quinta-feira, 3 de setembro de 2020

ARENGA 433

 

No livro A ORIGEM DA DESIGUALDADE ENTRE OS HOMENS, Rousseau levantou a hipótese de ter sido o conformismo dos pobres com a pobreza o motivo da riqueza dos ricos. Supõe, ainda, que a desigualdade teria começado quando o primeiro homem cercou um terreno e passou a ser dono dele. Tendo em vista ter sido a terra a única riqueza dos primeiros tempos, porque a vida dependia dela para colher o que pudesse ser comido, se as outras pessoas  tivessem contestado energicamente aquela usurpação porque até então a terra era de uso coletivo, corresponderia atualmente a uma situação na qual supondo-se ser inteligente o povo, como o verdadeiro dono do mundo, impedisse a permissão para  que um só avarento se apossasse de riqueza suficiente para prover necessidades de milhões de pessoas.

Sonhador como só o filósofo Rousseau, talvez tenha exagerado em sugerir a possibilidade de inexistência de propriedade privada em função dos vários temperamentos que levam alguns a se contentarem com pouco enquanto que outros têm o olho maior que a barriga. Mas, se em função da ignorância humana inexiste ambiente para igualdade, nem por isso deve ser permitida tamanha desigualdade visto corresponder à brutalidade da fera que tendo abatido presa suficiente para várias outras feras, ameaça rosnando e mostrando as presas se outra se aproxima.

Posteriormente, em vez da terra, veio a Mais Valia a se tornar o fator provedor de riqueza como consequência da apropriação dos meios de produção, e, também sob a indiferença dos donos do mundo, avarentos Reis Midas têm açambarcado para si por total ignorância de sociabilidade, fabulosas fortunas, privatizando, do mesmo modo que o primitivo de Rousseau, o que deve ser de uso coletivo.

A ferocidade dos Reis Midas é mostrada pelo economista sem rabo preso Ladislau Dowbor ao dar conta de que oito famílias são detentoras de riqueza correspondente à riqueza de metade da população do planeta. Como ser suportável tamanha injustiça social em se tratando de seres pensantes? O que justificaria tamanha brutalidade de se admitir que um parasita social possa aplicar um bilhão de dólares na agiotagem do cassino financeiro e embolsar cento e trinta e sete mil dólares por dia sem mover uma palha (Ladislau Dowbor, A Era Do Capital Improdutivo, página 26), enquanto um trabalhador rala um mês inteiro pela sobrevivência apenas? Não ocorrem a estes monstros de cuja boca escorre baba de dragão os acontecimentos tenebrosos da França de 1789 e Rússia de 1917?  Que diabo acontece com a humanidade que se sujeita a ser eternamente escravizada por parasitas? Só pode ser porque, como Rousseau disse, depois de se acostumar a ter senhores, não será mais possível dispensá-los.


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