Num dia muito distante, mas que
haverá de chegar, trazendo consigo pessoas com mentalidade de gente, o La Fontaine
daquela época futura escreverá uma fábula intitulada A JUVENTUDE DO SÉCULO 21 E
A FORMIGA. Como a cigarra e o Ricardo, também a juventude vive um eterno
festejamento. Quando eu ainda era menino, lembro de uma tia minha cantando uma
música sobre um Ricardo felizardo que passava a vida a cantar, mas um dia um
amor malvado fez o Ricardo chorar.
É o retrato
cuspido da juventude que ignora um montão de coisas pelas quais terá de passar.
Causa preocupação a quem já fez tudo errado como fazem os jovens e sabe do
resultado negativo de muitos procedimentos que se evitados no presente diminuiria
em muito no futuro a ocupação das UTIs. Os jovens sabem quem é Cacá, Neimar, Xuxa,
Ivete Sangalo, Daniela Mercury, mas não sabem quem é doutora Eliana Calmon ou
Heloisa Helena. Os gatos pingados entre os jovens que lêem alguma coisa sabem
quem é Paulo Coelho contador de fantasias, mas não sabem quem é Paulo freire o
educador. Tem interesse no resultado do exame de urina do jogador de futebola,
mas são se interessam pelo resultado do julgamento do Mensalão. Nem mesmo sabem
que Mensalão é a prova inconteste da insustentabilidade do atual modelo de
sociedade onde verdadeiras nulidades endeusadas pelos próprios jovens que
passam um terço de suas vidas se preparando para ganhar dinheiro e não ganham
nem um por cento do que ganham os analfabetos que chutam bola ou requebram os
quadris no axé. Nem se interessam os jovens pelo absurdo de termos chegado a
uma situação em que juízes de todas as cortes de justiça protegem ladrões da
própria sociedade que paga bons salários a estes juízes para que eles a
protejam dos ladrões.
Embora a
indiferença dos jovens ante as perspectivas negativas do seu futuro possa
aparentar falta de inteligência, não é esta a realidade. O que leva a juventude
a uma apatia tão grande quanto aos assuntos culturais é o sistema educacional imposto
pelo mundo dos ricos sobre a humanidade fazendo-a acreditar que a vida é apenas
boa e agradável. Esta fantasia é tão real quanto a felicidade do carnaval. O
que faz a vida ser realmente agradável é a vitalidade da juventude em função do
ímpeto proporcionado pelo período em que o corpo dispõe do máximo da vitalidade
sobre a qual os jovens aprontam tantas que ela, a vitalidade, só se sustenta
até por volta dos cinquenta anos. Este é o ponto mais alto da montanha russa a
que a juventude reduziu através de extravagâncias o seu tempo útil. A partir
daí começa a descida e o sujeito que requebrava no festejamento do futebola e
do axé passa a andar arrastando os pés ou se tremendo feito vara verde, além de
quebrar os ossos com grande facilidade, chegando-se, enfim, ao esgotamento total
e à morte.
Uma coisa tão
simples de se constatar e que pode ser observada facilmente através do simples
gesto de olhar, se evitadas, também evitariam junto consigo grandes
aborrecimentos futuros. Ao se desinteressarem pelo destino do mundo do futuro
onde só eles estarão, os jovens demonstram ter o mesmo comportamento de alguém
que não se interessasse pela segurança de um apartamento onde tivesse de passar
com a família o resto da vida e que fosse feito pela construtora de Sérgio
Naya.
Se a
liderança que conduz a humanidade sempre o fez através de episódios sangrentos
até o presente momento, não há de se esperar outro destino senão mais sangue
para o futuro. É isso que desejam para suas crianças os jovens atuais? Certamente
que não, mas é o que terão em função do sistema de educação que desestimula a
atividade de pensar em benefício da automação. Portanto, promover meios para o
futuro dos filhos inclui outras providências que não apenas guardar dinheiro.
Inclui com prioridade a atividade de pensar.
A capacidade
de adaptação ante as novas situações, inerente a todo ser vivo, faz com que se
chegue à velhice dentro da normalidade, desde que se tenha poupado o organismo
dos exageros. Os estragos ao próprio organismo que os jovens fazem terão um
preço a ser pago em disposição física que fará uma falta imensurável exatamente
no momento em que ela mais necessária se faz. Pensar só faz bem.