Não tenho culpa
de ter sido feito com o defeito de me sentir mal vendo alguém incorrer em
determinado procedimento que lhe vai causar algum tipo de dano apenas por falta
de um aviso ou conselho, principalmente quando o procedimento danoso procede
unicamente da inexperiência com a arte de viver que só pode ser alcançada na
plenitude por duas maneiras: leitura dos livros escritos pelos Grandes Mestres
do Saber ou pela experiência adquirida através de muitos anos observando a vida
e as pessoas. A inexperiência decorre de se desconhecer muitas nuances da vida
pelo fato de ainda não ter chegado o momento de passar por elas. Embora haja
quem atravesse todas as faixas etárias sem prestar atenção nas coisas que lhe
acontecem, e por isso mesmo se diz que passou a vida em brancas nuvens por não
ter tirado lição alguma dos fatos à sua volta, havendo entre estes quem recuse
em nome geralmente da religião em acreditar que o universo não tem mais de
cinco ou seis mil anos. Estes são os que fazem a fortuna de pastores como
mostra a Revista Forbes. Peçam ao Google: “riqueza dos pastores brasileiros” e
vejam só para onde vai o dinheiro do dízimo que a juventude em sua triste
ignorância joga fora construindo imensas fortunas para bandidos. O Edir Macedo já
esteve na cadeia. Só não ficou porque rico não fica.
Em se tratando
de evitar um dano que sem o aviso ou conselho acometeria inevitavelmente
alguém, não há aplicação para o conceito de que conselho só se dá quando é
pedido. Eu, com toda certeza, não me permito ficar indiferente ante a
possibilidade de ajudar alguém a se livrar de situação difícil. É exatamente
esse maldito pendor que movimenta meus dedos até quando estou com preguiça para
avisar à juventude que ela precisa deixar de ser tão boba a ponto de se
comportar como garotos de oito a dez.
Qualquer jovem de
hoje entenderia como bobagem o procedimento dos jovens da época das Cruzadas
que iam para a guerra em troca da promessa do papa de lhes dar uma recompensa
no céu. Ninguém, nem mesmo os religiosos, deixaria de considerar uma bobagem
tal procedimento. Pois, para quem toma conhecimento dos ensinamentos dos
Grandes Mestres do Saber, o procedimento dos jovens atuais é tão bobo quanto
bobo é para os jovens atuais aqueles outros jovens lá da Idade Média que iam
ser espetados por espada em troca de benesses no céu.
Entretanto, a
bobagem dos jovens não decorre da impossibilidade de serem convencidos de que
há realmente necessidade de se refrear certos procedimentos por maior que seja
o apelo. Um ambiente sem respeito mútuo como acontece conosco denota total
falta de sociabilidade de onde nasce a harmonia
provedora do bem-estar social. Porém, o convencimento de tal necessidade,
como todo convencimento, raramente pode ser transmitido por palavras. O
inocente só fica convencido de não valer a pena se embebedar com licor de
jenipapo depois de se embebedar com licor de jenipapo. Antes de se embebedar
com licor de jenipapo, é impossível fazer com que o inocente saiba o que ele
vai passar no dia seguinte àquele em que deu a primeira bicada no licor de
jenipapo. No outro dia, aí, sim, o convencimento se instala e só a incapacidade de se refrear certas vontades será capaz de fazer com que o inocente volte a
se embebedar com licor de jenipapo.
O que torna
boba a juventude é não ter tido oportunidade de aprender outra forma de vida
senão a vida de bobos. Para se aprender o que não é ensinado, por observação e
dedução apenas, demanda tempo e é o melhor dos aprendizados. Ao lado dos livros
e dos professores, o aprendizado na escola da vida me ampliou o horizonte e
tento passar o que aprendi para os inocentes. Sei que é difícil porque as pessoas
estão demasiadamente apressadas com as coisas que nada tem a ver com o
mal-estar que acompanha a velhice. É como se não fossem ficar velhos e muxibentos. Para evitar
muito desgosto, tristeza e sofrimento quando as muxibas começarem a botar a
cara, aconselho ou aviso aos jovens para não levar tão a sério o embelezamento.
O reflexo das bundas que as mulheres estufam para ver o reflexo na pintura dos carros estará em murchinha da silva
um dia e é preciso estar preparada para não sofrer quando isto acontecer. Já vi um amigo que nunca primou pela inteligência, talvez por não ter
tempo para pensar em outra coisa que não nas mulheres que não lhe davam folga
pelo fato de ter ele algo que atraia as mulheres, e em sua sombra tive belas namoradas.
Acabada a juventude, três décadas depois do nosso tempo de namoradores, encontrei esse amigo numa
infelicidade de fazer pena. Lamentava não entender porque Deus fez aquilo com
ele (referia-se ao muxibamento inexorável). É o retrato cuspido de quem nada
aprendeu na vida.
Como é só pela falta de quem lhes mostre as bobagens que os jovens agem
como bobos, vou lhes mostrar que os adultos de hoje são tão infantis quanto eu
quando tinha entre oito e dez anos. Por aquela ocasião, quando brincávamos de
picula, costumava-se ouvir: “Quem chegar derradeiro é viado” ou então “ o
derradeiro é fi de puta” e a gente desabalava na carreira, cada um querendo
chegar antes de ser o último para não ser nem viado nem fi de puta. Pois, por
incrível que possa parecer, depois de ter chegado aos setenta e sete anos, vejo
adultos em número infinitamente maior do que nossos grupos de picula a correr
desesperadamente numa brincadeira semelhante à nossa, com a única diferença que
mudou o nome de picula para São Silvestre. Eu gostaria de saber onde se
enquadra o derradeiro a chegar.
Gente, está na hora de pensar em coisas sérias. Já chega de
brincadeiras. É muito feio comportamento de criança em adulto.