Desde
tempos remotos até à atualidade a existência do universo envolve
misteriosidade, sendo a vontade divina a explicação incontestável para os mais
ignorantes (a absoluta maioria dos seres humanos), explicação refutada pelos
cientistas. Na religiosidade os analfabetos sabem mais do que os intelectuais.
Escapa-lhes a ação transformadora da natureza. Como os sapatos, estão certos de
que tudo foi feito por alguém. Não lhes passa pela mente tacanha que a partir
desse princípio haveria necessidade haver uma entidade anterior que fizesse o
seu Deus. Embora seja inegável haver algum desenvolvimento mental, ele é tão
lento que ainda não permite compreender que as divindades surgiram da
necessidade de proteção que sentiram os primeiros seres humanos ante a fúria da
natureza. Sentindo-se impotente ante tanta força, o homem imaginou uma força
ainda maior sob a qual se sentir protegido. Sendo o lado material da existência
mais exigente do que o lado espiritual, os homens se lançaram com todas as
energias à dificílima tarefa de sobreviver, de modo que seus pensamentos
giravam apenas em torno de abrigo, comida, bebida, sexo e adular o ser misterioso
que inventaram, o que limitou a mente, limitação que vem sendo passada de
geração a geração séculos após séculos. Construíram-se imensas casas por todo o
mundo para onde os pais levam seus filhos, os filhos levam os netos deles, e
estes levam os bisnetos que levam os tetranetos, num interminável aprendizado
de mentiras. Estivessem as crianças aprendendo verdades o mundo não estaria
sendo destruído e isto devia ser o suficiente para que os jovens quebrassem
esta cadeia fonte de infelicidade e ensinassem a seus filhos que a forma de
administração pública é a única responsável pela tranquilidade espiritual de
que tanto carecem. Fizeram um livro chamado bíblia sobre Deus, cuja leitura
mostra ser exatamente o contrário daquilo que dizem ser Ele. Em lugar da
bondade na qual se acreditam os ridiculamente chamados fiéis, carneiros,
ovelhas, servos, palavras todas de sentido humilhante, a bíblia mostra um Deus
que mata e é escravagista (Gênesis 17:12; Êxodo 21:1-11-20-21; Levítico
25:44-45-46). Há cerca de dois mil e quinhentos anos deu na telha de uns
sujeitos denominados filósofos pré-socráticos desconfiar da explicação da
criação divina e passaram a especular sobre o assunto. Como os pensamentos
continuassem e continuam ocupados exclusivamente com o lado material da vida,
raros são aqueles que se dedicam a pensar, de modo que a humanidade inteira
ainda está convicta da criação divina. A realidade continua tão distante do
povo quanto distante estava dos habitantes da caverna que Platão.
Para tomar
conhecimento do engodo que é a religiosidade é preciso afastar-se do fanatismo
de não haver necessidade de contestar nada que dela provém. Para tanto não é
preciso debruçar sobre livros escritos por intelectuais cujo linguajar erudito
escapa a nosoutros que não fazemos parte da aristocracia literária. Para se
começar a encontrar algo de estranho na religiosidade é suficiente observar que
nos ambientes de menor esclarecimento e de maiores dificuldades materiais são
aqueles onde a religiosidade é mais presente. Permanecer em erro tanto é
ridículo quanto nocivo. Faz-se necessário cair na real e deixar de desperdiçar
recursos monumentais a fim de se realizarem cerimônias destinadas ao
relacionamento com entidades divinas. As futuras gerações vão dar boas risadas
com a palhaçada de lavar e beijar um o pé de mendigo em vez de se evitar a
existência deles. Transformar em divindade a lembrança de alguém, então, é o
cúmulo da infantilidade. Vamos amadurecer, crianças. Inté.