domingo, 6 de novembro de 2022

ARENGA 658

 

            Lendo a orelha da primeira capa do livro Economia Da Desigualdade, de Thomas Piketti, ocorreu-me que intelectuais são tão desligados da realidade que quase se assemelham à ralé festeira e religiosa de quem a capacidade de raciocinar não se eleva além da sola do sapato. Lembram o que disse o filósofo Vinicius Bittencourt: “os escritores costumam partir do nada, percorrer o vácuo e chegar a lugar nenhum. Daquela leitura se depara com as seguintes perguntas que parecem coisa de criança:

            Primeira pergunta:

            A desigualdade é consequência da concentração do capital nas mãos de poucos?

            Como admitir de quem tem desenvoltura intelectual bastante para escrever aquele texto dúvida quanto a esta realidade? Se em função de desmedida avareza e ignorância absoluta do que seja vida em sociedade um punhado de Bezos e Hangs açambarcaram para si sós a riqueza que o escritor chama de capital, nada ficando para as demais pessoas, evidente que esta posse socialmente condenável que o escritor chama de concentração é a causa da desigualdade que infelicita milhões de pessoas no mundo.

            Até o momento, com muita festa, religiosidade e mil e uma formas de campeonatos que papagaios de microfone se encarregam de anunciar alvoroçadamente em troca da despensa abastecida pelos gatos pingados concentradores a fim de evitar que a turba alegre descubra suas malandragens, é desse jeito que eles têm conseguido esconder a injustiça de que são vítimas as multidões festivas.

            O filósofo Jessé de Souza levantou esta questão quando na página 15 do livro Brasil Dos Humilhados, pergunta: Por que existe o interesse em esconder como funciona o mundo social? Bravos, doutor Jessé. O interesse em esconder como funciona o mundo social é para que a turba alegre e festiva de pobres diabos mentais futucadores de telefone, sem saber, seja extorquida pelos Bezos e Hangs do mundo.

            Mas, como sabe quem lê História, já aconteceu por várias vezes de o desconforto dos espoliados fazê-los esquecer das festas e se ligarem na realidade de não passarem de paspalhos produzindo imensa riqueza para desfrute de parasitas. Nestas ocasiões, o despertar destes pobres diabos para a dura realidade de suas vidas desperta neles tamanha revolta que, enfurecidos, protagonizam um pega-prá-capar dos diabos.

            Segunda pergunta:

            É possível reduzir a desigualdade através de investimento em educação?

            É, sim, claro que é. Mas não a educação que interessa aos concentradores de renda porque eles ensinam justamente as duas mentiras que mantêm a humanidade satisfeita na condição de serviçal deles: uma destas mentiras é deixar o destino a cargo de um deus inexistente porque disto resulta que as pessoas se tornam dóceis e submissas ao destino traçado por seus algozes. A outra mentira que a educação dos exploradores ensina é amor à riqueza. Mestre Platão ensinou que o rumo indicado pela educação da criança determina a personalidade do adulto que ela vai ser. Portanto, da educação dos exploradores que ensina estas duas mentiras resultam dois tipos de adultos: os que buscam inutilmente nas igrejas proteção contra seus males e os que dispondo de dinheiro público não resistirem à tentação de roubar para enriquecer.

            Terceira pergunta:

            O sistema Tributário moderno será capaz de promover uma distribuição de renda ou é preciso uma grande reforma?

Esta, então, é de infantilidade própria de frequentador de igreja, axé e futebola metido a sabido em conversa de boteco. O sistema tributário moderno em nada difere do sistema tributário de 1789, na França, que foi um dos muitos motivos do descontentamento que resultou na Revolução Francesa, quando, então, os privilegiados da época, os parasitas do clero e da nobreza, não pagavam imposto assim como também não pagam os parasitas modernos das igrejas e das empresas.

            Sendo o dinheiro o único meio de socorrer as aflições decorrentes da pobreza, e sendo a tributação o processo de obtenção desse dinheiro, evidente estar na tributação a possibilidade de haver a distribuição de renda necessária para atender as necessidades das pessoas. Porém, nunca, que isto acontecerá na cultura capitalista em que o peso da tributação além de recair sobre os pobres, o dinheiro arrecadado é roubado e esbanjado pelas “autoridades” em mordomias infindáveis.

            Por estas e muitas outras é que, como se dizia no meu tempo de menino, parafraseando com intelectual, quando eles não cagam na chegada, borram na saída se até mestre Castro Alves falou bobagem ao protestar contra a escravidão da chibata que deu lugar à escravidão do emprego ao bradar aos quatro ventos em alto e bom som: “Ó Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes?” Clamando por ação de deus em socorro dos escravos, quando, de acordo com vários versículos do parágrafo 21 de Êxodo, deus se mostrou adepto da escravidão.

O certo é que se valoriza a intelectualidade tão exageradamente como prova a grande discussão a respeito do que Einstein pensava a respeito de deus como se dependesse da opinião dele para saber que deus nunca existiu fora da bola que a malta ignara tem no lugar onde gente tem cabeça.

  

 

 

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Arenga 657

No dia 6 de maio de 1997 a Companhia Vale do Rio Doce foi vendida por 3,3 bilhões de dólares. Em 2008 o valor da empresa era de 196 bilhões de dólares.

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O Brasil importou 30 usinas da URSS. Destas, apenas uma foi instalada, mas não funcionou e uma década depois continuava em Uberlândia que nem uma carcaça fantasma; as outras 29 nem sequer foram deslocadas dos trapiches dos portos onde deterioraram e foram vendidas como ferro-velho.

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o secretário de Estado (americano) Dean Rusk consultou Gordon (embaixador dos Estados Unidos no Brasil) sobre uma estratégia política para a escolha de um presidente para o Brasil”

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No dia nove de agosto de 2022, três procuradores da república foram condenados pelo Tribunal de Contas do Brasil a devolver aos cofres públicos dois milhões e oitocentos mil reais, sendo o motivo da condenação vingança por terem os procuradores perseguido bandidos que foram obrigados a devolver mais de vinte bilhões de reais roubados deste pobre país de triste sorte e povo.

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No dia 30 de outubro de 2022 foi eleito mais uma vez presidente do Brasil um ex-operário e sindicalista que anos atrás já tinha sido presidente prometendo banir a corrupção do meio de um povo acostumado a políticos ladravazes. Tão acostumado que canalhas da pior espécie segundo a imprensa ensinam canalhice a seus filhos e passam para eles cargos eletivos como se fosse hereditário em vez e elegível pelo povo.

Entretanto, como no brasileiro o instinto de rato é mais forte do que no rato, aproveitando-se do cargo, o ex-operário roubou mais do que qualquer outro ladrão antes dele que de pau-de-arara que era quando chegou a São Paulo vindo de Pernambuco com uma mão na frente e outra atrás, tornou-se multimilionário patrocinando os escândalos monumentais mostrados no livro O Chefe. Depois de condenado em duas instâncias judiciais e trancafiado como deve ser todo ladrão, vergonhosamente, teve a condenação anulada por ministros do STF tão desprovidos de envergadura moral para o cargo que são chamados de canalhas e temem aparecer em público.

Vergonhosamente e por motivos escusos como é tudo nesse país de triste sorte e povo, como também por birra com o atual presidente, um militar de baixa patente que por ser tão desqualificado intelectualmente quanto seu adversário ladrão, é como gosta o povo alegre apesar de sofredor. Assim é que os cavaleiros negros mambembes indignamente ocupando cargo que exige nobreza de caráter que lhes falta ajudaram o ladrão a novamente se eleger presidente.  

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Ante tais notícias na imprensa, o que leva o povo deste país de triste sorte a ser o povo mais alegre e festivo do mundo? Seria uma alegria de débil mental? Lembrando Millôr Fernandes, que país é este? Aqui, pessoas das mais desqualificadas intelectualmente como escoiceadores de bola, ridículos cantadores medíocres e mulheres infinitamente mais vulgares do que as que tem atividade sexual por profissão merecem maior valor do que quaisquer profissionais por mais altamente qualificados que sejam.  Embora a nenhum jovem futucador de telefone ocorra interesse a respeito desta questão, sem que seja revelado o motivo pelo qual se vive tamanho descompasso será totalmente impossível a realização do sonho de viver bem, comum a todos indistintamente, de rico a pobre, de letrado a analfabeto.

Nesse momento, foguetório pipoca em comemoração à eleição do ex-prediário e dois dias antes foguetórios pipocaram em saudação à vitória num campeonato de futebola, e daqui a mais dois meses alegria de carnaval explodirá país afora, não obstante as notícias com as quais iniciamos esta prosa.

Passada a ressaca das alegrias, qual não o desapontamento dos bobos alegres com a vida quando lhes chegar a inevitável necessidade de hospitais, intervenções cirúrgicas e medicamentos, se os recursos para tais providências estão sendo desbaratados debaixo de suas barbas alegres e indiferentes?