quinta-feira, 27 de abril de 2023

ARENGA 672

 

            Se a sociedade é composta de foliões, torcedores e frequentadores de igrejas, tipos incapazes de raciocinar que bailam enquanto seus irmãos são esmagados debaixo de árvores e soterrados vivos pelas tempestades resultantes das ações insensatas dos ajuntadores de riqueza, embora os ajuntamentos dessas pessoas sejam chamadas de sociedades civilizadas, não são nem sociedades e nem civilizadas. Os ajuntamentos humanos, por se tratar de seres que também andam sobre dois pés mais se assemelham a ajuntamentos de cangurus, caso não fossem mais perigosos. Um povo mais atrasado do que outro povo anda bem mais vagarosamente no rumo da civilização do que este último. Daí nossa permanência tão demorada no atraso mental que nenhuma diferença há entre as atuais “celebridades” e os “nobres” de chapéu de couro, botas enlameadas e esporas transformados em condes, duques e barões em troca do dinheiro com o qual foi fundado o primeiro Banco do Brasil (Veja a respeito o livro 1008, de Laurentino Gomes).

Não que falar em civilização numa sociedade na qual ladrãozinho da bunda suja amarga cadeias insalubres que funcionam como instituições especializadas em transformar gatuno em criminosos de alta perigosidade enquanto a ladrões de fortunas imensas é permitido desfrutar da riqueza roubada, não obstante causarem mal maior à sociedade do que seus famintos concorrentes pés-de-chinelo. A probabilidade maior é que os seres humanos sejam extintos sem alcançar civilização. Milhões de anos se passaram de primatas a modernos e ainda se estraçalham em guerras fraticidas, destruindo inclusive os recursos naturais dos quais dependem.

Considerando a realidade de ter o empresário por único objetivo lucrar, extorquir impiedosamente a sociedade tanto quanto lhe for permitido, haja vista a exorbitância do aumento dos preços daquilo de mais necessita um povo infelicitado por alguma calamidade, como se aceitar que papagaios de microfone e cientistas de politicagem jurem de pés juntos que o bem-estar social depende da presença deles? As recentes mortes de milhares de turcos e sírios são atribuídas à ganância dos empresários da construção que para economizar construíram prédios fora dos padrões de segurança exigidos pelas leis daqueles países. E nos escritórios dessa gente nunca falta um Cristo Crucificado. Mas este triste episódio também envolve a seguinte questão: A displicência do governo em não fiscalizar as construções não seria a materialização da realidade de que os governos não podem prescindir de fiscalização? Como pode a juventude ser tão indiferente à necessidade de sua efetiva participação na política? Aos maus, nunca faltam argumentos para que os meios de comunicação transformem suas maldades em bondades.

 

ARENGA 671

 

Essa gente fanática por deus e outros que tais só podem pensar que todos os demais não raciocinam ou não afirmariam o que afirmam. Na página 15 do livro Vigiar E Punir, de Michel Foucault, consta que os suplícios do pelourinho, patíbulo, chicote e roda são prova da fraca influência da religião sobre o espírito humano, e não falta quem aprove tanta bobagem porquanto tais suplícios foram justamente aplicados pela instituição divina da Inquisição que por meio deles matava pessoas para ficar com seus bens em nome de deus. Na página 12 do livro A Lei, de Frédéric Bastiat, consta que a função da lei é fazer que haja justiça. No entanto, são legais institutos imoralmente injustos porque têm por finalidade burlar a justiça como Prescrição, Foro Privilegiado e Imunidade Parlamentar. São instituições legais feitas objetivando impunibilidade para delitos a serem praticados. Aí estão o Cabral, o Geddel puxando a fila interminável de criminosos a mostrar para a juventude que roubar no Brasil é um verdadeiro achado.

O ser humano não precisa viver sem tão mal. Basta querer para poder viver sem os medos e sofrimentos de maioria evitáveis e que tanto os infelicitam. Há milênios o rústico ser humano sentiu necessidade de companhia e formou vida grupal no intuito de viver melhor. No entanto, decorrido tanto tempo depois de perceberem a vantagem da vida em sociedade, por maior absurdo que é, vem sendo deteriorada em vez de aperfeiçoada.          

No livro DISCURSO SOBRE A ORIGEM E OS FUNDAMENTOS DA DESIGUALDADE ENTRE OS HOMENS, Mestre Rousseau afirma que os males humanos começaram quando alguém cercou um pedaço de terra e se tornou dono dele e as demais pessoas em vez de protestarem, concordaram. Isto dá o que pensar. Se nenhum ser vivo vive sem comer, e se a comida vem da terra, para que a vida em sociedade possa acontecer a terra de onde vem a comida não pode ser objeto de propriedade privada, principalmente usurpada na mão grande como mostra o livro O Partido da Terra, de Alceu Luis Castilho. E mestre Eduardo Moreira coloca a pá de cal nesse assunto declarando na página 51 de Economia do Desejo que o mal a que se referiu Rousseau  teria sido evitado caso as demais pessoas se recusassem a aceitar   aquela primeira apropriação e derrubassem a cerca que as privava de ter acesso àquele pedaço de chão, alegando que os frutos da terra pertenciam a todos, mas que a terra não podia pertencer a ninguém.