sábado, 29 de outubro de 2022

ARENGA 656

O comportamento de quem se encanta com uma árvore e esquece de ver a floresta equivale ao comportamento dos filósofos e intelectuais sobre a infelicidade humana. Embevecidos em mergulhos filosóficos ou literários, passa-lhes desapercebida a realidade de que os seres humanos são infelizes por sua omissão em decidir sobre seu destino, deixando-o erradamente a cargo de falsos líderes religiosos e políticos. Convencê-los de que estão sendo induzidos a tal erro para que assim ignorem ser vítimas de enganadores que os tornando incapazes de traçar melhores caminhos por onde caminhar obrigam-nos a caminhar pelos caminhos por eles indicados e que levam a guerras, fome, doenças e troca da natureza por dinheiro nunca suficiente para satisfazer uma incontrolável avareza. Apesar de ser inegável o erro em que incorrem os seres humanos, convencê-los de que estão errados é tão impossível quanto convencer uma besta da necessidade de lhe tratar um ferimento.

De nada adiantará tentar civilizar a humanidade sem antes da tentativa não se atentar para o ensinamento de mestre Rousseau de não se poder ser claro com quem é desatento. Ante de tão clara realidade, ninguém mais indicado que filósofos e intelectuais para o trabalho de trazer para a realidade da vida a atenção dos seres humanos que por artimanhas do tinhoso está grudada exclusivamente em igreja, axé e futebola. Sem fazer que a humanidade seja convencida de comportar-se de modo a causar sua própria ruína é impossível aos seres humanos realizar o sonho de uma vida sem as atribulações que os atormentam.

Sem isso, nenhum valor têm livros sobre o pensamento de fulano e beltrano, principalmente de pensadores de tempos de antanho porque em tais tempos o conhecimento girava em torno de uma realidade menor. René Descartes, por exemplo, laureado pensador do século XVI, afirmava ser possível provar a existência de deus, o que se deve ao fato de à medida que se recua no tempo e é menor o conhecimento, é mais forte a crença da existência de deus, verdade facilmente verificável quando se observa que pessoas de menor ou nenhuma desenvoltura intelectual são as que conversam com estátua, compram feião milagroso e escrevem foi deus que mim deu em carrinhos baratos que indicam tratar-se de quem a luta pela sobrevivência impede aprender com a história das religiões a verdade sobre elas. É comum incultos escoiceadores de bola voltando os olhar para o céu, fazer de deus um torcedor ao atribuir a ele o sucesso de sua jogada.

As verdades que com o passar do tempo tomam o lugar das falsidades, aos poucos vão enfraquecendo a fé inabalável até vir a religiosidade a se tornar mitologia. A mesma fé no deus que o povo tem na bola de futebola onde devia ter cabeça era voltada para cultuar Thor, Odin, Mercúrio, Apolo, os irmãos Prometeu e Epimeteu, Minerva, Atena, Afrodite e tantos outros e outras deuses e deusas que atualmente são entretenimento literário do mesmo modo como serão as divindades que atualmente merecem a mesma atenção que já mereceram aquelas divindades.

Assim é que a busca por melhor forma de vida estará mais bem representada por quem tem os pés no chão do que por filósofos e intelectuais porque mestre Friedrich Hegel, no século XVIII, afirmou que não se aprende nada com o estudo da história se estudando História é como se percebe que a humanidade tem sido tão estúpida a ponto de estar a um passo de se autodestruir. Mas os Intelectuais contemporâneos, do mesmo modo, incorrem em divagações inúteis do ponto de vista da necessidade da mudança implorada de joelhos pelo bom senso. Na orelho do livro Era Dos Extremos, o intelectualíssimo Eric Hobsbawn, face aos tormentos do século XX, afirma ser como se passado e futuro estivessem seccionados do presente. Dá impressão de que assim como papagaios de microfone e cientistas de politicagem falam porque disto depende a despensa abastecida, também intelectuais escrevem por profissão. Como parecer que passado e futuro podem estar separados do presente se o presente foi moldado pelo passado e moldará o futuro? Com a mesma falta de lógica é que mestre Hobsbawn se refere como dourados os anos 1950/60 porque o capitalismo teria sido responsável por extraordinária expansão econômica. Ora, com o respeito necessário a tão ilustre personalidade, no final da página 172 e começo da 173 de História da Riqueza do Homem, de Leo Huberman, o velho e sábio Marx assim se referiu ao capitalismo: “Se dinheiro vem ao mundo com uma mancha congênita de sangue numa das faces, o capital vem pingando sangue da cabeça aos pés, de todos os poros, sangue e lama”.

Para frequentadores de igreja, axé e futebola que torcem o nariz para Marx, para os que sabem ler, que leiam o que diz sobre capitalismo o historiador americano no livro História da Civilização Ocidental, página 692: “... fábricas, particularmente as de tecidos, eram piores do que prisões. Tinham janelas pequenas que em geral se conservavam fechadas a fim de manter a humidade necessária à manufatura do algodão. A atmosfera viciada, o calor sufocante, a falta de higiene, a par de horários intoleráveis, reduziam inúmeros operários a pobres criaturas macilentas e minadas pela tísica, arrastando bom número deles ao alcoolismo e ao crime ... em Manchester, um oitavo das famílias da classe operária vivia em porões. Outras amontoavam-se em miseráveis habitações coletivas, com até doze pessoas a morar num só quarto...”. Não há, pois, como haver algo de positivo para boa qualidade de vida se pessoas são tratadas com tamanha crueldade, além de que a riqueza produzida pelo trabalho da classe trabalhadora vai servir para engordar contas, papadas e barrigas dos avaros Midas do mundo para os quais há quem não precisa comer. Afinal, o capitalismo começou aprisionando e transportando negros africanos em porões doentios de navios para vender na Europa.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário