O
comportamento de quem se encanta com uma árvore e esquece de ver a floresta
equivale ao comportamento dos filósofos e intelectuais sobre a infelicidade
humana. Embevecidos em mergulhos filosóficos ou literários, passa-lhes
desapercebida a realidade de que os seres humanos são infelizes por sua omissão
em decidir sobre seu destino, deixando-o erradamente a cargo de falsos líderes
religiosos e políticos. Convencê-los de que estão sendo induzidos a tal erro
para que assim ignorem ser vítimas de enganadores que os tornando incapazes de
traçar melhores caminhos por onde caminhar obrigam-nos a caminhar pelos caminhos
por eles indicados e que levam a guerras, fome, doenças e troca da natureza por
dinheiro nunca suficiente para satisfazer uma incontrolável avareza. Apesar de
ser inegável o erro em que incorrem os seres humanos, convencê-los de que estão
errados é tão impossível quanto convencer uma besta da necessidade de lhe
tratar um ferimento.
De nada adiantará
tentar civilizar a humanidade sem antes da tentativa não se atentar para o
ensinamento de mestre Rousseau de não se poder ser claro com quem é desatento. Ante
de tão clara realidade, ninguém mais indicado que filósofos e intelectuais para
o trabalho de trazer para a realidade da vida a atenção dos seres humanos que por
artimanhas do tinhoso está grudada exclusivamente em igreja, axé e futebola.
Sem fazer que a humanidade seja convencida de comportar-se de modo a causar sua
própria ruína é impossível aos seres humanos realizar o sonho de uma vida sem
as atribulações que os atormentam.
Sem isso,
nenhum valor têm livros sobre o pensamento de fulano e beltrano, principalmente
de pensadores de tempos de antanho porque em tais tempos o conhecimento girava
em torno de uma realidade menor. René Descartes, por exemplo, laureado pensador
do século XVI, afirmava ser possível provar a existência de deus, o que se deve
ao fato de à medida que se recua no tempo e é menor o conhecimento, é mais
forte a crença da existência de deus, verdade facilmente verificável quando se observa
que pessoas de menor ou nenhuma desenvoltura intelectual são as que conversam
com estátua, compram feião milagroso e escrevem foi deus que mim deu em
carrinhos baratos que indicam tratar-se de quem a luta pela sobrevivência
impede aprender com a história das religiões a verdade sobre elas. É comum
incultos escoiceadores de bola voltando os olhar para o céu, fazer de deus um
torcedor ao atribuir a ele o sucesso de sua jogada.
As verdades
que com o passar do tempo tomam o lugar das falsidades, aos poucos vão
enfraquecendo a fé inabalável até vir a religiosidade a se tornar mitologia. A
mesma fé no deus que o povo tem na bola de futebola onde devia ter cabeça era
voltada para cultuar Thor, Odin, Mercúrio, Apolo, os irmãos Prometeu e
Epimeteu, Minerva, Atena, Afrodite e tantos outros e outras deuses e deusas que
atualmente são entretenimento literário do mesmo modo como serão as divindades
que atualmente merecem a mesma atenção que já mereceram aquelas divindades.
Assim é que
a busca por melhor forma de vida estará mais bem representada por quem tem os
pés no chão do que por filósofos e intelectuais porque mestre Friedrich Hegel,
no século XVIII, afirmou que não se aprende nada com o estudo da história se
estudando História é como se percebe que a humanidade tem sido tão estúpida a ponto
de estar a um passo de se autodestruir. Mas os Intelectuais contemporâneos, do
mesmo modo, incorrem em divagações inúteis do ponto de vista da necessidade da
mudança implorada de joelhos pelo bom senso. Na orelho do livro Era Dos
Extremos, o intelectualíssimo Eric Hobsbawn, face aos tormentos do século XX,
afirma ser como se passado e futuro estivessem seccionados do presente. Dá
impressão de que assim como papagaios de microfone e cientistas de politicagem
falam porque disto depende a despensa abastecida, também intelectuais escrevem
por profissão. Como parecer que passado e futuro podem estar separados do
presente se o presente foi moldado pelo passado e moldará o futuro? Com a mesma
falta de lógica é que mestre Hobsbawn se refere como dourados os anos 1950/60
porque o capitalismo teria sido responsável por extraordinária expansão
econômica. Ora, com o respeito necessário a tão ilustre personalidade, no final
da página 172 e começo da 173 de História da Riqueza do Homem, de Leo Huberman,
o velho e sábio Marx assim se referiu ao capitalismo: “Se dinheiro vem ao mundo
com uma mancha congênita de sangue numa das faces, o capital vem pingando
sangue da cabeça aos pés, de todos os poros, sangue e lama”.
Para frequentadores
de igreja, axé e futebola que torcem o nariz para Marx, para os que sabem ler, que
leiam o que diz sobre capitalismo o historiador americano no livro História da
Civilização Ocidental, página 692: “... fábricas, particularmente as de tecidos,
eram piores do que prisões. Tinham janelas pequenas que em geral se conservavam
fechadas a fim de manter a humidade necessária à manufatura do algodão. A
atmosfera viciada, o calor sufocante, a falta de higiene, a par de horários
intoleráveis, reduziam inúmeros operários a pobres criaturas macilentas e
minadas pela tísica, arrastando bom número deles ao alcoolismo e ao crime ...
em Manchester, um oitavo das famílias da classe operária vivia em porões.
Outras amontoavam-se em miseráveis habitações coletivas, com até doze pessoas a
morar num só quarto...”. Não há, pois, como haver algo de positivo para boa
qualidade de vida se pessoas são tratadas com tamanha crueldade, além de que a
riqueza produzida pelo trabalho da classe trabalhadora vai servir para engordar
contas, papadas e barrigas dos avaros Midas do mundo para os quais há quem não
precisa comer. Afinal, o capitalismo começou aprisionando e transportando
negros africanos em porões doentios de navios para vender na Europa.