sábado, 21 de outubro de 2023

ARENGA 706

 

A qualificação de sapiens que a biologia atribui à espécie humana está anos luz distante da realidade por que monstros não são sábios; são nada mais que monstros haja vista a monstruosidade das guerras que com o passar do tempo recrudesce a crueldade porquanto se matam inocentes criancinhas. A permanecerem os seres humanos em tamanha estupidez, atrairão sobre si inevitavelmente o destino dos dinossauros.

Para falar sobre os sapiens, esse cantinho de pensar pede permissão à memória do grande pensador Vinicius Bittencourt para extrair das páginas 19 e 20 do seu livro Falando Francamente sua observação sobre o ser humano para brindar aos gatos pingados que nos honram com sua atenção, e que já somam duzentas e setenta mil visitas. Com a palavra, pois, o doutor Vinicius Bittencourt:

“Tudo mudou, mas o homem é sempre o mesmo. No mundo das ideologias é o Midas da putrefação. O que ele toca, logo apodrece. Basta ver o que ocorreu com as ideias generosas do Cristianismo, da Revolução Francesa e da Revolução Soviética. Na política, na religião, na administração da justiça, na administração pública ou em outra qualquer missão, o homem tudo subverte. Sobre ele atuam poderosamente os sete pecados capitais, fazendo-o proceder em função exclusiva de seus próprios interesses. Nada, absolutamente nada, resiste à sua ação predatória. A corrupção é invencível. Todos os que contra ela se insurgiram acabaram mortos, banidos, na cadeia, ou simplesmente difamados. É clássica a conclusão de Lord Acton, no sentido de que todo poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente.

A Revolução Francesa acenava com a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Mas descambou na corrupção do Diretório e desaguou na tirania de Bonaparte. A Soviética prometia acabar com o antagonismo de classes e a exploração do homem pelo homem. Intensificou, porém, esse antagonismo e essa exploração, criando uma nova classe de privilegiados, a dos funcionários do Partido Comunista, que passou a escravizar o resto da população. O Cristianismo pregava a humildade, o ascetismo e a caridade. Os fariseus, todavia, apropriaram-se da doutrina do profeta e continuaram a viver como antes, cultuando a hipocrisia e explorando a humanidade. Por isso, Nietzsche observou que: “O evangelho morreu na cruz”. E como disse Ruy: “O que ficou é uma simbólica sem alma e sem verdade, pasto à credulidade das classes ignorantes e mando do cepticismo dissimulado e calculista da minoria ilustrada”.

As exceções só servem para confirmar as regras gerais. Como adverte a lei sociológica de Le Bom: “Nos grupos humanos a média da moral é constante”. Há sempre, em todos eles, patifes e benfeitores. O número, porém, dos últimos, é tão insignificante que não modifica o conceito do grupo. No homem, o egoísmo é inato e raramente pode ser atenuado pela educação ou restringido pelas cominações legais. O homem é um animal e, como todos os outros, luta por sua sobrevivência. Busca instintivamente uma vida de conforto e luxúria que só pode ser alcançada com o sacrifício de seus semelhantes. A simples existência dos organismos policiais e judiciários evidencia que a maldade humana precisa ser submetida a permanente vigilância.

Nenhum animal é mais perigoso do que o homem. Nenhuma outra espécie tem o seu poder destrutivo. O animal selvagem contenta-se em matar para alimentar-se. O homem mata por uma infinidade de motivos. E o faz em escala colossal. Com sua inteligência, infinitamente superior a de todos os outros animais, o homem não exibe sua maldade apenas durante as guerras ou nas chacinas que, em tempo de paz, ocorrem nas metrópoles. Esgrimando a perfídia e outros meios de trapacear, o homem busca ascender em todas as comunas, para comer o pão com o suor do rosto alheio e desfrutar de todos os prazeres. Ludibriando eleitores, explorando a crendice religiosa ou simplesmente fraudando compromissos, o homem esbulha os frutos do trabalho individual ou coletivo. Como disse Ghandi, a Terra tem bastante para a necessidade do homem, mas não para sua cupidez”.

Infelizmente, a realidade humana é absurdamente estúpida. Esgotam-se os elementos dos quais depende a vida e os bichos de dois pés não se abalam em busca de solução. Pais veem o que acontece no mundo com incompreensível indiferença apenas porque os horrores ainda não lhes batem à porta e o sofrimento dos atingidos não lhes causa nenhuma comoção.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário