domingo, 31 de agosto de 2014

ARENGA CINQUENTA


Um amigo tão velho quanto eu me explicou haver na velhice uns momentos espiritualmente desagradáveis, que só ocorrem na velhice porque enquanto se é jovem não se pensa. Apenas o velho pensa. E é mesmo obrigado a pensar porque não tendo projeto algum que lhe ocupe a mente, fica ela a produzir pensamentos lá do tempo do “já fui bom nisso”. O pensamento independe da vontade e parece que o safado vai buscar para trazer à lembrança as coisas que a experiência da vida torna desagradáveis. Pois é desse tipo de lembrança que o pensamento mais gosta, deixando por lá as lembranças dos melhores momentos. É verdade que vez em quando o pensamento nos presenteia com alguma façanha indescritivelmente agradável. O pensamento também pode proporcionar emoções maravilhosas provenientes de ações irreais, pensadas apenas, mas nem por isso menos agradáveis, havendo até motivo para serem mais agradáveis ainda uma vez que isentas de efeitos colaterais.

Também me explicou o velho amigo que uma das coisas que o fez não ligar para esse negócio de proteção divina é o fato de não ter ela evitado que na ignorância da juventude ele achasse bonito fazer pose ao tirar do bolso o isqueiro zippo que fazia um tinido ao abrir, e acender o cigarro, o que realmente impressionava as garotas daquela época, razão pela qual fazíamos não só nós os rapazes papel de bobos ao ingerir veneno, mas também as garotas que nos estimulavam achando aquilo muito bacana. Além do cigarro, como não foi cem por cento merecedor dos presentes de Papai Noel, também experimentou e gostou da bebida alcoólica, e talvez por consequência do hábito de beber e fumar na juventude, embora nunca demasiadamente, e sempre com períodos de intervalo a partir do momento em que adquiriu discernimento bastante para perceber a necessidade de cuidar da saúde. Passava tempos sem fumar ou beber. Mas como o vício vem prá ficar, enquanto ainda havia algum resto da inexperiência da juventude, era ainda fraco demais para ser superior ao vício e sempre voltava a fumar e beber até que chegou um momento em que viu a situação de debilidade em que estavam os amigos que fumavam e bebiam. O medo de cair naquela situação de não poder respirar o fez deixar de fumar, embora continuasse a beber. Eis que teve de deixar também a bebida porque o mal-estar resultante era insuportável. E agora? – dizia o meu amigo abrindo os braços – E agora, Zé, que fazer se não tenho temperamento para encarar a vida assim de cara limpa? – A resposta ele mesmo deu com um riso de satisfação: U m dia, Zé, – continuou – tive a idéia divina de experimentar maconha e foi sucesso absoluto. Agradeço imensamente àquela idéia por me dar melhores momentos de paz do que a bebida, sem qualquer preço a ser cobrado pela natureza no dia seguinte.

E não ficou por aí a prosa. Me disse também ter ouvido do dono do bar que frequentava há quarenta anos a notícia de que os fregueses antigos que fumavam cigarro comum morreram ou estão com graves problemas de pulmão, enquanto os que fumavam maconha estão todos ainda pelaí, e que até ainda aparecem por lá e tomam uma ou duas.

Agora, Zé, me dá pena, – Continuou meu amigo velho e velho amigo – ver tanta confusão em torno da maconha, um santo remédio para afastar a insistente tristeza dos velhos, principalmente de velho que pensa. Fico abismado com estas pobres criaturas inocentes que em razão de desconhecer a verdadeira causa que leva seus filhos a consumir droga, atribuem às drogas a culpa pelo seu infortúnio, comportamento semelhante ao dos religiosos da Idade Média que por desconhecimento da realidade matavam as bruxas por acreditar serem elas as responsáveis pela terrível peste negra. A culpa do filho cair nas garras das drogas é da sociedade que eliminou a convivência entre pais e filhos na fase em que os filhos mais precisam de uma orientação interessada em sua futura estabilidade emocional, preocupação impossível de ser assumida pelos professores e babás, preocupados que estão com a própria manutenção, tarefa infinitamente mais árdua para eles do que para uns e outros pelaí. Ou será que alguém não sabe disso? E se sabe, o que está fazendo que não ensina aos que ainda não sabem que desse jeito vamos dar no atoleiro com os burros carregados de ouro? Né, não? Inté.  

sábado, 30 de agosto de 2014

ARENGA QUARENTA E NOVE


A maldade tem sido o traço que caracteriza o comportamento do ser humano. A última demonstração disso foi a cena de policiais obrigando dois rapazes a se espancarem e se beijarem, o que os divertia, comportamento qualificado como sádico. Segundo o dicionário Aurélio, o sadismo é hoje considerado uma anomalia do instinto sexual, que impele à prática de atos de crueldade e até ao assassínio para atingir o orgasmo. Entretanto, independentemente de problemas sexuais, o sadismo se manifesta também nas mais diversas circunstâncias. O comportamento humano é moldado pelas impressões recolhidas pelo cérebro no ambiente onde se vive, informações estas que determinarão a consolidação do caráter de cada um. Como só existem informações sobre maldade em todo ambiente onde nasce e cresce o ser humano, o resultado é o descompasso entre o que é e o que deveria ser a vida dos seres humanos uma vez que ela, a vida, depende exclusivamente do comportamento da pessoa que é sua portadora. O normal é que alguém gerado, nascido e criado até depois da adolescência num ambiente de pessoas de boa espiritualidade tende a ser também assim. Mas como os seres humanos não dispõem de um lugar assim para onde pudessem migrar e fazer os filhos, o resultado de quem é gerado, nascido e criado num ambiente onde é normal encontrar pedaços de corpo humano pelas ruas, um ambiente onde a palavra dada não significa certeza, onde as pessoas de menor conhecimento são mais prestigiadas do que as de maior conhecimento, portanto, de maior capacidade contributiva para o sucesso da sociedade, quem vive em tal ambiente jamais terá, salvo as exceções felizmente infalíveis em toda regra, que são os Grandes Mestres do Saber, mas a regra é que as pessoas tenham o comportamento adequado para formar uma sociedade de gladiadores a se estraçalharem. 

Quem, antes de sair para a igreja, vê a cena dos policiais torturando os dois jovens não vê ali motivo para despertar qualquer reflexão a respeito. Porém, para quem encara a religiosidade como atraso e impedimento de progresso mental, dá uma vontade danada de perguntar àqueles policiais se eles são religiosos. E aposto noventa e nove vírgula noventa e nove contra o que falta para inteirar cem como eram.

Minha gente: tá na hora de pensar antes que seja muito tarde. Olha que até o governador de São Paulo, aquele que sabe o que o povo não sabe e nem pode saber porque se souber vai faltar guilhotina, pois até ele que é governador e sabe das coisas já teve seus intestinos prejudicados pela qualidade da água consumida, é de se imaginar o que será dos intestinos de quem não é governador e nem sabe de nada. Quando a coisa chega nesse pé, é bom botar a barba de molho. Como as barbas não podem se por de molho porque estão demasiadamente ocupadas pelaí a inaugurar templos de arrecadar dízimo para mostrar na revista Forbes, faz-se necessário um despertar da juventude que ainda não tem barba, jovens do tipo das mais de setecentas mil pessoas que compareceram na feira do livro de São Paulo, um despertar para a compreensão da necessidade suprema de pensar em aprender a pensar.

Não há justificativa tanto progresso material e nenhum progresso espiritual. O comportamento humano demonstra total incapacidade de reflexão sobre os acontecimentos, provocando interpretações descabidas dos fatos sociais que nos envolvem, resultando das falsas interpretações uma realidade apenas aparente, mas também falsa. Uma grande distorção da realidade pode ser encontrada na declaração dos médicos americanos que contraíram a doença perigosa proveniente de um negócio chamado ebola e que afirmaram terem sido salvos por milagre. Falta de conexão com a realidade maior não há porque o que salvou suas vidas foi a alta tecnologia da ciência médica desenvolvida graças à riqueza que seu país tomou na marra de outros povos jogando bomba sobre eles. Isto fica mais do que evidente quando todos os pobres atacados pela mesma doença morrem. É também do mundo religioso dos americanos que vem uma interpretação capenga sobre o fato de cerca de três mil cidadãos americanos e ingleses se juntarem aos grupos terroristas contra seus próprios países. A falta de coragem para enfrentar a realidade leva a subterfúgios escorregadios e ocos porque a realidade é que a brutalidade das ações criminosas de saque que aqueles países praticaram sobre o mundo renderam-lhes justa repulsa até de seus nacionais. A imprensa americana disse a respeito que os terroristas conquistam adeptos convencendo-os com religiosidade de que aquilo que estão fazendo é certo. Ora, está certo afirmar que matar não está certo, mas não está certo também o que aqueles países de povo religioso e assassino fazem arrancando braços de crianças com bombas.

O fato de haver dez milhões de pessoas nas cadeias é mais do que suficiente para demonstrar a irrealidade em que vive o mundo. Dez milhões de pessoas para serem alimentadas e cuidadas por quem trabalha, recursos que poderiam ser usados para o bem-estar de quem os produz. É de insensatez em insensatez que o mundo foi transformado numa bomba e a infelicidade cresce desesperadoramente por pura falta de coragem de enfrentar a realidade e se esconder nas sombras da mediocridade. Um desses deformadores de opinião afirmava ser muito difícil lidar com a educação sexual dos adolescentes. Qual a dificuldade que há em explicar aos jovens a realidade sobre o assunto? Futuramente ele agradecerá por não ter de aprender sozinho como a turma da minha geração que se ufanava por ter contraído blenorragia. É o mesmo problema com as drogas. Pessoas inocentes, principalmente os religiosos, acreditam que a proibição das drogas é a solução para o problema, enquanto estudiosos do assunto concluem o contrário. É claro que as drogas são um problema, mas os problemas são maiores quanto maior é a ignorância do ambiente onde ele está. O uso de venenos, por exemplo, está provocando uma doença apelidada de CKDu que destrói os rins dos agricultores. E tudo para que imbecis se locupletem e façam pose na revista Forbes. Tá certo isso? Inté. 

 

 

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

ARENGA QUARENTA E OITO


O caso envolvendo a ação do ministro Joaquim Barbosa e a reação praticamente unânime dos demais juristas contra a atuação do primeiro é também evidência da inversão de valores que tomou conta da sociedade, bem assim como o prestígio social dispensado a verdadeiras nulidades e o desprestígio de quem realmente tem valor, o que é uma situação insustentável em termos de durabilidade. Engana-se, e muito, quem crê na eternidade desta situação de cabeça para baixo. A sociedade é orientada sempre para o mal. Um monte de papagaios com microfone vive a repetir para que as crianças bebam refrigerante, e para não desobedecer a ordem da televisão, pais babacas são encontrados com garrafas de dois litros de refrigerante no carrinho de compras e permitem que seus filhos embrenhem cada vez mais no tal mundo digital, comportamento que a ciência afirma causar danos ao sistema nervoso, não faltando quem tem a cara de pau e desfaçatez suficientes para justificar a ingestão de veneno nos alimentos em nome da produtividade, o que não passa de absurdo. Seria mais inteligente fuzilar o excedente capaz de fazer faltar comida. Assim, os demais teriam saúde.

É espantosa a desmoralização que os juristas ávidos por dinheiro de qualquer origem procuram na pequenez de suas honras impingir ao doutor Joaquim Barbosa, monumento de honradez e defensor da sociedade, fato comprovado na condenação de um candidato sabidamente corrupto que o ministro Barbosa cassou o direito de concorrer, mas que agora encontra entre os juristas quem diga não ser bem assim e coisa e tal. Não tenho a honra de ser parente do doutor Barbosa, mas é de causar espanto a indiferença com que se assiste dentro da inversão de valores pessoas moralmente pequenas como formiguinhas com o comportamento do pigmeu que por despeito encontra defeito no gigante. O futuro que todos os pais desejam para seus filhos terá mais chance de dar certo com homens do tipo do doutor Barbosa como ministro do que aquele outro ministro e jurista, companheiro dos detratores do doutor Barbosa, e que ficou com o nariz ainda maior do que já era com as mentiras cochichadas ao ouvido do bandidão do Mensalão.

Já ouvi que excremento de urubu atrasa a vida de quem tem contato com ele. Com o tanto de urubu voando sobre o Brasil, fica fácil compreender o motivo pelo qual este belo país é tão carente de sorte e farto em azar. Até sua empresa maior que tanto entusiasmo causou em outras épocas com o PETRÓLEO É NOSSO, passou a trabalhar contra seu país para beneficiar ladrões do colarinho branco. É tamanha nossa falta de sorte que a primeira pessoa na qual o povo pretende encontrar amparo para suas necessidades através do emprego honesto do dinheiro público, como presidente da república, pessoa esta de quem não se pode duvidar de sua sinceridade, é religiosa. Imagine só: depositar esperança em quem espera por Deus é o mesmo que borrifar água nos pés de milho para fazer chover. Uma pessoa religiosa ou é inocente, ou é desprovida de inteligência e capacidade de observação, ou é mal-intencionada. Não há necessidade mais do que olhar à volta para se perceber a falsidade que é a religião. Embora haja livros e mais livros sobre esse assunto, livros escritos por sábios, pessoas que não sabem fazer um “O” com um copo contradizem o que dizem estes sábios. Esta deveria ser uma característica capaz de mostrar algo de errado. Entretanto, como por esperteza a religião proíbe que se pense sobre estas realidades, ninguém vê nada de errado no fato de analfabeto contestar cienteista. Nem é preciso ler livro algum para perceber que nos lugares onde há maior religiosidade são exatamente os lugares mais atrasados, e, consequentemente, os mais infelizes. Percebe-se claramente que os religiosos são na grande maioria pessoas de baixíssimo nível de intelectualidade e tão infantis que pensam ter recebido um carro barato das mãos de Deus. Os religiosos estudados, estes, graças ao interesse exclusivo em dinheiro, não dedicam tempo algum a meditar sobre a realidade de ele mesmo ter mesma mentalidade do analfabeto, diferenciando-se deles apenas na habilidade de ganhar dinheiro.

Assim, tudo indica que este belo país de triste sorte continuará uma ilha cercada por tubarões que comem terra e se alimentam dela. Também pudera: em todo lugar onde se esteja, basta olhar para cima e lá estão eles, os urubus. Inté.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

ARENGA QUARENTA E SETE


Muitas são as consequências negativas da regressão espiritual crescente e a olhos vistos a que estamos submetidos. Quando eu era garoto não havia garotos assassinos, mas hoje há. Esta involução também pode ser notada no crescimento da violência e da degradação moral preocupante que inverteu o sentido do positivo e do negativo do ponto de vista dos valores humanos. Todos veem e não se ligam na decadência inevitável de uma sociedade que leva professores à pobreza e iletrados promotores de brincadeiras à riqueza. Estas pobres criancinhas rechonchudas despejadas aos montes nas maternidades terão um futuro desgraçado e seus pais não sabem disso e nem querem saber. A família que vê na televisão esses comentaristas de horror acredita estar a salvo dos horrores por eles comentados sem lhes ocorrer que um dia ela chegará até a sala onde estava a televisão. Em um dos muitos comentários, sem que nem os ouvintes nem o comentarista tivessem percepção das consequências dos comportamentos sobre os quais comentava o comentarista de horror, narrava uma situação em que um garoto criminoso foi preso e declarou à polícia ser irmão de outro criminoso conhecido pela grande perigosidade que oferece à sociedade.

Este fato, embora insignificante para os frequentadores de igreja, axé e futebola, indica graves consequências que já se fazem sentir pela violência desenfreada. Esta história de jovens encarando o crime como motivo de tanto orgulho a ponto de servir de carta de recomendação positiva, é algo de arrepiar os cabelos coloridos. O alcance negativo disso vai além da existência de um garoto criminoso e é realmente incompreensível como ninguém se preocupa com este fato estarrecedor de ter a inversão de valores chegado ao cúmulo de estarem os jovens convencidos de que ser criminoso é motivo de orgulho e de recomendação. Qual será o futuro de uma sociedade formada em sua maioria por quem se orgulha de ser criminoso?

E não é menos preocupante a segunda parte da história. Na sequência do seu comentário, sem nada saber o que há por trás daquilo tudo, dizia o comentarista de horror não fazer sentido o garoto se apresentar como irmão de outro bandido. Se, por acaso, o garoto fosse irmão de um jogador de futebola famoso, aí, sim, – continuava o comentarista de horror – fazia sentido. E cá estamos outra vez nas garras da inversão de valores cujo resultado é uma sociedade esculhambada como a nossa que nem sequer tem capacidade de distinguir quem realmente tem capacidade de contribuir para o desenvolvimento espiritual que orienta toda sociedade que realmente cumpre o papel de sociedade. Isto é: convivência pacífica entre seus membros.

Na história comentada estão os ingredientes apropriados para uma sopa de tudo que é ruim e que nos é servida cotidianamente, haja vista o chororô no corredor do hospital.  É uma situação inacreditavelmente perigosa a que estamos vivendo. Estes pobres garotos abandonados pela indiferença de quem faz orações virão a ser inimigos terríveis da sociedade e não há oração capaz de prevenir o desfecho desta situação explosiva. Seria de provocar reuniões de amanhecer o dia em ministérios não só o fato de um garoto pensar que banditismo serve de carta de recomendação, mas também o fato de se considerar importante um jogador de futebola. Se for perguntado a qualquer um desses comentaristas de horror que acreditam haver importância num jogador de futebola qual o lugar mais indicado em todo o mundo onde as pessoas possam desfrutar da felicidade só encontrada na paz de um ambiente de alta espiritualidade, a resposta automática de robô será evidentemente a igreja. Entretanto, a violência e a infelicidade crescem no mesmo ritmo frenético em que também cresce a quantidade de igrejas e religiosidade, como se pode ver. É só tirar os olhos do telefone e olhar em volta que se verá até pedaços de corpo humano arrancados pela violência.

Estamos caminhando por caminhos pantanosos e as futuras gerações irão sofrer as consequências de não prestarem seus pais atenção ao que disse o governador de São Paulo sobre guilhotina.

A falsa esperteza dos governantes em manter o povo longe das decisões políticas, o que lhes deixa à vontade para decidir soberanamente sobre o destino da riqueza pública, acabará não dando certo porque muitas pessoas estão ficando bastante esclarecidas para compreender certas coisas que antes eram despercebidas, razão pela qual seria mais conveniente que os governantes modernos usassem bem estes recursos por não se justificar a vida faustosa dos palácios contrastando com a pobreza das favelas. Não é mais possível a desfaçatez de quem promove tanto sofrimento se apresentar em orações em solenidade de inauguração de templo religioso. Observar estas coisas tanto faz bem ao povo quanto às autoridades. Custa nada seguir a orientação do Mestre do Saber Thomas Paine quando nos lembra o fato evidente de ser a segurança o verdadeiro propósito e o fim objetivado pelo governante, decorrendo daí que o melhor governante seria aquele que proporcionasse maior segurança com menor custo. Isto está na página 28 do livro Senso Comum, e é do que carece o mundo em lugar de ilusões fantasiosas de consumo desmedido, Papai Noel, esperança em que os pedidos do papa resultem em paz. Pode-se ter uma idéia da situação em que se encontra nossa sociedade pedindo ao amigão Google para deixar dar uma olhada no seguinte assunto: “helicoca – o helicóptero de 50 milhões de reais”. A matéria contida naquela reportagem chega a fazer crer não haver solução para a cultura da safadeza inata dos brasileiros, mas não é assim que há de ser.

Novos tempos requerem novos hábitos. Mais cedo ou mais tarde a sociedade humana vai passar da irracionalidade do anti-social para a sociabilidade. Se o desenvolvimento já foi citado como as ondas do mar, que sobem até certo ponto para depois descer ao nível do resto da água, sendo assim, o desenvolvimento da cultura do antagonismo social certamente atingiu seu ponto máximo nesse momento de total inversão de valores mostrada na matéria citada no Google e vai regredir para dar lugar à amistosidade, único meio de se viver bem, e viver bem é que está certo. Viver com medo de tudo está errado, e muito. Inté.

 

domingo, 24 de agosto de 2014

ARENGA QUARENTA E SEIS


È esquisito que em meio a tantas pessoas capacitadas para pensar, escrever e falar, ninguém se arvora a indicar uma saída para a situação de descalabro em que se encontra a sociedade humana. Mostrar os mal-feitos, não falta quem mostre. Livros, jornais, revistas, imprensa falada, entrevistas, tudo isso faz referência aos erros, mas não passa de referência a que ninguém liga. Afirmações de estudiosos que dedicaram anos e anos aos estudos são até motivo de chacota por parte de quem nunca abriu um livro sequer. Observações sobre o resultado maligno do aquecimento do ar cujas consequências já se fazem sentir nas tempestades, secas, tremores de terra, dos quais se acredita proteger através de divindades que não prestam nem para proteger seus representantes maiores que preferem a proteção das armas. A vida é encarada sob um falso ponto de vista, decorrendo daí um ambiente social também falso. Quem está certo de que uma coisa é de determinado jeito, sem nunca cogitar da possibilidade de ser esta coisa de outro jeito, muitas vezes incorre em erro porque não é a primeira nem a segunda vez que determinada coisa tida como sendo de certo jeito vir a se revelar ser de outro jeito. Já se teve receio de tomar leite e chupar manga porque se acreditava ser uma combinação venenosa. Já se borrou de medo do trovão e já se teve certeza de ser a Terra quadrada, como também já se torrou na fogueira quem falasse e pensasse do jeito que eu falo e penso. Mas a falsidade das coisas demora muito para ser percebida porque só se revela quando o comportamento se mostra equivocado como está a demonstrar o relacionamento entre os seres humanos, condenado por absolutamente incompatível com a condição de ser humano.

Não há mais espaço no mundo para o tipo de vida que se tem vivido. Enquanto bombas explodem em nome de Deus, atirando longe braços de crianças, futilidade é assunto de primeira importância entre gente supostamente civilizada como os ingleses, tão saudosistas da monarquia a ponto de repetirem uma história pouco provável de que a rainha francesa Maria Antonieta teria moldado uma taça no seu peito, a fim de perpetuar esta lembrança, procuraram os “civilizados” ingleses repetir o gesto daquela infeliz rainha que também em meio aos distúrbios que a infelicitavam, em vez de se dedicar a corrigir os muitos erros cometidos, usava esse precioso tempo para moldar taça no seu peito. Pois, apesar de guerras e tantas bomba, vem dos meios ingleses a importante notícia de outra taça moderna moldada no peito da atriz que representou em filme a infeliz rainha guilhotinada. É também entre os “civilizados” ingleses que “homens” se internaram em hospital para se submeter a processo que os fizesse sentir a dor do parto. Notícias de imbecilidades na imprensa mundial ocupam o lugar onde deveriam estar assuntos relacionados com o futuro das pobres e inocentes criancinhas rechonchudas. Este primor de notícia, do interesse da absoluta maioria da juventude demonstra bem a inexistência de preocupação com as coisas que causam preocupação: “Incansáveis, Boateng e noiva fazem sexo de sete a dez vezes por semana”. Saber de trepadas é mais importante do que saber sobre o futuro dos filhos. Parece viver o mundo o ambiente pré Revolução Francesa. Sem esquecer a importância da atividade sexual, ela tem sido exacerbada de tal modo que juntamente com alimentação envenenada já provoca alterações no organismo das crianças que estão menstruando aos oito anos de idade, o que não devia nem de longe acontecer. Onde fica a indispensável fase de criança destas crianças?

São as pessoas que fazem com que as coisas sejam do jeito que são. Portanto, se faz necessário mudar para um jeito menos desagradável a atividade de viver. Ela nunca deveria se resumir à banalidade de comer, cagar e trepar como os outros seres vivos considerados inferiores. Não há sentido em se resumir a ação humana durante a vida à torpeza e à vilania de se aproveitar do semelhante para levar algum tipo de vantagem, comportamento que desde sempre orienta as ações humanas, inclusive adotado pelos líderes que usam a liderança como esperteza para se locupletar. Desde que se tem notícia da raça humana que também se tem notícia do antagonismo que sempre orientou a relação entre os seres humanos em função da exploração de uns pelos outros, mudando apenas as formas pelas quais se exercia e exerce esta exploração: escravista, feudal e capitalista são as modalidades mediante as quais poucos viveram e ainda vivem do trabalho de muitos. Não há, portanto, como se construir um ambiente ideal onde haja paz se a tônica do ânimo dos homens é a mal-querença. O presente revela evidente desastre resultante desse modo de encarar a vida como dependente só de riqueza ilimitada em vez de reflexão sobre o modo como sempre se viveu e como se deveria viver porque matança não faz parte da vida.

Quando algum dos Pinóquios caçadores de votos cumprem a promessa de promover educação, trata-se, na verdade, de uma preparação técnica para produzir dinheiro. Chamar isso de educação é estar tão equivocado quanto o feioso Henry Kissinger recomendando a competitividade da qual resultam ganhadores e perdedores, quando, na realidade, não há necessidade de perdedores. Só de ganhadores das benesses que um desenvolvimento sadio pode oferecer às pessoas, mas que deve estar ao alcance realmente de todas as pessoas. Por falta de ensinamento diferente do tradicional, deixa-se de aprender sobre o que seja sociedade, e, menos ainda, que ela requer cuidados e que estes cuidados exigem esforços que serão retribuídos em forma de bem-estar social. Sem os tratos que a sociedade precisa para poder funcionar bem, o resultado é desavença e malquerer, não se justificando, portanto, a preferência pelo ruim em detrimento do bom. Mas, se as coisas estão invertidas a ponto de haver quem obrigue uma mulher a passar a noite em um quartinho sem cama e trancado por fora, com uma cobra jibóia lá dentro, se existe quem cepa fora a cabeça de um jornalista apegado ao trabalho, se acontecem as aberrações a que estamos acostumados e que parecem nem mesmo incomodar, é por ser deplorável o estado de espírito humano em decorrência de suas crenças infantis resultantes do aprendizado oriundo de um sistema educacional preparado para deseducar. Vive-se de ilusão e nada mais. Ilusão do culto à beleza, à riqueza, da banalização do sexo, do desprezo ao semelhante, da desimportância à seriedade, ingredientes dos quais resultam corredores de hospitais entupidos de gente chorando. Tá na hora de pensar, tá não? Inté. 

 

 

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

ARENGA QUARENTA E CINCO


 Parece existir nesse mal amanhado blog maior preocupação com o futuro das criancinhas rechonchudas que a juventude boba bota no mundo do que nas casas onde elas são fabricadas visto que seus alienados pais deixam seus filhos serem cooptados pela cultura da falsidade e da mentira, qualidades passadas de pai prá filho desde que se tem notícia de nossa existência medíocre sempre acompanhada da conhecida inferioridade e falta genética de caráter. Ninguém menos que o genial Charles Darwin disse que o brasileiro não dispõe das qualidades que dignificam o ser humano. Esta é a cultura deturpada que as crianças herdam de seus pais, e o resultado é uma sociedade tão infeliz que pedaços de corpo humano são encontrados nas ruas, numa demonstração clara de estarmos todos, ricos e pobres, caminhando por um caminho que não levará ao futuro almejado pelos pais qualquer que seja sua posição social para seus filhos porque a falsidade, mentira, desonestidade e violência são ingredientes com os quais só se pode construir uma sociedade infeliz onde a vida se resume em orar, requebrar quadris, futucar telefone, mentir, roubar, matar e morrer, o que não pode ser considerada uma sociedade humana visto que ambiente assim é para bichos.

Sequer incomoda os pais a relação entre o futuro de seus filhos e as secas e enchentes que já começaram a contribuir para o aumento da infelicidade em que sempre esteve mergulhada esta sociedade inexplicavelmente alegre da mesma alegria que faz a felicidade de débeis mentais capazes de dançar em meio à guerra civil que nos últimos dez anos matou quase seiscentos mil requebradores de quadris. Chega a ser criminosa a omissão de quem tem conhecimento, experiência, domínio da escrita, mas não se dedica nem um pouco a levar aos jovens bobos algum convencimento sobre a necessidade de se orgulhar de si mesmos e de sua pátria, mas por motivos nobres porque é preocupante o futuro desta juventude tão alienada que se deixa convencer de que esporte merece a atenção que os papagaiamentos fazem crer. Sem discernimento, a juventude nem de longe entende o sentido das palavras do governador de São Paulo sobre a guilhotina que vai faltar. Não fossem tão incapazes os jovens, haveriam de querer saber o que é que vai fazer faltar guilhotina ao se tornar do conhecimento do povo. Entretanto, submetendo a uma prova que pedisse a definição e utilidade da guilhotina aos alegres estudantes futucadores de telefone, é certíssimo que todos seriam reprovados.

A sociedade brasileira sempre viveu de modo tão indigno que seu patriotismo se limita a cantar o hino nacional nas partidas de futebola graças ao obscurantismo mental que o sistema de educação lhes impinge ao fazê-los crer em mentiras tantas vezes repetidas que tomam aspecto de verdade graças à ação perniciosa dos deformadores de opinião. Um exemplo prático: O jornal Folha de São Paulo publicou matéria intitulada MUNDO JURÍDICO APLAUDE LEWANDOWSKI, onde vários juristas tecem loas à substituição do ministro Joaquim Barbosa pelo ministro Ricardo Lewandowski, afirmando que a personalidade “suave” do substituto é mais condizente com a atividade de presidente da mais alta corte de justiça do país, o que é uma grande safadeza. Numa sociedade onde o dinheiro público é tão sem dono quanto certa parte do corpo de bêbedo, só os mal intencionados tem a se beneficiar com uma presidência “light” no STF. Ao contrário, não fosse o determinismo “hard” do barbosão e todos os bandidos do Mensalão estariam a tripudiar sobre a infelicidade desse povo infeliz. Ou alguém duvida ser a matéria do jornal sofisticada forma através da qual os tais juristas procuram se livrar do Barbosão e seu certeiro martelo sobre o que está errado? Ele provou não ser nada “light” com os ladrões do dinheiro de aliviar o sofrimento de quem chora no corredor do hospital, o que seria ruim para advogados como o Thomaz Bastos que se tornou receptador do dinheiro roubado pela quadrilha do Cachoeira, o que lhe acarretou acréscimo considerável do nariz e da conta no banco que só não cresceu mais devido à ação dura de Joaquim Barbosa, razão pela qual os juristas se manifestam por um presidente “light”.  O fim dessa safadeza da matéria jornalística é que é de arrepiar o cabelo de quem tem porque lembra os tempos de 1964 ao censurar o comentário que fiz e que não foi publicado como foram muitos outros que aplaudiam aquela grande mentira e covardia em denegrir a imagem de um dos pouquíssimos homens de caráter nessa terra de imoralidades e mentiras eternas.

Para o bem de todos, é preciso deixar aparecer a verdade de que vivemos de mentiras. A enxurrada de deformadores de opinião que papagaiam incessantemente nos microfones, livros, jornais e revistas constituem barreira quase intransponível entre o mundo dos canalhas e o mundo dos homens como Joaquim Barbosa. Só quem observou os ensinamentos dos Grandes Mestres do Saber se torna conhecedor da realidade de vivermos uma irrealidade insuflada pelos meios de comunicação com o intuito de manter vivo esse sistema moribundo que permite a pose de idiotas na revista Forbes ao lado de montanhas de riqueza fazendo contraponto com montanhas de chorões no corredor do hospital. A todo instante os ouvidos são bombardeados com as deformações de opinião. O conservador Arnaldo Jabor, representante do pensamento da Globo de triste memória como afirma Hélio Fernandes, afirma convicto haver religião boa e séria ao lado de religiões ruins e picaretas. A verdade, entretanto, é que as religiões, segundo estudiosos do assunto como Marx, Sam Haris, Politzer, Richard Dawkins, Nietzsche, Christopher Hitchens e muitos outros, a religião é um mal social por manter as pessoas longe da realidade de que o bem-estar se encontra na aplicação correta do erário. Como as religiões ensinam o contrário, ela ilude porque nos lugares onde há maior religiosidade é precisamente onde há menos bem-estar, mas esta constatação escapa à percepção do povo devido às artimanhas dos deformadores de opinião que fazem ver bandidos nas pessoas de Hugo Chaves, Fidel Castro, Evo Morales, e tantos quantos querem um mundo onde as pessoas vivam em paz. Entretanto, admiram quem joga bomba sobre crianças porque são pagos para inverter a realidade de ser melhor a paz do que a guerra porque não se pode acumular riqueza sem as guerras. Na mesma linha de inversão da verdade, outra manifestação de falsidade ideológica saiu também da Globo, precisamente da Rádio CBN ao Papagaiar a prosa sobre a dificuldade que encontraria Marina Silva em ser aceita pelo pessoal do Agribiuzinesse, setor tão apreciado pela Globo que existe um programa dedicado a esse assunto, no qual se afirma descaradamente que o agribiuzinesse proporciona empregos. Percebe-se, do mesmo modo, uma mentira sem tamanho porque o trabalho mecanizado em imensas áreas por uma empresa de ricos produz é desemprego ao fazer agricultores imigrarem para as cidades, transtornando-as ainda mais. O agribiuzinesse, como a religião, é danoso à sociedade. Aqueles que gostam das coisas bem explicadinhas, como não tenho competência para explicar direitim, perguntem a quem é craque no assunto como a professora de medicina do Ceará que pesquisou o resultado do agribiuzinesse e descobriu que em apenas um pimentão havia veneno suficiente para arrasar o sujeito. A pobre coitada foi perseguida por publicar a verdade que os casos de câncer aumentavam assustadoramente entre os trabalhadores que aplicam o veneno a ser servido às criancinhas rechonchudas. Quem avisa que a comida está envenenada merece perseguição ou abraço? Para o bem de todos, pensemos nisso. Inté.         

 

 

 

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

ARENGA QUARENTA E QUATRO


O apego à tradição é tão prejudicial ao desenvolvimento humano quanto prejudicial é ao afogando alguém que impede a outrem de lhe atirar uma corda salvadora. Encontramos um excelente exemplo desta afirmação no filme “O Vento Será Tua Herança” que tem dado origem a arengamentos. Vale muito a pena pedir ao amigão Google para mostrar o filme e prestar atenção no debate entre a tradição religiosa e sua birra contra a ciência e a lógica. Em determinada cena do maravilhoso debate entre o velho e o novo, o religioso afirma categoricamente estar errada qualquer referência a milhão de anos porque nada existe há mais de cinco mil anos, quando Deus teria criado as coisas. Até esse ponto do filme, as idéias ultrapassadas dos religiosos pareciam levar vantagem na discussão contra a inovação e o avanço da espiritualidade salutar. Era natural que no começo do século passado, numa comunidade religiosa, portanto, apegada ao que mais pode haver de retrógrado não se pudesse esperar situação diferente daquela mostrada no filme, mas o fato de presenciar com outro entendimento o atraso levar vantagem sobre o avanço causa inevitável mal-estar a quem aprendeu com os Grandes Mestres do Saber a enxergar além do que enxergam as pessoas que lotam igrejas e seu apego cego às mesmices emboloradas das tradições.

Ater-se às tradições, é fazer com que a preguiça mental tome o lugar que deve ser ocupado por uma vivacidade da qual resultem pensamentos e idéias novas para ocupar o lugar das velhas e superadas idéias, mesmo porque a mudança é um imperativo da natureza em constante mutação. Portanto, acreditar que o modo de pensar não muda é incorrer em erro grosseiro. É verdade que idéias novas podem trazer malefícios em vez de benefícios à sociedade, mas esta circunstância se deve a causas estranhas ao fato de se tratar de idéia nova porquanto o objetivo de uma idéia nova é aperfeiçoar determinado procedimento, cabendo às pessoas com suas mentes estagnadas decidir o destino deste aperfeiçoamento. É exatamente pelo mau uso das idéias novas que a humanidade está se afundando sem se dar conta disso.

A regressão mental levou os seres humanos a envenenar o ar, a água e a comida dantes sadios, e esta caminhada inversa deve-se ao conservadorismo retrógrado que renega as novidades e atém-se à cultura ultrapassada da necessidade ilimitada de bens materiais, sendo que já houve homens respeitados até pelo fato de possuir muitas esposas. Dizem até que Salomão, o famosão, tinha mil delas. O caminhar rumo à evolução mental é demasiadamente lento. Atualmente, se a ninguém mais é dado encontrar justificativa nem vantagem em ter mil esposas, contudo, ainda se crê haver vantagem em se ter mil coisas, principalmente tanta riqueza quanto for possível, independente dos meios para adquiri-la que podem incluir lançar bombas sobre crianças independentemente de serem japonesas. Enquanto as mentes enferrujadas do povo o leva a querer saber com quem Neymar namora ou não namora, os gatos pingados com a mentalidade mais avançada se preocupam mesmo é com as coisas do tipo desta notícia da imprensa que passa a anos luz da percepção do povo nas igrejas e nos terreiros de axé e futebola.

Embora a tal notícia nunca tenha sido novidade para quem vê um pouco mais que os requebradores de quadris, é motivo de apreensão quanto ao futuro das criancinhas rechonchudas que os pais pensam amar porque elas enfrentarão um ambiente ainda de maior crueldade quanto à indiferença ante o padecimento alheio, frieza necessária a quem se propõe acumular riqueza. Esta indiferença leva os laboratórios em sua necessidade de acumular fortuna a proceder do jeito monstruoso de não investir em pesquisas das quais resultassem medicamento contra doenças que afetam o continente pobre dos africanos. Em consequência desta crueldade comum nos gananciosos é que já morreram quase um milhão de africanos vitimados pelo vírus ebola. Este é um dos incontáveis males sociais decorrentes da recusa em compartilhar as idéias novas que afirmam não ser mais conveniente esse negócio de ser dono de meio mundo porque esse tempo ficou lá no tempo em que no mundo não havia esse mundão de gente que hoje há.

Qualquer mentalidade menos rasteira percebe haver contradição entre a realidade e o conservadorismo retrógrado das tradições de todo tipo. Não pode haver maior babaquice do que ainda se fazer reverência a reis, rainhas, príncipes e princesas. A tradição religiosa, então, é de uma nocividade social monstruosa ao condenar à morte pobres e inocentes africanos proibindo-lhes de usar a camisinha contra o germe da AIDS, fazendo-os crer que seriam punidos por Deus pela ousadia de desobedecer a ordem que Ele deu de só trepar prá engravidar. Como as déias não tem patrão e são mais livres que os pássaros, elas proliferam em progressão geométrica como se pode perceber pela narrativa da História da Humanidade de que a época anterior à invenção da escrita cobre noventa e cinco por cento da existência humana. É certo que a repetição da prática em qualquer atividade leva a constantes inovações que introduzem novos e mais eficientes métodos de execução, o que também ocorre no mundo das idéias. Uma idéia chama outra, que chama outra, e assim elas sugerem tantas inovações que em apenas quatro mil anos decorridos desde a invenção da escrita o ser humano desenvolveu toda tecnologia hoje existente depois de viver milhões de anos no primitivismo em que viveu até o advento da representação gráfica dos sons pronunciados.

Se alguém fizer uma visita ao tempo em que foi inventada a escrita, há quatro mil anos, encontrará um ambiente tão primitivo quanto tinha de ser o tempo em que os bichos humanos formaram os primeiros grupos. Considerando os mais de três milhões de anos que estamos a parasitar este chão, o desenvolvimento tecnológico ocorrido nestes quatro mil anos é infinitamente superior ao que ocorreu nos três milhões de anos anteriores. Entretanto, de que serve todo esse desenvolvimento tecnológico se espiritualmente está-se a regredir? As maravilhas anunciadas pela tradição não passam de fumaça porque a infelicidade que atinge os que choram no corredor do hospital abre cada vez mais seu leque de horror e é por isso que é preciso dedicar algum tempo a meditar sobre as tradições e as inovações porque lutar pela supremacia da verdade é a única luta capaz de produzir resultado positivo, além de não requer derramamento de sangue Inté.

 

 

domingo, 3 de agosto de 2014

ARENGA QUARENTA E TRÊS.


Quando se fizer um estudo sobre o ridículo, o povo brasileiro terá a oferecer um farto manancial de informações e exemplos práticos. Nesse exato momento, formam-se multidões de povo brasileiro em frenesi a unhar as portas das embaixadas americanas nesse belo país de triste sorte e de povo inexplicavelmente alegre. Como não se escapa da herança cultural, e como o ridículo faz parte da cultura por aqui, para tirar o povo do sério, isto é, da alegria, só mesmo algo de extrema gravidade como a suspensão pelo governo americano da autorização para fazer compras em Me Ame. É insuportável ter de desfazer a pose já bolada não só para subir as escadas que levam ao interior do aviaozão, mas também, e ainda mais importante, a pose para descer do aviaozão com malas e mais malas cheias, e na mão, a futucar, o mais belo e completo aparelho de futucação a ser exibido orgulhosamente com a informação de ter sido adquirido diretamente lá nos próprios Estados Unidos, precisamente na melhor loja do ramo, aquela que fica na praça... praça... Ora, tão conhecida... Mas é em Me Ame. Quando estiver por lá, meu amigo, vale a pena fazer uma visita. É impossível sair de lá de mão vazia. Aquilo lá precisa ser copiado. Fizemos muitíssimo bem em trazer o Halloween para nossas crianças. Como disse o Magalhães, o que vem de lá só faz bem ao Brasil!

Aos integrantes do povo a espernear em frente às embaixadas não ocorre o porquê de não se poder ir às compras em Me Ame, se os gringos da bunda branca são tão apaixonados por dinheiro quanto peru é apaixonado por caviar. Entre esta disposição de compradores para comprar, e da indisposição de vendedores para vender permeia uma realidade imperceptível para quem está sob o efeito da euforia do “ir às compras” exigido pela televisão. Não é nem de longe a falta de vontade de vender, é que a presença dos brasileiros é indesejada em qualquer lugar onde as pessoas tenham um mínimo de noção de dignidade, coisa que passa a anos luz da cabeça de um povo que bajula quem os discrimina. Até roupa feita com o lixo dos gringos de bunda alvejada os brasileiros ostentam com orgulho. Se veio de lá é porque é bom, garantem.

Está faltando um susto no povo que o ajude a despertar do torpor mental em que se encontra. Uma das maravilhas da internete é poder ver o filme denominado O Vento Será tua herança, sobre uma história ocorrida nos Estados Unidos nos anos vinte do século passado, quando um jovem professor foi julgado pelo crime de ter se referido a seus alunos sobre a teoria da evolução. É uma verdadeira maravilha o diálogo entre o fanatismo religioso capaz de considerar crime grave o fato de se falar sobre o que pensava o Charles Darwin e o advogado encarregado de defender o professor considerado criminoso. É absolutamente certo que a ninguém do povo o filme despertaria atenção porque não se trata de socos e tiros, mas sim de um diálogo inteligente que faz pensar. Como o povo não pensa, achará uma grande prosa. Mas aquelas pessoas que pensam, e conheço pelo menos um jovem capaz dessa façanha, só vale a pena ouvir e analisar os diálogos. Apesar de ficar demonstrado que a ciência levou a melhor, a força da religiosidade americana fez com que o filme mostrasse seu poder através da cena final em que o advogado vitorioso e ímpio leva a bíblia consigo. Percebe-se este intuito no fato de ter o referido advogado demonstrado grande conhecimento sobre a bíblia, razão pela qual não lhe podia despertar nenhum interesse o exemplar da bíblia que ele levou consigo. Qualquer pessoa medianamente esclarecida só encontra bobagens na bíblia além de muito sangue e matança até de filhotes de gente e de animais. Cordeirinhos, crianças, pombos, novilhos, nada escapava da fúria existente nas páginas da bíblia, assunto que pretendo arengar na próxima arenga.

Ainda sobre o filme, visto pelos olhos de quem se interessa pelo futuro das criancinhas rechonchudas mostra quanto lento é o avanço do povo no afastamento da ignorância da realidade da vida. Mostra também que a convicção da existência de Deus leva pessoas aparentemente ponderadas a sair do estado normal para um estado anormal de ódio à simples sugestão de outra explicação para a existência das coisas. Isto fica maravilhosamente demonstrado no filme e é por isso que vale a pena assistir e refletir sobre quem está mais de acordo com a lógica da qual não devemos nos afastar sob pena de se viver iludido como se vive.

A dificuldade para conseguir viver fora do mundo perigoso das ilusões está na facilidade com que o povo é conduzido numa obediência cega da qual resulta um eficientíssimo bloqueio às idéias novas. Sempre houve e sempre haverá mártires por ter percebido uma realidade ainda não percebida pelos demais membros do grupo. É realmente perigosa a situação de quem apresenta alguma novidade que descobriu, mas ignorada pelos demais. Mudar de um hábito a que se está acostumado para outro      que ainda não se conhece sempre foi motivo de resistência. Isto, infelizmente, acompanha a humanidade desde sempre. Entretanto, comportamento adequado seria examinar imparcialmente a novidade. Também este comportamento é explicado pela morosidade com que o povo assimila algum aprendizado capaz de lhe ministrar um ainda que parco esclarecimento. Se há cinco séculos não sabíamos ler, hoje pode o povo se pavonear de ter sido chamado pela professora para ir ao quadro negro (no meu tempo era assim que se chamava) e escrever a palavra “SENSO”. Levantou-se o povo de sua carteira, pegou o giz e escreveu: “CENÇO”. Já ia voltando para seu lugar quando a professora disse que estava errado. Sem pestanejar, o povo voltou ao quadro e tascou uma cedilha também no primeiro “C”, mudando a palavra “SENSO” para “ÇENÇO”. Cala-te boca porque você tem telhado de vidro. Precisei olhar no dicionário para ver como se escrevia. Outra coisa que precisa ser mudada nesse país desorientado é a grafia embaraçosa das palavras. Alguém é capaz de encontrar alguma diferença entre o som do “CHI” de “CHIQUEIRO” e o som do “XI” de “XÍCARA”?  Ou entre o “ZE” de DEZEMBRO” e o “ZE” de “DESENHO”?

Tudo decorre do vagar com que caminha a mente do povo porque as normas em torno das quais gira a sociedade são estabelecidas por pessoas escolhidas pelo povo com sua mentalidade lá no tempo do julgamento do professor que virou criminoso por ter falado na sala de aula sobre as idéias de um cientista. O que esperar de uma administração executada por pessoas escolhidas segundo a vontade da parcela da população de menor lucidez e discernimento? Não pode ser outra coisa senão uma sociedade onde apesar de viverem polícia e bandidos se matando ferozmente numa guerra fratricida, vive a censurar guerras lá de longe. Tá ou não tá na hora de dar uma sacudidela no povo? Inté.

  

 

 

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

ARENGA QUARENTA E DOIS


Voltam à mente com frequência as palavras exageradamente elogiosas daquele jovem que me dizia servir de paradigma para sua vida. Percebe-se a sinceridade com que o jovem se expressa, o que me deixa ainda mais convicto e corajoso para escrever errado alertando a quantos tomem conhecimento dos meus erros por escrever sem ser escritor, uma vez que para ser escritor precisa ter imaginação como o meu amigo ensaísta Edmilson Movér. Em relação à possibilidade de faltar água em São Paulo, ele imagina a seguinte situação: os ricos vão para outros lugares luxuosos, deixando seus luxuosos apartamentos aos cuidados de vigias pobres que chamarão outros pobres para roubá-los. E vai mais longe a imaginação do escritor e ensaísta: Vai acontecer também que as privadas ficarão tão cheias que ficará impossível respirar e as doenças vão fazer uma festa ainda maior que a da copa.

Imaginação eu não tenho. A bem da verdade, nem mesmo preciso dela porque eu não escrevo. Apenas descrevo o que vejo, e o que vejo é um aglomerado de seres não pensantes e tão obedientes que não medem as consequências dos atos que praticam exatamente por não poder pensar sobre suas consequências. Alertei uma jovem que abastecia um carro sob forte cheiro do gás saído da própria gasolina, dizendo-lhe das possíveis consequências daquela prática, mas ela me respondeu que já estava acostumada. Esse é o retrato do povo. Quando eu ajudava meu pai no serviço de tocá gado, ao precisar fazer o gado tocado mudar de direção, eu apertava os calcanhares na barriga do meu arisco cavalo, frouxava a rédea e avançava deixando para trás todo o rebanho. Na frente, se eu dissesse em tom normal de voz para que o rebanho seguisse em determinada direção, os animais simplesmente ignorariam. Era esse o motivo pelo qual eu fazia barulho batendo com o chicote na capa da sela e falando aos animais com aboio a direção a seguir. Esta mesma forma de indicar a direção a seguir. É também por meio de barulho que o povo é convencido a comprar nessa ou naquela loja o aparelho mais novo para futucar.  Portanto, a única diferença entre a obediência do gado e a do povo é que lá na fazenda era eu que orientava, enquanto nas cidades do meu belo país de triste sorte é a televisão que o faz, e com um poder de mando infinitamente maior. O poder da televisão submete as pessoas com tamanho poder que elas perdem a dignidade e adotam comportamento de idiota depois de ter sido submetido ao ridículo por algum programa também idiota de televisão.

Não há como deixar de ser solidário com o resgate dos jovens desta triste situação de pobreza espiritual. Neste afã não me incomodo de escrever errado. Na realidade, escrever errado é melhor e mais fácil que escrever certo. Estou vendo aqui na revistinha Pegadinhas da Língua Portuguesa, da Case Editorial, dizendo estar errado escrever ter feito alguma coisa debaixo de chuva por ser desnecessário o esclarecimento uma vez que não se pode fazer nada em cima da chuva. Considero tudo isso uma frescura e muita confusão. Escrevo que faço algo debaixo de chuva porque além de se poder realmente fazer algo com a chuva caindo na cabeça, os pilotos fazem muita coisa em cima da chuva. Tem presidente da república pelaí que faz coisas ainda melhores que as coisas que os pilotos fazem com a chuva lá embaixo.

Desse modo, mesmo estropiadamente, mando bala no escrevinhamento para alertar meus irmãos seres humanos da necessidade de parar a bobagem que estão fazendo ao seguir por um caminho cada vez mais desgraçado e nem pensar sobre quais serão as próximas desgraças que terão de curtir. Do modo como estão sendo tratados os jovens, pode-se ter certeza de serem tenebrosas as perspectivas do futuro para as criançadinhas rechonchudas criadas sem orientação e obrigadas a tomar conhecimento por sua própria conta do fato de se estar vivendo a ilusão de uma felicidade que na realidade não existe por ter como suporte o acúmulo de riqueza. Ninguém tinha mais eficiente meio de fazer riqueza do que o infeliz Rei Midas. As crianças só podem se tornar adultos com atitudes de quem pensa se forem orientadas desde pequenas nesse sentido. Ao inocular em seus filhos a cultura da necessidade de ser rico, os jovens estão fazendo mal maior a seus filhos do que abandoná-los expostos à influência maligna da televisão e dos “famosos” e “celebridades” aculturados. Deste abandono resulta que a juventude se torna incapaz de perceber as coisas apenas alguns centímetros acima do nível rasteiro da mediocridade mental de tais “famosos” e “celebridades”. Como quem não é capaz de fazer um “O” com um copo não tem competência para formar uma sociedade sem carros de som estourando o juízo de quem pensa, sem o estrondo de bombas que ensurdecem não só aquele que a detona, mas também quem pensa. O que as crianças aprendem é o que as coloca na situação de gado ou de cidadão.

É um crime de extrema crueldade usar da inexperiência dos jovens para conduzi-los à religiosidade, à fome de riqueza e à indiferença quanto ao destino do dinheiro público porque é dele que depende a paz social, individual e espiritual contidas num ambiente onde os males se reduzam aos inevitáveis, e a proteção contra eles seja eficiente a abrangente a todos sem distinção nem mesmo por idade.

Outro fato que se relaciona negativamente com o futuro das atuais criancinhas rechonchudas foi o dizer do governador de São Paulo sobre faltar guilhotina se o povo souber o que rola de malandragem pelaí. É preciso evitar essa praga de guilhotina para quando as criancinhas rechonchudas de hoje estiverem na posição de administradores do dinheiro público e dele lançarem mão levados pela cultura de rato herdada de seus pais. Embora o adulto do futuro nada tenha a ver com a criancinha rechonchuda de hoje, em nome desta, entretanto, vale a pena querer evitar guilhotina para o adulto que ela vai vir a ser.

Também sintomático de maus prenúncios para o futuro é a falta de uma liderança que oriente com sabedoria a juventude. A emocionante declaração do jovem Rogar Pensador de se espelhar na minha personalidade demonstra a existência de um mundo de falsidade desonra porque a única coisa que tenho é honradez e a sinceridade de fazer ver aos jovens a necessidade de se mirar em figuras mais espiritualmente ilustres do que os “famosos” e as “celebridades” por se tratar de companhias inúteis e mesmo prejudiciais ao conhecimento de cidadania. Pessoas movidas a dinheiro só servem para liderar quadrilhas de bandidos.

Os jovens são massacrados de todo jeito. Os que vão à escola recebem apenas instruções técnicas com a finalidade de ajudar os ricos a se tornarem mais ricos de dinheiro e mais pobres de espiritualidade. Tão pobres que se tornaram imunes ao sentimento humanitário. Encaram os jovens como material humano a ser usado na construção de suas riquezas sem nem ligar para as palavras do governador de São Paulo sobre um instrumento que causa arrepio chamado guilhotina. Inté.