Muitas são
as consequências negativas da regressão espiritual crescente e a olhos vistos a
que estamos submetidos. Quando eu era garoto não havia garotos assassinos, mas
hoje há. Esta involução também pode ser notada no crescimento da violência e da
degradação moral preocupante que inverteu o sentido do positivo e do negativo do
ponto de vista dos valores humanos. Todos veem e não se ligam na decadência
inevitável de uma sociedade que leva professores à pobreza e iletrados promotores
de brincadeiras à riqueza. Estas pobres criancinhas rechonchudas despejadas aos
montes nas maternidades terão um futuro desgraçado e seus pais não sabem disso
e nem querem saber. A família que vê na televisão esses comentaristas de horror
acredita estar a salvo dos horrores por eles comentados sem lhes ocorrer que um
dia ela chegará até a sala onde estava a televisão. Em um dos muitos comentários,
sem que nem os ouvintes nem o comentarista tivessem percepção das consequências
dos comportamentos sobre os quais comentava o comentarista de horror, narrava
uma situação em que um garoto criminoso foi preso e declarou à polícia ser irmão
de outro criminoso conhecido pela grande perigosidade que oferece à sociedade.
Este fato,
embora insignificante para os frequentadores de igreja, axé e futebola, indica
graves consequências que já se fazem sentir pela violência desenfreada. Esta
história de jovens encarando o crime como motivo de tanto orgulho a ponto de
servir de carta de recomendação positiva, é algo de arrepiar os cabelos
coloridos. O alcance negativo disso vai além da existência de um garoto
criminoso e é realmente incompreensível como ninguém se preocupa com este fato
estarrecedor de ter a inversão de valores chegado ao cúmulo de estarem os
jovens convencidos de que ser criminoso é motivo de orgulho e de recomendação. Qual
será o futuro de uma sociedade formada em sua maioria por quem se orgulha de
ser criminoso?
E não é
menos preocupante a segunda parte da história. Na sequência do seu comentário,
sem nada saber o que há por trás daquilo tudo, dizia o comentarista de horror
não fazer sentido o garoto se apresentar como irmão de outro bandido. Se, por
acaso, o garoto fosse irmão de um jogador de futebola famoso, aí, sim, –
continuava o comentarista de horror – fazia sentido. E cá estamos outra vez nas
garras da inversão de valores cujo resultado é uma sociedade esculhambada como
a nossa que nem sequer tem capacidade de distinguir quem realmente tem
capacidade de contribuir para o desenvolvimento espiritual que orienta toda
sociedade que realmente cumpre o papel de sociedade. Isto é: convivência
pacífica entre seus membros.
Na história
comentada estão os ingredientes apropriados para uma sopa de tudo que é ruim e
que nos é servida cotidianamente, haja vista o chororô no corredor do hospital.
É uma situação inacreditavelmente perigosa
a que estamos vivendo. Estes pobres garotos abandonados pela indiferença de
quem faz orações virão a ser inimigos terríveis da sociedade e não há oração
capaz de prevenir o desfecho desta situação explosiva. Seria de provocar reuniões
de amanhecer o dia em ministérios não só o fato de um garoto pensar que banditismo
serve de carta de recomendação, mas também o fato de se considerar importante
um jogador de futebola. Se for perguntado a qualquer um desses comentaristas de
horror que acreditam haver importância num jogador de futebola qual o lugar mais
indicado em todo o mundo onde as pessoas possam desfrutar da felicidade só
encontrada na paz de um ambiente de alta espiritualidade, a resposta automática
de robô será evidentemente a igreja. Entretanto, a violência e a infelicidade
crescem no mesmo ritmo frenético em que também cresce a quantidade de igrejas e
religiosidade, como se pode ver. É só tirar os olhos do telefone e olhar em
volta que se verá até pedaços de corpo humano arrancados pela violência.
Estamos
caminhando por caminhos pantanosos e as futuras gerações irão sofrer as
consequências de não prestarem seus pais atenção ao que disse o governador de
São Paulo sobre guilhotina.
A falsa
esperteza dos governantes em manter o povo longe das decisões políticas, o que
lhes deixa à vontade para decidir soberanamente sobre o destino da riqueza
pública, acabará não dando certo porque muitas pessoas estão ficando bastante
esclarecidas para compreender certas coisas que antes eram despercebidas, razão
pela qual seria mais conveniente que os governantes modernos usassem bem estes
recursos por não se justificar a vida faustosa dos palácios contrastando com a
pobreza das favelas. Não é mais possível a desfaçatez de quem promove tanto sofrimento
se apresentar em orações em solenidade de inauguração de templo religioso. Observar
estas coisas tanto faz bem ao povo quanto às autoridades. Custa nada seguir a
orientação do Mestre do Saber Thomas Paine quando nos lembra o fato evidente de
ser a segurança o verdadeiro propósito e o fim objetivado pelo governante,
decorrendo daí que o melhor governante seria aquele que proporcionasse maior
segurança com menor custo. Isto está na página 28 do livro Senso Comum, e é do
que carece o mundo em lugar de ilusões fantasiosas de consumo desmedido, Papai
Noel, esperança em que os pedidos do papa resultem em paz. Pode-se ter uma
idéia da situação em que se encontra nossa sociedade pedindo ao amigão Google
para deixar dar uma olhada no seguinte assunto: “helicoca – o helicóptero de 50
milhões de reais”. A matéria contida naquela reportagem chega a fazer crer não
haver solução para a cultura da safadeza inata dos brasileiros, mas não é assim
que há de ser.
Novos
tempos requerem novos hábitos. Mais cedo ou mais tarde a sociedade humana vai
passar da irracionalidade do anti-social para a sociabilidade. Se o
desenvolvimento já foi citado como as ondas do mar, que sobem até certo ponto
para depois descer ao nível do resto da água, sendo assim, o desenvolvimento da
cultura do antagonismo social certamente atingiu seu ponto máximo nesse momento
de total inversão de valores mostrada na matéria citada no Google e vai
regredir para dar lugar à amistosidade, único meio de se viver bem, e viver bem
é que está certo. Viver com medo de tudo está errado, e muito. Inté.
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