Tite, o técnico da Seleção Brasileira, na revista IstoÉ, afirma: “Não
atrelem o futebol à política”. Tal afirmação é tão desprovida de
conhecimento que só pode mesmo ter origem num mundo no qual o valor das pessoas
se mede pela habilidade nos pés em vez do cérebro. A verdade da qual nem
desconfia a massa bruta de povo, manada que segue o berrante da televisão, é
que esportes, política e religião estão ligados entre si como três gêmeos
siameses, com a diferença de que absolutamente nenhuma intervenção cirúrgica
será capaz de separá-los enquanto perdurar a cultura escravagista do
capitalismo. Os esportes são a nova modalidade do pão e circo, invenção romana que
contava com a indiferença conveniente da igreja e com a qual os imperadores convenciam
a turba ignorante daquela época que em quase nada difere da de hoje de que para
se viver bastava ter o que comer e os divertimentos bárbaros dos espetáculos do
Coliseu. Graças a este convencimento a política eliminava ardilosa e
convenientemente no povo a capacidade de raciocinar, como ainda hoje ocorre. A
desnecessidade de raciocinar sobre as coisas da vida leva as pessoas a aceitar
com tranquilidade a informação de ter Cristo feito com que um cego voltasse a
enxergar e curasse a lepra de dois ou três leprosos sem que lhes ocorra o
porquê de não ter Cristo extinguido do mundo a cegueira e a hanseníase em vez
de livrar apenas quatro gatos pingados desses males. Num mundo em que poucos
vivem às custas dos demais é necessário inutilizar a capacidade de pensar
porque não saber da condição de servos é indispensável à manutenção da servidão
e do conformismos dos serviçais. A estupidez disto tudo é que também os
senhores se tornam servos da incessante busca por riqueza e a circunstância de
terem os serviçais como guardiões de seus tesouros deixa no ar a questão de
saber até quando estes serviçais conseguirão conter a exigência natural da
busca pela comodidade que aquelas riquezas sob sua guarda poderão lhes
proporcionar. A participação de empregados no roubo de bens de seus patrões
demonstra que os servos começam a recusar a servidão. Embora os livros de
história distingam servidão de escravidão, tal distinção não faz sentido porque
tanto o servo da Idade Média, o escravo do sistema escravocrata que durou até o
século XIX e o empregado do sistema capitalista atual são todos escravos que
trocam sua vitalidade pela subsistência apenas.
A necessidade que tem a cultura atual de escamotear a verdade aparece na
supressão de qualquer manifestação pública sobre a realidade, verdade
observável até mesmo nas pequenas coisas como acontece nesse exato momento com
o comentário que fiz sobre reportagem no jornal Folha de São Paulo, denominada
'PSEUDO PASTOR DESELEGANTE' CRITICOU BANCADA EVANGÉLICA, DIZ FELICIANO, versando
sobre a Reforma Protestante, comentário que foi prontamente
censurado e cujo teor é o seguinte: A humanidade se recusa a evoluir
espiritualmente. Até hoje ainda não descobriu que a religião é um engodo e que
Deus foi criado pelo homem à sua semelhança. Também não sabe que o cristianismo
foi imposto pelo imperador Constantino, e nem que a Reforma Protestante só teve
sucesso porque Martinho Lutero contou com o apoio da nobreza ávida para tomar
as terras da igreja que Lutero propunha confiscar e que eram ainda mais do que
as que os parasitas sociais do agrobiuzinesse têm hoje no Brasil graças às
falcatruas com o BNDES. O que está dito aí eu vejo nos livros de história e
nos pronunciamentos de não vendilhões da pátria que dizem haver um conluio
entre a corrupção política e fazendeiros através do BNDES. Entretanto, por ser
contra as más intenções dos senhores de escravos, não pode aparecer porque pode
despertar em alguém alguma vontade de meditar sobre a vida, o que amedronta os
escravizadores. Para evitar cogitações sobre a falsa realidade é que a
juventude é desestimulada a ler e estimulada a preferir futucar telefone e saber
sobre o resultado do exame de urina do jogador de futebola. É também por esta mesma
razão que o grupinho de escravizadores por meio de imensa papagaiada de
microfone endeusa o pão e circo de forma tão avassaladora que os executores das
brincadeiras, geralmente semianalfabetos e aculturados viram “celebridades” e
“famosos”. A coisa ocorre de forma tão assustadora que jovens e senhores de
cabelos brancos são tomados de fortíssima emoção diante de um espetáculo na
verdade ridículo de vinte e dois homens num capo correndo desesperadamente para
conduzir uma bola com os pés a fim de fazê-la passar por um jogador incumbido
de evitar que isto aconteça. Quem não foi afetado pela estardalhaço do pão e
circo não suporta mais do que cinco minutos vendo a bola passando de um para
outro jogador e que ao sair pelos lados, o que acontece a todo instante, faz
parar a peleja ridícula.
A velhice dos jovens indiferentes à política está ameaçada não por falta
de dinheiro, como afirmam os interessados em deixar a previdência sob a
responsabilidade do sistema bancário, mas porque o dinheiro se esvai no
desperdício e na roubalheira da mesma forma como escorre a água de uma represa
fissurada em vários pontos. Desta realidade resultará para a turba barulhenta e
festeira a falta dos remédios e os cuidados reclamados pela velhice porque isto
depende da forma como são administrados os recursos públicos roubados enquanto
a massa bruta de povo esperneia nos espetáculos do pão e circo. A roubalheira e
os desmandos que impedem o bem-estar individual e social afetam com tal
virulência um ou outro jovem não imbecilizado que um promotor público, diante
da conivência de juízes da mais alta corte de justiça com os criminosos, tomado
de ódio, xingou-os de canalhas e FDP. Que tipo de sociedade é esta em que
membros da instituição que leva o pomposo nome de SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
fazem por merecer tamanha depreciação? Muito estranho é ninguém perceber que
embora este país que nunca deixou a mediocridade e a desonra, neste momento, em
nome de seja lá o que for, precisa ser resgatado da desmoralização em que se
encontra, e sua juventude resgatada da mediocridade e transformados em homens e
mulheres honrados e honradas, o que nunca poderá acontecer sem se dedicar à
tarefa de pensar, sem o que ninguém chegará jamais à conclusão de estar tudo tão
errado quanto errado estava o modo de pensar de Tomás de Torquemada. Ele tinha
absoluta certeza de estar agindo em benefício das pessoas que ele torturava e
queimava vivas, convicto de estar salvando para Deus as almas daquelas
infelizes criaturas sometidas a sofrimentos indescritíveis narrados na história
da Inquisição.
O mundo está clamando por mudança para o bem da humanidade uma vez que a
situação atual em nada difere da situação dos anos 1300 quando, segundo o
capítulo 15 de História da Civilização Ocidental, de Edward McNall Burns,
página 391 do primeiro volume, havia começado a cair a maioria das instituições
e dos ideais daquela época feudal. Suas catedrais góticas e sua filosofia escolástica
passaram a ser ridicularizadas e desprezadas. Desta mesma forma, precisam ser
desprezados também o atual sistema econômico do qual resulta um por cento da
humanidade com noventa e nove por cento da riqueza do mundo; precisa ser
desprezado o atual sistema educacional que ensina a competição em vez da cooperação
para a vida em sociedade; precisa ser desprezada a religiosidade e o pão e
circo uma vez que a tanto uma quanto o outro são formas de inutilizar a
inteligência e o orgulho de ser capaz de pensar e meditar sobre coisas como o
fato de promotores de brincadeiras terem um padrão de vida infinitamente
superior ao das profissões socialmente relevantes. É tão espetacular a
distorção das mentalidades que os pobres jovens milionários pelo pão e circo
são convencidos de serem realmente importantes para a sociedade, sem nenhuma
noção da realidade de terem sido transformados em parasitas sociais. Também é
preciso ser desprezada a falsa cultura do consumismo como condição de bem-estar
social e a liderança de falsos líderes além do analfabetismo político
mencionado por Bertold Brecht como causa de todos os males que afligem a
sociedade humana.
Pensar ou filosofar sobre maneiras de fazer a vida o menos desagradável
possível é muitíssimo mais importante do que desperdiçar pensamentos em torno
de questões que nada têm a ver com a qualidade de vida tais como especular de
onde viemos, para onde vamos, se há vida depois da morte, se há outros planetas
habitados, e coisas desse tipo. O filósofo Stephen Law afirma na página 16 do
livro Filosofia que muitos dos maiores pensadores religiosos foram filósofos, e
alguns dos mais importantes filósofos, foram teólogos. Tal afirmação equivale a
dizer de uma filosofia da religião. Entretanto, tal filosofia seria uma
filosofia ao contrário porque a filosofia não deve ter por finalidade apenas o
exercício da atividade de pensar, mas pensar sobre como se viver melhor. Viver
de modo mais civilizado do que outros seres também vivos mas por serem tolhidos
da capacidade de pensar dependem da insensatez de depender a vida de uns do
sacrifício da vida de outros que com grande pavor são devorados vivos para que
os mais fortes vivam. Desta forma, tendo a religiosidade por princípio
dispensar argumentos sobre os mistérios divinos, direcionando o pensamento para
a conveniência do conformismo com o sofrimento e a caridade, mostra-se
totalmente negativa do ponto de vista da sociabilidade, da dignidade e de uma
boa qualidade de vida.
O não pensar é a base na qual se apoia a forma perversa de administração
pública atual tão às avessas que dá origem a notícias como esta publicada no
blog Outras Palavras na reportagem denominada INDÚSTRIA FARMACÊUTICA: A INSONDÁVEL
CAIXA PRETA, no seguinte teor: “É assustador quantas similaridades existem
entre essa indústria e o crime organizado”. Uma afirmação desse tipo sobre a
indústria farmacêutica impressiona, mas o que impressiona mais é a fonte: quem
a escreveu foi um ex-diretor de marketing da Pfizer, uma das maiores empresas
do ramo no mundo, com cerca de US$ 50 bilhões anuais em vendas. (a matéria diz
que a indústria farmacêutica conseguiu o que os alquimistas não conseguiram:
fabricar ouro). Ou esta outra matéria denominada A TERRA PERDE
BIODIVERSIDADE EM RITMO ALARMANTE, DIZ A ONU, pulicada na revista Carta
Capital, no seguinte teor: Estudos
mostram que nenhuma região do planeta está a salvo da perda de flora e fauna.
Cientistas apontam estilo de vida humano como principal causa. A Terra tem perdido plantas, animais e água
limpa em um ritmo alarmante, revelaram na sexta-feira 23 quatro relatórios
sobre a biodiversidade divulgados pela ONU.
Não é mais possível aceitar que a humanidade tenha de ser submetida a
tantos dissabores em consequência da fome insaciável de riqueza dos Midas do
mundo que para puro deleite abarrotam imensas caixas-fortes com riqueza nos
infernos fiscais. Portanto, a melhor coisa a se fazer esta juventude cujos
cérebros foram substituídos por esterco de curral é pensar sobre esta situação da
qual resultam cada vez maiores levas de mendigos perigosamente a vagar mundo
afora porque um dia chegarão às suas casas. Inté.