Entre as
futilidades do Yahoo Notícias em torno dos ridículos “famosas” e “celebridades”
incapazes de fazer um O com um copo, está a imagem de um jovem tomado por exacerbada
euforia pela razão de ter sido vitorioso em alguma modalidade esportiva, o que não
é de se estranhar em se tratando de um inocente jovem porquanto até velhos são
afetados pela mesma emoção e até levados ao ataque cardíaco. Tamanha imbecilidade
é indicativo de alguém que exerceu muito mal a tarefa de viver porque nada
aprendeu durante todo o trajeto. Não aprendeu, por exemplo, ser a vida vivida
apenas o momento presente, tal qual um motorista que se limitasse a dirigir na
escuridão apenas com a claridade da luz baixa, indiferente a possíveis
obstáculos além do campo que a luz baixa alcança. Acionando a luz alta do
veículo da vida, conclui-se que aquele inocente jovem da boca e olhos
escancarados comemora, na verdade, uma vitória de Pirro porque quando a
natureza completar seu trabalho inexorável de consumir sua vitalidade, no lugar
dos músculos daquele jovem campeão haverá pelancas de velho e a glória de sua
vitória estará reduzida ao “JÁ FUI BOM NISSO”.
Envolvido
em fantasias, ninguém dá conta de que num futuro não muito distante seus filhos
estarão amargando a infelicidade das consequências da falta de água da qual
resultarão disputas ainda mais sangrentas do que foram as disputas por ouro,
uma vez que a vida não depende de ouro. Na verdade, como afirmou o historiador
Henry Thomas, a humanidade é realmente constituída de seres tão estúpidos que
vivem a destruir o que acabaram de construir. Esta estupidez se mostra em toda
sua plenitude quando se constata que o comportamento humano não depende da
vontade do próprio homem. Embora tal afirmação pareça idiotice de Zemanés, o
certo é que a vontade do homem, ao contrário da nave do nosso poeta Zé Ramalho,
que sei de dentro do peito, a vontade é insuflada de fora para dentro do ser
humano. São os meios de comunicação a soldo de um monstro chamado Mercado,
invenção antissocial a serviço de um grupinho de avaros Tios Patinhas que a fim
de terem satisfeita sua avareza, usam desta instituição para criar nas pessoas
o vício de comprar as coisas que vendem. Através de um processo que envolve
manipulação do cérebro, os meios de comunicação insuflam nos indivíduos uma
dependência de consumo superior à dependência às drogas porque desta pode-se
livrar quando se tem vontade própria, o que posso afirmar porque depois de
fumar maconha por quinze anos, simplesmente deixei quando benefício do
bem-estar foi substituído pelo malefício da taquicardia. Mas o vício de ir às
compras é tão insuperável que mesmo diante das consequências funestas
decorrentes do consumismo, ele é cada vez tão mais dominante que as pessoas compram
o que os meios de comunicação querem que elas comprem. Os carros são a maior
demonstração desta insensatez. Quando os papagaios de microfone dos meios de
comunicação dão como alvissareira a notícia de ter aumentado a venda de carros,
na verdade, estão mentindo descaradamente a mando de seus patrões, os donos do
microfone através do qual papagaiam por ser socialmente impraticável o
transporte individual. Absolutamente nada justifica um carro com sete lugares transportando
apenas uma pessoa. Tal insanidade, entretanto, é recomendada pelo grupelho de insanos
brutamontes mentais pela necessidade de riqueza, incapazes da percepção de que
desta insanidade resultará a destruição dos elementos naturais indispensáveis à
vida humana, inclusive da própria. Não sendo racional a atitude de se destruir
alguma coisa da qual depende sua vida, e sendo racional o ser humano, evidente
fica que a vontade de se autodestruir independe da própria vontade de quem
assim age, ou seja, o ser humano. Enquanto a sociedade desanda, sua força viva,
a juventude, é conduzida à mediocridade mental de forma tão absoluta que valoriza
vitórias de Pirro, indiferente ao futuro tenebroso que decorrerá da sanha
incontida dos ajuntadores de dinheiro cuja avareza não lhes deixa enxergar um
palmo adiante do focinho.
A indiferença quanto à realidade da vida afeta até mesmo homens inteligentes
e os leva a contribuir para o alheamento à realidade. Quando o expoente da literatura brasileira,
Machado de Assis, afirma que “Deus, para a felicidade do homem, inventou a
fé e o amor. O Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e amor
com casamento”, contribui para reforçar a crendice altamente prejudicial à
humanidade da existência de deus e diabo, entidades tão fictícias quanto Papai
Noel. A negatividade da crença na existência de um deus se materializa na
esperança vã que leva os pobres de espírito às igrejas onde não raro encontram
a morte.
Mas o tempo de se viver apenas por vier tem os dias contados. Aos poucos
a racionalidade toma conta das mentes e um dia haverá uma juventude capaz dos questionamentos
próprios de qualquer ser inteligente ante o espetáculo da vida. Tal juventude
questionará, por exemplo, o fato de estar a justiça a discutir se Lula
é inocente ou culpado, apesar de estar ele na cadeia. Se cadeia é lugar de
culpado, e se foi a justiça que mandou prendê-lo, porque é ela que determina se
alguém deve ou não ser preso, assim, não pode alguém estar preso e, ao mesmo
tempo, estar a justiça envolvida em questões relativas à sua não culpabilidade
porque tal situação corresponderia à irracionalidade de “atirar primeiro e
perguntar depois”. Salvo se o ridículo deste pobre país de povo asqueroso já
tenha chegado ao ponto de prender para depois julgar.
O único
aspecto da vida que tem merecido atenção, até mesmo exagerada, tem sido o que
diz respeito às necessidades materiais. Entretanto, a satisfação destas
necessidades, na realidade, deve ser encarada como garantidora do bem-estar individual
necessário a propiciar o ambiente adequado ao aprimoramento da inteligência
através de meditações sobre a vida a fim de superar os infortúnios decorrentes
da animalidade que ainda é dominante na personalidade humana. Por esta razão, Shakespeare afirmou que o motivo pelo qual
choramos ao nascer deve-se ao fato de termos chegado a um mundo de
dementes. À observação do Grande Mestre, pode acrescentar tratar-se de dementes
tão dementes que a imprensa publica matéria sob a seguinte manchete: As
separações que abalaram o mundo dos famosos em 2018. O mundo dos famosos
resume-se em langerries, bundas, peitos, quem trepa com quem, quando se perdeu
a virgindade, quem não usa cueca ou calcinha, melhor posição para trepadas.
Nada além disto. Se as notícias giram em torno do momento e do mundo vividos, o
momento e o mundo dos tais famosos e celebridades são um momento e um mundo que
precisam ser descartados em nome da inteligência. Inté.