sexta-feira, 1 de agosto de 2014

ARENGA QUARENTA E DOIS


Voltam à mente com frequência as palavras exageradamente elogiosas daquele jovem que me dizia servir de paradigma para sua vida. Percebe-se a sinceridade com que o jovem se expressa, o que me deixa ainda mais convicto e corajoso para escrever errado alertando a quantos tomem conhecimento dos meus erros por escrever sem ser escritor, uma vez que para ser escritor precisa ter imaginação como o meu amigo ensaísta Edmilson Movér. Em relação à possibilidade de faltar água em São Paulo, ele imagina a seguinte situação: os ricos vão para outros lugares luxuosos, deixando seus luxuosos apartamentos aos cuidados de vigias pobres que chamarão outros pobres para roubá-los. E vai mais longe a imaginação do escritor e ensaísta: Vai acontecer também que as privadas ficarão tão cheias que ficará impossível respirar e as doenças vão fazer uma festa ainda maior que a da copa.

Imaginação eu não tenho. A bem da verdade, nem mesmo preciso dela porque eu não escrevo. Apenas descrevo o que vejo, e o que vejo é um aglomerado de seres não pensantes e tão obedientes que não medem as consequências dos atos que praticam exatamente por não poder pensar sobre suas consequências. Alertei uma jovem que abastecia um carro sob forte cheiro do gás saído da própria gasolina, dizendo-lhe das possíveis consequências daquela prática, mas ela me respondeu que já estava acostumada. Esse é o retrato do povo. Quando eu ajudava meu pai no serviço de tocá gado, ao precisar fazer o gado tocado mudar de direção, eu apertava os calcanhares na barriga do meu arisco cavalo, frouxava a rédea e avançava deixando para trás todo o rebanho. Na frente, se eu dissesse em tom normal de voz para que o rebanho seguisse em determinada direção, os animais simplesmente ignorariam. Era esse o motivo pelo qual eu fazia barulho batendo com o chicote na capa da sela e falando aos animais com aboio a direção a seguir. Esta mesma forma de indicar a direção a seguir. É também por meio de barulho que o povo é convencido a comprar nessa ou naquela loja o aparelho mais novo para futucar.  Portanto, a única diferença entre a obediência do gado e a do povo é que lá na fazenda era eu que orientava, enquanto nas cidades do meu belo país de triste sorte é a televisão que o faz, e com um poder de mando infinitamente maior. O poder da televisão submete as pessoas com tamanho poder que elas perdem a dignidade e adotam comportamento de idiota depois de ter sido submetido ao ridículo por algum programa também idiota de televisão.

Não há como deixar de ser solidário com o resgate dos jovens desta triste situação de pobreza espiritual. Neste afã não me incomodo de escrever errado. Na realidade, escrever errado é melhor e mais fácil que escrever certo. Estou vendo aqui na revistinha Pegadinhas da Língua Portuguesa, da Case Editorial, dizendo estar errado escrever ter feito alguma coisa debaixo de chuva por ser desnecessário o esclarecimento uma vez que não se pode fazer nada em cima da chuva. Considero tudo isso uma frescura e muita confusão. Escrevo que faço algo debaixo de chuva porque além de se poder realmente fazer algo com a chuva caindo na cabeça, os pilotos fazem muita coisa em cima da chuva. Tem presidente da república pelaí que faz coisas ainda melhores que as coisas que os pilotos fazem com a chuva lá embaixo.

Desse modo, mesmo estropiadamente, mando bala no escrevinhamento para alertar meus irmãos seres humanos da necessidade de parar a bobagem que estão fazendo ao seguir por um caminho cada vez mais desgraçado e nem pensar sobre quais serão as próximas desgraças que terão de curtir. Do modo como estão sendo tratados os jovens, pode-se ter certeza de serem tenebrosas as perspectivas do futuro para as criançadinhas rechonchudas criadas sem orientação e obrigadas a tomar conhecimento por sua própria conta do fato de se estar vivendo a ilusão de uma felicidade que na realidade não existe por ter como suporte o acúmulo de riqueza. Ninguém tinha mais eficiente meio de fazer riqueza do que o infeliz Rei Midas. As crianças só podem se tornar adultos com atitudes de quem pensa se forem orientadas desde pequenas nesse sentido. Ao inocular em seus filhos a cultura da necessidade de ser rico, os jovens estão fazendo mal maior a seus filhos do que abandoná-los expostos à influência maligna da televisão e dos “famosos” e “celebridades” aculturados. Deste abandono resulta que a juventude se torna incapaz de perceber as coisas apenas alguns centímetros acima do nível rasteiro da mediocridade mental de tais “famosos” e “celebridades”. Como quem não é capaz de fazer um “O” com um copo não tem competência para formar uma sociedade sem carros de som estourando o juízo de quem pensa, sem o estrondo de bombas que ensurdecem não só aquele que a detona, mas também quem pensa. O que as crianças aprendem é o que as coloca na situação de gado ou de cidadão.

É um crime de extrema crueldade usar da inexperiência dos jovens para conduzi-los à religiosidade, à fome de riqueza e à indiferença quanto ao destino do dinheiro público porque é dele que depende a paz social, individual e espiritual contidas num ambiente onde os males se reduzam aos inevitáveis, e a proteção contra eles seja eficiente a abrangente a todos sem distinção nem mesmo por idade.

Outro fato que se relaciona negativamente com o futuro das atuais criancinhas rechonchudas foi o dizer do governador de São Paulo sobre faltar guilhotina se o povo souber o que rola de malandragem pelaí. É preciso evitar essa praga de guilhotina para quando as criancinhas rechonchudas de hoje estiverem na posição de administradores do dinheiro público e dele lançarem mão levados pela cultura de rato herdada de seus pais. Embora o adulto do futuro nada tenha a ver com a criancinha rechonchuda de hoje, em nome desta, entretanto, vale a pena querer evitar guilhotina para o adulto que ela vai vir a ser.

Também sintomático de maus prenúncios para o futuro é a falta de uma liderança que oriente com sabedoria a juventude. A emocionante declaração do jovem Rogar Pensador de se espelhar na minha personalidade demonstra a existência de um mundo de falsidade desonra porque a única coisa que tenho é honradez e a sinceridade de fazer ver aos jovens a necessidade de se mirar em figuras mais espiritualmente ilustres do que os “famosos” e as “celebridades” por se tratar de companhias inúteis e mesmo prejudiciais ao conhecimento de cidadania. Pessoas movidas a dinheiro só servem para liderar quadrilhas de bandidos.

Os jovens são massacrados de todo jeito. Os que vão à escola recebem apenas instruções técnicas com a finalidade de ajudar os ricos a se tornarem mais ricos de dinheiro e mais pobres de espiritualidade. Tão pobres que se tornaram imunes ao sentimento humanitário. Encaram os jovens como material humano a ser usado na construção de suas riquezas sem nem ligar para as palavras do governador de São Paulo sobre um instrumento que causa arrepio chamado guilhotina. Inté.

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