sábado, 19 de janeiro de 2013

CONSELHO BOM NÃO PRECISA SER PEDIDO.


Não tenho culpa de ter sido feito com o defeito de me sentir mal vendo alguém incorrer em determinado procedimento que lhe vai causar algum tipo de dano apenas por falta de um aviso ou conselho, principalmente quando o procedimento danoso procede unicamente da inexperiência com a arte de viver que só pode ser alcançada na plenitude por duas maneiras: leitura dos livros escritos pelos Grandes Mestres do Saber ou pela experiência adquirida através de muitos anos observando a vida e as pessoas. A inexperiência decorre de se desconhecer muitas nuances da vida pelo fato de ainda não ter chegado o momento de passar por elas. Embora haja quem atravesse todas as faixas etárias sem prestar atenção nas coisas que lhe acontecem, e por isso mesmo se diz que passou a vida em brancas nuvens por não ter tirado lição alguma dos fatos à sua volta, havendo entre estes quem recuse em nome geralmente da religião em acreditar que o universo não tem mais de cinco ou seis mil anos. Estes são os que fazem a fortuna de pastores como mostra a Revista Forbes. Peçam ao Google: “riqueza dos pastores brasileiros” e vejam só para onde vai o dinheiro do dízimo que a juventude em sua triste ignorância joga fora construindo imensas fortunas para bandidos. O Edir Macedo já esteve na cadeia. Só não ficou porque rico não fica.  

Em se tratando de evitar um dano que sem o aviso ou conselho acometeria inevitavelmente alguém, não há aplicação para o conceito de que conselho só se dá quando é pedido. Eu, com toda certeza, não me permito ficar indiferente ante a possibilidade de ajudar alguém a se livrar de situação difícil. É exatamente esse maldito pendor que movimenta meus dedos até quando estou com preguiça para avisar à juventude que ela precisa deixar de ser tão boba a ponto de se comportar como garotos de oito a dez.

Qualquer jovem de hoje entenderia como bobagem o procedimento dos jovens da época das Cruzadas que iam para a guerra em troca da promessa do papa de lhes dar uma recompensa no céu. Ninguém, nem mesmo os religiosos, deixaria de considerar uma bobagem tal procedimento. Pois, para quem toma conhecimento dos ensinamentos dos Grandes Mestres do Saber, o procedimento dos jovens atuais é tão bobo quanto bobo é para os jovens atuais aqueles outros jovens lá da Idade Média que iam ser espetados por espada em troca de benesses no céu.

Entretanto, a bobagem dos jovens não decorre da impossibilidade de serem convencidos de que há realmente necessidade de se refrear certos procedimentos por maior que seja o apelo. Um ambiente sem respeito mútuo como acontece conosco denota total falta de sociabilidade de onde nasce a harmonia provedora do bem-estar social. Porém, o convencimento de tal necessidade, como todo convencimento, raramente pode ser transmitido por palavras. O inocente só fica convencido de não valer a pena se embebedar com licor de jenipapo depois de se embebedar com licor de jenipapo. Antes de se embebedar com licor de jenipapo, é impossível fazer com que o inocente saiba o que ele vai passar no dia seguinte àquele em que deu a primeira bicada no licor de jenipapo. No outro dia, aí, sim, o convencimento se instala e só a incapacidade de se refrear certas vontades será capaz de fazer com que o inocente volte a se embebedar com licor de jenipapo.

O que torna boba a juventude é não ter tido oportunidade de aprender outra forma de vida senão a vida de bobos. Para se aprender o que não é ensinado, por observação e dedução apenas, demanda tempo e é o melhor dos aprendizados. Ao lado dos livros e dos professores, o aprendizado na escola da vida me ampliou o horizonte e tento passar o que aprendi para os inocentes. Sei que é difícil porque as pessoas estão demasiadamente apressadas com as coisas que nada tem a ver com o mal-estar que acompanha a velhice. É como se não fossem ficar velhos e muxibentos. Para evitar muito desgosto, tristeza e sofrimento quando as muxibas começarem a botar a cara, aconselho ou aviso aos jovens para não levar tão a sério o embelezamento. O reflexo das bundas que as mulheres estufam para ver o reflexo na pintura dos carros estará em murchinha da silva um dia e é preciso estar preparada para não sofrer quando isto acontecer. Já vi um amigo que nunca primou pela inteligência, talvez por não ter tempo para pensar em outra coisa que não nas mulheres que não lhe davam folga pelo fato de ter ele algo que atraia as mulheres, e em sua sombra tive belas namoradas. Acabada a juventude, três décadas depois do nosso tempo de namoradores, encontrei esse amigo numa infelicidade de fazer pena. Lamentava não entender porque Deus fez aquilo com ele (referia-se ao muxibamento inexorável). É o retrato cuspido de quem nada aprendeu na vida.

Como é só pela falta de quem lhes mostre as bobagens que os jovens agem como bobos, vou lhes mostrar que os adultos de hoje são tão infantis quanto eu quando tinha entre oito e dez anos. Por aquela ocasião, quando brincávamos de picula, costumava-se ouvir: “Quem chegar derradeiro é viado” ou então “ o derradeiro é fi de puta” e a gente desabalava na carreira, cada um querendo chegar antes de ser o último para não ser nem viado nem fi de puta. Pois, por incrível que possa parecer, depois de ter chegado aos setenta e sete anos, vejo adultos em número infinitamente maior do que nossos grupos de picula a correr desesperadamente numa brincadeira semelhante à nossa, com a única diferença que mudou o nome de picula para São Silvestre. Eu gostaria de saber onde se enquadra o derradeiro a chegar.

Gente, está na hora de pensar em coisas sérias. Já chega de brincadeiras. É muito feio comportamento de criança em adulto.