Para o poeta, povo é manada. Para
mim, povo é conjunto de monstros indiferentes a fatos como uma pobre menina
ainda com restos de sangue do parto e com o cordão umbilical ser abandonada à
própria sorte numa rua. Concomitantemente, um soldado que chegava da igreja com
sua pequena filha foi assassinado na presença da criança que se viu em meio a
disparos de revólver sobre seu pai. Seis jovens foram amarrados antes de serem
mortos a tiros e facadas.
Estas notícias foram por mim
ouvidas na manhã desta segunda-feira pela rádio CBN juntamente com a notícia de
que um dos canalhas do corrupto e fedorento mundo do futebola estava encantado
com a velocidade com que se desenvolvem as obras das festas para os imbecis do
enlameado mundo dos esportes.
Como classificar quem nada sente
diante de tanto sofrimento? Monstro é pouco para estes palhaços às risadas em
cartazes prometendo o que nunca fizeram e para os que ainda lhes dão atenção.
O destino daqueles seis pobres
jovens, segundo os ratos das igrejas, foram vítimas deles próprios por não se
utilizarem do livre arbítrio. A estupidez não deixa ver a estas pessoas
incapazes de enxergarem um palmo na frente do nariz que a culpa é desta
sociedade de ignorantes que gastam em festejamento o dinheiro de dar educação e
trabalho àquelas pobres seis crianças que devem ter passado por horrores. O
destino daqueles infelizes será o mesmo de muitas destas pobres criancinhas
cujos pais seguram nos braços para levar às igrejas. A menininha que viu seu
pai ser assassinado estava voltando com ele de um culto religioso. Quanto mais
orações, mais infelicidade. Só não vê quem tem tapa-olho.
Escrever sem saber é a única
maneira que tenho para diminuir minha angústia de viver em meio a pessoas tão
estúpidas. Como pode alguém viver em festa enquanto pessoas sofrem
horrivelmente? Tal indiferença é sintoma de algum tipo de paranóia. Pode ser
que a burrice, a falta de caráter e a indignidade próprias desse povinho
desqualificado de tudo que não seja baixeza já tenha atingido um estado de
loucura coletiva e apenas eu permanecesse lúcido a ponto de ainda ficar mais
angustiado ao perceber que esta gentalha a aplaudir a festança de 2014 amargará
na velhice a indiferença da previdência social e derramará lágrimas nas filas
do SUS(TO). Tal certeza também me infelicita, principalmente por saber que
podemos viver de modo menos sofrível quando a maioria for constituída de não
idiotas.
Quem disse que o brasileiro não
tem dignidade foi o mestre Charles Darwin. Haverá alguém no mundo com tão
grande capacidade de percepção das coisas?
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