A cultura atual
do barbarismo moral e político responsável pelo comportamento que faz dos
humanos ainda mais selvagens que as feras não pode ser substituída de um dia
para outro por outra cultura que estabelecesse comportamento civilizado. Não
pode simplesmente porque as raízes do câncer da imoralidade, da mentira e da
falta de vergonha da falsa liderança dos líderes políticos já se apossaram do
cérebro dos seres humanos de forma tão envolvente que é preciso muita boa
vontade e esforço de cada um por si mesmo para que se possa chegar a uma
maturidade mental capaz de distinguir o falso do verdadeiro. A natureza dá uma
“mãozinha” para a superação da dificuldade de se mudar de opinião porque o
aprendizado através do senso comum, da observação das coisas da vida, aos
poucos vai convencendo de não ser realidade muito aquilo que até então tem sido
considerado realidade. Este aprendizado empírico acaba por conduzir à verdade,
dando origem a novos comportamentos, ainda que a um prazo medido em anos luz. A
história mostra que aos poucos determinada cultura cede lugar para outra
cultura diferente a partir do momento em que o desenvolvimento mental, lento, é
verdade, mas inegável, leva à conclusão da necessidade de se mudar de caminho.
Depois de séculos, a cultura da mentira de ser necessário matar quem não
acreditasse em Deus foi substituída pela cultura de não haver nada de errado em
não se acreditar em deus. Aliás, observando direitinho, a convicção dos
descrentes de que o bem estar social depende da boa aplicação dos recursos
públicos em vez de depender de Deus torna-os mais úteis à sociedade do que a
ratazana de igreja que têm pavor a quem toma uísque e torce o nariz para quem fuma
maconha, ao tempo em que, ao contrário dos descrentes que por recomendação do
seu Deus imaginário, no que diz respeito aos desvalidos, sua preocupação não
passa do ato de dar esmola, enquanto que os descrente, ao contrário, chegaram à
conclusão de que tal comportamento interessa mesmo é às “autoridades” que assim
passam a contar com grande contingente de idiotas que em nome da piedade adiam
indefinidamente a extinção da existência de quem precise de esmola. Desta
forma, por agirem contrariamente aos verdadeiros interesses de uma sociedade
civilizada, os ratos de igreja deram origem ao seguinte comentário entre duas
pessoas que passavam ao largo do alvoroço de certo grupo religioso. Um dos dois
homens perguntou ao outro do que se tratava aquela aglomeração, ao que o outro
respondeu tratar-se de uma reunião de infiéis.
Realmente,
em termos de avanço rumo à civilização os retrógados amantes da religiosidade
representam atraso imensurável o que demonstram na prática de serem contra tudo
que é de novo, embora a novidade sempre supera o ranço das mentalidades mumificadas
que levaram estes energúmenos mentais a condenar fossem divulgadas realidades
como o fato de não ser a Terra o cento do sistema solar, de não se poder
intervir cirurgicamente no corpo humano por ser criação divina, de ser contra o
aborto ainda sendo o feto malformado, o divórcio. O cúmulo da maldade dos ratos
de igreja se materializa na monstruosidade da indiferença às infelizes e inocentes
criancinhas abandonadas ao próprio destino, quando se sabe que crianças precisam
de proteção e orientação. Não há maldade que supere o cinismo de se afirmar que
as crianças abandonadas pela sociedade sejam as responsáveis pelo seu próprio
sofrimento. Foi também o processo da evolução mental que produziu a queda da
cultura de serem os governantes escolhidos em função do nascimento, passando a
serem escolhidos pelo povo através de voto popular. Mas esta cultura também já
está a caducar porque a vontade do povo foi substituída pela vontade dos ricos.
Tendo os ricos o cérebro feito de ouro cravejado de diamantes, sua ganância
estúpida de tomar para si a riqueza do mundo dá origem a males sociais dos
quais decorrem sofrimentos terríveis por falta dos recursos que eles mantêm em
seu poder apenas para deleite pessoal de fazer pose na revista Forbes. O
cotidiano no decorrer do tempo fará com que esta realidade penetre nas pessoas independentemente
de suas vontades e lhes convencerá de viverem uma vida de grande mentira e tão medíocre
quanto a vida do asno, limitada a comer, trepar e cagar. Uma vez firmado o
conhecimento da verdade, também ela cria suas raízes e se torna difícil de ser
desacreditada, principalmente quando dos novos comportamentos por ela
determinados resultar em elevação espiritual capaz de levar a humanidade à paz
e à tranquilidade que deveriam ser o objetivo primeiro de cada ser humano. Como
o resultado da soma decorre da união das parcelas, da união de seres humanos
pacíficos e socialmente educados resultará uma sociedade também pacífica e
agradável para ser vivida, objetivo que deveria entusiasmar a juventude.
Constatada
a realidade de se poder trocar uma cultura por outra, é tempo de se concluir
que o procedimento de entregar dinheiro às “autoridades” para que elas o
empreguem em benefício da sociedade é um procedimento tão inútil quanto o meu
procedimento de quando fumava maconha e entreguei um dinheiro a um guardador de
carros lá em Ilhéus para me comprar um pouco da “mercadoria”. Simpático, cheio
de ginga, capaz de botar no bolso o melhor malandro carioca do tempo em que a
malandragem não causava tantos estragos, o cara simplesmente desapareceu.
Tempos depois, estacionando no mesmo lugar, ele veio me cumprimentar e lamentar
por eu ter desaparecido e não ter ido receber a “encomenda”. – Por acaso, teria
acontecido alguma coisa com vossa pessoa? – Perguntou com ar de preocupado. O
comportamento inescrupuloso das “autoridades” é ainda mais cínico do que o
comportamento do meu comprador de maconha porque elas nem mesmo precisam fingir
preocupação. Agem tão desavergonhadamente que estamos diante de uma situação
inexplicável em que apesar de ser crime comprar voto, o presidente da república
compra votos dos deputados a preço de ouro que o povo paga satisfeito enquanto
faz oração, esperneia no futebola e futuca telefone para saber com quem
determinada “celebridade” está trepando. A humanidade dá um fora monumental ao
ficar de longe à espera que as “autoridades” resolvam a questão de fazer com
que todos tenham acesso aos benefícios da educação, saúde e segurança. A triste
verdade é que o interesse das “autoridades” pelo bem-estar das pessoas é o
mesmo que tinham as “autoridades” de outrora pelos escravos no tempo do
império, conforme se vê pelo que consta da página 212 do livro 1889, de
Laurentino Gomes, editora Globo Livros, no seguinte teor: “A primeira lei brasileira de combate ao comércio negreiro, aprovada em
1881 por pressão do governo britânico, nunca pegou. Era, como se dizia na
época, “uma lei para inglês ver”. Mesmo oficialmente proibido e condenado por
tratados internacionais, o tráfico continuou de forma intensa e sob as vistas
grossas das autoridades”.
A humanidade
só tem mijado fora do pinico. Sua mais extraordinária burrada é empregar a
capacidade criativa para beneficiar individualidades em vez da sociedade em
geral, o que vai de encontro ao princípio da coletividade usado por
determinados grupos como meio de alcançar seus objetivos mais facilmente. Na
Idade Média, grupos de categorias de trabalhadores se juntavam nas Corporações
de Ofício para proteção de suas classes profissionais. É também visando sucesso
coletivo que se formam os clubes esportivos e os partidos políticos, mesmo
sendo inconfessáveis os objetivos de ambos. As antigas Corporações de Ofício
vieram posteriormente a ser substituídas pelos sindicatos que passaram a servir
de trampolim para transformar seus dirigentes em parasitas sociais como
malandros federais na feliz expressão do nosso poeta Chico Buarque. Não dá mais
para esconder a realidade de vivermos uma irrealidade materializada em fatos
tais como pessoas de elevada capacidade de entendimento serem obrigadas a se
nivelar com a massa bruta e também se declararem apaixonadas pelo pão e circo
dos esportes e das igrejas. Inté.
Nenhum comentário:
Postar um comentário