Quando eu
era menino, os filmes eram anunciados em cartazes amarrados nos postes de
iluminação. Entre os colegas na escola primária da minha ainda insipiente cidadezinha
de Itapetinga, então município de Itambé, para debochar (hoje “buling” em
função do babaovismo do brasileiro com as coisas do estrangeiro) com um colega
procedente de outra cidadezinha ainda menor que a nossa Itapetinga de metade do
século passado, um dos nossos colegas mais inventivo dizia que viu lá na cidade
desse outro colega um cartaz que anunciava da seguinte maneira as excelências
de um filme de caubói: “Murro prá carái. Tiro como corno. Tá rebocado quem não
ir”. Nunca consegui entender direito o significado de “tá rebocado”. Mas lembro
que “estar rebocado” era ofensa. Como pensamento de velho não sossega, esta
lembrança me foi trazida antes de sair da cama, ao ouvir pelo rádio um candidato
a governador anunciar suas excelências sobre as inconveniências do oponente. Para
o colega lá da escolinha, pensei, as campanhas eleitorais seriam mais ou menos
assim: “Óia, cês tudo vota neu pruquê garanto lutá prá carái pelo bem docês
tudo. Tanto os daqui como de quarqué lugá. Falô?”. O motivo da comparação é que
as tais campanhas eleitorais têm a mesma falta de lógica das propagandas de
bancos, do agribiuzinesse criador de fortunas e de cânceres, do consumismo, do
mercado financeiro. É tudo armadilha visando explorar a estupidez humana. Embora
ninguém mais acredite neles, os urubus, digo, os candatos, em torno da carniça,
digo, do erário, dizem ter por objetivo o bem da população. Isto é tão ridículo
quanto o banqueiro Henrique Meireles dançando forró. E não é menos ridícula a
seriedade com que os papagaios de microfone entrevistam os pretendentes à chave
do cofre. Perguntar-lhes como agiria em tal situação é de uma estupidez cavalar
porque até mesmo um Zemané sabe perfeitamente que eles pretendem fazer isso aí
que a Lava Jato está mostrando. A política nunca deixou de ser a arte de parasitar
a massa bruta de povo ainda iludida com eleições. Está na imprensa que o
banqueiro Henrique Meireles conta com sua eleição porque dispõe de milhões e
milhões para gastar. Caberá à massa bruta de povo restituir estes milhões com
os juros bancários. No tocante ao interesse público, com as necessárias e
raríssimas ressalvas (felizmente), a palavra autoridades sempre mereceu ser escrita
entre aspas. No O capítulo 21 do livro Cocaína, A Rota Caipira, de Allan de
Abreu, intitulado Advogados do Crime, lê-se a seguinte passagem: “No fim dos anos 1980, um juiz federal de
Campo Grande (MS) inocentou um traficante flagrado com 1,2 tonelada de maconha
alegando que o laudo pericial não apontava se a droga era “macho ou fêmea”.
Além disso, determinou a devolução do carregamento ao seu dono”. Agora,
temos ministros da mais alta corte de justiça fazendo a mesma coisa com
ladrões.
Se o
funcionamento dos meios de comunicação não lhes permite interromper um minuto
sua comunicação, pelo menos devem comunicar alguma coisa não tão imbecil quanto
a nojeira das campanhas eleitorais, principalmente sobre as de países
estrangeiros. Absolutamente nada pode justificar arrancar bilhões do lombo da
massa bruta de povo para gastar em eleições enquanto falta dinheiro para coisas
essenciais. Entretanto, a papagaiada de microfone, passando ao largo de
assuntos que dizem respeito às causas da esculhambação, tergiversam inutilmente
em torno de coligações, candidatos à excrescência da figura inútil de um vice
para aboletar-se em palácio e ser motivo para mais falatórios inúteis. Tá, ou
não tá precisando mudar tudo? Pior é que esta estupidez não está apenas nas
sociedades primitivas como a nossa, ainda de braços dados com o regime colonial.
Também as sociedades tidas como civilizadas estão mal e a pedir a mudança que
inevitavelmente virá malgrado a má vontade da papagaiada de microfone que a
soldo dos Reis Midas do mundo fazem de tudo para eternizar a insustentável
cultura da competição. Denigrem o socialismo acusando-o de assassinatos, mas
escondem a realidade de inexistir um sistema político ideal uma vez haver
infinitamente maior número de assassinatos decorrente da competição que leva a
sociedade à violência que é a marca registrada tanto no socialismo quanto no
capitalismo que o babaovismo garante ser o ideal.
A História
mostra, pelo menos no entendimento de quem é de poucas letras, que as várias
mudanças ocorridas não aconteceram porque pessoas se reuniram e disseram “VAMOS
MUDAR!”. Ninguém disse “VAMOS FAZER FOGO!”, “VAMOS INVENTAR A AGRICULTURA, A RODA,
DOMESTICAR ANIMAIS, A ATIVIDADE COMERCIAL, O MERCADO OU O CAPITALISMO”. Apesar
disto, aconteceram, e acontecerem em função da tendência natural de evoluir que
leva o ser humano à ação quando premido por incômodo que dá origem à
necessidade de mudança, necessidade esta que sempre existiu e que provocou
várias mudanças, todas inócuas uma vez que o desassossego nunca deixou de fazer
parte do cotidiano em virtude de viverem os humanos a grande fantasia do
desconhecimento da realidade da vida ao acreditar não ter fim o vigor da
juventude. Tendo se tornado insustentável a cultura da competição, algo
diferente haverá de substituí-la. Sendo o conhecimento cumulativo, isto é, o
conhecimento adquirido facilita a aquisição de mais conhecimento, o que pode ser
constatado ao se verificar que à medida em que se executa determinado trabalho
a facilidade de executá-lo aumenta na proporção das repetição de sua execução,
a acumulação de conhecimentos, do mesmo modo, levará inevitavelmente à
conclusão de haver forma menos estúpida de se viver. Da mesma forma como os
grandes escritores começaram tomando conhecimento do nome das letras, do mesmo
modo como toda caminhada por maior que seja começa pelo primeiro passo, o
caminhar no rumo de uma vida melhor, embora lentamente, prossegue. O desalento
em torno das eleições mostra que até mesmo seres quase irracionais como os da
massa bruta de povo foram levados à percepção da falsidade que as envolve. Também
facilmente observável é que da acumulação de conhecimentos tem resultado em que
as mudanças ocorram com maior celeridade. Esta é a razão pela qual a
pré-história durou mais que a primeira fase da história, que durou mais do que
a segunda, que durou mais que a terceira, que durou mais que a quarta e última,
esta em que vem a humanidade aos trancos e barrancos se arrastando até os dias
atuais numa vida que em nada difere da vida das feras.
O grande erro dos seres humanos vem sendo
repassado de geração a geração. Consiste em que aqueles que por esse ou aquele motivo
vieram a se encontrar em situação considerada privilegiada em relação aos
demais seres humanos, eliminando com tal comportamento a igualdade tão falada
nos tratados internacionais. É verdade que em função da brutalidade humana é
impossível a igualdade absoluta. Entretanto, uma vez que os seres humanos são
obrigados a viverem em sociedade, em
nome da sociabilidade, pois, não há de ser tão grande a desigualdade, razão
pela qual pecam fragorosamente contra si mesmos aqueles que sempre se opuseram
a qualquer tipo de mudança em função da cultura contrária à cooperatividade
necessária à vida coletiva. A cultura da competição é responsável por todos os
males da humanidade por ser impossível uma sociedade na qual uns membros vivem
tomando de outros membros da mesma sociedade as coisas de que necessitam sem
levar em consideração que os usurpados necessitam também daquilo que lhes é
tomado. Esta realidade é visível. Aparece, por exemplo, na notícia no Jornal do
Brasil de que o lucro dos bancos (R.$28,8 bilhões ao ano) é quase a metade do
montante que atenderá as necessidades de trinta e nove milhões de famílias no
programa Bolsa Família. Isto justifica plenamente o que disse o historiador de
ser o ser humano uma criatura estúpida. Se nas sociedades humanas mais adiantadas
no ainda insipiente processo de civilização, aquelas nas quais é menor a
desfaçatez da indiferença quanto ao bem-estar coletivo, ainda guerreiam ente
si, este fato demonstra não terem as sociedades tidas como civilizadas alcançado
ainda a evolução espiritual capaz de viverem a paz de que tanto falam. Que
dizer, então, das sociedades mais atrasadas? Pode-se dizer seguramente que ainda
não deixaram a pré-história.
Embora os
meios de comunicação procurem evitar a todo custo, é sumamente necessário pensar
sobre estas coisas. As criancinhas precisam que seus pais se inteirem do porquê
de girarem as notícias na imprensa em torno de brutamontes semianalfabetos e
completamente ignorantes de sociabilidade considerando-os “famosos” e
“celebridades”, ou em torno de bundas, doutores bumbuns, langerries, enfim, em
torno de baixarias. Por trás disto estão as Forças Ocultas representadas por
infinita papagaiada de microfone empenhada em fazer crer que brincadeiras são
mais importantes que assuntos do tipo dos assuntos tratados aqui, embora de
forma risível para os intelectuais que escrevem calhamaços enfadonhos versando
sobre o que é, mas sem uma palavra sequer sobre o porquê de ser assim e muito
menos sobre como deve ser. O último desperdício de meu pouco dinheiro com estas
inutilidades foi a compra do livro A Elite do Atraso do intelectualíssimo Jessé
de Souza. O atraso é notório. Se os intelectuais estivessem realmente
interessados num tipo de vida menos estúpida deveriam se ocupar em buscar o
porquê de tamanho atraso humano capaz de justificar a existência dos
morticínios comuns na história da vida dos homens, inclusive em nome da figura
imaginária de Deus. Mas, não. Gastam sua intelectualidade mostrando o que está
à vista de todos. Pior ainda são os intelectuais que dizem ser esta a melhor
forma de se viver, quando é palpável a realidade de ser esta fase histórica
conhecida por Contemporânea tão insustentável quanto as duas que a precederam e
cuja insustentabilidade as levou a sucumbir por se fundamentaram na existência
de exploradores e explorados como acontece agora na mesma intensidade e de forma
ainda mais desumana. Mais desumana ainda porque de tal modo disfarçada que os
explorados agradecem a Deus quando conseguem um emprego que os explore até
restar um caco choroso no corredor do hospital.
Embora
desde séculos antes de Cristo o imperador Ciro, por meio do Cilindro de Ciro, condenasse
o procedimento de exploração de seres humanos por outros seres humanos, tal
exploração nunca deixou de existir. Alguma forma menos desinteligente de viver,
para o bem das criancinhas que mães ignorantes lançam no mundo, não deverá jamais deixar de ser procurada. Inté.