terça-feira, 31 de outubro de 2023

ARENGA 707

 

Assim como se teve de reconhecer que a Terra não era o centro do universo e nem era quadrada, por obra do doutor Galileu, mas redonda e achatada nos polos, assim também haverá outro doutor Galileu para forçar reconhecer que o bem-estar não depende de divindade coisa nenhuma. Que depende mesmo é do dinheiro. Feito isso, acabar-se-á o que era doce para os Midas do mundo que têm cifrões em lugar de pupilas porque uma vez constatada a indispensabilidade do dinheiro porque sem ele não se pode ter bem-estar de nenhuma forma, ninguém mais vai cair na bestagem de ir procurar bem-estar nas igrejas, mas no Estado que é quem cuida da distribuição do dinheiro. Chegando a essa sabedoria, é claro que sob pena de nunca mais receber votos, os governos serão obrigados a impedir que Midas açambarquem para si sós o dinheiro de fazer com que todos tenham dinheiro para que possam ter o que precisam ter e que não têm porque o dinheiro tanto é roubado quanto desperdiçado de mil e uma formas sem que os ladrões e desperdiçadores sofram a penalidade correspondente a seus crimes como mostra esta matéria publicada no grandioso jornal Gazeta do Povo, de 22/10/23:  A OCDE aponta um fato prodigioso, já comentado com frequência na mídia independente: não há no Brasil, no momento, nenhum preso por corrupção.

Só duas situações explicam o fato de inexistir preso por corrupção no Brasil: não haver corrupção ou ter ela conquistado as autoridades.

 

 

sábado, 21 de outubro de 2023

ARENGA 706

 

A qualificação de sapiens que a biologia atribui à espécie humana está anos luz distante da realidade por que monstros não são sábios; são nada mais que monstros haja vista a monstruosidade das guerras que com o passar do tempo recrudesce a crueldade porquanto se matam inocentes criancinhas. A permanecerem os seres humanos em tamanha estupidez, atrairão sobre si inevitavelmente o destino dos dinossauros.

Para falar sobre os sapiens, esse cantinho de pensar pede permissão à memória do grande pensador Vinicius Bittencourt para extrair das páginas 19 e 20 do seu livro Falando Francamente sua observação sobre o ser humano para brindar aos gatos pingados que nos honram com sua atenção, e que já somam duzentas e setenta mil visitas. Com a palavra, pois, o doutor Vinicius Bittencourt:

“Tudo mudou, mas o homem é sempre o mesmo. No mundo das ideologias é o Midas da putrefação. O que ele toca, logo apodrece. Basta ver o que ocorreu com as ideias generosas do Cristianismo, da Revolução Francesa e da Revolução Soviética. Na política, na religião, na administração da justiça, na administração pública ou em outra qualquer missão, o homem tudo subverte. Sobre ele atuam poderosamente os sete pecados capitais, fazendo-o proceder em função exclusiva de seus próprios interesses. Nada, absolutamente nada, resiste à sua ação predatória. A corrupção é invencível. Todos os que contra ela se insurgiram acabaram mortos, banidos, na cadeia, ou simplesmente difamados. É clássica a conclusão de Lord Acton, no sentido de que todo poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente.

A Revolução Francesa acenava com a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Mas descambou na corrupção do Diretório e desaguou na tirania de Bonaparte. A Soviética prometia acabar com o antagonismo de classes e a exploração do homem pelo homem. Intensificou, porém, esse antagonismo e essa exploração, criando uma nova classe de privilegiados, a dos funcionários do Partido Comunista, que passou a escravizar o resto da população. O Cristianismo pregava a humildade, o ascetismo e a caridade. Os fariseus, todavia, apropriaram-se da doutrina do profeta e continuaram a viver como antes, cultuando a hipocrisia e explorando a humanidade. Por isso, Nietzsche observou que: “O evangelho morreu na cruz”. E como disse Ruy: “O que ficou é uma simbólica sem alma e sem verdade, pasto à credulidade das classes ignorantes e mando do cepticismo dissimulado e calculista da minoria ilustrada”.

As exceções só servem para confirmar as regras gerais. Como adverte a lei sociológica de Le Bom: “Nos grupos humanos a média da moral é constante”. Há sempre, em todos eles, patifes e benfeitores. O número, porém, dos últimos, é tão insignificante que não modifica o conceito do grupo. No homem, o egoísmo é inato e raramente pode ser atenuado pela educação ou restringido pelas cominações legais. O homem é um animal e, como todos os outros, luta por sua sobrevivência. Busca instintivamente uma vida de conforto e luxúria que só pode ser alcançada com o sacrifício de seus semelhantes. A simples existência dos organismos policiais e judiciários evidencia que a maldade humana precisa ser submetida a permanente vigilância.

Nenhum animal é mais perigoso do que o homem. Nenhuma outra espécie tem o seu poder destrutivo. O animal selvagem contenta-se em matar para alimentar-se. O homem mata por uma infinidade de motivos. E o faz em escala colossal. Com sua inteligência, infinitamente superior a de todos os outros animais, o homem não exibe sua maldade apenas durante as guerras ou nas chacinas que, em tempo de paz, ocorrem nas metrópoles. Esgrimando a perfídia e outros meios de trapacear, o homem busca ascender em todas as comunas, para comer o pão com o suor do rosto alheio e desfrutar de todos os prazeres. Ludibriando eleitores, explorando a crendice religiosa ou simplesmente fraudando compromissos, o homem esbulha os frutos do trabalho individual ou coletivo. Como disse Ghandi, a Terra tem bastante para a necessidade do homem, mas não para sua cupidez”.

Infelizmente, a realidade humana é absurdamente estúpida. Esgotam-se os elementos dos quais depende a vida e os bichos de dois pés não se abalam em busca de solução. Pais veem o que acontece no mundo com incompreensível indiferença apenas porque os horrores ainda não lhes batem à porta e o sofrimento dos atingidos não lhes causa nenhuma comoção.

 

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

ARENGA 705

 

Tanto é triste quanto perigosa a realidade de ter a humanidade desprezado por completo o nobre sentimento da solidariedade humana vez que nem as crianças escapam da selvageria das guerras estúpidas postas em prática pelos falsos líderes, fantoches manuseados pelos Reis Midas do mundo entre os quais se encontram quem criminosamente aufere lucros fabulosos com a indústria armamentista. As guerras são nada mais do que a mortandade de jovens maldosamente convencidos da necessidade de se empenharem em matar outros jovens quando deveriam estar se confraternizando numa comunidade fraternal e universal pelo fato alvissareiro de se encontrarem na melhor fase da vida que em lugar de ser desperdiçada com extravagâncias principalmente de drogas deve ser usada para meditar sobre a realidade de se deixarem conduzir como marionetes ao matar e morrer para satisfação de viciados em poder e riqueza e que na verdade são todos os tais de poderosos que no final de tudo acabarão tão podres como qualquer desvalido insepulto.

Na página 625, volume II do livro História da Civilização Ocidental, o historiador McNall Burns diz o seguinte sobre Napoleão Bonaparte que dizimou a juventude francesa em guerras: “O triunfo de Napoleão se deveu a certas qualidades intrínsecas de sua personalidade. Era astuto, egoísta e sem escrúpulos”. Ora, se estas são qualidades de vilania, o que é que faz a humanidade se conformar em ser governada por vilões? Ou não é vilão quem destrói a maior riqueza de um país, sua juventude, para satisfazer egoísmo?

Cabe à juventude do mundo descobrir o engodo em que se encontra envolvida. Tudo a seu redor é só falsidade. Não veem o fanatismo por futebola, carnaval e a crendice na felicidade depois da morte, instituições às quais nenhum governante nega apoio e entusiasmo? Pois é tudo uma grande farsa para evitar que se alcance a verdade de que a felicidade depende é da forma como é administrada a riqueza que a coletividade produz e que desaparece até em verbas ocultas para que o povo não saiba como é desbaratada. O futebola prende a atenção de forma a não deixar espaço para outros pensamentos. O carnaval é uma verdadeira orgia digna do deus Baco para a qual os governantes distribuem camisinhas. Quanto à religiosidade, como disse o filósofo americano Robert Green Ingersol: “Todas as religiões são incompatíveis com a liberdade intelectual”. O porquê de nenhum governante deixar de incentivar também a religiosidade é que eles precisam de um povo que não tenha liberdade intelectual. Sua intelectualidade é atrofiada pelas religiões com a imposição de não se discutir os mistérios de deus. Se examinados à luz de raciocínio lúcido caem por terra. Um exemplo: como explicar que Jacó lutou com deus e venceu (Gênesis 32:22,32)? Deus, na verdade, é o Papai Noel dos adultos.  

 

 

domingo, 15 de outubro de 2023

ARENGA 704

CAPITALISMO E LIBERDADE é o nome de um livro do economista americano Milton Friedman, Prêmio Nobel de Economia. O livro mereceu elogios rasgados de jornalões americanos e o autor é dito o economista do século. Que o mundo enlouqueceu, não é novidade se jovens estão cometendo suicídio, desordeiros são tratados de excelências e pobres diabos mentais são famosos e celebridades. Entretanto, é novidade que os maiores intelectuais do mundo tenham enlouquecido também. O capítulo primeiro do livro do economista do século, começa do seguinte modo: “Há uma convicção generalizada de que a política e a economia são questões distintas e têm pouca relação entre si; de que a liberdade individual é um problema político, e o bem-estar material, um problema econômico”.

Se é que há a convicção, de que política e economia são questões distintas, é só na redoma de vidro em que vivem os intelectuais, distante da realidade do povo, no mundo da lua. Para quem vive no mesmo mundo onde vive o povaréu é diferente. Política e economia são tão vinculadas entre si que são como unha e carne. Além disso, a única liberdade que a política assegura é dar aos pobres o direito de escolher em pagar de uma só vez ou em parcelas o valor do imposto. E mais, é a política que determina o tipo de economia. Tanto esta é a realidade que no capitalismo, forma de administração pública preferida pelos ricos donos do mundo e que vem mandando e desmandando (desmandando mais que mandando) em todas as sociedades ricas desde a Revolução Industrial. Dissemos “desmandando” com base no também economista Eduardo Moreira, que na página 27 do livro Desigualdade diz o seguinte a respeito da desarrumação econômica que do capitalismo resulta para nossa sociedade: “... vivemos no país que possui a maior desigualdade social do mundo, com o 1% mais rico concentrando a maior parcela do total da renda gerada. No Brasil, essa fatia é de quase 30% da renda total. Quando analisamos patrimônio, e não renda, esse percentual aumenta ainda mais. Para se ter uma ideia, 1% dos donos de terras concentram mais de 50% das terras cultiváveis do país. E quando consideramos o volume de dinheiro, o 1% mais rico possui mais reservas acumuladas do que os 90% mais pobres. Uma verdadeira catástrofe social, com consequências nefastas, que parece, porém, passar despercebida à maior parte da população”.

Clama aos céus, pois, a afirmação de ser a economia responsável pelo bem-estar material da sociedade porque na verdade é responsável pelo mal-estar social que toma conta da sociedade humana com guerras pipocando por todo canto e o povão idiotizado em meio a tudo isso ignorando que cabe a ele e não a divindade a tarefa sublime de fazer a vida menos desagradável, sobretudo pelas inocentes crianças que sofrem pelos desatinos dos adultos que desembocaram na catástrofe social a que se refere Eduardo Moreira.

 


  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

ARENGA 703

 

Nenhuma definição de dicionário define melhor a palavra POVO do que a de Érico Veríssimo na página 199 do livro Olhai os Lírios do Campo: “POVO É AQUILO QUE NÃO PENSA, NÃO TEM VONTADE”. Perfeitíssimo! Um instante de reflexão sobre o dia a dia do povo leva realmente à conclusão de ser o seu comportamento igual ao de um pedaço de papel ao sabor do vento, cujo destino não lhe pertence. Nesse mesmo livro de Veríssimo, na página 86, um personagem deísta contra-argumentando outro personagem, um ateu, faz-lhe a seguinte pergunta: “Vocês ateus querem nos tirar Deus para nos dar em lugar dele... o quê?” É o mesmo que tirar pão da boca de quem tem fome e dar-lhe em troca areia ou cinza”. Este questionamento encerra a realidade de que o povo precisa ser iludido. Diferentemente do adulto consciente para o qual aquilo que é indispensável é a verdade segundo a qual não há espaço para deus algum nesse mundo fora da imaginação das pessoas do povo que, como se pode facilmente perceber, não pensa.

Se a papagaiada de microfone incentiva para jogar na acumulada, em profusão, inumeráveis pessoas se aglomeram na loja de jogatina do Cassino Caixa Econômica Federal levando minguados reais para lá deixar. Se o incentivo é para comprar presentes por algum motivo, a aglomeração é nas lojas.

Se, aos berros de “gol” a papagaiada de microfone insinua que vai ser espetacular o clássico entre os times sai-de-baixo e sai-de-cima, alvoroçadas, aglomera-se nos estádios multidão barulhenta entre socos e tantos pontapés entre as pessoas que na bola e, não raro, morte.

Se algum menino diz ser um negócio esquisito chamado youtuber, ou que tem destreza em correr levando nos pés uma bola até finalizar a disparada num coice na bola que resulta num negócio também esquisito chamado gol, este menino passa a receber tanta admiração do povo que vira trilionário e celebridade. 

Nas eleições e na religiosidade, então, aflora em todo esplendor o comportamento de coisa que não pensa. Se nas eleições o povo paga cinco bilhões à televisão para que por meio do seu ópio colorido ela convença em quem votar. Na religiosidade, o povo busca proteção na figura de um deus que ninguém vê e que se diz chamar Eu Sou, representado por um sujeito grandalhão, aparentemente bonachão e de simpatia irradiante, chamado papa, que por não ser bobo não bota fé na proteção divina e se desloca em carro blindado.   

 

sábado, 7 de outubro de 2023

ARENGA 702

 

O mal que infelicita a humanidade é o mais letal de todos os males porque sendo irracionais os germes que dão origem às doenças infelicitantes, podem ser flagrados pela ciência e eliminados com medicamentos, ao passo que os germes que dão originem à infelicidade humana e que são os próprios seres humanos travestidos de líderes, sendo racionais, escondem-se atrás de suas ação tão bem escondidos de modo a que a humanidade nem mesmo percebe ser infeliz, daí viver em infindáveis festejamentos, arrastando alegremente atrás de si uma carga sobre humana e desnecessária de infelicidade. Não sabendo que pode pensar seus próprios pensamentos segue feito boiada o canto da sereia emitido pelo berrante do ópio colorido da televisão rumo a um trágico destino ao multiplicar-se irresponsável e ilimitadamente sem considerar a realidade de ser limitada a capacidade do planeta de suportar tamanha quantidade de seres humanos, nada mais do que ciscos que já se arvoram a macular a pureza do universo que os criou.

Até os que estão certos de saber pensar, não atinam se ligam na realidade de que pensam tão errado que fracassam nas boas intenções de ajudar os que não sabem que podem pensar. Vai daí que excetuando os parasitas que sugam a vitalidade da sociedade humana, tudo que resta da humanidade é classe trabalhadora. Desta forma,  na página 21 do livro A Mosca Azul, do nosso estimado Frei Beto, há um pensamento que se materializado lancetaria o tumor do mal humano e que é o seguinte: “ – ...por que a classe trabalhadora vota sempre em patrão? Por que não votar em si mesma e deselitizar o Congresso, pisar as alfombras do poder com solas gastas e chinelos de dedos? Classe em si, classe para si. Por que não criar o próprio partido, partir o bolo da democracia e repartir a renda nacional?” – . Bonito, muito bonito! Mas não vai além da boniteza porque apesar ser capaz esse pensamento de trasladar a humanidade para um mundo sem tanto sofrimento, não ocorreu a quem assim pensou ser justamente por não saber que esta trasladação depende apenas do voto de cada um. E é o próprio Frei Beto quem equivocadamente diz aos inocentes ser a solução para a infelicidade humana questão da vontade de deus.

E nem adiantaria a quem ouve tamanho disparate indagar por que deus não faz a mudança porque não faltam aos profissionais da fé e da política argumentos que justifiquem a crendice de uns e a maldade de outros.

    

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

ARENGA 701

 

Ao deixar os filhos à mercê dos vais e vens desta vida pessimamente vivida porque baseada numa cultura fundamentada em falsidades, tal  procedimento é moralmente um ato criminoso porque não tendo o discernimento que lhes permitiria separar do mar de mentiras o tênue riacho de verdades, não há como estes jovens evitarem ser cooptados por uma vida de alegrias que na realidade não têm tanta razão de ser porque passado o tempo de juventude é inevitável que estas alegrias deem lugar a reflexões e seriedade. É quando se percebe que muitos dos comportamentos praticados quando jovem, se evitados, teriam poupado dissabores.

Pior do que ser indiferente a que os filhos aprendam falsidades é ensinar-lhes as falsidades da cultura do venha a mim e os outros que se danem porque a vida comunitária exige que cada indivíduo tenha em relação à comunidade o mesmo zelo que tem consigo mesmo porque ninguém estará bem sem que a comunidade também esteja, realidade que se apresenta nas coisas simples como pedintes nos semáforos fazendo pensar na intranquilidade dos descendentes quando o número deles for superior àqueles a quem eles estendem a mão. Vai daí que não se deve ser indiferente ao que é ensinado aos filhos porque o poder de organização social para melhor ou para pior quem possui é o povo, e se o correto é uma sociedade melhor, tal sociedade não pode ser alcançada com um povo que aprendeu mentiras em criança porque a educação da criança molda a personalidade do adulto. E o que não faltam são mentiras e falsidades. O professor Yuval Noah Harari em Sapiens, foi feliz quando cunhou a expressão Realidade Inventada. De fato, os princípios de honestidade, lealdade, moralidade, legalidade e sinceridade não existem na realidade como provam as falcatruas legalmente praticadas pelas instituições financeiras denunciadas em vários livros sem que os denunciados as contestem, a exemplo do final da página 398 e princípio da 399, do livro de Luiz Marques, Capitalismo e Colapso Ambiental, sobre lavagem de altas quantias do crime organizado pelo Banco HSBS.

Ante a incontestável realidade de ser impossível haver tranquilidade se a sociedade é tão mal organizada que poucos possuem demais e muitos possuem de menos, e se é assim que é organizada nossa sociedade, é inútil buscar tranquilidade em riqueza ou divindades porque é impossível eliminar um mal se as suas causas permanecem. E as causas da intranquilidade humana serão cada vez mais poderosas por contarem com um poder político muito bem-organizado pelos ricos donos do mundo que estão erradamente convictos de haver vantagem numa sociedade na qual só eles têm direitos e os demais arquem com as obrigações. Por outro lado, não havendo quem se disponha a contestar esta organização social incapaz de dar origem a bem-estar e pródiga em gerar mal-estar, a tendência é continuar assim porque o povo que detém o poder de mudar é feito de adultos que aprenderam erradamente em crianças que na vida as alegrias são mais importantes do que assuntos tão importantes que deles depende não só a qualidade de vida, mas também a própria vida.

 

     

domingo, 1 de outubro de 2023

ARENGA 700

 

Embora frases de grande sabedoria como “O Tempo é O Senhor Da Razão” seja atribuída como tendo origem no populacho festivo (sabedoria popular), é mais uma das coisas erradas que passam por certas tamanha é a indiferença com que se encara a realidade da vida que em absolutamente nada é o que se pensa ser. Referir-se a sabedoria popular, por exemplo, é incorrer em erro porque povo (populacho) não pensa por si mesmo. E não é esse Zemané que o diz. É o Érico Veríssimo, por meio de um dos personagens do livro Olhai Os Lírios Do Campo, que, apontando para a multidão, exclama: “...povo é aquilo. Povo não pensa”.

E é mais que evidente a incapacidade do povo de ter os próprios pensamentos. Chega-se a esta conclusão observando seu comportamento. Individualmente, como a natureza dotou todo ser humano de alguma inteligência, ninguém está satisfeito com a vida. No entanto, quando se junta para formar o populacho, a satisfação é tão grande que pipocam foguetórios e festejamentos mil.

Assim é que é comum ouvirem-se louvores de elementos do povo à sabedoria da frase “O Tempo É O Senhor Da Razão”. No entanto, quando reunidas no elemento asqueroso povo, o tempo não é nenhum senhor de razão alguma porque a humanidade arrasta-se paquidermicamente pela existência de milhões de anos e ainda não aprendeu a viver em sociedade visto matar os semelhantes disputando poder da mesma forma que os machos de feras para assegurar domínio sobre determinado território.

Mas é no terreno da crendice na existência de divindades e milagres onde a humanidade empaca com maior vigor na recusa de acompanhar as afirmações de estudiosos do universo e suas criaturas. O fato de ter o desenvolvimento científico com o passar do tempo mostrado que muitas coisas nas quais se acreditavam estavam erradas não é capaz de dissuadir da ideia de que existem deuses, anjos, querubins e demônios e embora seja inegável que a crendice perde força haja vista a realidade de que escritores não aludem mais a deus com tanta convicção de sua existência como faz, por exemplo, Thomas Hobbes, em O Leviatã, cuja introdução começa assim: “A Natureza (a arte com a qual Deus fez e governa o mundo)... e, na página 16: “... aquele “fiat” ou “façamos o homem” pronunciado por Deus quando da Criação. Na página 32: “primeiro autor da linguagem foi o próprio Deus, que instruiu Adão de como deveria chamar as criaturas que ia pondo diante de seus olhos”.  E há quem aceite tamanha irrealidade. Adão teria estafa se tivesse de criar nomes apenas para a miríade de seres microscópicos. Enfim, são dezenas ou centenas de afirmações no livro O Leviatã confirmando como real a existência de deus.

Embora o escritor fosse capaz de raciocínios consonantes com a realidade em certos aspectos da vida, não escapou da crendice que na sua época (mais de quinhentos anos atrás) era de tamanho poder que se acreditava que o rei era divino. Embora ninguém mais pense assim, ainda existem reis e ainda se pensa que existem divindades, o que mostra o quanto de atraso há no caminhar rumo à civilização.