A juventude
gosta tanto de ler que aprecia até as bobagens que escrevo como se pode ver da
participação neste blog. Ele existe há anos e até agora apenas dois ou três
amigos se manifestaram por consideração. Entretanto, como creio ser obrigação
de quem tem experiência passar um pouco dela para quem não tem, estou de volta
no cumprimento do dever de tentar mostrar aos jovens um pouco da realidade da
vida, e ela consiste no fato de estar a juventude condenada pelos seus líderes a
um sistema educacional deficiente. Na revista Caros Amigos n. 186/2012, o
filósofo Vladimir Safatle diz não haver um projeto do governo que em 50 anos
transforme o ensino fundamental e médio em ensino público de qualidade. Tal
afirmação tem sua veracidade constatada na declaração do Ministro da Fazenda de
que se for empregado o montante de dez por cento do PIB na educação quebra o
País.
Fazer o quê, se
não tem dinheiro para um sistema educacional eficiente? O jeito é continuar com
o atual sistema que forma profissionais incapazes do exercício da profissão?
Estão sendo autorizados a prestar serviço à população advogados que não sabem
redigir uma petição com precisão, médicos que não sabem diagnosticar a doença
do doente, engenheiros que constroem apartamentos em que a água do banho fica
empossada ao lado oposta do ralo e causa infiltração para o apartamento de
baixo. Enfim, uma educação que forma técnicos tão incapazes em suas
especialidades que é preciso trazer de fora quem faça o que os daqui são sabem
fazer. Este será o destino dos jovens brasileiros enquanto durar a indiferença para
com estes assuntos.
Até mesmo um
jovem inexperiente ao encomendar um trabalho ao serralheiro, pedreiro,
engraxate, carpinteiro, contador, médico ou advogado, espera um trabalho bem
feito. Entretanto, quando se trata do trabalho da administração pública, as
pessoas agem como se elas nada tivessem a ver com o seu resultado. Quando muito
lamentam. Porém, exigir qualidade, não exigem. Nem mesmo sabem que podem
fazê-lo. Como disse um pensador, o jovem não sabe o que pode e o velho não pode
o que sabe. Realmente, depois de ter vivido setenta e seis anos, se eu pudesse,
rachava a cabeça da juventude para extirpar a indiferença ante as coisas
importantes para o futuro de seus descendentes.
O motivo pelo
qual a juventude não terá uma educação eficiente não é a falta de dinheiro
porque dinheiro existe aos montes. Lá, nos infernos fiscais, equivocadamente
chamados de paraísos fiscais, estão montanhas de dinheiro daqui; nas festas do
futebola, do axé e da queima de fogos estão montanhas de dinheiro; no luxo dos
palácios e na manutenção da corte das autoridades estão montanhas de dinheiro; no
ispréde bancário estão montanhas de dinheiro; os livros Privataria Tucana, Honoráveis
Bandidos e O Chefe contém cada um deles montanhas de dinheiro; nas
caixas-fortes de imbecis que fazem pose de mais ricos do mundo estão montanhas
de dinheiro livres de imposto. Então, o que acontece para não se ter educação
de qualidade? Acontece uma coisa tão simples como respirar quando se tem saúde,
mas só observável por quem queira observar, o que não é o caso de quem só
observa os lugares onde adquirir droga, onde vai ter uma festa de axé ou de
futebola, onde colocar o som mais volumoso no carro, onde colocar o próximo
espeto, se no nariz, na orelha, ou “nas partes”, onde encontrar a academia de
ginástica ou que incentivador muscular aumenta mais rápido os bíceps, estas são
as preocupações da juventude por orientação do sistema educacional montado
pelas autoridades para evitar que as pessoas pensem em exigir um trabalho de
boa qualidade em troca das montanhas de dinheiro que lhes entregam.
Existe uma
cidade chamada São Paulo, paraíso dos agiotas do mundo que chegam de jatinhos,
vão de helicóptero para algum palácio e faz o mesmo trajeto de volta para seus países
depois de ter armado alguma transa que lhe permitiu engordar a conta bancária.
O povo daquela cidade, entretanto, respira ar empesteado, bebe água imunda,
sofre alagamentos constantes pela invasão das águas de chuva que não tem como
infiltrar no solo porque o asfalto não deixa. O sufoco é tão grande que os moradores
de lá chegam a morrer nas estradas fugindo a cada feriado comprido.
Entretanto, afirmam todos ser uma bela cidade.
O motivo que
leva à crença de se tratar de uma bela cidade é o mesmo motivo que leva à
crença de se ter de conviver com um sistema educacional esfarrapado, com os
professores precisando correr atrás do sustento em outras atividades. A título
de manter um sistema esfarrapado de educação, a Academia Brasileira de Letras
homenageou um iletrado jogador de futebola. Até se fala em educação pelo
esporte. Só não se fala em educação que mostre a necessidade de espiar o que as
autoridades estão fazendo. O esporte incute a deseducação e a formação de
verdadeiros bichos que se engalfinham até a morte pelo resultado de um jogo já
determinado pelos cartolas milionários depois de combinar a propina com o juiz.
Há tanta
verdade na afirmação da inexistência de dinheiro para qualquer coisa, quanto há
verdade na afirmação do governador da cidade de São Paulo, que é o único paraíso
onde balas perdidas fazem zumbido constante, quando disse ao povo que a
segurança de seus moradores depende da manutenção de um constante estado de
guerra. Tal afirmação tem sentido oposto àquele afirmado pelo governador, contando com a indiferença dos jovens do nariz atravessado por espeto. Então, vai-se
transformar o paraíso em campo de guerra? E ninguém contesta? Não apareceu
nenhum jovem para dizer ao governador que sua excelência está equivocado. Há
cidades onde não existe um estado de guerra e as pessoas vivem em paz.
Mas, para evitar a contestação a que levaria o esclarecimento oriundo de uma boa educação, alega-se impunemente não poder gastar dez por cento do PIB para educar a juventude, mas pode gastar trinta e cinco por cento dele para pagar juros a agiotas sem pátria, conforme noticia a imprensa.
Mas, para evitar a contestação a que levaria o esclarecimento oriundo de uma boa educação, alega-se impunemente não poder gastar dez por cento do PIB para educar a juventude, mas pode gastar trinta e cinco por cento dele para pagar juros a agiotas sem pátria, conforme noticia a imprensa.
Como ninguém se
dispõe a checar tal informação, fica sendo verdade a mentira. A turma que
exerce o papel de autoridades faz da juventude peteca. O governo alardeia como
grande feito seu um desmando tão grande que resulta em sacrifício para a
juventude indiferente ao lugar onde vai dar o caminho por onde caminha. O
alarde é sobre empréstimo para que jovens pobres possam estudar. Isto é um
verdadeiro descalabro. Se a Constituição Federal garante educação em troca dos
impostos que todos pagam ao governo, não há necessidade de se pagar outra vez.
Entretanto, com a anulação da capacidade de pensar e o acomodamento com tudo
que lhe é imposto, o jovem aceita esse absurdo de começar sua vida profissional
com uma dívida inexistente diante do que diz a Lei Maior tão invocada pelos
politiqueiros como merecedora de respeito. O processo de anular o efeito da
educação funciona tanto que durante a bienal do livro lá na cidade do ar
envenenado e do constante estado de guerra, os jovens deixaram de lado os
escritores e se aglomeraram em volta de um iletrado jogador de futebola. A cuca da juventude ainda se encontra à altura dos pés. Tá
faltando cuca prá pensar.