As
expressões “esquerda” e “direita”, embora os requebradores de quadris pensem
ser o rumo que alguém toma ao entrar nos terreiros de futebola ou axé, significam
na realidade dois ideais cada um afirmando ser sua proposta de organização
social melhor que a proposta do outro. Aqueles que alcançaram discernimento
suficiente para se libertar da condição de manada sabem da ocorrência de um
movimento na França no final do século XVIII, objetivando introduzir mudanças na
forma de administrar a sociedade francesa daquela época dos reinados e da
nobreza. Na assembléia onde os assuntos eram discutidos, os defensores de
melhores condições sociais e benefícios para o povo foram se identificando naturalmente
entre si e terminaram por se posicionar num só lugar, e este lugar era o lado
esquerdo da sala onde se reuniam, enquanto os mais conservadores, aqueles que
defendiam um tipo suave de mudança, também terminaram por ocupar os acentos
situados de um só lado da sala das reuniões, e este lado era o lado direito da
mesma sala, surgindo, em consequência, as denominações de esquerda e
esquerdista para quem está certo de ser melhor uma administração que leve em
consideração o direito que o povo deve ter de participar das benesses na
distribuição dos recursos públicos, tendo em vista ser ele o responsável pela
existência destes recursos. Este é o ideal dos esquerdistas que se identificam
com aquele pessoal lá da assembléia francesa na sua vontade de fazer reconhecer
algum mérito ao trabalho do povo. Por outro lado, os adeptos da direita, os direitistas,
os que se identificam com a turma lá da assembléia francesa que não queria nem
mesmo perder os anéis, estes estão certos de que o povo deve se conformar apenas
em cuidar da produção dos recursos, ficando fora da decisão sobre como, quando,
e em que empregá-los, o que pode até vir a ser bom ou mesmo ótimo, quando os
recursos públicos forem corretamente aplicados, o que só será possível quando
se cumprir a profecia do governador de São Paulo quanto a faltar guilhotina.
A
realidade, entretanto, é que não é o medo que convence ninguém a mudar de
comportamento. Se assim fosse, não haveria crime onde há pena de morte. O que
leva alguém a proceder de determinada maneira é o convencimento. As explicações,
os exemplos, podem contribuir para o convencimento, desde que haja da parte de
quem ouve a devida receptividade. O tempo e a observação da vida são os
convencedores mais eficientes do mundo. Exatamente por isso que o Mestre do
Saber Thomas Paine disse estas palavras que copiei da introdução do livro Senso
Comum: “O tempo faz mais convencidos que a razão”. Nada mais correto. A
criancinha capaz de colocar o dedo no buraco onde há eletricidade, com o passar
do tempo será totalmente incapaz de fazê-lo por espontânea vontade.
Aqueles que
reúnem as condições de ter observado a vida por muitas décadas e de ter entrado
em contato com os ensinamentos dos Grandes Mestres do Saber, percebem estar
errado tudo isto que aí está. Tão errado que já se fala até em guilhotina. E
por falar em guilhotina, o movimento denominado Revolução Francesa demonstrou
que apesar da lentidão com que ocorre, o comportamento humano tende a evoluir
para a civilização. Houve tempos mais bárbaros ainda do que os tempos da revolta
dos franceses, que eram tempos ainda mais bárbaros que os tempos atuais, tão
bárbaros que os seres humanos se matam entre si numa brutalidade superior à
brutalidade dos irracionais. Entretanto, apesar da selvageria em que vive a humanidade,
é inegável a incidência de uma réstia de luz civilizatória sobre a mente dos brutos
seres humanos iluminando com luz de candeia a escuridão por onde caminham os
seres humanos a partir do topo das árvores, quando nenhuma diferença havia
entre eles e os outros bichos, passando pela fase atual em que se diferenciam
completamente dos outros bichos no aspecto físico, mas muito pouco no aspecto
espiritual. Tão atrasados espiritualmente estão os seres humanos que de refrega
em refrega estão a se autodestruir num morticínio no qual se inclui matar até
por amor. Inventaram um tipo especial de matador chamado de passional,
merecedor de certa compreensão pelo fato de ter sido tomado de forte emoção e
ter agido fora do normal. Isto que chamam de emoção nada mais é do que a raiva do
tempo de bicho que aflora nascida do inconformismo de perder o objeto no qual
encontrava prazer ou proteção e uma felicidade imaginária e falsa por depender
de ter a outra pessoa os mesmos sentimentos e vontades, coisa nem sempre possível.
Da baixeza
espiritual decorre a insensibilidade social da qual resultam comportamentos que
levam alguém a entrar no elevador primeiro do que os que lá estavam a
esperá-lo, motivo suficiente para demonstrar a necessidade de cutucar a
juventude com ferrão para caminhar mais depressa em direção a um mundo onde
pessoas educadas possam viver bem também. O pouco desenvolvimento mental humano
não permite ainda a percepção de um sistema de organização social menos
primitivo. Até se diz que a democracia, a forma adotada na maioria do mundo para
montar sua organização social é a menos pior das formas já experimentadas de
administração pública, o que é mais um motivo de alerta a para o fato de estar
sendo a juventude conduzida por um sistema apenas menos pior do que os demais
tentados. Não há razão para permanecer nele já que não é bom. Se não o é,
precisa ser mudado para outro, até que se encontre um bom sistema de
administração pública. Nenhuma lógica existe em se administrar uma organização
de um modo ruim por não existir um modo bom e não procurá-lo. Quando uma pessoa
ou uma sociedade não está se sentindo bem é por existir necessidade de se mudar
alguma coisa. Nossa sociedade, por exemplo, carece de mudar tudo, mas como
fazê-lo, se os donos dos traseiros acomodados nas poltronas do poder e que não
os quer fora de lá seriam os responsáveis pela mudança que os tirasse do bem
bom da situação dos deuses do Olimpo?
Já se diz
acertadamente não haver problema sem solução, tirando fora o problema de
recolocar a pasta de volta ao tubo. As infelicidades que os seres humanos
causam a outros seres humanos tem efeito negativo também sobre os causadores em
virtude da comunhão social desconsiderada por pura falta de conhecimento da sua
existência. Quem sai de uma festa para entrar em outra não tem tempo para
aprender que uma usina nuclear pipocada no Japão pode perfeitamente danificar a
saúde até de nós lá na Barra da Choça. É um grande erro não se levar em
consideração o entrosamento que existe de fato entre nós componentes da
sociedade. Quem requebra os quadris, nem sequer se lembra de agradecer aos
responsáveis pela construção do lugar com participação variada de quem cavou o
alicerce, construiu, iluminou com a energia que para existir e chegar ao local
do requebramento demandou outra pá de gente, sem conta os organizadores da
festa, os responsáveis pelo som que marca o momento exato em que os quadris
devem estar do lado direito e do lado esquerdo. Pois é de uma imensidão de
pessoas que depende o cumprimento do dever cívico de requebrar os quadris ora
para um lado, ora para o outro lado.
Na verdade,
a democracia não é apenas a menos ruim por ser tão ruim quanto as outras já
tentadas. O primeiro defeito desse sistema está na forma de escolher os
responsáveis pelas chaves dos vários cofres onde estão amontoadas fortunas
imensas. É de total infantilidade o processo pelo qual se faz esta escolha que
apesar de importante assemelha-se a brincadeira do faz-de-conta. Todos os
pretendentes à posse da chave juram de pé junto ser honesto e digno de ser
portador da chave e um grande alvoroço se estabelece entre tantos patriotas
cada um querendo dar mais de si em benefícios dos interesses do povo. É tanto
patriotismo que devia servir de cartão postal do Brasil no lugar do futebola. É
verdade haver quem queira ver as coisas em ordem como nossa Heloisa Helena e
Joaquim Barbosa, mas, por isso mesmo, perseguidos, fato que por si só mostra o
quanto é falho o processo de escolha dos felizardos que irão ocupar o único
emprego que torna rico o empregado e empobrece o patrão. É inadmissível um
processo de escolha que escolhe os menos indicados para os cargos. Ninguém
individualmente escolhe o menos apto para executar algo para si. Entretanto,
quando se trata do coletivo, cada um faz escolha dos piores e é em função deste
processo maluco que são publicadas nas páginas policias as notícias sobre os
responsáveis escolhidos para receber a chave do cofre. Mas como o saco já
encheu, arengaremos depois, Inté.