sábado, 21 de outubro de 2017

ARENGA 454


A cultura atual do barbarismo moral e político responsável pelo comportamento que faz dos humanos ainda mais selvagens que as feras não pode ser substituída de um dia para outro por outra cultura que estabelecesse comportamento civilizado. Não pode simplesmente porque as raízes do câncer da imoralidade, da mentira e da falta de vergonha da falsa liderança dos líderes políticos já se apossaram do cérebro dos seres humanos de forma tão envolvente que é preciso muita boa vontade e esforço de cada um por si mesmo para que se possa chegar a uma maturidade mental capaz de distinguir o falso do verdadeiro. A natureza dá uma “mãozinha” para a superação da dificuldade de se mudar de opinião porque o aprendizado através do senso comum, da observação das coisas da vida, aos poucos vai convencendo de não ser realidade muito aquilo que até então tem sido considerado realidade. Este aprendizado empírico acaba por conduzir à verdade, dando origem a novos comportamentos, ainda que a um prazo medido em anos luz. A história mostra que aos poucos determinada cultura cede lugar para outra cultura diferente a partir do momento em que o desenvolvimento mental, lento, é verdade, mas inegável, leva à conclusão da necessidade de se mudar de caminho. Depois de séculos, a cultura da mentira de ser necessário matar quem não acreditasse em Deus foi substituída pela cultura de não haver nada de errado em não se acreditar em deus. Aliás, observando direitinho, a convicção dos descrentes de que o bem estar social depende da boa aplicação dos recursos públicos em vez de depender de Deus torna-os mais úteis à sociedade do que a ratazana de igreja que têm pavor a quem toma uísque e torce o nariz para quem fuma maconha, ao tempo em que, ao contrário dos descrentes que por recomendação do seu Deus imaginário, no que diz respeito aos desvalidos, sua preocupação não passa do ato de dar esmola, enquanto que os descrente, ao contrário, chegaram à conclusão de que tal comportamento interessa mesmo é às “autoridades” que assim passam a contar com grande contingente de idiotas que em nome da piedade adiam indefinidamente a extinção da existência de quem precise de esmola. Desta forma, por agirem contrariamente aos verdadeiros interesses de uma sociedade civilizada, os ratos de igreja deram origem ao seguinte comentário entre duas pessoas que passavam ao largo do alvoroço de certo grupo religioso. Um dos dois homens perguntou ao outro do que se tratava aquela aglomeração, ao que o outro respondeu tratar-se de uma reunião de infiéis.

Realmente, em termos de avanço rumo à civilização os retrógados amantes da religiosidade representam atraso imensurável o que demonstram na prática de serem contra tudo que é de novo, embora a novidade sempre supera o ranço das mentalidades mumificadas que levaram estes energúmenos mentais a condenar fossem divulgadas realidades como o fato de não ser a Terra o cento do sistema solar, de não se poder intervir cirurgicamente no corpo humano por ser criação divina, de ser contra o aborto ainda sendo o feto malformado, o divórcio. O cúmulo da maldade dos ratos de igreja se materializa na monstruosidade da indiferença às infelizes e inocentes criancinhas abandonadas ao próprio destino, quando se sabe que crianças precisam de proteção e orientação. Não há maldade que supere o cinismo de se afirmar que as crianças abandonadas pela sociedade sejam as responsáveis pelo seu próprio sofrimento. Foi também o processo da evolução mental que produziu a queda da cultura de serem os governantes escolhidos em função do nascimento, passando a serem escolhidos pelo povo através de voto popular. Mas esta cultura também já está a caducar porque a vontade do povo foi substituída pela vontade dos ricos. Tendo os ricos o cérebro feito de ouro cravejado de diamantes, sua ganância estúpida de tomar para si a riqueza do mundo dá origem a males sociais dos quais decorrem sofrimentos terríveis por falta dos recursos que eles mantêm em seu poder apenas para deleite pessoal de fazer pose na revista Forbes. O cotidiano no decorrer do tempo fará com que esta realidade penetre nas pessoas independentemente de suas vontades e lhes convencerá de viverem uma vida de grande mentira e tão medíocre quanto a vida do asno, limitada a comer, trepar e cagar. Uma vez firmado o conhecimento da verdade, também ela cria suas raízes e se torna difícil de ser desacreditada, principalmente quando dos novos comportamentos por ela determinados resultar em elevação espiritual capaz de levar a humanidade à paz e à tranquilidade que deveriam ser o objetivo primeiro de cada ser humano. Como o resultado da soma decorre da união das parcelas, da união de seres humanos pacíficos e socialmente educados resultará uma sociedade também pacífica e agradável para ser vivida, objetivo que deveria entusiasmar a juventude.

Constatada a realidade de se poder trocar uma cultura por outra, é tempo de se concluir que o procedimento de entregar dinheiro às “autoridades” para que elas o empreguem em benefício da sociedade é um procedimento tão inútil quanto o meu procedimento de quando fumava maconha e entreguei um dinheiro a um guardador de carros lá em Ilhéus para me comprar um pouco da “mercadoria”. Simpático, cheio de ginga, capaz de botar no bolso o melhor malandro carioca do tempo em que a malandragem não causava tantos estragos, o cara simplesmente desapareceu. Tempos depois, estacionando no mesmo lugar, ele veio me cumprimentar e lamentar por eu ter desaparecido e não ter ido receber a “encomenda”. – Por acaso, teria acontecido alguma coisa com vossa pessoa? – Perguntou com ar de preocupado. O comportamento inescrupuloso das “autoridades” é ainda mais cínico do que o comportamento do meu comprador de maconha porque elas nem mesmo precisam fingir preocupação. Agem tão desavergonhadamente que estamos diante de uma situação inexplicável em que apesar de ser crime comprar voto, o presidente da república compra votos dos deputados a preço de ouro que o povo paga satisfeito enquanto faz oração, esperneia no futebola e futuca telefone para saber com quem determinada “celebridade” está trepando. A humanidade dá um fora monumental ao ficar de longe à espera que as “autoridades” resolvam a questão de fazer com que todos tenham acesso aos benefícios da educação, saúde e segurança. A triste verdade é que o interesse das “autoridades” pelo bem-estar das pessoas é o mesmo que tinham as “autoridades” de outrora pelos escravos no tempo do império, conforme se vê pelo que consta da página 212 do livro 1889, de Laurentino Gomes, editora Globo Livros, no seguinte teor: “A primeira lei brasileira de combate ao comércio negreiro, aprovada em 1881 por pressão do governo britânico, nunca pegou. Era, como se dizia na época, “uma lei para inglês ver”. Mesmo oficialmente proibido e condenado por tratados internacionais, o tráfico continuou de forma intensa e sob as vistas grossas das autoridades”.

A humanidade só tem mijado fora do pinico. Sua mais extraordinária burrada é empregar a capacidade criativa para beneficiar individualidades em vez da sociedade em geral, o que vai de encontro ao princípio da coletividade usado por determinados grupos como meio de alcançar seus objetivos mais facilmente. Na Idade Média, grupos de categorias de trabalhadores se juntavam nas Corporações de Ofício para proteção de suas classes profissionais. É também visando sucesso coletivo que se formam os clubes esportivos e os partidos políticos, mesmo sendo inconfessáveis os objetivos de ambos. As antigas Corporações de Ofício vieram posteriormente a ser substituídas pelos sindicatos que passaram a servir de trampolim para transformar seus dirigentes em parasitas sociais como malandros federais na feliz expressão do nosso poeta Chico Buarque. Não dá mais para esconder a realidade de vivermos uma irrealidade materializada em fatos tais como pessoas de elevada capacidade de entendimento serem obrigadas a se nivelar com a massa bruta e também se declararem apaixonadas pelo pão e circo dos esportes e das igrejas. Inté.

 

  

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