Ante a
total incapacidade de raciocinar da manada humana, seria inútil seguir a
recomendação do grande mestre cuja genialidade superava o tamanho do seu bigode
e sua loucura, quando insinuou que a humanidade tomaria conhecimento e seguiria
uma recomendação sábia que fosse escrita em todos os muros do mundo. Entretanto,
em função da estupidez generalizada que faz das festas a única coisa a despertar
interesse, de nada adiantaria escrever em todos os muros do mundo que não vai
dar certo este modelo de sociedade baseado numa disfarçada escravidão porque a própria
escravidão já provou que não deu certo. Nem pode dar certo uma vez que a
natureza obriga a espernear pela liberdade. A escravidão é contra a natureza, e
sabemos todos que as leis naturais não abrigam esse negócio de Embargos
Infringentes. O rigor da lei natural que estabelece a pena de morte para quem
não comer, beber, se proteger do frio e calor excessivos além das doenças, isso
tanto vale para os posudos da Revista Forbes quanto vale para o cara lá da
sarjeta. Falta lucidez, falta sensatez, só não falta estupidez na humanidade. É
verdade que o homem consegue através de algumas artimanhas dar uma “enrolada”
nas leis naturais por conta do conforto pessoal, mas é estupidez acreditar que
por falta de uma punição imediata se tenha burlado a mãe natura. A falta do cumprimento
imediato da lei natural não significa impunidade como no Mensalão. O conforto
do ar friozinho do lado de dentro, que zomba do calorão do lado de fora, traz
consigo uma parte da pena maior resultante da união de todas as penas
atribuídas a todas as infrações cometidas contra a lei natural, pena maior esta
que será inexoravelmente cumprida um dia. Aquele aparelho que esfria o ambiente
do lado de dentro solta uma bufa que vai se juntar a todas as bufas que pipocam
de todos os intestinos existentes no mundo, de modo a formar uma super bufa
espacial que no dia em que pipocar, não é bom nem pensar.
É ilusão
com trágicas consequências exigir comportamentos contrários aos estabelecidos
pela natureza. Aqueles que não dispõem de recursos próprios e suficientes para
obter os meios de satisfazer tais exigências se tornam violentos e tomados de
um sentimento crescente de hostilidade em relação aos que estão em
tranquilidade porque podem satisfazer suas necessidades, sentimento este que
não decorre da maldade, mas antes da inconsciência da propensão natural à
imitação herdada dos macacos imitadores e brincalhões, qualidades ainda
inerentes aos seres humanos. O desejo reprimido de também ter as coisas de que
necessita dá origem à animosidade que descamba na violência que torna
assombradas as ruas onde as pessoas precisam estar. Esse negócio de dizer que a
mentira tem pernas curtas no sentido de que logo será alcançada pela verdade é
falso porque a mentira em que vive mergulhada a humanidade até hoje não foi
alcançada pela verdade. Porém, AINDA, porque um dia será, e nesse dia seria
melhor para todos o predomínio da sinceridade. Para se chegar lá, uma boa maneira
é entregar a homens do timbre de Anísio Teixeira, Paulo Freire, Darcy Ribeiro,
Cristóvão Buarque, por aí, a tarefa de preparar a orientação educacional da
juventude. Uma educação que a convença de que a solidariedade é melhor que a
competição.
Seria
infinitamente melhor que a escravidão em que sempre viveu o povo fosse sendo
alforriada aos poucos em vez de pipocar de uma só vez por conta dos
escravizados como acontece quando o saco não suporta mais. Vivem as pessoas a
ilusão de serem livres, mas são tão escravas quanto todos os escravos de outros
tempos, com uma curiosíssima novidade de serem satisfeitas com sua escravidão,
ao contrário dos escravos de outros tempos. Tão satisfeitas que rola mundo
afora uma festança sem fim. Tão valorizadas são as festas que seus promotores e
atores estão entre as pessoas mais importantes do mundo e as que ganham mais
dinheiro. Rola aí na imprensa que um destes brincalhões chamado Felipão
surripiou uma fortuna do governo português sonegando imposto. Magina só, para
brincar, o sujeito ganha tanto dinheiro que só uma pontinha dos impostos é uma
fortuna. Colocar brincadeira em plano superior a educação, saúde e segurança é
absolutamente incompreensível e injustificável. Se isto está acontecendo é bom
parar e corrigir o erro antes de chegar o arrependimento inútil.
Entende-se
a posição servil do povo à cultura que mantém uma organização social com
pessoas superiores, pessoas médias e pessoas baixas consideradas resto. A parte
desse resto que faz girar as máquinas do mundo já foi tirada da categoria de
seres humanos e enquadrada numa nova categoria de espécimes da espécie humana
denominada “material humano”. Como se vê, tal procedimento vai de encontro aos
preceitos da natureza, e é por isso que a humanidade parece ter enlouquecido a
ponto de se autodestruir. Tudo ficará mais calmo à medida que “o resto” deixar
de ser resto e se sentir gente. A humanidade já evoluiu bastante para perceber
esta realidade. Só falta perceber. A História da Humanidade é um espelho
retrovisor pelo qual podemos ver o passado e constatar que sempre houve uma
distância muito grande entre quem tem e quem não tem os meios de suprir suas
necessidades. Aqui, entre nós, por exemplo, o retrovisor nos mostra o tempo em
que o café era a riqueza do Brasil e vemos um senador sem saber o que fazer
ante a necessidade do trabalho escravo nas lavouras de café, porque era
realmente necessário já que as coisas estavam estabelecidas daquele jeito sem
jeito. Por outro lado, por ser indigna a escravidão, o senador fez pose,
impostou a voz, e bradou: “O Brasil é o café! E o café é o negro”! Dá prá ver
também pelo retrovisor do tempo outro exemplo do quanto é edificante o trabalho
do povo para merecer ingratidão por recompensa. Este outro exemplo foi citado
pelo historiador Laurentino Gomes, na página 136 de livro 1808: “Os escravos
eram o motor das lavouras de algodão, fumo e cana-de-açúcar, e também das minas
de ouro e prata”.
Significa
que naquela época a economia tinha como propulsor o chicote que foi substituído
pela televisão nos tempos modernos, mas o vínculo de obrigatoriedade, de
sujeição da vontade própria à vontade alheia permanece a mesma. As pessoas apenas acreditam serem autênticas
e donas dos seus narizes. Entretanto, o fato de pessoas se auto prejudicarem
para que disto resulte vantagem para alguém não há como ser classificado senão
como escravidão. O exemplo da garota que mastigava o almoço enquanto tomava goles
de refrigerante e passava as pontas dos dedos tanto na vertical quanto na
horizontal ou futucava com apenas um dedo um aparelho, está prejudicando de
modo assustador sua saúde para depois do vigor da juventude, e o que a faz se
autodestruir é a ordem da televisão para beber refrigerante, para futucar o
aparelho sob pena de ser cafona, não dar valor ao processo de se alimentar
corretamente, exemplo deformador que Rambo dá quando abre a geladeira, corta
com uma tesoura uma pizza que engole aos bocados como cachorro faminto. O
chicote eletrônico cujo silvo faz plim plim é infinitamente mais convincente para
os escravocratas modernos do que o chicote de couro por castigar todos os escravos
do mundo de uma vez só como faz ao impingir na juventude mundial o
comportamento daquela garota que seguia fielmente a determinação de ignorar a
importância de uma alimentação sadia com a finalidade de adoecer para comprar
plano de saúde e remédios. Tá na cara que tá faltando sensatez, tá ou não tá?
Inté.