Duas matérias do blog Outras Palavras, uma versando sobre influência
dos ricos na política e da necessidade de deter o poder plutocrático no Brasil,
e outra versando sobre o crescimento de suicídios também no Brasil, e de ter a
vida perdido o sentido, estes dois assuntos, juntamente com uma afirmação do
filósofo Michel Foucault no livro Vigiar e Punir motivaram o assunto aqui
tratado nesse momento.
Primeiro, vejamos o assunto do livro: O filósofo trata das mudanças
ocorridas na forma com que através do Direito Penal a sociedade tem determinado
a que tipo de punição deve se submeter quem comete crime. Erudito, o
intelectualíssimo doutor Foucault discorre sobre a monstruosidade dos castigos
que afligiam indescritíveis sofrimentos ao criminoso em tempos passados. Como a
evolução mental ou espiritual, embora demasiadamente lenta, é inevitável,
chegou-se à conclusão de que a pena aplicada ao criminoso deve visar concertar
sua personalidade socialmente deformada, adaptando-a ao convívio social, em vez
de submetê-lo a sofrimento como vingança pelo erro cometido. Muitos pensadores
concluíram para tal conclusão, entre eles um nobre, o Marquês de Beccaria, que através
do livro Dos Delitos e Das Penas se insurgiu contra a barbaridade dos castigos
aplicados, afirmando que aquele tipo de punição era um crime não raro mais
bárbaro do que o crime cometido pelo punido. Assim, como é inevitável o avanço
rumo à civilização, o Direito Penal já não mais amarra cada membro do criminoso
num cavalo e os enxota em direções diferentes, nem abre a barriga do criminoso
e rapidamente puxa suas tripas para fora a fim de que antes de morrer ele tivesse
tempo de contemplá-las expostas. Na página 15 do citado livro o filósofo
atribui tal barbarismo à fraca influência da religião sobre o espírito humano.
Pode um grande intelectual ser tão ingênuo?
O professor conquistense Evandro Gomes Brito fez minucioso estudo sobre
o Instituto da Inquisição, instituição de cunho religioso cujo objetivo era
punir os crimes de heresia, e publicou o resultado do seu trabalho no livro DAS
BRASAS DA INQUISIÇÃO AO LEITO DA PEDOFILIA. De acordo com a pesquisa do
professor e escritor Evandro Gomes Brito, os suplícios a que eram submetidos
pelos inquisidores os suspeitos de heresia eram tão grandes quanto os da barbárie
do Direito Penal, até maiores porque matavam judeus ricos para tomar-lhes os
bens. Desta forma, só ingenuidade ou o fanatismo religioso justificaria
atribuir as barbaridades das penas à falta de religiosidade. É como se o
intelectualíssimo Foucault desconhecesse que o barbarismo faz parte da bíblia e
que deus mandou aplicar a Pena de Talião, conforme Êxodo, capítulo vinte e um.
O que acontece com a humanidade é ter sido ela reduzida à condição de
manada. Como bosta n’água, os seres humanos trilham um destino traçado pelos
meios de comunicação. Ouvi um fazendeiro dizer que com a eleição de Bolsonaro
vai colocar uma escopeta nas mãos de cada empregado de suas fazendas. Este
pobre fazendeiro rico tem na televisão sua única fonte de conhecimento. Ele serve
de perfeito exemplo da realidade de ser o pensamento dos seres humanos em geral
moldado por um mecanismo denominado por Jânio Quadros de Forças Ocultas. O
discernimento sobre sociabilidade, diferentemente das ciências exatas, exige
refinamento espiritual capaz de perceber que só a sociabilidade leva a uma
sociedade evoluída, realidade muito bem definida pela máxima OU ESTEJAMOS TODOS
BEM OU NINGUÉM ESTARÁ BEM.
Um exemplo perfeito do que quero dizer foi dado há pouco quando um
papagaio de microfone dizia em determinada rádio que as doenças decorrentes da
falta de saneamento básico ocasionam faltas ao trabalho que resultam num
prejuízo de milhões de reais à economia. Em termos de sociabilidade, isto é de
monumental contrassenso. É como se a saúde da economia fosse mais importante do
que a saúde pessoal. Sabendo-se que a economia trabalha para aumentar a riqueza
de um por cento da humanidade e a pobreza de noventa e nove por cento dela, não
precisa ser inteligente para perceber que isto vai resultar em desastre social.
A genialidade de Machado de Assis levou-o a dizer que a economia é filha da
avareza.
Este assunto sobre a conclusão do filósofo inocente de ter o barbarismo
como causa a falta de religiosidade e os dois outros assuntos tratados nas duas
reportagens do blog Outras Palavras mencionadas lá em cima formam um trio
harmonioso em perfeita sintonia com a realidade vivida no momento. Ao seguir o
caminho determinado pelos meios de comunicação, que leva à conclusão de ser a
economia mais importante do que a pessoa, e sendo a finalidade da economia
enriquecer cada vez mais os ricos, e sendo que a ninguém é permitido
desconhecer que a riqueza confere tanto poder que os nobres foram desbancados
pelo poder que a riqueza conferiu aos burgueses, resulta daí ser normal a
influência dos ricos sobre a política e, consequentemente, sobre a qualidade de
vida uma vez que é a política que a determina, embora os meios de comunicação e
a religiosidade digam ao povo que é deus o responsável por ela. Como todo
ignorante gosta de se exibir como pavão, e a revista Forbes prova isso, o rico usa
seu dinheiro para ficar cada vez mais rico a fim de ter cada vez mais poder.
Portanto, é inútil falar-se em deter o poder plutocrático no sistema
capitalista porque ele se baseia exatamente no enriquecimento individual.
O terceiro assunto, aquele que trata do crescimento de suicídios, é consequência
dos outros dois. Ao seguir a orientação dos meios de comunicação,
comportando-se como manada, o ser humano concorda com o progresso material
dependente de investimentos, financiamentos e empregos, o que é uma farsa. Um
descompasso tão grande que faz a vida perder o sentido, daí os suicídios. É
realmente desanimador para um jovem que pensa em vez de futucar telefone ter de
enfrentar mil e uma dificuldades, anos e mais anos alisando bancos de escola
para conseguir sobreviver através de um emprego enquanto que semianalfabetos,
verdadeiras nulidades esbanjam riqueza e viram “famosos” e “celebridades”.
Tomar a cultura do TER como superior à cultura do SER está resultando
nos desastres climáticos de consequências inimagináveis para os débeis mentais
a que foram reduzidos os jovens em função da futucação de telefone. Inté.
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