A qualificação de sapiens que a
biologia atribui à espécie humana está anos luz distante da realidade por que
monstros não são sábios; são nada mais que monstros haja vista a monstruosidade
das guerras que com o passar do tempo recrudesce a crueldade porquanto se matam
inocentes criancinhas. A permanecerem os seres humanos em tamanha estupidez, atrairão
sobre si inevitavelmente o destino dos dinossauros.
Para falar sobre os sapiens, esse
cantinho de pensar pede permissão à memória do grande pensador Vinicius
Bittencourt para extrair das páginas 19 e 20 do seu livro Falando Francamente
sua observação sobre o ser humano para brindar aos gatos pingados que nos
honram com sua atenção, e que já somam duzentas e setenta mil visitas. Com a palavra,
pois, o doutor Vinicius Bittencourt:
“Tudo mudou, mas o homem é sempre o
mesmo. No mundo das ideologias é o Midas da putrefação. O que ele toca, logo
apodrece. Basta ver o que ocorreu com as ideias generosas do Cristianismo, da
Revolução Francesa e da Revolução Soviética. Na política, na religião, na
administração da justiça, na administração pública ou em outra qualquer missão,
o homem tudo subverte. Sobre ele atuam poderosamente os sete pecados capitais,
fazendo-o proceder em função exclusiva de seus próprios interesses. Nada,
absolutamente nada, resiste à sua ação predatória. A corrupção é invencível.
Todos os que contra ela se insurgiram acabaram mortos, banidos, na cadeia, ou
simplesmente difamados. É clássica a conclusão de Lord Acton, no sentido de que
todo poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente.
A Revolução Francesa acenava com a
liberdade, a igualdade e a fraternidade. Mas descambou na corrupção do
Diretório e desaguou na tirania de Bonaparte. A Soviética prometia acabar com o
antagonismo de classes e a exploração do homem pelo homem. Intensificou, porém,
esse antagonismo e essa exploração, criando uma nova classe de privilegiados, a
dos funcionários do Partido Comunista, que passou a escravizar o resto da
população. O Cristianismo pregava a humildade, o ascetismo e a caridade. Os
fariseus, todavia, apropriaram-se da doutrina do profeta e continuaram a viver
como antes, cultuando a hipocrisia e explorando a humanidade. Por isso,
Nietzsche observou que: “O evangelho morreu na cruz”. E como disse Ruy: “O que
ficou é uma simbólica sem alma e sem verdade, pasto à credulidade das classes
ignorantes e mando do cepticismo dissimulado e calculista da minoria
ilustrada”.
As exceções só servem para confirmar
as regras gerais. Como adverte a lei sociológica de Le Bom: “Nos grupos humanos
a média da moral é constante”. Há sempre, em todos eles, patifes e benfeitores.
O número, porém, dos últimos, é tão insignificante que não modifica o conceito
do grupo. No homem, o egoísmo é inato e raramente pode ser atenuado pela
educação ou restringido pelas cominações legais. O homem é um animal e, como
todos os outros, luta por sua sobrevivência. Busca instintivamente uma vida de
conforto e luxúria que só pode ser alcançada com o sacrifício de seus
semelhantes. A simples existência dos organismos policiais e judiciários
evidencia que a maldade humana precisa ser submetida a permanente vigilância.
Nenhum animal é mais perigoso do que
o homem. Nenhuma outra espécie tem o seu poder destrutivo. O animal selvagem
contenta-se em matar para alimentar-se. O homem mata por uma infinidade de
motivos. E o faz em escala colossal. Com sua inteligência, infinitamente
superior a de todos os outros animais, o homem não exibe sua maldade apenas
durante as guerras ou nas chacinas que, em tempo de paz, ocorrem nas
metrópoles. Esgrimando a perfídia e outros meios de trapacear, o homem busca
ascender em todas as comunas, para comer o pão com o suor do rosto alheio e
desfrutar de todos os prazeres. Ludibriando eleitores, explorando a crendice
religiosa ou simplesmente fraudando compromissos, o homem esbulha os frutos do
trabalho individual ou coletivo. Como disse Ghandi, a Terra tem bastante para a
necessidade do homem, mas não para sua cupidez”.
Infelizmente, a realidade humana é
absurdamente estúpida. Esgotam-se os elementos dos quais depende a vida e os
bichos de dois pés não se abalam em busca de solução. Pais veem o que acontece
no mundo com incompreensível indiferença apenas porque os horrores ainda não
lhes batem à porta e o sofrimento dos atingidos não lhes causa nenhuma comoção.