segunda-feira, 19 de maio de 2014

ARENGA NÚMERO TRINTA


O interesse mundial que faz o sucesso da arte cinematográfica voltada para a violência da destruição ser superior ao sucesso dos filmes voltados para assuntos culturais é a mais eloquente testemunha da condição de brutamontes em que se encontram ainda os seres humanos. É verdade que com o tempo, mesmo vagarosamente além do que devia, mas vão sendo gastas as pontinhas das arestas desta brutalidade. Uma espiada no retrovisor do tempo dá prá ver antes de sumir na curva a nossa imagem ainda desprovida de qualquer foro íntimo e cuja brutalidade nos levava a nos alimentar dos nossos semelhantes. O fato de não ser mais assim é indício da presença já de alguma racionalidade. Mas esse avanço não precisa ser tão lento a ponto de ainda vivermos com medo das outras pessoas como se ainda corrêssemos o risco de virar refeição para elas. A humanidade vive uma vida inteiramente desprovida de sentido. Nada faz sentido no comportamento humano. Apavorar-se com a morte, por exemplo, prova estado de pura animalidade e uma contradição tão idiota quanto a idiotice humana. Morrer é apenas uma consequência de ter nascido. A babaquice da “perda irreparável” quando morre alguém é próprio da ignorância que leva alguém a entrar no elevador antes de quem esperava por ele. A morte do velho, então, deve ser comemorada. A única morte a ser lamentada é quando ocorre por ação deliberada de outro ser humano. Ainda assim, o lamentável, mais do que o fato da morte, o que realmente é de se lamentar é o baixo nível de espiritualidade de um ambiente onde alguém mata alguém porque tamanha animosidade indica ambiente de feras.

A predominância do instinto sobre o raciocínio ainda é bastante para nos atrair os espetáculos dantescos de destruição. Quando eu era menino, na cidade de Itapetinga, o cinema fazia propaganda do filme a ser exibido (um por dia) em cartazes apoiados nos postes de iluminação. Um garoto esperto, desses que não merecem presente de Papai Noel, brincava dizendo que um cartaz anunciava o filme da seguinte maneira: “Tiros como corno! Murro prá cacete! Tá rebocado quem não vier”. É inegável a atração pelos filmes com cenas de destruição. Dinossauro mastigando um sujeito que balança as pernas ainda do lado de fora da boca do bicho atrai multidões. Cobras, macacos, tubarões, baleias, abelhas, passarinhos, tudo isso é transformado em monstros pelo cinema que ficam com as salas lotadas dos animais humanos ávidos por violência. Cultivar músculos para trabalhar em filmes de extrema brutalidade faz até do brutamontes inculto um governador de Estado tal a admiração que as pessoas dedicam à violência.

Entretanto, se assim tem sido até agora, já passou da hora de acabar com isso. É hora de apertar a espora na anca da evolução mental para avançar mais o passo porque a marcha está tão lenta que ainda não alcançamos superar o instinto pela razão e o resultado desta obtusidade não permite concluir por coisa tão simples quanto perceber ser a paz o objetivo a ser almejado pela humanidade por ser ela melhor que a guerra.

Não existe um só povo civilizado entre todos que habitam o planeta. A imprensa mostrou o entusiasmo do povo inglês, tido como exemplo de civilização, pelo fato de um príncipe ter comprado um boteco onde fizera uma farra e ter gostado do lugar. É ou não é burrice sem limite ficar entusiasmado e alegre por sustentar parasitas até na compra de botecos. A animalidade no ser humano ainda é forte bastante para não permitir vida civilizada. A matança entre os seres humanos é a mais evidente prova desta animalidade, levando-se em conta que os indivíduos tem para a sociedade em que vivem a mesma função vital que tem para seu corpo físico as células que o compõem. Do mesmo modo que desarmonia entre as células do corpo resultam no câncer, desarmonia entre os indivíduos resultam também num câncer social que transforma em vale de lágrimas os corredores dos hospitais. Na realidade, a humanidade é constituída de completos idiotas sanguinários. Indivíduos se tornam ricos e famosos pelo fato de apresentar ao público as histórias de brutalidade e os cadáveres por ela produzidos. Quanto mais perverso o crime, e quanto maior a capacidade do apresentador em produzir chingamento e destilar ódio contra os “monstros”, mais rico fica e mais audiência para seus programas sem pé nem cabeça porque os verdadeiros “monstros” são os patrões destes papagaios que falam em microfones, os ricos donos do mundo, porque são eles que transformam crianças em criminosos ao negar-lhes o direito à dignidade e cidadania. A imprensa mostrou crianças dilacerando seus corpinhos com chicotes apropriados para ferir. Uma criança não chega por si à conclusão de haver vantagem naquilo, como realmente não há. Ao contrário, daquela estupidez só resultam malefícios. Para que eles ajam desse modo há de ter tido algum adulto que lhes instigassem àquela ignorância suprema. Sendo o adulto a continuação da criança que foi, o aprendizado a que são submetidas as crianças é que faz delas os “monstros” aludidos pelos empregados dos ricos. 

Falta um toque de coerência à humanidade porque não pode haver coincidência de pensamento entre o analfabeto e o intelectual, mas o que se vê são expoentes da intelectualidade a declararem-se religiosos, quando já é do conhecimento até de iletrados o engodo que é a religiosidade. Ensinar religiosidade às inocentes crianças é crime hediondo. É crime contra a humanidade. Os responsáveis pela morte de mais de trinta crianças na Colômbia levadas para uma cerimônia religiosa deveriam ser severamente apenados por tão bárbaro procedimento. Inté

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