Lendo a
orelha da primeira capa do livro Economia Da Desigualdade, de Thomas Piketti,
ocorreu-me que intelectuais são tão desligados da realidade que quase se
assemelham à ralé festeira e religiosa de quem a capacidade de raciocinar não se
eleva além da sola do sapato. Lembram o que disse o filósofo Vinicius
Bittencourt: “os escritores costumam partir do nada, percorrer o vácuo e chegar
a lugar nenhum. Daquela leitura se depara com as seguintes perguntas que
parecem coisa de criança:
Primeira
pergunta:
A
desigualdade é consequência da concentração do capital nas mãos de poucos?
Como
admitir de quem tem desenvoltura intelectual bastante para escrever aquele
texto dúvida quanto a esta realidade? Se em função de desmedida avareza e
ignorância absoluta do que seja vida em sociedade um punhado de Bezos e Hangs
açambarcaram para si sós a riqueza que o escritor chama de capital, nada
ficando para as demais pessoas, evidente que esta posse socialmente condenável
que o escritor chama de concentração é a causa da desigualdade que infelicita
milhões de pessoas no mundo.
Até o
momento, com muita festa, religiosidade e mil e uma formas de campeonatos que
papagaios de microfone se encarregam de anunciar alvoroçadamente em troca da
despensa abastecida pelos gatos pingados concentradores a fim de evitar que a
turba alegre descubra suas malandragens, é desse jeito que eles têm conseguido
esconder a injustiça de que são vítimas as multidões festivas.
O filósofo Jessé
de Souza levantou esta questão quando na página 15 do livro Brasil Dos
Humilhados, pergunta: Por que existe o interesse em esconder como funciona o
mundo social? Bravos, doutor Jessé. O interesse em esconder como funciona o
mundo social é para que a turba alegre e festiva de pobres diabos mentais
futucadores de telefone, sem saber, seja extorquida pelos Bezos e Hangs do
mundo.
Mas, como sabe
quem lê História, já aconteceu por várias vezes de o desconforto dos espoliados
fazê-los esquecer das festas e se ligarem na realidade de não passarem de
paspalhos produzindo imensa riqueza para desfrute de parasitas. Nestas
ocasiões, o despertar destes pobres diabos para a dura realidade de suas vidas desperta
neles tamanha revolta que, enfurecidos, protagonizam um pega-prá-capar dos
diabos.
Segunda
pergunta:
É possível
reduzir a desigualdade através de investimento em educação?
É, sim, claro
que é. Mas não a educação que interessa aos concentradores de renda porque eles
ensinam justamente as duas mentiras que mantêm a humanidade satisfeita na
condição de serviçal deles: uma destas mentiras é deixar o destino a cargo de um
deus inexistente porque disto resulta que as pessoas se tornam dóceis e submissas
ao destino traçado por seus algozes. A outra mentira que a educação dos
exploradores ensina é amor à riqueza. Mestre Platão ensinou que o rumo indicado
pela educação da criança determina a personalidade do adulto que ela vai ser. Portanto,
da educação dos exploradores que ensina estas duas mentiras resultam dois tipos
de adultos: os que buscam inutilmente nas igrejas proteção contra seus males e
os que dispondo de dinheiro público não resistirem à tentação de roubar para
enriquecer.
Terceira
pergunta:
O sistema
Tributário moderno será capaz de promover uma distribuição de renda ou é
preciso uma grande reforma?
Esta, então, é de infantilidade própria de frequentador de
igreja, axé e futebola metido a sabido em conversa de boteco. O sistema
tributário moderno em nada difere do sistema tributário de 1789, na França, que
foi um dos muitos motivos do descontentamento que resultou na Revolução
Francesa, quando, então, os privilegiados da época, os parasitas do clero e da
nobreza, não pagavam imposto assim como também não pagam os parasitas modernos
das igrejas e das empresas.
Sendo o
dinheiro o único meio de socorrer as aflições decorrentes da pobreza, e sendo a
tributação o processo de obtenção desse dinheiro, evidente estar na tributação
a possibilidade de haver a distribuição de renda necessária para atender as
necessidades das pessoas. Porém, nunca, que isto acontecerá na cultura
capitalista em que o peso da tributação além de recair sobre os pobres, o
dinheiro arrecadado é roubado e esbanjado pelas “autoridades” em mordomias
infindáveis.
Por estas e
muitas outras é que, como se dizia no meu tempo de menino, parafraseando com intelectual,
quando eles não cagam na chegada, borram na saída se até mestre Castro Alves
falou bobagem ao protestar contra a escravidão da chibata que deu lugar à
escravidão do emprego ao bradar aos quatro ventos em alto e bom som: “Ó Deus! Ó
Deus! Onde estás que não respondes?” Clamando por ação de deus em socorro dos
escravos, quando, de acordo com vários versículos do parágrafo 21 de Êxodo,
deus se mostrou adepto da escravidão.
O certo é que se valoriza a intelectualidade tão
exageradamente como prova a grande discussão a respeito do que Einstein pensava
a respeito de deus como se dependesse da opinião dele para saber que deus nunca
existiu fora da bola que a malta ignara tem no lugar onde gente tem cabeça.