segunda-feira, 19 de julho de 2021

ARENGA 597

 

          Aquela criança que mostrou a nudez do rei precisa aparecer outra vez para mostrar que os intelectuais estão tão longe da realidade quanto estava o rei nu. A inutilidade dos intelectuais no que diz respeito àquilo que realmente interessa, a qualidade de vida, aparece também no primeiro capitulo do livro O Fim Da Utopia, do intelectual Russell Jacoby, que começa desse jeito: "Em setembro de 1955, centenas de escritores e acadêmicos, de Raymond Aron a Arthur Schlesinger Jr., reuniram-se no Museu Nacional de Ciência e Tecnologia de Milão para discutir o futuro da liberdade". Causa pasmo tamanha sandice. Discutir sobre o futuro de algo que não existe. Tamanha perda de tempo pode ser comparada à longa explanação do filósofo assalariado pela Rede Globo Mario Sergio Cortella sobre a deidade de Cristo. 

          Apesar do vasto conhecimento, os intelectuais sinceros, porque há os insinceros como Marcelo Gleiser que afirma ter o homem necessidade de deus, opinião falsa porque o homem precisa é saber ser o único responsável por sua maior ou menor infelicidade. Nesta mesma linha de falsidades, outro intelectual, Henry Kissinger, afirma que a competição é ideal para a vida comunitária e vasta gama de baba ovos do sistema financeiro afirmando que os bancos exercem atividade socialmente benéfica ao levar dinheiro onde ele se faz necessário, quando a verdade é que os bancos exploram a sociedade tão injusta e escandalosamente que por meio apenas das famigeradas e malditas taxas arrancam da sociedade mais dinheiro do que o governo gasta em saúde e educação.

Mas, tirando fora os vendedores de opiniões, mesmo os intelectuais que demonstram preocupação quanto a necessidade de superação da barbárie em que vive a humanidade, mesmo estes se perdem num interminável falatório sobre problemas, quando o único problema que existe é que os seres humanos criaram para si mesmos obstáculos intransponíveis no caminho que a levaria à civilização.

Desta forma, despertar a humanidade para este fato é mais importante do que mostrar-lhe os problemas uma vez que estes resultam do desinteresse humano em relação à atividade de viver. Como bem disse Mestre Rousseau, é impossível fazer-se entendido por quem é desatento. O desinteresse da humanidade quanto à sua qualidade de vida é uma realidade tão clara quanto água limpa no meu copo de cristal aqui ao lado com uma talagada de “Bleu Label”. A negligência humana quanto a seu futuro pode ser observada de várias maneiras, sendo a quantidade de festas uma delas. Outra, totalmente inviabilizadora de boa qualidade de vida está no fato de depositar na economia política a dependência do bem-estar.  Ao fazer isso, a humanidade cria monumental impasse porque quando a economia está mal, o presente também estará mal. Mas, quando a economia está bem, é o futuro que estará mal. Isto é absolutamente inevitável e dentro da cultura individualista do capitalismo adotada pela humanidade é uma regra para a qual não pode haver exceção visto que o desenvolvimento econômico capitalista inviabiliza não só a possibilidade de uma vida social equilibrada, mas também a sobrevivência da humanidade vez que não pode prescindir da destruição do meio ambiente. Apodrecendo o ar, a água e envenenando os solos e a alimentação, o desenvolvimento econômico suprime as condições das quais depende a vida. Não é por outra razão que o aquecimento global já provoca trágicas consequências, entre elas a primeira pandemia da era moderna que assola a humanidade. Outras virão.

Uma segunda razão para a inviabilidade do desenvolvimento econômico é que sendo seu objetivo acumular riqueza para poucos e pobreza para muitos, torna inevitável a violência ao dividir a humanidade em duas classes tão diferentes quanto fogo e água, portanto, ferrenhamente antagônicas porquanto  uma minoria privilegiada com direito a tudo ao lado de uma maioria esmagadora numericamente que por não ter direitos nenhuns, para sobreviver, é obrigada a se tornar serviçal da classe privilegiada, numericamente insignificante. Esta situação se assemelha a um barril de pólvora ao lado de uma fogueira. Daí a violência de presídios abarrotado de infelizes e um medo generalizado a demandar imenso aparato de homens em armas a consumir imensa riqueza.

Embora teçam-se loas ao desenvolvimento econômico, trata-se de opiniões emitidas em troca da despensa abastecida. Como disse um dos raros economistas cujas opiniões não são vendidas, uma vez que são irreversíveis os danos à natureza, o desenvolvimento econômico cria para as gerações do futuro um débito impossível de ser resgatado porquanto lhes será impossível deter a elevação da temperatura, limpar os rios e o ar, restaurar as florestas, devolver os animais ao seu ambiente, evitar o surgimento de doenças.

Para encurtar conversa sobre o desvario que é apoiar-se a humanidade no desenvolvimento econômico, matéria publicada no Yahoo Notícias de 15/07/2021, com o título Os Salários Astronômicos Dos Brasileiros No Futebol Chinês mostra com perfeição o quanto distante da realidade está a sociedade humana vez que no país prestes a se tornar a primeira potência econômica do mundo ocorre tamanha insanidade. Eis a notícia: “Ex-jogador de São Paulo e Inter, Oscar é o mais bem pago entre todos os brasileiros na China, com salário de R$ 12 milhões por mês. Ou seja, o meia do Shanghai SIPG fatura quase R$ 150 milhões por ano”.

É ou não é total loucura desperdiçar tanto dinheiro com o objetivo único de desviar a atenção da humanidade das mazelas políticas para evitar que ela perceba a realidade de que sendo ela o único e verdadeiro senhor, por que ser liderada tão desastrosamente por fabricantes de riqueza, pobreza, desarmonia, guerras, Onze de Setembro, doenças e infelicidade? Tal sandice só acontece enquanto o pão e circo impedir que se desperte para a realidade de estar tudo errado.

 

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