domingo, 28 de outubro de 2018

ARENGA 513


Nossa Cidade de Vitória da Conquista é um exemplo do que acontece com o mundo. Aqui a vida fica mais desagradável a cada dia. Para quem adquiriu um mínimo de refinamento espiritual, em termos de qualidade de vida, o progresso, na verdade, está mais para regresso em função da diminuição drástica da possibilidade de se encontrar um ambiente agradável em função da necessidade que tem o vulgo de acumular dinheiro. Das atividades voltadas à produção de dinheiro decorre tamanha barulheira que não permite a paz necessária a quem quer ler, escrever, curtir algum mal-estar ou dormir quando o sono é leve. Aqui entre nós, requebramentos de quadris no axé ou cerimônias religiosas no Parque Teopompo de Almeida causam irritação em quem precisa de sossego. Motocicletas baratas completam o desassossego fazendo barulho ensurdecedor mesmo na madrugada. Em viagem pela Rio Bahia, dirigi para o acostamento a fim de deixar passar seis motos Harley Davidson, verdadeiras máquinas. Silenciosas, não obstante o porte majestoso. Aqui em nossa Vitória da Conquista, espeluncas fazem um barulho suportável apenas para quem não superou ainda a fase bruta de povo e que por isto mesmo não sabe que segundo declaração da ONU até envelhecimento precoce e impotência sexual decorrem da poluição sonora. Mas não fica por aí. Carros expelem nuvens de fumaça preta altamente tóxicas, o que também é proibido pela legislação. Estas coisas levam à seguinte conclusão: Se comportamentos reprimidos pela lei são aceitos com naturalidade, para que, então, servem as autoridades senão como um faz de conta muito caro para a sociedade? Ante tal realidade, conclui-se pela necessidade de estar o bom senso a exigir uma forma de administração pública na qual se faz sentir a austeridade da autoridade no sentido de impor a civilidade sem a qual inexiste bem-estar social. Mas a porca torce o rabo porque uma sociedade civilizada não pode ser formada com o povo na condição de analfabetos políticos tão alienados da realidade que ensinam falta de patriotismo aos filhos. É vergonhoso o rebaixamento moral, indecência intelectual, babaovismo, enfim, é simplesmente vergonhoso o comportamento dos brasileiros imitando os americanos com a comemoração do Halloween.

O meditar sobre estas coisas lembra quanta razão tinham os Grandes Mestres do Saber quando afirmaram que a convivência com o povo é tão desagradável quanto uma doença. Realmente, ter o raciocínio perturbado por uma malta de adultos em cânticos e orações tanto é revoltante pelo desassossego quanto pela inutilidade do ritual porque quem tomou conhecimentos da História da Religião aprendeu que a religiosidade é uma grande farsa. E o mal-estar aumenta quando se sabe ser a religiosidade a representação do atraso mental e o maior entreve que impede o desenvolvimento espiritual, anulando o potencial que jaz inerte em cada ser humano, ao torná-lo covarde e submisso à invenção do pecado. Ao contrário de temeroso a deus, o homem precisa se orgulhar e assumir a imponência a que faz justiça por ser o único vivente capaz de raciocinar. Entretanto, em vez de orgulhar-se pela soberbia de ser o único com tal poder, rebaixa-se em se conformar em ser um mero carneiro de Cristo.

Ainda não se chegou à conclusão da nossa irmandade e a estupidez que há em acreditar haver alguma razão para que um ser humano seja inferior a outro. Observando bem, percebe-se a realidade indiscutível de ser maior o sentimento de religiosidade onde também é maior a falta de leitura e, portanto, de esclarecimento. Quanto mais desafortunado e desgraçado, mais pobre diabo, mais afeito à sarjeta, mais deus lhe pague e deus lhe favoreça são falados. É inegável que a religiosidade decresce juntamente com a ignorância. A existência de intelectuais religiosos se explica por dois motivos: Opinião emitida em troca de vantagem ou covardia ante a aproximação da morte, comportamentos orientados por inocência de criança, salvo se estes intelectuais não tomaram conhecimento da trajetória do sentimento de religiosidade através dos tempos, o que é impossível porque se aprenderam sobre todas as outras coisas, não poderiam ter deixado de aprender também sobre a realidade de ser a religiosidade o maior engodo que envolve os seres humanos.

As reformas religiosas visaram tornar menos absurdos os absurdos da religião aos quais ainda se submete a massa bruta de povo porque o esclarecimento que substitui a obscuridade mental, apesar de acontecer inevitavelmente, acontece com demasiada morosidade. Tamanha é esta morosidade que embora o ser humano não mate mais outro ser humano para que o cadáver lhe sirva de alimento, apesar disto, o ser humano continua matando outro ser humano. A diferença, entretanto, de não ser para se alimentar do cadáver indica algum esclarecimento, mas não o necessário.

O esclarecimento é inevitável por força da observação que com o passar do tempo tornou obsoletas não só as facas feitas com lascas de pedras, mas também crenças como as da mitologia e a do Tesouro de Merecimento. Segunda esta última, Cristo e os santos teriam feito tanta coisa boa que de suas ações meritórias resultou um excesso de merecimento que havia uma quantidade tão grande de merecimento no céu que o papa podia lançar mão de porções desse excesso e vender a quem precisasse de merecimento para se apresentar perante deus. Embora a massa bruta de povo nada visse de falso nessa história, pessoas capazes de pensar, entre eles Martinho Lutero e João Calvino, chamaram a atenção dos frequentadores de igreja da época para o ludíbrio de que eram vítimas ao comprar merecimento divino. Se até um Zemané é capaz de ter acesso a tais conhecimentos, não é estranho que intelectuais ainda desconheçam a realidade de ser a religião uma forma de manter o pobre conformado com a pobreza? O homem não deve ser correto por medo de deus. Deve ser correto por ser a única forma de se organizar uma sociedade civilizada. Inté.  

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

AREGA 512


Duas matérias do blog Outras Palavras, uma versando sobre influência dos ricos na política e da necessidade de deter o poder plutocrático no Brasil, e outra versando sobre o crescimento de suicídios também no Brasil, e de ter a vida perdido o sentido, estes dois assuntos, juntamente com uma afirmação do filósofo Michel Foucault no livro Vigiar e Punir motivaram o assunto aqui tratado nesse momento.

Primeiro, vejamos o assunto do livro: O filósofo trata das mudanças ocorridas na forma com que através do Direito Penal a sociedade tem determinado a que tipo de punição deve se submeter quem comete crime. Erudito, o intelectualíssimo doutor Foucault discorre sobre a monstruosidade dos castigos que afligiam indescritíveis sofrimentos ao criminoso em tempos passados. Como a evolução mental ou espiritual, embora demasiadamente lenta, é inevitável, chegou-se à conclusão de que a pena aplicada ao criminoso deve visar concertar sua personalidade socialmente deformada, adaptando-a ao convívio social, em vez de submetê-lo a sofrimento como vingança pelo erro cometido. Muitos pensadores concluíram para tal conclusão, entre eles um nobre, o Marquês de Beccaria, que através do livro Dos Delitos e Das Penas se insurgiu contra a barbaridade dos castigos aplicados, afirmando que aquele tipo de punição era um crime não raro mais bárbaro do que o crime cometido pelo punido. Assim, como é inevitável o avanço rumo à civilização, o Direito Penal já não mais amarra cada membro do criminoso num cavalo e os enxota em direções diferentes, nem abre a barriga do criminoso e rapidamente puxa suas tripas para fora a fim de que antes de morrer ele tivesse tempo de contemplá-las expostas. Na página 15 do citado livro o filósofo atribui tal barbarismo à fraca influência da religião sobre o espírito humano. Pode um grande intelectual ser tão ingênuo?

O professor conquistense Evandro Gomes Brito fez minucioso estudo sobre o Instituto da Inquisição, instituição de cunho religioso cujo objetivo era punir os crimes de heresia, e publicou o resultado do seu trabalho no livro DAS BRASAS DA INQUISIÇÃO AO LEITO DA PEDOFILIA. De acordo com a pesquisa do professor e escritor Evandro Gomes Brito, os suplícios a que eram submetidos pelos inquisidores os suspeitos de heresia eram tão grandes quanto os da barbárie do Direito Penal, até maiores porque matavam judeus ricos para tomar-lhes os bens. Desta forma, só ingenuidade ou o fanatismo religioso justificaria atribuir as barbaridades das penas à falta de religiosidade. É como se o intelectualíssimo Foucault desconhecesse que o barbarismo faz parte da bíblia e que deus mandou aplicar a Pena de Talião, conforme Êxodo, capítulo vinte e um.

O que acontece com a humanidade é ter sido ela reduzida à condição de manada. Como bosta n’água, os seres humanos trilham um destino traçado pelos meios de comunicação. Ouvi um fazendeiro dizer que com a eleição de Bolsonaro vai colocar uma escopeta nas mãos de cada empregado de suas fazendas. Este pobre fazendeiro rico tem na televisão sua única fonte de conhecimento. Ele serve de perfeito exemplo da realidade de ser o pensamento dos seres humanos em geral moldado por um mecanismo denominado por Jânio Quadros de Forças Ocultas. O discernimento sobre sociabilidade, diferentemente das ciências exatas, exige refinamento espiritual capaz de perceber que só a sociabilidade leva a uma sociedade evoluída, realidade muito bem definida pela máxima OU ESTEJAMOS TODOS BEM OU NINGUÉM ESTARÁ BEM.

Um exemplo perfeito do que quero dizer foi dado há pouco quando um papagaio de microfone dizia em determinada rádio que as doenças decorrentes da falta de saneamento básico ocasionam faltas ao trabalho que resultam num prejuízo de milhões de reais à economia. Em termos de sociabilidade, isto é de monumental contrassenso. É como se a saúde da economia fosse mais importante do que a saúde pessoal. Sabendo-se que a economia trabalha para aumentar a riqueza de um por cento da humanidade e a pobreza de noventa e nove por cento dela, não precisa ser inteligente para perceber que isto vai resultar em desastre social. A genialidade de Machado de Assis levou-o a dizer que a economia é filha da avareza.

Este assunto sobre a conclusão do filósofo inocente de ter o barbarismo como causa a falta de religiosidade e os dois outros assuntos tratados nas duas reportagens do blog Outras Palavras mencionadas lá em cima formam um trio harmonioso em perfeita sintonia com a realidade vivida no momento. Ao seguir o caminho determinado pelos meios de comunicação, que leva à conclusão de ser a economia mais importante do que a pessoa, e sendo a finalidade da economia enriquecer cada vez mais os ricos, e sendo que a ninguém é permitido desconhecer que a riqueza confere tanto poder que os nobres foram desbancados pelo poder que a riqueza conferiu aos burgueses, resulta daí ser normal a influência dos ricos sobre a política e, consequentemente, sobre a qualidade de vida uma vez que é a política que a determina, embora os meios de comunicação e a religiosidade digam ao povo que é deus o responsável por ela. Como todo ignorante gosta de se exibir como pavão, e a revista Forbes prova isso, o rico usa seu dinheiro para ficar cada vez mais rico a fim de ter cada vez mais poder. Portanto, é inútil falar-se em deter o poder plutocrático no sistema capitalista porque ele se baseia exatamente no enriquecimento individual.

O terceiro assunto, aquele que trata do crescimento de suicídios, é consequência dos outros dois. Ao seguir a orientação dos meios de comunicação, comportando-se como manada, o ser humano concorda com o progresso material dependente de investimentos, financiamentos e empregos, o que é uma farsa. Um descompasso tão grande que faz a vida perder o sentido, daí os suicídios. É realmente desanimador para um jovem que pensa em vez de futucar telefone ter de enfrentar mil e uma dificuldades, anos e mais anos alisando bancos de escola para conseguir sobreviver através de um emprego enquanto que semianalfabetos, verdadeiras nulidades esbanjam riqueza e viram “famosos” e “celebridades”.

Tomar a cultura do TER como superior à cultura do SER está resultando nos desastres climáticos de consequências inimagináveis para os débeis mentais a que foram reduzidos os jovens em função da futucação de telefone. Inté.







 












segunda-feira, 22 de outubro de 2018

ARENGA 5ll


A união entre a Odisseia de Homero e a antirreligiosidade de Friedrich Wilhelm Nietzsche levou este Grande Mestre do Saber a comparar a religiosidade à feiticeira Circe que segundo consta da Mitologia Grega teria transformado em porcos os companheiros de Ulisses. Nenhum frequentador de igreja, axé e futebola sabe o que é a Odisseia, nem quem são Nietzsche, Homero ou Circe em função da carência de intelectualidade decorrente da ojeriza aos livros. O que quereria dizer Nietzsche quando disse que a religiosidade é a Circe da humanidade? Queria dizer, e disse, que a religiosidade também transforma os seres humanos numa espécie de seres estúpidos.

Estas cogitações me ocorreram neste exato momento quando uma festança religiosa nas imediações me impede de concentrar na leitura do livro DAS BRASAS DA INQUISIÇÃO AO LEITO DA PEDOFILIA, do professor escritor conquistense, para honra dos conquistenses, Evandro Gomes Brito, sobre a monstruosidade da Santa Inquisição. Tomar conhecimento da maldade que infligia sofrimentos inacreditáveis a seres humanos suspeitos de heresia é o bastante para se concluir ser a religiosidade nada mais nem menos do que fruto de monumental estupidez e ignorância absoluta. O professor Evandro fez minuciosa pesquisa e constatou registro de coisas horríveis: uma mulher nua, montada numa peça de madeira de forma que sua vagina e ânus ficavam sobre uma quina, os pés pendentes no ar, e um peso pendurado em cada pé. Um homem dependurado de cabeça para baixo sendo serrado pelo meio a partir das duas nádegas. É estarrecedor que a capacidade de impor tais sofrimentos a outros seres humanos tenha sido o mérito que levou Domingos Gusmão a ser considerado pela religiosidade merecedor da honra de ser transformado em santo. É à memória de tal monstro que religiosos fazem oração. Nem mesmo Satanás seria capaz de impor tamanho sofrimento que em nome de deus religiosos impunham aos condenados de heresia ou deixar de observar os dogmas da religião cristã. Consta que ante o impasse de haver alguns não hereges entre um grupo de acusados de heresia, foi determinado que todos morressem porque deus se encarregaria de separar uns dos outros depois de mortos.

Desta forma, tem razão o filósofo do bigodão comparando a religiosidade a Circe. Um rebanho de porcos também faz barulho suficiente para impedir que alguém possa raciocinar. Inté.