segunda-feira, 28 de setembro de 2020

ARENGA 446

 

Na página 93 do segundo volume de Histórias da Gente Brasileira, da professora Mary Del Priore, livro de leitura agradável, o que infelizmente não é comum porque são raros os livros de intelectuais que não navegam por mares inalcançáveis  por leigos em intelectualidade, consta que em 1869, o comerciante Joaquim F. Moutinho referindo-se  ao estado de abandono em que se  encontrava a província do Mato Grosso, o fez nos seguintes termos: “Mato Grosso é uma das províncias do Brasil que mais ricamente foram dotadas pela natureza; está, porém, situada tão longe, e tão pouco aquinhoada pelo governo na distribuição de seus favores, que tudo ali é difícil, e tudo existe em estado embrionário”.

Duas coisas nesse pronunciamento clamam por atenção: primeiro, a pusilanimidade da população desse país em permitir ter sido em vão desbaratada tanta riqueza natural. Segundo, a referência à atividade do governo como distribuição de favores. Esta tem sido a forma de tratar o governo em todo o mundo. Esperando que seu bem-estar aconteça por ação de deus ou do governo, a humanidade se posta servil e inutilmente perante estas duas entidades que se tivessem interesse nisso ela não estaria em tão maus lenções como está se produziu riqueza suficiente para viver bem.

Falta à humanidade a percepção de ser ela mesma a maior de todas as autoridades porque além de ter criado deus e os governos, mantém de tripa forra as autoridades de ambos.

É, pois, tão injustificável quanto inaceitável a subserviência com que o povo tem se comportado perante estas duas autoridades, principalmente as governamentais porque destas não tem como se livrar. O fato de as autoridades governamentais atribuírem a si mesmas o título de excelências prova não disporem de nobreza espiritual suficiente para merecerem um respeito tão exorbitante que o governante já foi considerado entidade divina, enquanto que não merecem mais do que o respeito que merece qualquer empregado. Nada mais que isto.

Apesar de ter o “é preciso”, se tornado um chavão tão enjoativo quanto o “eu acho que”, não dá prá evitar dizer ser preciso que o povo desperte desse torpor injustificável e assuma a posição que lhe cabe de senhor de todos os senhores visto ser quem arca dom todas as despesas do mundo, inclusive a de quem se arvora a ser seu senhor.

O dicionário define favor como benevolência, cortesia, serviço gratuito. Se o serviço feito pelos governantes custa uma fábula de dinheiro ao povo, vez que exorbitaram tanto em privilégios que o padrão de vida deles supera o de qualquer empregado por mais bem remunerado que seja, chegando-se ao absurdo de estabelecerem o próprio ganho além de proporcionarem a si mesmos direito a alimentação refinada, férias de dois meses, planos de saúde, carros luxuosos com motoristas e combustível, e, absurdo dos absurdos, aproveitarem do cargo para enriquecer. Onde já se viu empregado com tais privilégios?

O que teria levado a humanidade a se encontrar agrilhoada à obrigação de servir a senhores se ela é que é o verdadeiro senhor? A monumental estupidez que a faz aperfeiçoar os métodos de matar é a única explicação para o fato. Aviões não precisam mais de piloto para lançar bombas e o comportamento dos seres humanos é o de inimigos figadais um do outro. Como falar em civilização em tamanhos brutamontes? Não seria bom pensar sobre isto? 

 

 

 

 

 

sábado, 26 de setembro de 2020

ARENGA 445

 

A opinião pública afirmando ser ótimo ou excelente o desempenho de qualquer governante, não fosse a seriedade com que se deve encarar o assunto política, dada a responsabilidade de determinar o padrão de vida, provocaria riso em quem com muito esforço pessoal superou a duras penas a mediocridade intelectual que impede alcançar o conhecimento de como é que funcionam as coisas na vida, principalmente como funcionam os governos. Faz-se necessário frisar o “esforço pessoal” porque tendo a educação por objetivo esconder a realidade de serem os governos uma falsidade tão absoluta que precisam manter a população na ignorância política. Daí que nenhum currículo escolar vai além de assuntos relacionados com ensino técnico que é para evitar a compreensão da realidade de não passar a atividade política de farsa monumental.  A afirmação de absolutamente todos os políticos de trabalharem promovendo bem-estar social e predominar o mal-estar seria o bastante para descrédito da política se o povo não fosse castrado da capacidade de tirar conclusões inteligentes. Para evitar que isto aconteça é que papagaios de microfone mantêm o povo sempre ligado em brincadeiras como se fossem crianças as pessoas, e elas se comportam como tal.

Absolutamente nada sobre a realidade da vida é possível aprender nas escolas. Fica na dependência de vontade e esforço pessoais alcançar tal conhecimento que para a quase totalidade das pessoas é “prosa”. Daí ter Vinicius Bittencourt observado que adquirir conhecimento afasta de tudo que faz a alegria do povo.

 Camuflar a realidade e expor falsidade faz com que doutores sejam tão ignorantes quanto analfabetos no que diz respeito à realidade da vida. Nenhum profissional, por mais capacitado, como também nenhuma pessoa do povo é capaz de entender o motivo pelo qual seus filhos depois de trabalhar por mais de vinte anos para se tornar hábil em atividades úteis à sociedade não serão por ela tão valorizados como são analfabetos com habilidade em brincadeiras nem porque as pessoas menos importantes são consideradas celebridades e lhes é atribuída tamanha riqueza que por serem fúteis gastam em festas monumentais.

Conhecer a realidade, concluiu Vinicius Bittencourt no seu fabuloso livro Falando Francamente, é afastar-se de tudo que faz a alegria do povo. Realmente, o conhecimento faz enxergar o povo como crianças barulhentas e passíveis de se auto infligirem sofrimento. 

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

ARENGA 444

 

           Embora sem o apreço exagerado de Policarpo Quaresma, personagem de Lima Barreto que requereu ao Congresso uma lei oficializando o tupi-guarani a língua oficial do Brasil, por ser genuinamente brasileira, o certo é que a ninguém com um mínimo de honradez na personalidade e vergonha na cara deixa de reconhecer e sentir melancolia ante o vilipêndio de que desde sempre tem vitimado nosso belo país, que apesar de rico, é carente tanto de riqueza quanto de estima pelo seu povo tal é o ridículo a que é exposto e cujo exemplo maior é dado por pelas autoridades pagas para zelar pela honradez de sua soberania. Um senador brasileiro apanhado com dinheiro roubado escondido entre as duas bandas da bunda em vez de pasta 007 como fazem os ladrões de alta classe, não foi motivo de gracejos para o resto do mundo porque há muito este país é encarado como motivo de mofa, da piada pronta e da facilidade com que se agacha até aparecer a bunda.

E não faltou advogado “famoso” para provar que roubar ou traficar droga não constitui crime quando a autoria é de senador.

A mediocridade cultural do brasileiro causa mal-estar às poucas pessoas que se elevaram acima da mentalidade de populacho, de turba festiva, de lavadores de escadas de igrejas, dos emplumados das escolas de samba dos promotores de festas de arromba, dos pipocadores de fogos, dos que conversam com estátuas e dos que compram ou vendem feijão milagroso.

As decisões das autoridades brasileiras têm preço como as mercadorias nos supermercados e a imprensa mostrou a um público incapaz de indignação pela mediocridade mental, que a proteção contra ao rei dos ônibus, (aqui, para ser rei, basta ser ridículo) no Rio de Janeiro, custou uma festa de arromba para o casamento da filha de um ministro do STF.

O Congresso Nacional Brasileiro não passa de um antro onde falcatruas são urdidas cinicamente debaixo da barba de uma juventude alienada. O Supremo Tribunal Federal tem ministro empresário e seus membros são indicados por políticos desonestos que em função da artimanha do foro privilegiado, caso não se beneficiem da malandragem do decurso de tempo e vierem a ser julgados serão julgados pelos juízes que lhes devem o favor de terem sido agraciados com garantia de vida mansa.

Completa este quadro pavoroso um Poder Executivo teocrático e conivente com a calamidade moral. Apesar disso, é o país das festas, das igrejas e do futebola.

sábado, 19 de setembro de 2020

ARENGA442

 

O historiador Edward McNall Burns define revolução social como sendo uma sublevação violenta contra a ordem política e econômica estabelecida. Entretanto, uma sublevação contra a ordem política e econômica que atualmente vigora no mundo, dir-se-ia uma sublevação contra a desordem política e econômica estabelecidas porquanto uma forma de organização social na qual apenas um por cento dos associados açambarcam para si noventa e nove por cento dos recursos materiais desta sociedade, deixando sem direitos alguns noventa e nove por cento dos demais membros desta sociedade, só em caso de completa demência poder-se-ia falar em ordem sob tais circunstâncias, visto que esta bagunça generalizada resulta em pobreza, fome, miséria, violência e a fila de pandemias encabeçada pelo vírus “comunista”.

 O mundo se encontra em total desordem. A Ordem Democrática enfaticamente papagaiada insistentemente pelos que se nutrem da desordem do sistema e seus baba ovos em troca da despensa abastecida, é algo tão sem nexo que deixa a cargo da massa bruta de festeiros ignorantes a responsabilidade da escolha das autoridades que por serem também da mesma mentalidade medíocre, usam de seus cargos em benefício próprio enquanto ilude a malta com a história de governo do povo, pelo povo, para o povo. Fosse assim o povo usufruiria de fazendas, carros sofisticados, indústrias, jatinhos, mansões, iates, impunidade.

Na verdade, senhores papagaios de microfone baba ovos do sistema e malandros que tem vida regalada a custo de fraudes, não venham com esse papo de respeito à ordem democrática porque faço parte da maioria que vocês dizem desfrutar das benesses democráticas, quando, na realidade, a única regalia a que são poucos como eu que têm é poder ter aqui ao lado um copo de cristal que me foi presenteado com uma boa talagada de uísque envelhecido vinte e um anos. Pensando melhor, também posso publicar estas bobagens que encontram outros bobos para ler. No livro 1984, George Orwell nos mostra o que é não poder fazer isto sob o rigor da ditadura que faz ter medo até de soltar pum ante a perspectiva de ser encontrado enforcado. É verdade que se pode espernear na democracia. Mas as coisas pelas quais se esperneiam não precisariam de nenhum esperneio para serem alcançadas porque num ambiente civilizado elas acontecem naturalmente.


sexta-feira, 18 de setembro de 2020

ARENGA 441

 

PARE DE ACREDITAR NO GOVERNO. É o título de um livro do escritor brasileiro Bruno Garschagen, título que ainda merece outro superlativo além de felicíssimo considerando a verdade absoluta da sentença do velho e sábio Marx, escorraçado por mentes bolorentas de religiosos e ajuntadores de riqueza, personalidades reveladoras de completa cegueira mental e infinita mediocridade espiritual porquanto nenhuma mentalidade sadia negaria haver real necessidade de mudar o mundo se a irracionalidade predomina sobre a racionalidade que deveria distinguir o ser humano da fera.

Com apenas cinco palavras o escritor expôs a causa de toda infelicidade que grassa mundo a fora e que outra não é senão o faz-de-conta do modo como é  exercida a atividade governamental, razão pela qual o mundo não poderia estar pior sem os governantes. Como ainda não é possível extinguir os governos, cabe fazer com que cumpram o dever de retribuírem com trabalho honesto porque se a sociedade lhes proporciona o vidão de fazer inveja que têm não é para que ajudem os ricos a se tornarem mais ricos às custas do trabalho dos pobres e nem para que promovam guerras. É, isto sim, para que promovam bem-estar social e evitem em vez de promoverem degradação moral, tendência natural dos espécimes da brutal espécie humana.

Fazer da atividade governamental o que ela deve ser é que deve ser o papel dos seres humanos em vez de procurar nas igrejas a solução para seus tormentos porque todos eles provêm das necessidades decorrentes do desvirtuamento político. É esse desvirtuamento que faz faltar as coisas das quais as pessoas necessitam. São monumentais templos para orações e brincadeiras substituindo hospitais e escolas. São aberrações culturais merecendo riqueza e fama. São bandidos tratados por excelências. Todas estas distorções provêm da distorção da política e nenhum deus endireitará leis elaboradas para beneficiar ladrões do dinheiro do povo.

As distorções clamam aos demônios quando magistrados pagos pela sociedade para livrá-la dos bandidos com eles se mancomunam por ser total desalento não ter a quem recorrer contra injustiças. É tal aberração já ocorria há cerca de duzentos anos, conforme página 70 do livro Raízes Do Conservadorismo Brasileiro, de Juremir Machado da Silva, mostrando que José Bonifácio assim se referia a respeito da justiça: “...nossos magistrados, se é que se pode dar tão honroso título a venais que só empunham a vara da justiça para oprimir desgraçados que não podem satisfazer à cobiça, ou melhorar sua sorte”. Como se vê, não será possível viver num ambiente moral e fisicamente salutar a depender de governo. A proteção de autoridades a criminosos materializada na condenação da Lava Jato já foi prevista por Rui Barbosa ao profetizar o tempo em que o homem sentir-se-ia ridículo por ser honesto.

   

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

ARENGA 440

 

A única maneira de evitar que as futuras criancinhas tenham também o triste destino de serem transformadas em analfabetos políticos futucadores de telefone como seus pais, e fazer delas cidadãos e cidadãs, é encarar com seriedade e estender a toda humanidade a convocação que Marx fez aos trabalhadores para uma união contra o capitalismo. Pessoas inteligentes e sensatas como Ladislau Dowbor e Thomas Pickety, e certamente muitos outros que meus parcos conhecimentos desconhecem, têm nos mostrado que monstros de cuja boca escorre baba de dragão, levados pela maldição de Midas, avançaram como animais peçonhentos sobre os recursos naturais para produzir dinheiro, com tamanha ganância que estão a inviabilizar a vida no planeta. Estenderam seus tentáculos satânicos para além do sacrifício imposto à classe trabalhadora com tamanha virulência que colocaram em grave risco o futuro das criancinhas cujos pais foram por eles submetidos a tamanha demência insignificância mental que nada veem de anormal embora em maio a tamanha anormalidade que um trabalhador cujo trabalho beneficia a sociedade apenas sobrevive enquanto párias sociais são transformados em celebridades milionárias pelo pão e circo.

As injustiças sociais são de clamar aos infernos. Para trocar o emprego de executivo da Exxon pelo de chefe no Departamento De Estado dos Estados Unidos (apenas para mudar de emprego), o ex-empregado da Exxon recebeu 125 milhões de dólares (Página 89 do livro O Capitalismo Se Desloca, de Ladislau Dowbor).

Tal estado de coisas clama pela mesma intervenção que é providenciada quando alguém perde a razão. O primeiro passo no sentido de dar sentido à vida deve ser anular nas pessoas o sonho de riqueza, de almejar ser também um mostro de cuja boca escorre baba de dragão, porque o acúmulo de riqueza contraria o equilíbrio que deve haver entre a quantidade de pessoas da comunidade e a posse de bens que a cada um deve caber.

Ao contrário da tranquilidade que se imagina encontrar na riqueza, ela vira intranquilidade se seu detentor se encontra entre famintos. Desta forma, se a lembrança dos tempos de bicho-fera não permite a igualdade, não se justifica tamanha desigualdade. Daí que se atribuir ao inútil excesso de riqueza a utilidade de extinguir a miséria, todos serão beneficiados.

Como não se pode esperar comportamento socialmente nobre da classe parasitária da qual fazem parte os políticos, é imprescindível uma união total em torno da luta para que se ponha ordem na balbúrdia que tomou conta do mundo. Eis porque a juventude fica com a palavra.


sábado, 12 de setembro de 2020

ARENGA 439

 

O livro RAÍZES DO CONSERVADORISMO BRASILEIRO, de Juremir Machado da Silva, expõe que por ocasião do banimento da escravidão em 1888, a rica classe de produtores de café tinha nos deputados Paulino de Sousa e José de Alencar (o escritor de enjoativas melosidades), seus principais representantes como testas de ferro na luta contra a proposta de extinguir a escravidão. Esta instituição mostra ser ilimitada a maldade do ser humano posto que capaz da crueldade de considerar outro ser humano inteiramente desprovido da necessidade de respeito e afeto, ao qual se pode dispensar com naturalidade o tratamento inferior ao dispensado ao gado no pasto, isento de maus tratos. Por ocasião da Lei do Ventre Livre, argumentavam os moralmente depravados escravagistas, que assim como é propriedade do dono do terreno onde está a árvore o fruto que dela sai, também é do dono da fazenda o filho que sai da escrava de sua fazenda.

A humanidade se estruturou de forma tão errada que por mais estranho que possa parecer a brutalidade da escravidão e de ser infinita a maldade dos argumentos dos escravagistas, do ponto de vista da economia, entretanto, por mais paradoxal que pareça, tais argumentos eram justificáveis uma vez que a economia da qual depende a sociedade, dependia de trabalho de negros escravizados naquela época. Organizar a sociedade de forma a depender de produzir e vender coisas é uma coisa a ser repensada porque além de serem limitados os materiais existentes na natureza para sustentar uma produção ilimitada de coisas cuja demanda aumenta dia a dia, além dos recursos naturais, embora disfarçada de emprego, as coisas que abastecem o mercado capitalista nunca deixaram de ser produzidas sob regime de escravidão. A chibata foi substituída pelo relógio de ponto, persistindo a exploração do mais fraco pelo mais forte.

Daí a observação daquele que se ainda não foi consagrado como filósofo precisa ser, o doutor Vinícius Bittencourt, que no fabuloso livro FALANDO FRANCAMENTE disse que a humanidade se assemelha a um imenso zoológico onde feras convivem livremente com animais domésticos.

O comportamento humano tem sido pautado por ações brutais e indignas da condição de seres que podem pensar e concluir por uma forma de viver onde todos pudessem passar de modo agradável seu pouco tempo de vida, ou pelo menos não tão desagradável a ponto de haver quem não pode satisfazer as necessidades indispensáveis. Nenhuma lógica pode haver num sistema no qual quem trabalha e produz fica fora do consumo. 

 

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 8 de setembro de 2020

ARENGA 438

 

Se a humanidade ainda vive a escravidão de carregar o peso da classe perdulária e socialmente inútil de parasitas de diversas espécies, sendo as mais perniciosas as da política, das religiões e do cassino financeiro, deve-se à inversão da atividade política. Criadas para zelar pela ordem e justiça sociais, passaram as autoridades políticas a promover desordens e injustiças sociais com tamanha desenvoltura que apenas pessoas desprovidas de discernimento acreditam nestas autoridades para pedir socorro quando vitimadas pelas iniquidades.

O presidente Trump dos Estados Unido, acaba de dar exemplo de desordem política. Além de ter colonizado o mundo por meio de força bruta, permite se arvorar à petulância do “O ESTADO SOU EU” ao alimentar o direito de eternizar-se no poder. Já são tempos de haver número suficiente de pessoas esclarecidas o bastante para se inteirar da importância social da orientação política para não permitir ser ela desempenhada de modo tão desastroso como é. A humanidade carece de um despertar para a realidade de sua dependência de uma ação política correta, voltada para o bem-estar coletivo, ao contrário das consequências desastrosas que acontecem sob sua completa indiferença.

 A necessidade de ser bem articulada a ação política foi o motivo que levou Platão a dizer que governar deve ser atividade para filósofos. Certamente não filósofos que a troco da despensa abastecida juram de pés juntos que para se viver em sociedade nada é melhor do que uma organização baseada na competição. É desta inverdade que resulta o descompasso ora verificado no mundo com um por cento de seus habitantes tendo se apropriado de noventa e nove por cento da imensa riqueza construída a custo da escravização pelo látego do emprego.

É verdade que o tempo faz evoluir para a racionalidade. Mas, além da lentidão, o processo evolutivo pela experiência é sabotado pela inescrupulosidade das autoridades políticas desordeiras que usando da distorção política, passaram a servir ao sistema financeiro parasitário que se apossou da riqueza do mundo e, para evitar ser desbancado, promove o obscurantismo mental que Bertold Brecht denominou de analfabetismo político, permitindo-se ficar a cômodo.

É preciso escrever em todos os muros do mundo (expressão do mestre Nietzsche) que a ação política não pode sob hipótese nenhuma ficar a cargo de gatos pingados pela simples, clara, inegável e comprovada razão de não haver um único ser humano no mundo capaz de evitar dar um jeito para meter a mão num dinheiro sob sua guarda.

A humanidade tem sido feita de eterna bobalhona, joguete nas mãos de parasitas que fazem dela o que bem quer: manada, rebanho de Cristo, entusiastas por corridas de carros tão velozes que seus motoristas são pilotos que chegam a receber salário de trezentos milhões de reais num ano, enquanto um trabalhador realmente útil ganha treze mil. Custear fabulosos estádios para futebola, imensos templos para oração, enriquecer ridículos “famosos” e “celebridades” enquanto lhe faltam recursos para as coisas essenciais da vida. É assim que caminha a humanidade.


segunda-feira, 7 de setembro de 2020

ARENGA 437

 

Vagabundos se afastaram da sociedade e até tiveram gafanhoto e mel por alimento a fim de meditar para adquirir sabedoria bastante para entender a vida para que pudessem passar adiante o aprendizado e ajudar as pessoas. A infelicidade humana, entretanto, mostra que nenhuma das conclusões a que estes pensadores chegaram com tamanho sacrifício tivesse alcançado sucesso. Limitaram-se a aconselhar procedimentos jamais observados.  E nesse ponto é de se ressaltar o equívoco de mestre Hegel ao afirmar que nada se aprende estudando História porque em função do estudo da História saí da total ignorância comum à humanidade, e, sem dispensar um bom uísque, feijão, arroz, verduras, frutas, alguma carne e companhia de outras pessoas, com ajuda dos livros, principalmente os de História, mergulhei no aprendizado da vida e o que aprendi e passo adiante, se observado, endireitará noventa por cento do desmantelamento do mundo, coisa que os comedores de gafanhoto não conseguiram, nem mesmo Cristo, o mestre de todos eles.    

Aprendi que a causa dos problemas que afligem a humanidade é apenas a falta de dinheiro. Simples assim. Onde há dinheiro não há as necessidades que dão causa aos problemas que por sua vez são a causa da infelicidade. A porca torce o rabo é para saber o motivo pelo qual falta dinheiro se há dinheiro suficiente para resolver absolutamente todos os problemas solucionáveis do mundo. Os livros nos ensinam que toda a dinheirama foi apossada por parasitas do sistema financeiro, monstros de cuja boca escorre baba de dragão, que por meio de agiotagem embolsam fortunas e mais fortunas que, num círculo vicioso, vão ser usadas para produzir mais fortunas sem precisar nada produzir.

Como para superar uma dificuldade é preciso haver vontade de fazê-lo, o mal do mundo está no fato de não haver empenho na superação de seus males porque esperando os sofredores que o alívio venha de deus e de falsos líderes políticos, haverão de esperar em vão porque não existe deus e aos políticos só interessa o enriquecimento, principalmente aproveitando da indiferença política do povo para roubá-lo à vontade. Duas historiazinhas nos ensinam com exatidão o porquê desta falta de vontade humana em superar os infortúnios:

Conta-se que o nome do vinho Casillero del Diablo teve origem na história inventada por um apreciador de vinho de haver um demônio no armário onde guardava seus vinhos para evitar que seus empregados os furtassem. Também se conta que a crença de tempos passados de ser venenosa a ingestão de determinadas frutas com leite ou com outra fruta foi criada pelos ricos quando fruta era cara por ser importada em caravelas e grande parte apodrecia antes de chegar.

É também se aproveitando desta mesma inocência que os monstros de cuja boca escorre baba de dragão, gastando imensas fortunas nos meios de comunicação, fazem o povo temer políticas socialistas que o beneficiariam, colocando-se a favor da política capitalista que lhe é prejudicial.

Portanto, para que a humanidade se livre dos tormentos que a atormentam, basta aprender o que os livros ensinam, sem abrir mão de coisa nenhuma, principalmente do uísque e do copo de cristal.  


domingo, 6 de setembro de 2020

ARENGA 436

 

Segundo aqueles que se dedicam a pensar sobre o assunto, os governos foram instituídos para empregar corretamente o dinheiro que a coletividade deposita em suas mãos para gastar na administração da sociedade composta por aquela coletividade. Daí haver o pensador Thomas Paine afirmado que um governo deve ser considerado bom quando faz esta administração com melhor resultado e menor custo. Sendo esta uma realidade incontestável, só uma idiotização, uma debilidade mental, justificaria opiniões de ser bom ou excelente o governo de um povo miserável, não obstante a imensa riqueza que esse povo lhe põe nas mãos. Realmente, sendo a desonestidade implantada no ser humano pelo culto da divinização da riqueza, como esperar que seres desonestos não roubem um dinheiro que lhe veio cair nas mãos e que pertence a um populacho ignorante que nem sabe ser dona daquele dinheiro? Pode alguém na vastidão do mundo apontar um único governo que vise o bem-estar da sociedade que administra a ponto de ser realmente um bom ou excelente governo? Se não, e as guerras, a miséria e o sofrimento provam que não, quem atribui tais qualidades nobres a qualquer governo no mundo inteiro é por ter a mesma propensão gastronômica do peru.

O mais crível é que tais opiniões sejam compradas. Se até cientistas vendem opiniões afirmando ser a competição a melhor forma de se organizar uma sociedade ou de ser necessária a crença em deus, que dizer então do populacho e dos lambe botas que montam no pescoço o saco de um governante e assim desfilam em meio à multidão de idiotas?

 Para quem está com fome, bom governante é o que lhe dá migalhas. Mas não é assim. Não é bom o governo de onde há fome. Nem o que reprime com violência rebeldia contra a injustiça por ser atitude nobre recusar a submeter-se a injustiças.

O mundo precisa ser repensado e passa já do tempo de se fazer isso. O primeiro passo nesse sentido deve ser no rumo de sacudir para longe a orientação de ideais políticos desprovidos de espírito de sociabilidade.


sábado, 5 de setembro de 2020

ARENGA 435

 

 

Na página 34 do livro Origem Da Desigualdade Entre Os Homens, mestre Rousseau diz o seguinte: “... é evidente, pela leitura dos livros sagrados, que o primeiro homem, tendo recebido de deus...” e na página37 de Senso Comum mestre Thomas Paine se refere como fato histórico o pedido de Samuel a deus para que desse um rei que governasse seu povo (1 Samuel 8:6).

Ao fazer referência a deus como realidade, apesar do extraordinário conhecimento que demonstraram, estes dois grandes pensadores deixaram claro que mesmo eles, os grandes pensadores, tinham muito ainda a aprender sobre a realidade da vida porque se declararam também envolvidos na mesma falsa crendice do populacho festeiro e vulgar que escreve “foi deus que mim deu” em carrinhos baratos, conversa com estátua e compra feijão santo.

Atualmente, em função do esclarecimento adquirido com a experiência, a existência de deus não faz mais sentido para nenhum intelectual, salvo os que têm na fé a garantia da despensa abastecida. Repercutiria mal atualmente entre pessoas cultas uma obra literária que se referisse a religiosidade como merecedora de credibilidade. A leitura da bíblia leva à conclusão de estar completamento certa a afirmação de que as religiões de hoje serão  mitologias amanhã.

Interessante nessa história bíblica de Samuel reivindicar um rei perante deus é a sabedoria de quem a escreveu ao avisar a Samuel que o rei iria achacar o povo, tomando dele até os filhos (1 Samuel 8:11). Não é o que fazem os governos obrigando os filhos do povo a se matarem nas guerras? O cara que escreveu isso tinha a percepção que até hoje o povo não tem se ainda acredita em governo.

Mas não é apenas quanto no tocante a religião que pensadores se declararam inocentes quanto à realidade da vida. Incorreram no mesmo equívoco filósofos ateus como Marx, Lenin e Stalin ao acreditar que o elemento povo tivesse discernimento necessário para promover uma sociedade civilizada, o que fica atualmente demostrado ser impossível porque sendo agora o povo responsável pela escolha dos governantes, escolhem bandidos para representá-lo como autoridades governamentais.

Entretanto, mesmo a pensadores modernos que criticam a inviável cultura capitalista parece escapar uma parte da realidade. Grandes economistas como Thomas Piketty e Ladislau Dowbor, por exemplo, veem inviabilidade na economia apenas na agiotagem parasitária do sistema financeiro, por ser danosa ao sistema produtivo. Mas, na realidade, é inviável todo o sistema econômico capitalista se o sistema produtivo é voltado para lucros ilimitados que dão origem a grandes enriquecimentos que acabam, num círculo vicioso, direcionados para a condenável agiotagem do sistema financeiro.


sexta-feira, 4 de setembro de 2020

ARENGA 434

 

Os que pulam da cama espavoridos para não perder o horário para não perder o emprego, os que pregam o rabo num banco para se profissionalizar e se habilitarem a ser empregados e hospedeiros do parasitismo da Mais Valia, os que se inquietam na busca por maiores lucros na agiotagem do assino financeiro, nenhuma destas pessoas sabe ter sido tão escravizada quanto os negros e os índios que a lei autoriza os jesuítas escravizar em nome de Cristo. É possível que com o passar do tempo e do vigor físico, a escola da vida conscientize algumas destas pessoas da realidade que tudo aquilo em que elas acreditam, religião, governo, democracia, liberdade, felicidade para sempre, respeito à constituição, justiça, tudo isto é tão fantasia quanto Papai Noel.

Pessoas nascem, envelhecem e terminam o prazo de validade de vida tão iludidas quanto quando começou a viver. Uma rica senhora idosa do mundo das “celebridades” acaba de dar magnífico exemplo da ingenuidade com que a humanidade vê a realidade da vida. A menção a este fato é importante porque mostra quanta certeza as pessoas têm de algo que não corresponde à realidade. Ao dizer aquela senhora que os comunistas odeiam os cristãos entre os quais ela se incluía, expressa o modo de pensar de noventa e nove vírgula nove por cento da humanidade. Mas, de modo algum corresponde à realidade se ao buscar justiça social e pregar desapego à riqueza os comunistas se mostram mais perto dos ensinamentos de Cristo do que se mostra aquela rica e festeira senhora.

No que diz respeito à realidade de que a vida demanda meditação, a faculdade de pensar em nada contribui. A total a falta de interesse dos seres humanos em analisar o que lhes chega ao conhecimento. Um infernal mecanismo de comunicação faz a humanidade se interessar por tudo aquilo de que ela deve recusar ou participar com a mesma moderação com que se toma remédio. Festas, esportes, a celebridade das “celebridades”, bandidos legislando a seu favor e contra a sociedade, inúteis templos a custo de fortunas para professar crendices. Um momento de reflexão basta para se perceber estar tudo ao contrário do que devia ser.

A indignação do doutor Ladislau Dowbor com a humanidade deve ser de todos nós. Apenas uma palinha da indignação dele: “Hoje 800 milhões de pessoas passam fome, não por culpa delas, mas por culpa de um sistema de alocação de recursos sobre o qual elas não têm nenhuma influência. A impotência de não poder prover o alimento ao filho é um sentimento terrível. Milhões de crianças morrem todo ano. Cerca de cinco vezes mais do que as vítimas das Torres de Nova Iorque. A injustiça tão presente e a empáfia dos ricos que ostentam o seu sucesso sem ver a desgraça que produzem, francamente, me deixam puto da vida.” (Página 13 do livro A Era Do Capital Improdutivo).


quinta-feira, 3 de setembro de 2020

ARENGA 433

 

No livro A ORIGEM DA DESIGUALDADE ENTRE OS HOMENS, Rousseau levantou a hipótese de ter sido o conformismo dos pobres com a pobreza o motivo da riqueza dos ricos. Supõe, ainda, que a desigualdade teria começado quando o primeiro homem cercou um terreno e passou a ser dono dele. Tendo em vista ter sido a terra a única riqueza dos primeiros tempos, porque a vida dependia dela para colher o que pudesse ser comido, se as outras pessoas  tivessem contestado energicamente aquela usurpação porque até então a terra era de uso coletivo, corresponderia atualmente a uma situação na qual supondo-se ser inteligente o povo, como o verdadeiro dono do mundo, impedisse a permissão para  que um só avarento se apossasse de riqueza suficiente para prover necessidades de milhões de pessoas.

Sonhador como só o filósofo Rousseau, talvez tenha exagerado em sugerir a possibilidade de inexistência de propriedade privada em função dos vários temperamentos que levam alguns a se contentarem com pouco enquanto que outros têm o olho maior que a barriga. Mas, se em função da ignorância humana inexiste ambiente para igualdade, nem por isso deve ser permitida tamanha desigualdade visto corresponder à brutalidade da fera que tendo abatido presa suficiente para várias outras feras, ameaça rosnando e mostrando as presas se outra se aproxima.

Posteriormente, em vez da terra, veio a Mais Valia a se tornar o fator provedor de riqueza como consequência da apropriação dos meios de produção, e, também sob a indiferença dos donos do mundo, avarentos Reis Midas têm açambarcado para si por total ignorância de sociabilidade, fabulosas fortunas, privatizando, do mesmo modo que o primitivo de Rousseau, o que deve ser de uso coletivo.

A ferocidade dos Reis Midas é mostrada pelo economista sem rabo preso Ladislau Dowbor ao dar conta de que oito famílias são detentoras de riqueza correspondente à riqueza de metade da população do planeta. Como ser suportável tamanha injustiça social em se tratando de seres pensantes? O que justificaria tamanha brutalidade de se admitir que um parasita social possa aplicar um bilhão de dólares na agiotagem do cassino financeiro e embolsar cento e trinta e sete mil dólares por dia sem mover uma palha (Ladislau Dowbor, A Era Do Capital Improdutivo, página 26), enquanto um trabalhador rala um mês inteiro pela sobrevivência apenas? Não ocorrem a estes monstros de cuja boca escorre baba de dragão os acontecimentos tenebrosos da França de 1789 e Rússia de 1917?  Que diabo acontece com a humanidade que se sujeita a ser eternamente escravizada por parasitas? Só pode ser porque, como Rousseau disse, depois de se acostumar a ter senhores, não será mais possível dispensá-los.


quarta-feira, 2 de setembro de 2020

ARENGA 432

 

O maior erro que o ser humano comete é permitir que lhe seja tirado o direito de pensar e decidir por si mesmo o rumo a ser tomado na vida.  Se foi agraciado pela natureza com a faculdade de perceber além do alcance dos olhos, por que deixar que falsos líderes pensem em seu lugar e determinem a qualidade de seu futuro? Confiar em quem não se pode confiar não é próprio de quem pensa. A humanidade ainda se encontra em tal estado de selvageria que desconhece sentimentos nobres de irmandade e desprendimento de modo tão evidente que o normal é cada ser humano procurar tirar vantagem do semelhante. O resultado de deixar o destino ser decido por seres tão brutos é ter sido a humanidade obrigada a prover vida mansa para malandros travestidos de autoridades. Não se pode entender o engendramento do qual resulta tamanha injustiça sem entender o que quis dizer Marx com a Mais Valia. A repulsa que o populacho tem ao velho Marx é mais uma das infinitas lambanças arquitetadas pelos malandros aproveitadores da facilidade com que o povo pode ser engabelado porque não pode haver algo de ruim em alguém como Marx que embora por método diferente, dedicou a vida a lutar pelo mesmo ideal de Cristo: justiça social.

Na verdade, em vez das ideias socialistas que buscam uma sociedade sem despossuídos de tudo, o que deve ser rejeitada é a injustiça de uma liderança que usa dos liderados em benefício dos líderes e apaniguados. É a injustiça de não se poder obter os bens indispensáveis sem ter de arcar com soma superior ao valor de tais bens para formar as imensas riquezas de quem os produz e de quem os comercializa. As pessoas conhecidas como poderosas em função de riqueza, devem este poder ao excedente que cada um dos mais de sete bilhões de seres humanos são obrigados a pagar além do preço justo destes bens a título de lucro, graças ao tipo de política executada por falsos líderes muito bem recompensados pelos aproveitadores desonestos em troca da garantia da política que os beneficia e prejudica o povo. Se com número menor de pessoas, porque nem todos pagam dízimo, as religiões acumulam tamanhas fortunas que seus chefes despontam na revista Forbes entre os mais ricos do mundo, é exorbitante a fortuna se absolutamente ninguém deixa de contribuir porque ninguém deixa de comprar.

Daí ser total perda de tempo tudo que se diz e escreve a respeito de coisas erradas como corrupção, desperdício do dinheiro público, cassino financeiro, imensas fortunas pessoais para poucos e imensa pobreza para muitos, porque estas coisas são feitas para serem desse jeito e não deixarão de ser desse jeito enquanto o povo tiver seu destino decidido por quem as quer tão ao contrário de como devem ser que estão a destruir as condições vida no planeta e profissionais de saúde que salvam vidas, professores que ensinam a ler, enfim, quem presta serviço relevante à sociedade é menos valorizado do que toupeiras mentais com padrão de vida infinitamente superior.


terça-feira, 1 de setembro de 2020

ARENGA 431

Ao meio-dia de todo dia, hora em que a maça bruta de povo está em casa para o almoço, a imprensa falada, em polvorosa e entusiásticos brados de goooooolllll, papagaiam sobre futebola. Escravos cujo emprego não permite se deslocarem até suas senzalas para almoçar, a fim de não prejudicar a mais valia de seus patrões, são vistos nas lanchonetes com uma xícara na mão e olhos pregados num aparelho de televisão no alto da parede por meio do qual explode a euforia dos papagaios de microfone em tremenda gritaria porque o barulho tem o poder de atrair a atenção de pessoas talhadas para ambientes chulos.

Trata-se de uma armadilha tão eficiente que dela não escapa nem intelectual do porte do economista Ladislau Dowbor, autor de importantes livros como A Era Do Capital Improdutivo e O Capital Se Descola. Na página 15 do primeiro, seu autor, homem de tão grande intelectualidade se declara torcedor de time de futebola. Se existisse milagres, um deles seria o poder que tem o futebola de atrair para si a opinião pública, desviando sua atenção da política, permitindo que ela possa esconder os horrores que pratica contra a sociedade. Além desse mal (o mais danoso) o futebola também é prejudicial desperdiçando fabulosas somas de dinheiro tanto na corrupção mostrada nos livros O LADO SUJO DO FUTEBOL, de Amaury Ribeiro Júnior, Leandro Cipoloni, Luiz Carlos Azenha e Tony Chastinet, O SUBMUNDO DO FUTEBOL, de Wilson Raj Perumal, POLÍTICA, PROPINA E FUTEBOL, de Jamil Chade; JOGO CADA VEZ MAIS SUJO, de Andrew Jennings, quanto nas riquezas retiradas da sociedade para jogadores.

Portanto, a realidade que ninguém vê é que o fanatismo pelo futebola evita que o povo possa pensar para não discordar da obrigação de prover rega bofes de parasitas em esplendorosa vida palaciana na qual abundam iguarias, vinhos e mulheres adoidado que abrem as pernas até acima das nuvens em luxuoso avião, tudo por conta do erário.

Ao conseguir livrar-se da prisão mental e prestar atenção no que ocorre ao redor, ver-se-á que o mundo real está tão de ponta-cabeça que criminosos tomaram conta do poder político tão espetacularmente que a bandidagem transformou em vilões os jovens heróis da Lava Jato e estão jogando livre e à vontade, inclusive com proteção da justiça.