Aquela
criança que mostrou a nudez do rei precisa aparecer outra vez para mostrar que
os intelectuais estão tão longe da realidade quanto estava o rei nu. A inutilidade dos intelectuais no que diz respeito àquilo que realmente interessa, a qualidade de vida, aparece também no primeiro capitulo do livro O Fim Da Utopia, do intelectual Russell Jacoby, que começa desse jeito: "Em setembro de 1955, centenas de escritores e acadêmicos, de Raymond Aron a Arthur Schlesinger Jr., reuniram-se no Museu Nacional de Ciência e Tecnologia de Milão para discutir o futuro da liberdade". Causa pasmo tamanha sandice. Discutir sobre o futuro de algo que não existe. Tamanha perda de tempo pode ser comparada à longa explanação do filósofo assalariado pela Rede Globo Mario Sergio Cortella sobre a deidade de Cristo.
Apesar do
vasto conhecimento, os intelectuais sinceros, porque há os insinceros como
Marcelo Gleiser que afirma ter o homem necessidade de deus, opinião falsa
porque o homem precisa é saber ser o único responsável por sua maior ou menor
infelicidade. Nesta mesma linha de falsidades, outro intelectual, Henry
Kissinger, afirma que a competição é ideal para a vida comunitária e vasta gama
de baba ovos do sistema financeiro afirmando que os bancos exercem atividade
socialmente benéfica ao levar dinheiro onde ele se faz necessário, quando a
verdade é que os bancos exploram a sociedade tão injusta e escandalosamente que
por meio apenas das famigeradas e malditas taxas arrancam da sociedade mais
dinheiro do que o governo gasta em saúde e educação.
Mas, tirando fora os vendedores de opiniões, mesmo os
intelectuais que demonstram preocupação quanto a necessidade de superação da
barbárie em que vive a humanidade, mesmo estes se perdem num interminável
falatório sobre problemas, quando o único problema que existe é que os seres
humanos criaram para si mesmos obstáculos intransponíveis no caminho que a levaria
à civilização.
Desta forma, despertar a humanidade para este fato é mais
importante do que mostrar-lhe os problemas uma vez que estes resultam do
desinteresse humano em relação à atividade de viver. Como bem disse Mestre
Rousseau, é impossível fazer-se entendido por quem é desatento. O desinteresse
da humanidade quanto à sua qualidade de vida é uma realidade tão clara quanto
água limpa no meu copo de cristal aqui ao lado com uma talagada de “Bleu
Label”. A negligência humana quanto a seu futuro pode ser observada de várias
maneiras, sendo a quantidade de festas uma delas. Outra, totalmente
inviabilizadora de boa qualidade de vida está no fato de depositar na economia
política a dependência do bem-estar. Ao
fazer isso, a humanidade cria monumental impasse porque quando a economia está
mal, o presente também estará mal. Mas, quando a economia está bem, é o futuro
que estará mal. Isto é absolutamente inevitável e dentro da cultura
individualista do capitalismo adotada pela humanidade é uma regra para a qual
não pode haver exceção visto que o desenvolvimento econômico capitalista inviabiliza
não só a possibilidade de uma vida social equilibrada, mas também a sobrevivência
da humanidade vez que não pode prescindir da destruição do meio ambiente. Apodrecendo
o ar, a água e envenenando os solos e a alimentação, o desenvolvimento
econômico suprime as condições das quais depende a vida. Não é por outra razão
que o aquecimento global já provoca trágicas consequências, entre elas a primeira
pandemia da era moderna que assola a humanidade. Outras virão.
Uma segunda razão para a
inviabilidade do desenvolvimento econômico é que sendo seu objetivo acumular
riqueza para poucos e pobreza para muitos, torna inevitável a violência ao
dividir a humanidade em duas classes tão diferentes quanto fogo e água,
portanto, ferrenhamente antagônicas porquanto uma minoria privilegiada com direito a tudo ao
lado de uma maioria esmagadora numericamente que por não ter direitos nenhuns,
para sobreviver, é obrigada a se tornar serviçal da classe privilegiada,
numericamente insignificante. Esta situação se assemelha a um barril de pólvora
ao lado de uma fogueira. Daí a violência de presídios abarrotado de infelizes e
um medo generalizado a demandar imenso aparato de homens em armas a consumir
imensa riqueza.
Embora teçam-se loas ao
desenvolvimento econômico, trata-se de opiniões emitidas em troca da despensa
abastecida. Como disse um dos raros economistas cujas opiniões não são
vendidas, uma vez que são irreversíveis os danos à natureza, o desenvolvimento
econômico cria para as gerações do futuro um débito impossível de ser resgatado
porquanto lhes será impossível deter a elevação da temperatura, limpar os rios
e o ar, restaurar as florestas, devolver os animais ao seu ambiente, evitar o
surgimento de doenças.
Para encurtar conversa sobre o
desvario que é apoiar-se a humanidade no desenvolvimento econômico, matéria
publicada no Yahoo Notícias de 15/07/2021, com o título Os Salários Astronômicos
Dos Brasileiros No Futebol Chinês mostra com perfeição o quanto distante da realidade está a
sociedade humana vez que no país prestes a se tornar a primeira potência
econômica do mundo ocorre tamanha insanidade. Eis a notícia: “Ex-jogador de
São Paulo e Inter, Oscar é o mais bem pago entre todos os brasileiros na China,
com salário de R$ 12 milhões por mês. Ou seja, o meia do Shanghai SIPG fatura
quase R$ 150 milhões por ano”.
É ou não é total loucura desperdiçar
tanto dinheiro com o objetivo único de desviar a atenção da humanidade das
mazelas políticas para evitar que ela perceba a realidade de que sendo ela o
único e verdadeiro senhor, por que ser liderada tão desastrosamente por
fabricantes de riqueza, pobreza, desarmonia, guerras, Onze de Setembro, doenças
e infelicidade? Tal sandice só acontece enquanto o pão e circo impedir que se
desperte para a realidade de estar tudo errado.