Nossa
Cidade de Vitória da Conquista é um exemplo do que acontece com o mundo. Aqui a
vida fica mais desagradável a cada dia. Para quem adquiriu um mínimo de
refinamento espiritual, em termos de qualidade de vida, o progresso, na
verdade, está mais para regresso em função da diminuição drástica da possibilidade
de se encontrar um ambiente agradável em função da necessidade que tem o vulgo
de acumular dinheiro. Das atividades voltadas à produção de dinheiro decorre
tamanha barulheira que não permite a paz necessária a quem quer ler, escrever,
curtir algum mal-estar ou dormir quando o sono é leve. Aqui entre nós, requebramentos
de quadris no axé ou cerimônias religiosas no Parque Teopompo de Almeida causam
irritação em quem precisa de sossego. Motocicletas baratas completam o
desassossego fazendo barulho ensurdecedor mesmo na madrugada. Em viagem pela
Rio Bahia, dirigi para o acostamento a fim de deixar passar seis motos Harley
Davidson, verdadeiras máquinas. Silenciosas, não obstante o porte majestoso.
Aqui em nossa Vitória da Conquista, espeluncas fazem um barulho suportável
apenas para quem não superou ainda a fase bruta de povo e que por isto mesmo
não sabe que segundo declaração da ONU até envelhecimento precoce e impotência sexual
decorrem da poluição sonora. Mas não fica por aí. Carros expelem nuvens de
fumaça preta altamente tóxicas, o que também é proibido pela legislação. Estas
coisas levam à seguinte conclusão: Se comportamentos reprimidos pela lei são
aceitos com naturalidade, para que, então, servem as autoridades senão como um
faz de conta muito caro para a sociedade? Ante tal realidade, conclui-se pela
necessidade de estar o bom senso a exigir uma forma de administração pública na
qual se faz sentir a austeridade da autoridade no sentido de impor a civilidade
sem a qual inexiste bem-estar social. Mas a porca torce o rabo porque uma
sociedade civilizada não pode ser formada com o povo na condição de analfabetos
políticos tão alienados da realidade que ensinam falta de patriotismo aos
filhos. É vergonhoso o rebaixamento moral, indecência intelectual, babaovismo,
enfim, é simplesmente vergonhoso o comportamento dos brasileiros imitando os
americanos com a comemoração do Halloween.
O meditar
sobre estas coisas lembra quanta razão tinham os Grandes Mestres do Saber
quando afirmaram que a convivência com o povo é tão desagradável quanto uma
doença. Realmente, ter o raciocínio perturbado por uma malta de adultos em cânticos
e orações tanto é revoltante pelo desassossego quanto pela inutilidade do
ritual porque quem tomou conhecimentos da História da Religião aprendeu que a religiosidade
é uma grande farsa. E o mal-estar aumenta quando se sabe ser a religiosidade a
representação do atraso mental e o maior entreve que impede o desenvolvimento
espiritual, anulando o potencial que jaz inerte em cada ser humano, ao torná-lo
covarde e submisso à invenção do pecado. Ao contrário de temeroso a deus, o
homem precisa se orgulhar e assumir a imponência a que faz justiça por ser o
único vivente capaz de raciocinar. Entretanto, em vez de orgulhar-se pela
soberbia de ser o único com tal poder, rebaixa-se em se conformar em ser um
mero carneiro de Cristo.
Ainda não
se chegou à conclusão da nossa irmandade e a estupidez que há em acreditar
haver alguma razão para que um ser humano seja inferior a outro. Observando
bem, percebe-se a realidade indiscutível de ser maior o sentimento de
religiosidade onde também é maior a falta de leitura e, portanto, de
esclarecimento. Quanto mais desafortunado e desgraçado, mais pobre diabo, mais
afeito à sarjeta, mais deus lhe pague e deus lhe favoreça são falados. É
inegável que a religiosidade decresce juntamente com a ignorância. A existência
de intelectuais religiosos se explica por dois motivos: Opinião emitida em
troca de vantagem ou covardia ante a aproximação da morte, comportamentos
orientados por inocência de criança, salvo se estes intelectuais não tomaram
conhecimento da trajetória do sentimento de religiosidade através dos tempos, o
que é impossível porque se aprenderam sobre todas as outras coisas, não
poderiam ter deixado de aprender também sobre a realidade de ser a religiosidade
o maior engodo que envolve os seres humanos.
As reformas
religiosas visaram tornar menos absurdos os absurdos da religião aos quais
ainda se submete a massa bruta de povo porque o esclarecimento que substitui a
obscuridade mental, apesar de acontecer inevitavelmente, acontece com demasiada
morosidade. Tamanha é esta morosidade que embora o ser humano não mate mais
outro ser humano para que o cadáver lhe sirva de alimento, apesar disto, o ser
humano continua matando outro ser humano. A diferença, entretanto, de não ser
para se alimentar do cadáver indica algum esclarecimento, mas não o necessário.
O esclarecimento
é inevitável por força da observação que com o passar do tempo tornou obsoletas
não só as facas feitas com lascas de pedras, mas também crenças como as da
mitologia e a do Tesouro de Merecimento. Segunda esta última, Cristo e os
santos teriam feito tanta coisa boa que de suas ações meritórias resultou um
excesso de merecimento que havia uma quantidade tão grande de merecimento no
céu que o papa podia lançar mão de porções desse excesso e vender a quem
precisasse de merecimento para se apresentar perante deus. Embora a massa bruta
de povo nada visse de falso nessa história, pessoas capazes de pensar, entre
eles Martinho Lutero e João Calvino, chamaram a atenção dos frequentadores de
igreja da época para o ludíbrio de que eram vítimas ao comprar merecimento
divino. Se até um Zemané é capaz de ter acesso a tais conhecimentos, não é
estranho que intelectuais ainda desconheçam a realidade de ser a religião uma
forma de manter o pobre conformado com a pobreza? O homem não deve ser correto
por medo de deus. Deve ser correto por ser a única forma de se organizar uma
sociedade civilizada. Inté.