Do ponto de
vista da organização social a justiça deve prevalecer sobre a legalidade. A
lei, para existir, basta caneta e papel nas mãos de alguém capaz de escrever.
Não passa, portanto, do campo da materialidade. A justiça, entretanto, envolve
aspectos espirituais, exigindo mentes espiritualmente evoluídas para que possa
existir. A necessidade de força policial para manter pessoas nas filas é um
ótimo exemplo da distinção entre o legal e o justo. A lei estabelece que uma
pessoa não transgrida o direito de outra pessoa. Mas, quando um número
demasiadamente grande de pessoas necessita entrar num ambiente, vê-se um
comportamento idêntico ao do gado que depois de passar uma noite preso no
curral, ao ser solto, precisava que um de nós, a cavalo e brandindo o chicote,
cuidasse para que as reses não avançassem com tal brutalidade que derrubassem a
cancela ou causassem ferimentos a si mesmas. Também as pessoas, desrespeitando
o direito de quem chegou primeiro, como assegura a lei, causam um reboliço tão
grande que demanda necessidade de um chicote para contê-las. Diferentemente, se
tais pessoas fossem imbuídas do senso de justiça, não haveria necessidade do meu
chicote de vaqueiro representado agora pelo cassetete brandido pelo policial
sisudo.
A lei, por
si só, é insignificante para fazer existir a ordem social necessária a um
ambiente de paz, ao contrário do sentimento do que é justo. Considerando a
superioridade da justiça sobre a lei, não se justifica a censura sobre o
trabalho da Operação Lava Jato uma vez que seu objetivo é o bem-estar social
que só pode existir onde há justiça, que, por sua vez, só pode existir onde há
compreensão da necessidade de respeito mútuo entre as pessoas,
independentemente de imposição. Entretanto, sob argumentos capciosos de não se
observar picuinhas legais, colocam-se obstáculos para dificultar o trabalho
saneador dos doutores Sergio Moro, do Ministério Público e da Polícia Federal
na luta para conter a corrupção deslavada que desavergonhadamente tomou conta
da nobre atividade política da qual depende o bem-estar social. O
desavergonhamento atingiu proporções tão alarmantes que não mais do que cerca
de apenas um por cento dos políticos não merecem estar na prisão. Não há,
portanto, justificativa para que alguém se insurja contra nenhum comportamento
dos nobres funcionários públicos que atuam no cumprimento correto do seu dever.
Ao contrário, todos devem se insurgir contra os que usam da posição de
funcionário público em ações prejudiciais à sociedade.
Os milhares
de problemas que afligem todas as sociedades e que parecem insolúveis podem ser
resumidos em apenas um, e de fácil solução: Falta de maturidade mental!
Um adulto
que encontra diversão no fato de acender uma bomba para ouvir o pipoco; que
esperneia pelo fato de ter a bola passado do lado de dentro da trave, ou que
sente um grande alívio por ter passado do lado fora; que se desloca quilômetros
em estradas perigosíssimas para fazer oração ou para ver carros fazer voltas em
altíssima velocidade; para admirar a queima de dinheiro nos festejamentos de
Natal e Ano Novo; que se aglomera para ver outro adulto passar correndo
segurando uma vara com fogo na ponta; que aplaude abrir monumentais terreiros
para brincadeiras e fechar hospital e escola; que ensina às crianças a mentira
de Papai Noel, com absoluta certeza, tal adulto tem mentalidade infantil. Todos
os problemas, pois, decorrem unicamente da deformação da personalidade
individual. Como o social é o resultado da soma das individualidades, tem-se
que somando individualidades deformadas resulta em uma sociedade também deformada.
Sendo a
mais nobre das atividades humanas a capacidade de pensar e concluir, o uso da
faculdade extraordinária de pensar leva à conclusão de que a deformação das
mentalidades individuais decorre unicamente da falta de análise sobre as
informações que nos chegam. Um exemplo maravilhoso desta falta de análise é o
Túmulo do Soldado Desconhecido, onde autoridades depositam flores e demonstram
sentimento (ou fingem, o que é mais provável) pela morte dos jovens que as
próprias autoridades providenciaram para que morressem. Na vida, o que não
faltam são fatos anormais tidos como normais em função da falta de análise.
Inté.