quarta-feira, 27 de agosto de 2014

ARENGA QUARENTA E SETE


Muitas são as consequências negativas da regressão espiritual crescente e a olhos vistos a que estamos submetidos. Quando eu era garoto não havia garotos assassinos, mas hoje há. Esta involução também pode ser notada no crescimento da violência e da degradação moral preocupante que inverteu o sentido do positivo e do negativo do ponto de vista dos valores humanos. Todos veem e não se ligam na decadência inevitável de uma sociedade que leva professores à pobreza e iletrados promotores de brincadeiras à riqueza. Estas pobres criancinhas rechonchudas despejadas aos montes nas maternidades terão um futuro desgraçado e seus pais não sabem disso e nem querem saber. A família que vê na televisão esses comentaristas de horror acredita estar a salvo dos horrores por eles comentados sem lhes ocorrer que um dia ela chegará até a sala onde estava a televisão. Em um dos muitos comentários, sem que nem os ouvintes nem o comentarista tivessem percepção das consequências dos comportamentos sobre os quais comentava o comentarista de horror, narrava uma situação em que um garoto criminoso foi preso e declarou à polícia ser irmão de outro criminoso conhecido pela grande perigosidade que oferece à sociedade.

Este fato, embora insignificante para os frequentadores de igreja, axé e futebola, indica graves consequências que já se fazem sentir pela violência desenfreada. Esta história de jovens encarando o crime como motivo de tanto orgulho a ponto de servir de carta de recomendação positiva, é algo de arrepiar os cabelos coloridos. O alcance negativo disso vai além da existência de um garoto criminoso e é realmente incompreensível como ninguém se preocupa com este fato estarrecedor de ter a inversão de valores chegado ao cúmulo de estarem os jovens convencidos de que ser criminoso é motivo de orgulho e de recomendação. Qual será o futuro de uma sociedade formada em sua maioria por quem se orgulha de ser criminoso?

E não é menos preocupante a segunda parte da história. Na sequência do seu comentário, sem nada saber o que há por trás daquilo tudo, dizia o comentarista de horror não fazer sentido o garoto se apresentar como irmão de outro bandido. Se, por acaso, o garoto fosse irmão de um jogador de futebola famoso, aí, sim, – continuava o comentarista de horror – fazia sentido. E cá estamos outra vez nas garras da inversão de valores cujo resultado é uma sociedade esculhambada como a nossa que nem sequer tem capacidade de distinguir quem realmente tem capacidade de contribuir para o desenvolvimento espiritual que orienta toda sociedade que realmente cumpre o papel de sociedade. Isto é: convivência pacífica entre seus membros.

Na história comentada estão os ingredientes apropriados para uma sopa de tudo que é ruim e que nos é servida cotidianamente, haja vista o chororô no corredor do hospital.  É uma situação inacreditavelmente perigosa a que estamos vivendo. Estes pobres garotos abandonados pela indiferença de quem faz orações virão a ser inimigos terríveis da sociedade e não há oração capaz de prevenir o desfecho desta situação explosiva. Seria de provocar reuniões de amanhecer o dia em ministérios não só o fato de um garoto pensar que banditismo serve de carta de recomendação, mas também o fato de se considerar importante um jogador de futebola. Se for perguntado a qualquer um desses comentaristas de horror que acreditam haver importância num jogador de futebola qual o lugar mais indicado em todo o mundo onde as pessoas possam desfrutar da felicidade só encontrada na paz de um ambiente de alta espiritualidade, a resposta automática de robô será evidentemente a igreja. Entretanto, a violência e a infelicidade crescem no mesmo ritmo frenético em que também cresce a quantidade de igrejas e religiosidade, como se pode ver. É só tirar os olhos do telefone e olhar em volta que se verá até pedaços de corpo humano arrancados pela violência.

Estamos caminhando por caminhos pantanosos e as futuras gerações irão sofrer as consequências de não prestarem seus pais atenção ao que disse o governador de São Paulo sobre guilhotina.

A falsa esperteza dos governantes em manter o povo longe das decisões políticas, o que lhes deixa à vontade para decidir soberanamente sobre o destino da riqueza pública, acabará não dando certo porque muitas pessoas estão ficando bastante esclarecidas para compreender certas coisas que antes eram despercebidas, razão pela qual seria mais conveniente que os governantes modernos usassem bem estes recursos por não se justificar a vida faustosa dos palácios contrastando com a pobreza das favelas. Não é mais possível a desfaçatez de quem promove tanto sofrimento se apresentar em orações em solenidade de inauguração de templo religioso. Observar estas coisas tanto faz bem ao povo quanto às autoridades. Custa nada seguir a orientação do Mestre do Saber Thomas Paine quando nos lembra o fato evidente de ser a segurança o verdadeiro propósito e o fim objetivado pelo governante, decorrendo daí que o melhor governante seria aquele que proporcionasse maior segurança com menor custo. Isto está na página 28 do livro Senso Comum, e é do que carece o mundo em lugar de ilusões fantasiosas de consumo desmedido, Papai Noel, esperança em que os pedidos do papa resultem em paz. Pode-se ter uma idéia da situação em que se encontra nossa sociedade pedindo ao amigão Google para deixar dar uma olhada no seguinte assunto: “helicoca – o helicóptero de 50 milhões de reais”. A matéria contida naquela reportagem chega a fazer crer não haver solução para a cultura da safadeza inata dos brasileiros, mas não é assim que há de ser.

Novos tempos requerem novos hábitos. Mais cedo ou mais tarde a sociedade humana vai passar da irracionalidade do anti-social para a sociabilidade. Se o desenvolvimento já foi citado como as ondas do mar, que sobem até certo ponto para depois descer ao nível do resto da água, sendo assim, o desenvolvimento da cultura do antagonismo social certamente atingiu seu ponto máximo nesse momento de total inversão de valores mostrada na matéria citada no Google e vai regredir para dar lugar à amistosidade, único meio de se viver bem, e viver bem é que está certo. Viver com medo de tudo está errado, e muito. Inté.

 

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