terça-feira, 18 de setembro de 2012

O LA FONTAINE DE UM FUTURO DISTANTE


                Num dia muito distante, mas que haverá de chegar, trazendo consigo pessoas com mentalidade de gente, o La Fontaine daquela época futura escreverá uma fábula intitulada A JUVENTUDE DO SÉCULO 21 E A FORMIGA. Como a cigarra e o Ricardo, também a juventude vive um eterno festejamento. Quando eu ainda era menino, lembro de uma tia minha cantando uma música sobre um Ricardo felizardo que passava a vida a cantar, mas um dia um amor malvado fez o Ricardo chorar.

É o retrato cuspido da juventude que ignora um montão de coisas pelas quais terá de passar. Causa preocupação a quem já fez tudo errado como fazem os jovens e sabe do resultado negativo de muitos procedimentos que se evitados no presente diminuiria em muito no futuro a ocupação das UTIs. Os jovens sabem quem é Cacá, Neimar, Xuxa, Ivete Sangalo, Daniela Mercury, mas não sabem quem é doutora Eliana Calmon ou Heloisa Helena. Os gatos pingados entre os jovens que lêem alguma coisa sabem quem é Paulo Coelho contador de fantasias, mas não sabem quem é Paulo freire o educador. Tem interesse no resultado do exame de urina do jogador de futebola, mas são se interessam pelo resultado do julgamento do Mensalão. Nem mesmo sabem que Mensalão é a prova inconteste da insustentabilidade do atual modelo de sociedade onde verdadeiras nulidades endeusadas pelos próprios jovens que passam um terço de suas vidas se preparando para ganhar dinheiro e não ganham nem um por cento do que ganham os analfabetos que chutam bola ou requebram os quadris no axé. Nem se interessam os jovens pelo absurdo de termos chegado a uma situação em que juízes de todas as cortes de justiça protegem ladrões da própria sociedade que paga bons salários a estes juízes para que eles a protejam dos ladrões.

Embora a indiferença dos jovens ante as perspectivas negativas do seu futuro possa aparentar falta de inteligência, não é esta a realidade. O que leva a juventude a uma apatia tão grande quanto aos assuntos culturais é o sistema educacional imposto pelo mundo dos ricos sobre a humanidade fazendo-a acreditar que a vida é apenas boa e agradável. Esta fantasia é tão real quanto a felicidade do carnaval. O que faz a vida ser realmente agradável é a vitalidade da juventude em função do ímpeto proporcionado pelo período em que o corpo dispõe do máximo da vitalidade sobre a qual os jovens aprontam tantas que ela, a vitalidade, só se sustenta até por volta dos cinquenta anos. Este é o ponto mais alto da montanha russa a que a juventude reduziu através de extravagâncias o seu tempo útil. A partir daí começa a descida e o sujeito que requebrava no festejamento do futebola e do axé passa a andar arrastando os pés ou se tremendo feito vara verde, além de quebrar os ossos com grande facilidade, chegando-se, enfim, ao esgotamento total e à morte.

Uma coisa tão simples de se constatar e que pode ser observada facilmente através do simples gesto de olhar, se evitadas, também evitariam junto consigo grandes aborrecimentos futuros. Ao se desinteressarem pelo destino do mundo do futuro onde só eles estarão, os jovens demonstram ter o mesmo comportamento de alguém que não se interessasse pela segurança de um apartamento onde tivesse de passar com a família o resto da vida e que fosse feito pela construtora de Sérgio Naya.

Se a liderança que conduz a humanidade sempre o fez através de episódios sangrentos até o presente momento, não há de se esperar outro destino senão mais sangue para o futuro. É isso que desejam para suas crianças os jovens atuais? Certamente que não, mas é o que terão em função do sistema de educação que desestimula a atividade de pensar em benefício da automação. Portanto, promover meios para o futuro dos filhos inclui outras providências que não apenas guardar dinheiro. Inclui com prioridade a atividade de pensar.

A capacidade de adaptação ante as novas situações, inerente a todo ser vivo, faz com que se chegue à velhice dentro da normalidade, desde que se tenha poupado o organismo dos exageros. Os estragos ao próprio organismo que os jovens fazem terão um preço a ser pago em disposição física que fará uma falta imensurável exatamente no momento em que ela mais necessária se faz. Pensar só faz bem.

  

 

 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

BRUTALIDADE


 

Para o poeta, povo é manada. Para mim, povo é conjunto de monstros indiferentes a fatos como uma pobre menina ainda com restos de sangue do parto e com o cordão umbilical ser abandonada à própria sorte numa rua. Concomitantemente, um soldado que chegava da igreja com sua pequena filha foi assassinado na presença da criança que se viu em meio a disparos de revólver sobre seu pai. Seis jovens foram amarrados antes de serem mortos a tiros e facadas.

Estas notícias foram por mim ouvidas na manhã desta segunda-feira pela rádio CBN juntamente com a notícia de que um dos canalhas do corrupto e fedorento mundo do futebola estava encantado com a velocidade com que se desenvolvem as obras das festas para os imbecis do enlameado mundo dos esportes.

Como classificar quem nada sente diante de tanto sofrimento? Monstro é pouco para estes palhaços às risadas em cartazes prometendo o que nunca fizeram e para os que ainda lhes dão atenção.

O destino daqueles seis pobres jovens, segundo os ratos das igrejas, foram vítimas deles próprios por não se utilizarem do livre arbítrio. A estupidez não deixa ver a estas pessoas incapazes de enxergarem um palmo na frente do nariz que a culpa é desta sociedade de ignorantes que gastam em festejamento o dinheiro de dar educação e trabalho àquelas pobres seis crianças que devem ter passado por horrores. O destino daqueles infelizes será o mesmo de muitas destas pobres criancinhas cujos pais seguram nos braços para levar às igrejas. A menininha que viu seu pai ser assassinado estava voltando com ele de um culto religioso. Quanto mais orações, mais infelicidade. Só não vê quem tem tapa-olho.

Escrever sem saber é a única maneira que tenho para diminuir minha angústia de viver em meio a pessoas tão estúpidas. Como pode alguém viver em festa enquanto pessoas sofrem horrivelmente? Tal indiferença é sintoma de algum tipo de paranóia. Pode ser que a burrice, a falta de caráter e a indignidade próprias desse povinho desqualificado de tudo que não seja baixeza já tenha atingido um estado de loucura coletiva e apenas eu permanecesse lúcido a ponto de ainda ficar mais angustiado ao perceber que esta gentalha a aplaudir a festança de 2014 amargará na velhice a indiferença da previdência social e derramará lágrimas nas filas do SUS(TO). Tal certeza também me infelicita, principalmente por saber que podemos viver de modo menos sofrível quando a maioria for constituída de não idiotas.

Quem disse que o brasileiro não tem dignidade foi o mestre Charles Darwin. Haverá alguém no mundo com tão grande capacidade de percepção das coisas?