Povo é povo
em qualquer lugar. Mas o povo brasileiro é mais povo do que qualquer outro
povo. Os dicionários erram ao citar gente como sinônimo de povo, mas acertam ao
citar também a palavra quantidade como sinônimo de povo, por ser antônimo de
qualidade. Povo, na realidade, é uma grande quantidade de seres barulhentos e
de difícil definição, que continuam brincalhões numa infantilidade eterna.
Quando dentro de casa, as pessoas do povo desejam saúde, paz, conforto e
tranquilidade. Nas ruas, entretanto, se engalfinham uns contra os outros,
impossibilitando a si e aos demais alcançar o que desejam individualmente porque
de sua conduta social resultam mortes, águas podres, comidas envenenadas, ar
irrespirável e muito barulho. À guisa de definição, talvez pudesse dizer que
povo é um aglomerado de seres não pensantes que gosta de ser escravizado por
uma grande malandragem chamada emprego, através do qual exaure sua vitalidade num
regime de escravidão para produzir uma riqueza da qual não desfruta. Ou não é
escravo quem faz a riqueza escondida nos infernos fiscais e sustenta uma
categoria de parasitas denominados “celebridades” e “famosos” entre os quais se
incluem reis, rainhas, príncipes e princesas? Se as nações tidas como
civilizadas são constituídas de povo, que dizer das nações consideradas não
civilizadas, onde a desqualificação dos habitantes confere-lhes a alcunha de
manada? Nós, um povo que nem sequer chegou ainda à categoria reles de povo,
confirmamos perante o mundo a desqualificação que levou Charles Darwin a dizer
que o brasileiro é desprovido das qualidades que dignificam o homem, e o
General De Gaulle a afirmar que o Brasil não é um país sério, o que equivale a
dizer que é safado, como realmente é.
Nossa imprensa
de povo está a fazer grande alarido sobre a quantidade de povo que protestava
nas ruas contra a exorbitante ineficiência do governo que ele mesmo escolheu
para lhe governar. É uma situação própria de povo. Se não se pode prescindir
das autoridades, e se todos os candidatos a autoridade, por ser povo, não
carregam consigo as qualidades necessárias para ser autoridade, por que fazer
deles autoridades? Mas é o que o povo faz, e quando o resultado das ações
socialmente danosas destas “autoridades” se tornam insuportáveis, de uma população
de mais de duzentos milhões de espécimes de povo, alguns gatos pingados vão às
ruas fazer barulho com inúmeros caminhões carregados com alto-falantes brigar,
roubar e dançar. Em torno disso, a imprensa de propriedade de povo, manuseada e
ouvida pelo povo, se limita a bobagens como saber o número dos palhaços a
protestar contra o que eles mesmos fizeram.
O apoio
manifestado ao doutor Sergio Moro e à Lava Jato, o que inclui a figura do
doutor Janot, tão importante quanto à do doutor Moro, a rapaziada que o auxilia,
e da polícia federal, foram as únicas atividades que escaparam da palhaçada
confirmada pelo uso de narizes de palhaço. Quando diminuir no povo a índole de
povo e ele aprender a ler e entender o que lê, perceberá que escolher pessoas
certas para serem autoridades dispensa a necessidade dos protestos hilariantes.
Não existem apenas os aproveitadores safados que nos trouxeram ao impasse.
Felizmente há muitas pessoas honradas em meio à canalha. Os doutores Joaquim
Barbosa, Sergio Moro, Rodrigo Janot, Heloisa Helena, Eliana Calmon, e muitos
outros, são exemplos.
Aqui no
livro A História, editora Sextante, há uma passagem que ilustra perfeitamente a
diferença entre gente e povo. Na página 21, numa referência aos desordeiros
humanos, consta que à medida que as pessoas deixavam a região do Éden para
povoar o mundo, se faziam acompanhar de ódio, rancor, assassinatos, traição, o
que se devia ao fato de terem as pessoas negligenciado a relação com Deus. Esta
afirmação mostra a fronteira que separa povo de gente. Para povo estaria correta
a afirmação. Para gente estaria correta trocando a palavra Deus por sociedade, uma vez que Deus é paparicado enquanto a sociedade é espezinhada. Inté.
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