Na página 645 do primeiro volume de
História da Civilização Ocidental, o historiador Edward McNall Burns conta que
reagindo contra os novos ideais propostos pela Ravolução francesa, o apego ao tradicionalismo
defendia a ideia de ser a tradição mais importante do que a razão. A ser levada
a sério a ideia de que a tradição deve prevalecer sobre a razão um navio ou um
avião não deveria mudar o curso ante o advento de uma tempestade que se formou no
seu caminho porque sua rota já estava estabelecida. Nem deveriam, como fazem as
múmias mentais apegadas a preceitos religiosos, se vacinar contra doenças por
ir de encontro à tradição segundo a qual o corpo que foi feito por deus não
deve sofrer interferência humana. Enfim, por conta da tradição burra Galileu foi
obrigado a se retratar, embora estivesse correta sua opinião. Se houve época em
que as tradições eram respeitadas, atualmente elas devem ser relegadas ao mesmo
sarcófago para onde foi mandada a convicção de haver piedade por parte dos
monstros que em nome de deus condenavam pessoas à fogueira da Inquisição afirmando
ser ato de piedade reconduzir a alma extraviada do condenado de volta à
companhia de deus. Conservadorismo é nada
mais do que a burrice de ter medo do futuro por quem acredita estar a cômodo no
presente, o que demonstra falta de discernimento por ser a mudança uma
exigência da natureza.
Segundo o texto citado no início, o
movimento conservador recomendava que a humanidade deveria se guiar apenas pela
infalibilidade da religião, o que é mais uma sandice das mentalidades
mumificadas para as quais inovação é coisa do diabo. Se desde suas origens a
humanidade é guiada por preceitos religiosos, e sua infelicidade é cada vez
maior a ponto de nunca ter havido na história número tão grande de suicídios
como agora, principalmente de jovens desiludidos com a vida guiada pela
religiosidade, fica evidente só haver desvantagem em depender a vida da
religiosidade. Se esta falsidade não é percebida é por ter sido atrofiada a já escassa
capacidade de raciocínio do ser humano de modo tão espetacular que eles
carregam sorridentes no lombo o peso de parasitas a sugar sua vitalidade. Concordar
que o beijo do papa no pé do sofredor seja prevenção contra o sosfrimento é
prova de total falta da capacidade de raciocinar. Em seu estado normal, qualquer mente
perceberia que a manifestação de pesar e dor feita pelo papa ante as mortes
ocorridas no festejamento da cerimônia religiosa da Pácoa é clara declaração da
inutilidade divina ao se restringir à lamentar o horror em vez de evitá-lo.
Como é impossível evitar que a
marcha da história traga consigo algum esclarecimento ainda que mínimo, a cada
dia aumenta o número de pessoas conscientes o bastante para saber que considerar
como ordem dar prioridade à tradição em detrimento da razão é inverter as
coisas porque o ser humano em sua eterna busca pelo bem-estar não pode
desconhecer que o mal-estar prevalecerá sobre o bem-estar enquanto não se
reconhecer que jamais poderá dar certo a sociedade tradicional segundo a qual a
maior parte de seus membros deve se conformar em não poder satisfazer suas
necessidades primárias a fim de que parasitas adoradores de bezerros de ouro
possam satisfazer suas necessidades suntuárias. São imbecis completos aqueles
que se colocam contrariamente às ideias marxistas por ser completa irracionalidade
permitir que uma só pessoa possa se apossar legalmente de bens correspondentes
ao valor de duzentos bilhões de dólares, o que corresponderia a mais ou menos
cinco milhões e quinhentos mil dólares por dia durante cem anos de vida
faustosa e estúpida, enquanto cerca de um bilhão e meio de pessoas no mundo vivam
com apenas pouco mais de um dólar por dia durante toda a vida miserável e
estúpida.
É, pois, chegada a hora de se
reconhecer a necessidade de mandar para os quintos dos infernos o
tradicionalismo e seus defensores de mentalidade enferrujada e burra para dar
começo a um novo tipo de sociedade por ser absolutamente impossível continuar
vivendo a loucura na qual pessoas de alta espiritualidade sejam submetidas a
uma regulamentação social estabelecida por trogloditas espirituais incapazes da
percepção do descompasso na situação na qual o militar Jair Bolsonaro e o oráculo
Olavo de Carvalho, por apego à tradição, consideram inimigo da educação o
educador Paulo Freire cujo método de ensino recomenda incluir estímulo à
capacidade de raciocinar dos educandos. Não se pode deixar de perceber o grande
avanço civilizatório contido na sugestão do Grande Mestre do Saber Paulo freire
reconhecendo a necessidade de se desenvolver no jovem a capacidade de
reciocinar. Como para a tradição é preciso aprender a obedecer, estimula-se a educação
religiosa que ensina a desnecessidade de raciocinar, e da língua inglesa que ensina
alienação patriótica. Paulo freire sabia do entrave imposto pelo
tradicionalismo bolofento contra um sistema educacional capaz de formar
cidadãos esclarecidos em vez de idiotas futucadores de telefone e admiradores
de “famosos” e “celebridades” de merda. Tanto era conhecedor que afirmou o
seguinte: “a classe dominante brasileira jamais desejará que as maiorias sejam
lúcidas”. É exatamente isto, Professor Freire, os trogloditas querem
uma sociedade de trogloditas.
Portanto, dependendo de lucidez a civilização,
enquanto as crianças aprenderem conservadorismo, estará a população condenada a
negar que a terra gira em torno do sol e aceitar a imbecilidade de que as
mortes nas igrejas e hotéis de luxo são devidas à falta de deus e não ao
cansaço dos necessitados de se conformarem em apenas contemplar imensa riqueza sendo
jogada fora. Inté.