segunda-feira, 14 de março de 2016

ARENGA 238

Povo é povo em qualquer lugar. Mas o povo brasileiro é mais povo do que qualquer outro povo. Os dicionários erram ao citar gente como sinônimo de povo, mas acertam ao citar também a palavra quantidade como sinônimo de povo, por ser antônimo de qualidade. Povo, na realidade, é uma grande quantidade de seres barulhentos e de difícil definição, que continuam brincalhões numa infantilidade eterna. Quando dentro de casa, as pessoas do povo desejam saúde, paz, conforto e tranquilidade. Nas ruas, entretanto, se engalfinham uns contra os outros, impossibilitando a si e aos demais alcançar o que desejam individualmente porque de sua conduta social resultam mortes, águas podres, comidas envenenadas, ar irrespirável e muito barulho. À guisa de definição, talvez pudesse dizer que povo é um aglomerado de seres não pensantes que gosta de ser escravizado por uma grande malandragem chamada emprego, através do qual exaure sua vitalidade num regime de escravidão para produzir uma riqueza da qual não desfruta. Ou não é escravo quem faz a riqueza escondida nos infernos fiscais e sustenta uma categoria de parasitas denominados “celebridades” e “famosos” entre os quais se incluem reis, rainhas, príncipes e princesas? Se as nações tidas como civilizadas são constituídas de povo, que dizer das nações consideradas não civilizadas, onde a desqualificação dos habitantes confere-lhes a alcunha de manada? Nós, um povo que nem sequer chegou ainda à categoria reles de povo, confirmamos perante o mundo a desqualificação que levou Charles Darwin a dizer que o brasileiro é desprovido das qualidades que dignificam o homem, e o General De Gaulle a afirmar que o Brasil não é um país sério, o que equivale a dizer que é safado, como realmente é.
Nossa imprensa de povo está a fazer grande alarido sobre a quantidade de povo que protestava nas ruas contra a exorbitante ineficiência do governo que ele mesmo escolheu para lhe governar. É uma situação própria de povo. Se não se pode prescindir das autoridades, e se todos os candidatos a autoridade, por ser povo, não carregam consigo as qualidades necessárias para ser autoridade, por que fazer deles autoridades? Mas é o que o povo faz, e quando o resultado das ações socialmente danosas destas “autoridades” se tornam insuportáveis, de uma população de mais de duzentos milhões de espécimes de povo, alguns gatos pingados vão às ruas fazer barulho com inúmeros caminhões carregados com alto-falantes brigar, roubar e dançar. Em torno disso, a imprensa de propriedade de povo, manuseada e ouvida pelo povo, se limita a bobagens como saber o número dos palhaços a protestar contra o que eles mesmos fizeram.
O apoio manifestado ao doutor Sergio Moro e à Lava Jato, o que inclui a figura do doutor Janot, tão importante quanto à do doutor Moro, a rapaziada que o auxilia, e da polícia federal, foram as únicas atividades que escaparam da palhaçada confirmada pelo uso de narizes de palhaço. Quando diminuir no povo a índole de povo e ele aprender a ler e entender o que lê, perceberá que escolher pessoas certas para serem autoridades dispensa a necessidade dos protestos hilariantes. Não existem apenas os aproveitadores safados que nos trouxeram ao impasse. Felizmente há muitas pessoas honradas em meio à canalha. Os doutores Joaquim Barbosa, Sergio Moro, Rodrigo Janot, Heloisa Helena, Eliana Calmon, e muitos outros, são exemplos.
Aqui no livro A História, editora Sextante, há uma passagem que ilustra perfeitamente a diferença entre gente e povo. Na página 21, numa referência aos desordeiros humanos, consta que à medida que as pessoas deixavam a região do Éden para povoar o mundo, se faziam acompanhar de ódio, rancor, assassinatos, traição, o que se devia ao fato de terem as pessoas negligenciado a relação com Deus. Esta afirmação mostra a fronteira que separa povo de gente. Para povo estaria correta a afirmação. Para gente estaria correta trocando a palavra Deus por sociedade, uma vez que Deus é paparicado enquanto a sociedade é espezinhada. Inté.



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