres humanos na busca inconstante e mesmo instintiva de maior comodidade, duas destas atividades se destacam em razão de estarem mais diretamente ligadas ao bem-estar. A primeira delas é a política, responsável pelo bem-estar coletivo e individual, o que pode se dizer redundância porque os dois se complementam.

A segunda atividade mais importante é a medicina porque quando bem apoiada pela política evita a maioria dos males que afetam a saúde.

Visto isto, este cantinho de pensar levanta uma questão que embora da maior importância é totalmente negligenciada. Se estas duas atividades são de tamanha importância, por que, então, não merecem da sociedade o acatamento que merecem? No que diz respeito à política, merece tanto zelo por parte das populações que passada a enganação das eleições, os eleitores se retiram com tal indiferença que logo nem mesmo se lembram em quem votaram. Poucos sabem quem são os senadores e deputados de seu Estado e os vereadores de seu Município. Quanto à medicina, embora haja médicos que desprezando a ética profissional se tornam meros ganhadores de dinheiro e enriquecem, nem estes e muitissimamente menos ainda aqueles que respeitam o juramento Hipócrates merecerão da    sociedade o apreço dispensado a toupeiras intelectuais às quais se dão os títulos de "famosos" e de "celebridades". A propósito, 


No que diz respeito aos nobres professores responsáveis pela relevante atividade de ensinar, estes, então, coitados, além de salários miseráveis são maltratados também por jovens levados tanto pela rebeldia própria da juventude, mas fora do contexto porque as cosas a clamar por rebeldia passam incólumes pela juventude futucadora de telefone. A respeito do quanto se estima os protagonistas de atividades que dependem de músculos em vez de cérebro, na madrugada do dia 25/07/2021, na Rádio CBN, um papagaio de microfone lamentava que em função da pandemia não se podia abraçar os atletas na festa de dos Jogos Olímpicos no Japão.

Talvez a humanidade, como os dinossauros, desapareça antes de saber o significado de pão e circo. Nunca, jamais virá alguém em perfeita saúde mental concordar com o fato de meninos aculturados, portanto, desprovidos de consciência social,  tanto pela inexperiência quanto pela falta de instrução, recebam enormes fortunas em retribuição a habilidade em jogar bola. Se a sociedade pensa diferente por ser uma sociedade doente.

  

segunda-feira, 19 de julho de 2021

ARENGA 597

 

          Aquela criança que mostrou a nudez do rei precisa aparecer outra vez para mostrar que os intelectuais estão tão longe da realidade quanto estava o rei nu. A inutilidade dos intelectuais no que diz respeito àquilo que realmente interessa, a qualidade de vida, aparece também no primeiro capitulo do livro O Fim Da Utopia, do intelectual Russell Jacoby, que começa desse jeito: "Em setembro de 1955, centenas de escritores e acadêmicos, de Raymond Aron a Arthur Schlesinger Jr., reuniram-se no Museu Nacional de Ciência e Tecnologia de Milão para discutir o futuro da liberdade". Causa pasmo tamanha sandice. Discutir sobre o futuro de algo que não existe. Tamanha perda de tempo pode ser comparada à longa explanação do filósofo assalariado pela Rede Globo Mario Sergio Cortella sobre a deidade de Cristo. 

          Apesar do vasto conhecimento, os intelectuais sinceros, porque há os insinceros como Marcelo Gleiser que afirma ter o homem necessidade de deus, opinião falsa porque o homem precisa é saber ser o único responsável por sua maior ou menor infelicidade. Nesta mesma linha de falsidades, outro intelectual, Henry Kissinger, afirma que a competição é ideal para a vida comunitária e vasta gama de baba ovos do sistema financeiro afirmando que os bancos exercem atividade socialmente benéfica ao levar dinheiro onde ele se faz necessário, quando a verdade é que os bancos exploram a sociedade tão injusta e escandalosamente que por meio apenas das famigeradas e malditas taxas arrancam da sociedade mais dinheiro do que o governo gasta em saúde e educação.

Mas, tirando fora os vendedores de opiniões, mesmo os intelectuais que demonstram preocupação quanto a necessidade de superação da barbárie em que vive a humanidade, mesmo estes se perdem num interminável falatório sobre problemas, quando o único problema que existe é que os seres humanos criaram para si mesmos obstáculos intransponíveis no caminho que a levaria à civilização.

Desta forma, despertar a humanidade para este fato é mais importante do que mostrar-lhe os problemas uma vez que estes resultam do desinteresse humano em relação à atividade de viver. Como bem disse Mestre Rousseau, é impossível fazer-se entendido por quem é desatento. O desinteresse da humanidade quanto à sua qualidade de vida é uma realidade tão clara quanto água limpa no meu copo de cristal aqui ao lado com uma talagada de “Bleu Label”. A negligência humana quanto a seu futuro pode ser observada de várias maneiras, sendo a quantidade de festas uma delas. Outra, totalmente inviabilizadora de boa qualidade de vida está no fato de depositar na economia política a dependência do bem-estar.  Ao fazer isso, a humanidade cria monumental impasse porque quando a economia está mal, o presente também estará mal. Mas, quando a economia está bem, é o futuro que estará mal. Isto é absolutamente inevitável e dentro da cultura individualista do capitalismo adotada pela humanidade é uma regra para a qual não pode haver exceção visto que o desenvolvimento econômico capitalista inviabiliza não só a possibilidade de uma vida social equilibrada, mas também a sobrevivência da humanidade vez que não pode prescindir da destruição do meio ambiente. Apodrecendo o ar, a água e envenenando os solos e a alimentação, o desenvolvimento econômico suprime as condições das quais depende a vida. Não é por outra razão que o aquecimento global já provoca trágicas consequências, entre elas a primeira pandemia da era moderna que assola a humanidade. Outras virão.

Uma segunda razão para a inviabilidade do desenvolvimento econômico é que sendo seu objetivo acumular riqueza para poucos e pobreza para muitos, torna inevitável a violência ao dividir a humanidade em duas classes tão diferentes quanto fogo e água, portanto, ferrenhamente antagônicas porquanto  uma minoria privilegiada com direito a tudo ao lado de uma maioria esmagadora numericamente que por não ter direitos nenhuns, para sobreviver, é obrigada a se tornar serviçal da classe privilegiada, numericamente insignificante. Esta situação se assemelha a um barril de pólvora ao lado de uma fogueira. Daí a violência de presídios abarrotado de infelizes e um medo generalizado a demandar imenso aparato de homens em armas a consumir imensa riqueza.

Embora teçam-se loas ao desenvolvimento econômico, trata-se de opiniões emitidas em troca da despensa abastecida. Como disse um dos raros economistas cujas opiniões não são vendidas, uma vez que são irreversíveis os danos à natureza, o desenvolvimento econômico cria para as gerações do futuro um débito impossível de ser resgatado porquanto lhes será impossível deter a elevação da temperatura, limpar os rios e o ar, restaurar as florestas, devolver os animais ao seu ambiente, evitar o surgimento de doenças.

Para encurtar conversa sobre o desvario que é apoiar-se a humanidade no desenvolvimento econômico, matéria publicada no Yahoo Notícias de 15/07/2021, com o título Os Salários Astronômicos Dos Brasileiros No Futebol Chinês mostra com perfeição o quanto distante da realidade está a sociedade humana vez que no país prestes a se tornar a primeira potência econômica do mundo ocorre tamanha insanidade. Eis a notícia: “Ex-jogador de São Paulo e Inter, Oscar é o mais bem pago entre todos os brasileiros na China, com salário de R$ 12 milhões por mês. Ou seja, o meia do Shanghai SIPG fatura quase R$ 150 milhões por ano”.

É ou não é total loucura desperdiçar tanto dinheiro com o objetivo único de desviar a atenção da humanidade das mazelas políticas para evitar que ela perceba a realidade de que sendo ela o único e verdadeiro senhor, por que ser liderada tão desastrosamente por fabricantes de riqueza, pobreza, desarmonia, guerras, Onze de Setembro, doenças e infelicidade? Tal sandice só acontece enquanto o pão e circo impedir que se desperte para a realidade de estar tudo errado.

 

quarta-feira, 14 de julho de 2021

ARENGA 596

 

A organização social humana não condiz com a realidade de se tratar de obra executada por seres dotados de inteligência porque parece ser impossível haver inteligência em criaturas dominadas por ânimo destrutivo tão exuberante que destroem não só suas próprias construções, mas também a si mesmas. Destroem, inclusive, a possibilidade de superar o primitivismo e se tornarem civilizadas posto que montaram uma organização social inferior à das abelhas e formigas na qual todos os membros da sociedade trabalham em benefício da coletividade. Ao contrário da sociedade humana onde muitos trabalham e poucos desfrutam, na sociedade de irracionais todos produzem para que todos desfrutem. Não haveria por trás desta situação total desinteligência? Parece inegável sobretudo porque na sociedade humana, por mais desumano que seja é legal e mesmo necessário que seres humanos se tornem propriedade de outros seres humanos, atitude na qual resplandece imensurável estupidez e desumanidade. Como permitir-se que seres humanos privem outros seres humanos de dignidade tornando-os mercadoria, e de forma tão absolutamente abjeta que tal direito pode determinar se o escravizado deve morrer.

 Apesar de inadmissível esta monstruosidade que não era segredo no tempo da escravidão da chibata quando homens, mulheres e crianças eram nada mais que animais de serviço e objeto de negócio tão lucrativo que enriqueceu muita gente, se é que se pode considerar gente esse tipo de gente, embora não se pode deixar de levar em consideração a cultura da época.

Treze de Maio de 1888! Acabou a escravidão no Brasil! Acabou? Não, não acabou! Proibido látego, a escravidão metamorfoseou-se, tomou forma de emprego, e continua de bandeira desfraldada vez que outra coisa não é senão escravo quem por força da necessidade de vender força trabalho, como se deve entender o emprego, vê-se obrigado a ter definhada a vitalidade vez que não lhe é permitido dormir o necessário, ter de adquirir doenças em função da atividade, ser privado da tranquilidade de sentar-se à mesa com a família para não perder o chamado do apito do patrão.

E a demonstração de desinteligência agiganta diante da seguinte questão: sendo de escravizados a absoluta maioria da sociedade humana, e sendo esta maioria que escolhe as autoridades responsáveis por este tipo perverso de organização social, por que, então, são escolhidos para os postos de mando justamente as pessoas interessadas em preservar a penalização da maioria, como se a sociedade fosse formada de masoquistas e de sádicos? Da forma como foi organizada a sociedade humana, de escravizadores e escravizados, sobra sofrimento para todo mundo. Mestre Platão observou que ao subjugar outras pessoas o subjugador forma suas próprias cadeias.

Para melhor ilustrar a monstruosidade em que nos encontramos envolvidos é que este cantinho de pensar transcreve parte do discurso proferido pelo senador Paulino de Sousa, na ocasião em que foi aprovada a extinção da escravidão negra no Brasil, o último país do mundo a fingir extinguir a prática de considerar seres humanos como se humanos não fossem. Na página 28 do livro Raízes Do Conservadorismo Brasileiro, de Juremir Machado da Silva, pode ser encontrada amostra de como a sociedade humana foi engendrada de modo tão estúpido que não estariam fora da realidade as palavras com as quais aquele senador considerava desumano acabar com a desumanidade da escravidão. É isso mesmo, haveria humanidade, altruísmo, generosidade e sentimento de irmandade na escravidão porque sua eliminação teria como consequência deixar ao Léo  velhos e crianças, o que, nos moldes da organização social escravagista não é de todo sem razão como mostram as palavras do senador Paulino Sousa, explicando o porquê de ser um mal acabar com a escravidão: “É desumana porque deixa expostos à miséria e à morte os inválidos, os enfermos, os velhos, órfãos e crianças abandonadas da raça que se quer proteger, até hoje nas fazendas a cargo dos proprietários, que hoje arruinados e abandonados pelos trabalhadores válidos, não poderão manter aqueles infelizes por maiores que sejam os impulsos de uma caridade que é conhecida e admirada por todos que todos que frequentam o interior do país”.

Pode haver vislumbre de inteligência em seres que organizam uma sociedade na qual há na escravidão amor pelo próximo? Pois, dentro da monstruosa sociedade humana é o que acontece.

A exuberância de irracionalidade humana se mostra de forma espetacular também na destruição da natureza da qual resultou esta pandemia que apesar de ter matado mais de meio milhão, não inibe festas nem que pipoquem alvoroçados campeonatos esportivos como se nada de perigoso estivesse acontecendo.