sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

DESEDUCAÇÃO

DESEDUCAÇÃO

TRISTÃO E ISOLDA, de que falamos da última vez, é uma lenda medieval. Ainda criança, portanto muito longe ainda de conhecer Isolda, Tristão foi entregue por seu tutor, gente da nobreza, ao sábio mestre Gorvenal para que lhe desse uma educação esmerada. Tristão foi muito bem preparado para o mundo daquela época. Foi muitissimamente (o computador não quer esta palavra, não) bem preparado nas artes marciais, o que convinha porque as guerras de conquista de territórios eram comuns naquela época e ser bom guerreiro era o melhor que um pai podia desejar para um filho.
Agora vamos ao ponto onde se tocam a educação do Tristão e nossa cultura de “levar vantagem” que tanto infelicita a humanidade. Embora a humanidade não saiba, ela carrega consigo uma infelicidade mascarada pela inocência da juventude e que tem origem no comportamento das pessoas orientado por um sistema educacional deformado.
É que a educação moderna, como a da Idade Média, também prepara as pessoas para a guerra. Uma guerra de conquista. Conquista de um troço esquisito chamado mercado, adorado pelos governos. Consiste em comprar e vender coisas, com ênfase no “vender”. É tão esquisito que todos os países querem vender e nenhum quer comprar.
As pessoas são educadas em cada país de todo o mundo para serem boas na conquista de mercados. As armas destes soldados, em vez de lança, espada, etc., são armas com poder de destruição mais eficiente do que os arsenais nucleares porque elas destroem a alma das pessoas sem matá-las. Transforma-as em zumbis programados para perseguir riqueza e nada mais. Ao nascer uma criança, trata-se logo de iniciá-la numa religião e abrir-lhe uma poupança bancária, ambas providências negativas. O primeiro procedimento é condenado pela professora da Universidade Católica de Campinas, Marilda Novaes Lipp, Ph. D. em psicologia. Ela não condena a religião em si, mas a maneira como ela é ensinada às crianças atualmente (esta importante matéria está na revista Isto É, de 7 de maio de 1997). O segundo procedimento também é negativo porque leva à ambição e ganância. O dinheiro, do mesmo modo que dá bem-estar também dá infelicidade quando vira obsessão. Somos educados para valorizar apenas o TER em vez do SER. Nenhum pensamento quanto à possibilidade de uma vida menos infeliz onde as pessoas comportam como se se odiassem mutuamente ou mesmo a si próprias. A indiferença das pessoas ante tantos desatinos como cheirar bufa de ônibus e danificar a audição, atinge as raias da estupidez. Todos os males que nos infelicitam decorrem de um único mal: o mau uso do dinheiro público. Basta dar uma olhada no site IMPOSTÔMETRO.ORG.BR para se ver a quantidade de dinheiro existente.
A infantilidade de nossas mentes pode ser avaliada pela conversa que tive com uma senhora a quem não via há mais de trinta anos, ainda mais velha que eu e que fora criada em nossa casa. Criatura simples e analfabeta, mas de uma integridade moral suficiente para limpar Brasília. Religiosa como toda criatura simples. Fomos irmãos até os meus cerca de dezesseis anos, época em que, uns mais outros menos, éramos todos quase analfabetos e com o mesmo modo de pensar. Um dia nos separamos por um período muito longo. Depois de alguns reencontros, conversas, lembranças e muitas saudades, esta minha irmã, que tem um tempero maravilhoso para preparar um peixe, estranhou minha maneira de ser tão diferente da maneira de outros tempos, principalmente em religião, e falou: “Ué, Zemaro, por que você tá desse jeito, se você não era assim?”
Ao perceber que o raciocínio daquela adorada criatura permanece o mesmo do tempo de juventude me fez refletir muito sobre a vida. Pensar que já acreditamos nas mesmas coisas e que tínhamos os mesmos costumes! Dois seres com as mesmas crenças e aspirações no passado, atualmente com idéias completamente opostas em virtude do tipo de aprendizado e do ambiente em que viveram.
Com a finura e sensibilidade que me caracterizam, respondi: “Olha, você não passa de uma idiota. O que me faz pensar diferente de você é um montão de conhecimento que adquiri lendo nos livros. Pessoas inteligentes aprenderam sobre a vida através de muito estudo e observação e deixaram escritas estas observações para quem quiser aprender as coisas que eles descobriram. Como você não teve oportunidade saber ler e nem conviveu com pessoas que pensam de outro modo, continua igualzinha àquele tempo em que nosso conhecimento cabia num dedal. Porém, você e todo mundo mais dá valor ao estudo. Tanto é verdade que colocou todos os seus treze filhos na escola. Então, uma vez que você e qualquer pessoa que não seja muito burra valorizam o conhecimento, você devia aceitar o meu modo de pensar porque ele se baseia em muita leitura e só pela leitura se obtém conhecimento de verdade em vez destas mentiras que você tem na cabeça oca.” “Pois então,” continuei, “só há vantagem em aprender nos livros sobre a vida. Basta ler o que sábios escreveram que a gente ganha um pouquinho de sabedoria. Agora, presta atenção e me diga como é que se explica o fato de uma pessoa que nunca leu coisa nenhuma contradizer as afirmações de sábios como Einstein?” Com cara de nenhum convencimento ela retrucou: “nunca vi falá desse Istái”

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

NARIZ NÃO É CHAMINÉ, OUVIDO NÃO É LATA DE LIXO

Quem observa os ensinamentos da escola da vida e ainda não foi contaminado pela indiferença perversa que domina o relacionamento entre as pessoas, levando-as a se portarem como verdadeiros inimigos, ao observar o comportamento das demais pessoas, haveria de sentir o mesmo incômodo que sentiria ao ver alguém em perigo, mas sem poder ajudar.
Quem permanece o dia todo no centro de nossa cidade, principalmente na Régis Pacheco, Dois de Julho e terminal dos ônibus, reduz a cada dia a capacidade de respirar e ouvir. Estas pessoas se acostumaram de tal modo à fumaça e ao barulho que já não sentem mais incômodo algum embora os danos à saúde sejam os mesmos verificados em alguém como eu, acostumado ao ar menos venenoso porque morei os últimos vinte e cinco anos na zona rural, senti-me sufocado e tive de desistir do que ia fazer e sair rápido das imediações da sinaleira no cruzamento da Regis Pacheco com a Fernando Spínola, tal o mal-estar causado pela fumaça negra que me queimava o nariz e garganta.
Entretanto, aquelas pessoas que não parecem se incomodar, estão preparando uma velhice com falta de respiração e audição, o que é um sofrimento imenso. Só quem já viu um velho na agonia da falta de ar pode imaginar o que seja. E embora os jovens não acreditem que vão envelhecer, podem estar certos de que vão, sim. A vida, aliás, é um constante envelhecer. Estamos constantemente perdendo células, de modo a tornar a quantidade delas insuficiente para nos manter com o mesmo jovial aspecto, e à medida que o organismo vai perdendo a capacidade de repor as células que morrem nosso organismo definha a cada pulinho do ponteiro de segundos, num constante envelhecer, até à morte de todo o organismo.
Por que as pessoas não se incomodam em respirar veneno e danificar a audição com o barulho infernal dos carros de propaganda, preparando para si uma velhice mais infeliz do que ela precisa ser? Por dois motivos. Ambos com origem na inocência a que leva o despreparo mental. As pessoas pensam que vão permanecer como estão agora para sempre, mesmo respirando veneno, e isto é uma burrice de todo tamanho. Por acreditar ser duradoura a saúde é que só se preparam para o futuro em termos de dinheiro. Os precavidos procuram acumular dinheiro para custear as despesas com a manutenção física. Porém, tão importante quanto isto é a preparação mental, psicológica, espiritual, ou o que for, contanto que se tenha alguma preparação para o envelhecimento, coisa que o sistema educacional deformado não fornece. Prepara as pessoas apenas para o trabalho que produz riqueza, nunca para a vida.

Se as pessoas que respiram aquele ar putrefato pudessem enxergar a si próprias no futuro, certamente procurariam se mexer de alguma forma para mudar o rumo das coisas. Só a inocência justifica a indiferença aos comportamentos dos quais resultam sofrimentos. A inocência não deixa o povo perceber que pode mudar o rumo do caminho pelo qual caminha.
As pessoas que passam todo o dia no centro da cidade um dia estarão meio surdas e, mais tarde, surdas. O ouvido acostuma com aquele inferno, mas os danos são irreversíveis e o conformismo demonstra desinteligência. É incompreensível que alguém passe todo um dia, uma semana, um mês, anos, respirando veneno e ouvindo barulho indiferentemente aos perigos que lhe rondam.
O problema do barulho, este é facílimo de resolver. O barulho que não me deixa raciocinar me levou a pedir providência ao vereador Miguel Felício, homem verdadeiramente ligado aos problemas sociais, que me disse estar trabalhando no sentido de fazer cumprir a Lei do Silêncio.
Se a mentalidade das pessoas lhes permitisse outros interesses além do mundo corrupto do futebol, bastava não freqüentar as lojas cujo estardalhaço danifica o aparelho auditivo para acabar com o barulho. Além disso, Podemos interferir na política de várias maneiras. Podemos ajudar as autoridades apontando-lhes defeitos na administração a fim de serem corrigidos, como fiz eu ao procurar a autoridade responsável para pedir providência contra o barulho. Podemos até propor a criação de leis.
Aprendi com pessoas inteligentes que a indiferença das pessoas ante os mal-estares que a todos afligem é a causa da perpetuação destes desconfortos, e, realmente, não podia ser de outra maneira. Pessoas orientadas pela cultura do "levar vantagem" acabam produzindo desvantagem coletiva como a infelicidade do medo de violência que a todos assombra. Não se pode esperar outra coisa de pessoas com mentalidade tão curta a ponto de danificar seus corpos numa busca inexplicável ao culto à beleza.
No primitivismo, quando a manutenção da vida era mais difícil porque a alimentação dependia da caça e coleta, justificava-se a primazia das preocupações com os bens materiais. Na atualidade, porém, depois da agricultura e domesticação dos animais, podemos muito bem dedicar algum tempo na busca de um modo de vida sem tanto sofrimento. Mas a ganância pela posse de bens materiais presente em todo ser humano supera de longe a preocupação com um bom relacionamento e isto haverá de levar a uma infelicidade sem fim porque o planeta não dispõe de recursos materiais capazes de promover a riqueza de toda a humanidade, e a parte que ficar de fora, como já se pode verificar, procurará de todos os modos buscar os meios de sobrevivência onde quer que eles estejam e por quaisquer meios, resultando desta busca o desassossego no qual já nos encontramos mergulhados. E olha que a coisa está apenas começando!
Quando o maldito carro de propaganda do G.Barbosa interrompeu minha leitura da lenda Tristão e Isolda, estava eu a meditar sobre uma passagem da leitura, referente à educação do personagem Tristão. O primor de educação dispensada a um príncipe, o Tristão, nos dá uma perfeita amostra da causa de nossa absurda cultura da violência, sobre o que falaremos em outra oportunidade porque o ato de escrever me é penoso pelo cansaço que causa o desconhecimento do vernáculo, principalmente as vírgulas, as quais decido no par ou ímpar. Caso algum dos cheiradores de bufa de ônibus tenha tido saco de ler esta baboseira até aqui, voltaremos à lenda medieval de Tristão e Isolda e a relação entre aquela história e nosso modo estúpido de viver.
A Editora Martin Claret lançou uma coleção denominada Obra Prima de Cada Autor. São livros baratos. Este contendo a lenda custou nove reais. Atualmente já custa um pouquinho mais, mas vale a pena. Só a leitura, a boa leitura, poderá fazer de nós seres menos idiotas. Inté.