José Ortega
Y Gasset, em A rebelião das Massas, Editora Vide Editorial, pág. 18, faz a
seguinte ponderação: “Nossa atividade de
decisão não descansa um instante sequer. Mesmo quando, desesperados, nos
abandonamos ao que vier, estamos decidindo não decidir”. A humanidade,
segundo esta filosofia, decidiu não decidir sobre a qualidade de sua vida,
deixando tão grande responsabilidade a cargo de líderes cuja propensão à
liderança equivale a de Nietzsche a ser um pastor evangélico. Desta insensata e
estúpida indiferença da humanidade quanto ao seu próprio futuro resulta não haver
na face da terra um único ser humano que não esteja submetido à escravidão de
proporcionar vida regalada a estes malandros travestidos de líderes que decidem
o seu destino da humanidade. Estes líderes, na verdade, nada mais são do que lambe-botas
dos ricos donos do mundo aos quais se submetem de rabo entre as pernas tal qual
cachorro vira lata. E não pode mesmo ser de outra forma uma vez que para ocupar
os cobiçados postos de liderança que lhes permitem roubar o erário é preciso
contar com o apoio da massa bruta de povo, apoio esse que depende de muito
dinheiro porque a massa bruta escolhe quem faz maior estardalhaço em festas,
fotografias ao lado de jogador de futebola, ou que gasta mais dinheiro para que
a imprensa divulgue suas mentiras, além da grana destinada aos tais marqueteiros,
na verdade, tão malandros quanto seus clientes porque também se tornam
multimilionários convencendo os débeis frequentadores de igreja, axé e futebola
de que fulano ou beltrano é que é o cara. Uma vez que o dinheiro grosso para
estas coisas está nas mãos do ricos donos do mundo, é mais do que natural que
os ocupantes e os aspirantes à posse da chave do erário babem o saco de quem
tem dinheiro. Uma vez empossados, passam os falsos líderes a representar a
vontade dos malditos ricos dono do mundo, antas sociais, incapazes de perceber
que o ajuntamento de riqueza impossibilita o equilíbrio social necessário à
tranquilidade, portanto, à felicidade das pessoas, uma vez que ninguém pode
deixar de ser infeliz na intranquilidade.
Ao deixar a
cargo dos falsos líderes a responsabilidade pela aplicação do dinheiro que
deveria ser usado para promover tranquilidade social, o elemento bruto e
asqueroso de povo procede como alguém que abrisse um botequim e o deixasse a
cargo do mais irresponsável e maior cachaceiro do local. Em todas as sociedades
do mundo os falsos líderes cavalgam o bicho povo. Quando esse bicho povo ainda
é mais bicho, como aqui entre nós, aí a coisa ainda é pior. Aqui já se chegou a
uma situação tão desesperadora que embora esteja a sociedade à míngua de tudo, famílias
inteiras de falsos líderes também conhecidos como excelências formam quadrilhas
para assaltar o erário, o que fazem com facilidade graças à indiferença da
população a tantos desmandos que a administração pública é exercida por
bandidos. Nossa sociedade chegou a tal estado de putrefação moral que o crime
já se tornou tão banal que a mais alta corte de justiça protege desordeiros e
persegue quem faz opção pela ordem sem a qual se instala o caos graças à
brutalidade humana. Há deputados condenados por crime, mas autorizado pela
desmoralizada justiça a continuarem na função de deputado. É uma administração
pública canhestra, exercida a favor dos administradores e seus chefes mafiosos,
os ricos donos do mundo. Dela, o que sobra para a massa bruta de povo são apenas
queixumes, lágrimas na televisão e nos corredores dos hospitais, além de
cadáveres pelas ruas e crianças na cadeia.
No mundo
inteiro os administradores públicos parasitam a sociedade humana por ordem de
seus superiores. Embora integrando a classe parasitária, sendo a informação sua
fonte de renda, a imprensa informa que nos Estados Unidos a Associação nacional
do Rifle deu cinquenta e três milhões de dólares para ajudar a eleger políticos
que agora suam a camisa para garantir o livre comércio de armas. Pode-se
apostar um tostão furado como esta associação é produto da indústria
armamentista, cuja finalidade é trocar armas pelo dinheiro que enche as
caixas-fortes nos infernos fiscais, assim como o Prêmio Nobel tem por
finalidade fazer apologia da cultura que faz crer ser normal a existência de
bilionários ao lado de famintos. Finalidade também antissocial tem a Fundação
Templeton, instituição americana semelhante ao Nobel, cuja finalidade é comprar
opiniões de cientistas favoráveis à religiosidade, entidade esta tão inútil que
o Afeganistão distribui armas aos civis para que protejam suas igrejas. A
religiosidade tem por única função fazer com que os pobres de espírito, a quase
totalidade dos seres humanos, prefiram as igrejas à política, única responsável
pela qualidade de vida. É por conta da necessidade de não deixar cair a peteca
da indiferença política que a mais alta corte de justiça torna obrigatório o
ensino religioso nas escolas públicas, graças ao poder das forças ocultas que a
Lava Jato está desocultando. Como se vê, a sociedade humana vive sobre um
pedestal de falsidades, razão pela qual precisa urgentemente mudar de rumo
porque a estupidez de permanecer em erro supera qualquer outro tipo de
estupidez, mesmo a estupidez de se conformar em ser presa da canalha que se
apossou da riqueza do mundo, posto que até os irracionais fogem o predador.
Para o
brasileiro, a estupidez é adorno. No livro O LADO SUJO DO FUTEBOL, seus autores,
Amauri Ribeiro Jr., Leandro Cipoloni, Luiz Carlos Azenha e Tony Chastinet, pela
editora Planeta, mostram ter sido o esporte das multidões de idiotas transformado
numa forma de esfolar o rabo das multidões de mendigos mentais que formam o
elemento asqueroso povo. São mansões monumentais, relógios de ouro cravejados
de diamantes, iates fabulosos, contas abarrotadas de dinheiro automóveis dos
mais caros do mundo, monumentais farras com mulheres que se escondem atrás da
profissão de modelo, enfim, algo só comparável, ao fantástico mundo
multimilionário resultante dos conluios entre os canalhas da política e os das
grandes empresas. Desta forma, estando o mundo de cabeça para baixo, é de se
estranhar, e muito, que os intelectuais escrevam livros e mais livros sem que
uma sílaba apenas se refira à insustentabilidade desta situação. Embora
inegável ser interessante conhecer nossa trajetória evolutiva, curiosidades
como o fato de ter a domesticação do fogo contribuído para o desenvolvimento do
cérebro em função do aproveitamento da energia economizada com a diminuição do
intestino graças ao cozimento dos alimentos, tais devaneios em absolutamente
nada contribuem para o que há de mais importante para o ser humano: sua
condição de vida. Contra a miséria humana, os intelectuais apenas dão dicas que
a massa bruta de povo não aproveita por analfabetismo ou ojeriza aos livros. Faz-se
necessário, pois, deixar de lado a intelectualidade dos intelectuais e passar a
cogitar de assuntos práticos e relacionados com uma forma de vida na qual
predomine o raciocínio lógico de ser descartável a quase totalidade dos
sofrimentos que afligem os seres humanos. Tais infortúnios decorrem por ação
dos próprios seres humanos transformados em robôs programados para produzir
dinheiro, adorar santidades e festejamentos, numa alegria que acabará quando começar
a fase das dores, dos remédios e do hospital, onde a cultura da riqueza fará
com que profissionais da saúde façam de tudo para não deixar que se esvaia uma
vida cuja única utilidade é lhes servir de fonte de renda. As divindades às
quais a ignorância humana atribui sua qualidade de vida, caso existissem realmente,
precisariam ser queimadas por uma inquisição benéfica em função do mal causado
à humanidade por estas santidades cuja orientação resultou no atual estado de
desgraças que grassam mundo afora.
Faz-se
necessário que os intelectuais atuem diretamente para a mudança desse estado
social medíocre para outro de elevado padrão social, visto que para seu próprio
bem a humanidade não deve se ater a evoluir espiritualmente de forma tão lenta
como faz a natureza no que se refere à evolução física. Na página 22 de Uma
Breve História da Humanidade, de Yuval Noah Harari, editora L&PM, consta
que há cento e cinquenta mil anos o ser humano já era como hoje é. As
conjecturas dos intelectuais dizem respeito apenas ao seu mundo. Na página 371
do laureado livro História do Pensamento Ocidental, do não menos laureado escritor
Bertrand Russel, consta o seguinte: “Ao
tratarmos da filosofia nos últimos setenta ou oitenta anos, enfrentamos algumas
dificuldades especiais, pois, como estamos muito perto desses acontecimentos, é
difícil vê-los com o distanciamento e a imparcialidade adequados”. Tal
afirmação, embora tenha tudo a ver com a intelectualidade dos intelectuais, encerra
para o leigo o paradoxo de ser justamente por estarem presentes os infortúnios
dos quais provêm as infelicidades que se faz necessário debruçar sobre eles a
fim de detectar sua causa para que se possa neutralizar seu efeito. É sobre
questões práticas que devem os filósofos filosofar. O prefácio deste livro citado
começa assim: “Um grande livro é um
grande mal”. Pensamento atribuído ao poeta Calímaco. Ora, como ser um mal
um grande livro, se o qualificativo “grande” está relacionado a sentido
positivo? Mas os intelectuais, parece, sentem necessidade de mostrar
intelectualidade ainda que inútil, da mesma forma que os ricos precisam mostrar
riqueza também inútil, porque em absolutamente nada tem de proveitoso em
relação a uma forma agradável de vida cogitar-se sobre o significado da vida,
se o mundo tem um propósito ou se o desenrolar da história nos leva a algum
lugar. Não raro, porém, os intelectuais, principalmente os egressos das
Harvards do mundo, distorcem a realidade. O mesmo laureado filósofo Yuval Noah
Harari, no livro Homo Deus, Uma Breve História do Amanhã, editora Companhia das
Letras, na página 14, há uma afirmação deletéria ao desenvolvimento do espírito
de sociabilidade, único caminho que poderá levar a humanidade à tranquilidade
da paz. Afirma o filósofo que embora centenas de milhões de pessoas ainda
passem fome quase todos os dias, na maioria dos países o número de mortes por
inanição é muito pequeno. Esta é a absurdo lógica capitalista para a qual é
normal estar nas mãos de apenas um por cento da humanidade os bens materiais
que a todos deveriam servir. Não há maior desumanidade do que ser indiferente a
quem passa fome.
Especulações
que passam ao largo da necessária mudança para uma cultura sadia que substitua
esta cultura infame e doentia a cair aos pedaços de podre, devem aguardar o momento
propício para outras divagações alheias à brutalidade que tomou conta do mundo.
Em primeiríssimo lugar faz-se necessário substituir a cultura do faz de conta
que tá tudo bem por uma cultura capaz de encarar a vida com realismo. Assim
como para quem está tendo a casa incendiada é mais importante apagar o fogo do
que especular sobre como ele teria começado, do mesmo modo, os desamparados
pela falta de conhecimento precisam que os intelectuais lhes ajudem a superar esta
fase negativa da qual provêm os males do mundo que existem por obra e graça do
conformismo com a cultura brutal de acumular riqueza num canto e miséria no
outro canto, graças ao comportamento antissocial dos trogloditas mentais, magnificamente
delineado nos seguintes versos de La Fontaine, na página 23 do livro Fábulas,
da editora Martin Claret: Um galo achou
num terreiro / Uma pérola, e ligeiro, / corre a um lapidário e diz: / “Isto é
bom, é de valia. / De milho um grão todavia / Era um achado mais feliz.
Um néscio ficou herdeiro / De um manuscrito, e a um
livreiro / Vai à pressa, e fala assim: / “É bom, é livro acabado, / Concordo,
mas um ducado / Valia mais para mim. Destas duas estrofes se conclui que
a mentalidade do néscio, qualificativo que expressa com eficiência o
comportamento dos ajuntadores de riqueza, é inferior à do galo, orientado
apenas pelo instinto. O qualificativo néscio define com eficiência o
comportamento do imbecil que pavoneia ser o mais rico, sem, entretanto, cogitar
das consequências funestas de tal comportamento.
É sobre
estas questões práticas que devem os filósofos filosofar. Esclarecer em vez de
confundir. Esclarecer, por exemplo, a inconsequência à qual a ninguém parece
interessar de serem as pessoas submetidas a uma constante lavagem cerebral
através da papagaiada de microfone que por conta das forças ocultas fazem crer
à massa ignara haver algo de bom em coisas altamente danosas. Um exemplo
esclarecedor desta realidade é o agribiuzinesse laureado por papagaios de
microfone, em franca contradição com a realidade materialmente confirmável e exposta
na reportagem denominada Maldição em Sandovalina, da jornalista Inês Castilho,
publicada no blog Outras Palavras, escola de alfabetização política, no
seguinte teor: “O município paulista com
a maior taxa de morte por câncer do pâncreas é Sandovalina, pequena cidade de
pouco mais de 4 mil habitantes na região do Pontal do Paranapanema. É também o
segundo maior índice de nascidos vivos com malformações congênitas, conforme
dados do Ministério da Saúde de 2000 a 2013, e o motivo é bem conhecido pela
população. São os aviões que passam despejando veneno, contaminando as águas,
pessoas e plantações”. O que justifica, então, fazer proselitismo de tal
monstruosidade? Pensar sobre isto é mais importante do que conhecer o conteúdo das
759 páginas do livro A História da Grande Evolução, do intelectualíssimo
Richard Dawkins, que na página 21 recomenda a leitura do livro A Vida do
Cosmos, do físico teórico Lee Smolin. Sobre este livro recomendado, o autor que
o recomenda diz o seguinte: “No modelo
de Smolin, universos originam universos “filhos”, os quais variam em suas leis
e constantes. Os universos-filhos nascem de buracos negros produzidos pelo
universo pai, e desse herdam suas leis e constantes, porém, com alguma
possibilidade de pequenas mudanças aleatórias”. O livro de Dawkins é
realmente uma excelente aula sobre o processo evolutivo. Entretanto, de
esclarecimento, de contribuição para superar a ignorância em que se encontra
mergulhada a humanidade e que a impede de viver sem tanto sofrimento, a única
coisa prática está na página 37, quando torna pública o embuste da religião ao
mencionar o fato de terem teólogos alemães do século XIX adulterado a história
do Antigo Testamento para adequá-la a profecias do Antigo Testamento, no que
contribui para o esclarecimento de ser um embuste a religiosidade. No mais, é
tudo divagações que em nada contribuem para adequar o dia a dia das pessoas à
dignidade que o ser humano deve, merece e precisa ter. Inté.