No livro A ORIGEM DA DESIGUALDADE
ENTRE OS HOMENS, Rousseau levantou a hipótese de ter sido o conformismo dos
pobres com a pobreza o motivo da riqueza dos ricos. Supõe, ainda, que a
desigualdade teria começado quando o primeiro homem cercou um terreno e passou a
ser dono dele. Tendo em vista ter sido a terra a única riqueza dos primeiros
tempos, porque a vida dependia dela para colher o que pudesse ser comido, se as
outras pessoas tivessem contestado
energicamente aquela usurpação porque até então a terra era de uso coletivo,
corresponderia atualmente a uma situação na qual supondo-se ser inteligente o
povo, como o verdadeiro dono do mundo, impedisse a permissão para que um só avarento se apossasse de riqueza
suficiente para prover necessidades de milhões de pessoas.
Sonhador como só o filósofo Rousseau,
talvez tenha exagerado em sugerir a possibilidade de inexistência de
propriedade privada em função dos vários temperamentos que levam alguns a se
contentarem com pouco enquanto que outros têm o olho maior que a barriga. Mas,
se em função da ignorância humana inexiste ambiente para igualdade, nem por
isso deve ser permitida tamanha desigualdade visto corresponder à brutalidade
da fera que tendo abatido presa suficiente para várias outras feras, ameaça
rosnando e mostrando as presas se outra se aproxima.
Posteriormente, em vez da terra, veio
a Mais Valia a se tornar o fator provedor de riqueza como consequência da
apropriação dos meios de produção, e, também sob a indiferença dos donos do
mundo, avarentos Reis Midas têm açambarcado para si por total ignorância de
sociabilidade, fabulosas fortunas, privatizando, do mesmo modo que o primitivo
de Rousseau, o que deve ser de uso coletivo.
A ferocidade dos Reis Midas é mostrada
pelo economista sem rabo preso Ladislau Dowbor ao dar conta de que oito
famílias são detentoras de riqueza correspondente à riqueza de metade da
população do planeta. Como ser suportável tamanha injustiça social em se
tratando de seres pensantes? O que justificaria tamanha brutalidade de se
admitir que um parasita social possa aplicar um bilhão de dólares na agiotagem
do cassino financeiro e embolsar cento e trinta e sete mil dólares por dia sem
mover uma palha (Ladislau Dowbor, A Era Do Capital Improdutivo, página 26), enquanto
um trabalhador rala um mês inteiro pela sobrevivência apenas? Não ocorrem a
estes monstros de cuja boca escorre baba de dragão os acontecimentos tenebrosos
da França de 1789 e Rússia de 1917? Que
diabo acontece com a humanidade que se sujeita a ser eternamente escravizada
por parasitas? Só pode ser porque, como Rousseau disse, depois de se acostumar
a ter senhores, não será mais possível dispensá-los.
Nenhum comentário:
Postar um comentário